FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO

PRIMEIROS VESTIGIOS DE EDUCAÇÃO

De acordo com Gadotti e Romão (2000), a educação existe mesmo onde não há escolas. Nas sociedades chamadas primitivas e de povos considerados bárbaros, por exemplo, não existem escolas nem métodos de educação reconhecidos, mas ali no dia-a-dia, as pessoas instruem-se na convivência uns com os outros, formas de respeitar e educar uns aos outros. A transição da sociedade primitiva para os primeiros estágios da civilização caracteriza-se pelos aspectos de substituição da organização genética da sociedade por uma organização política e formação de uma linguagem escrita e de uma literatura. Segundo os estudos feitos por Gadotti e Romão (2000), nas primitivas civilizações, era necessário dominar línguas e geralmente eram muito difíceis e fez com que a educação girasse em torno do domínio da linguagem e da literatura. Os educandos tinham que aprender a dominar as formas de linguagem, decorar os textos sagrados e estudarem sobre os mesmos e procurarem desenvolver um estilo semelhante ao dos escritos sagrados. A educação romana era centralizada na formação do caráter moral das pessoas. O pai é o principal responsável pela educação dos filhos, mas o caráter prático do povo romano atribui especial importância à mulher nessa tarefa e em outras relacionadas como o lar.

O QUE É EDUCAÇÃO?

Seguindo o raciocínio de Piletti (1990), a educação não se confunde com escolarização, pois a escola não é o único lugar onde a educação acontece. A educação também se dá onde não há escolas. Em todos os lugares existem redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra ou de uma maneira ou outra. Mesmo nos lugares onde não há sequer a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado existe educação. No entanto, essa transformação não é fácil. Isso porque não é possível fazer uma mudança profunda na escola enquanto não se fizer também uma profunda mudança social, que proponha novos ideais comunitários e pessoais com uma nova maneira de ver a realidade e a história e que valorize de forma diferente a educação do povo e a cultura popular. O maior problema observa Paulo Freire (1975), não é o fracasso da escola, mas o fracasso da sociedade inteira como comunidade educativa. Nesse sentido, ele afirma: “Não é a educação que forma a sociedade de uma determinada maneira, senão que esta, tendo-se formado a si mesma de uma certa forma, estabelece a educação que está de acordo com os valores que guiam essa sociedade. (...) A sociedade que estrutura a educação em função dos interesses de quem tem o poder, encontra na educação um fator fundamental para a preservação desse poder”. Diante dessa situação, o que é possível fazer? É o próprio Paulo Freire (1975) quem responde: “Só é possível uma transformação profunda e radical da educação quando também a sociedade tenha se transformado radicalmente. Isso não significa que o educador nada possa fazer. É muito o que ele pode realizar, ainda que para tanto não conte com normas prescritas para suas atividades. Com efeito, ele mesmo deve descobri-las e averiguar por si mesmo como praticá-las em sua situação histórica particular”. Segundo Dermeval Saviani (apud SANTOS, 1985), em face da realidade concreta do homem brasileiro, têm-se os seguintes objetivos gerais e prioritários para a nossa educação: “Educação para a subsistência - o homem brasileiro, no geral, não sabe tirar proveito das possibilidades da situação e, por não sabê-lo, freqüentemente acaba por destruí-las. Isto nos revela a necessidade de uma educação para a subsistência: é preciso que o homem brasileiro aprenda a tirar da situação adversa os meios de sobreviver. Educação para a liberdade – precárias são as condições de liberdade do homem brasileiro, marcado por uma tradição de inexperiência democrática, marginalização econômica, política, cultura. Daí a necessidade de uma educação para a libertação: é preciso saber escolher e ampliar as possibilidades de ação. Educação para a comunicação – Como, porém, intervir na situação sem uma consciência das suas possibilidades e dos seus limites? É preciso que se adquiram os instrumentos aptos para a comunicação intersubjetiva. Educação para a transformação – mudança sensível do panorama nacional atual, quer geral, quer educacional.” As opiniões aqui apresentadas dos ilustres pensadores da educação evidenciam que o ato de educar se configura fundamentalmente como um ato político, como um ato de intervenção no mundo, e que só faz sentido quando se apresenta como ação mobilizadora e desafiadora de um movimento de recriação da realidade. Educar, no seu real sentido, pressupõe mudança, a partir da criação de um projeto de mundo, de um projeto de vida. Caso contrário, a educação tende a se apresentar mais como ação imobilizadora e ocultadora de verdades, como mera reprodutora e mantenedora de práticas e valores hegemônicos de dominação e de exclusão social. Como diz Brandão, a educação é: (...) um processo de humanização que se dá ao longo de toda vida, ocorrendo em casa, na rua, no trabalho, na igreja, na escola e de muitos lugares diferentes. Como processo, ela é anterior ao aparecimento da escola. Como aparecimento desta e do sistema escolar, cada vez mais a educação vai se institucionalizando para orientar e controlar o desenvolvimento humano. (BRANDÃO, 1981) Acredita-se que educação é um processo de humanização que se dá ao longo de toda vida. E é justamente por isso, que a construção do conhecimento deve ser contínua e mútua, possibilitando a formação de sujeitos comprometidos consigo e com o outro, com o social e com o mundo (BRANDÃO, 1981).