Acordar num dia qualquer, com horário fixo, por mais que se esteja cansado, rotina ausente de espaços e nenhum ânimo para dirigir-se ao compromisso, muitas vezes a pé ou no precário sistema rodoviário, não me parece uma situação confortável e potencialmente próspera de vida, principalmente quando acompanhada de mudanças súbitas e irrefutáveis no itinerário, exigindo uma reestruturação completa da ordem de execução estabelecida anteriormente.

O trecho acima parece descrever uma situação comum, embora não seja diária, a grandes empresários, promotores de eventos ou mesmo chefes de ambiciosos projetos na construção civil. O que espanta, porém, é sua ocorrência cada vez mais frequente na agenda de estudantes, pressionados constantemente ao amadurecimento pelas instituições de ensino. Mas que mal há nisto?

Talvez nada, desde que planejada para transcorrer assim e destinada à orientação dos alunos quanto aos aspectos do contexto industrial. O que acontece realmente, entretanto, pode se tornar uma preocupação em alguns anos, já que os jovens, em momentos cada vez mais extensos na proximidade do término de um período letivo, enfrentam cargas horárias que, em muito, ultrapassam o vivenciado por pais e conhecidos, agravando a indignação reprimida.

Acha que estou exagerando? Então pergunte a um aluno de uma instituição de ensino médio federal, ou de outra escola bem conceituada, sobre os trabalhos e provas agendados para a semana. Se conseguir ouvir até o final, repita o teste no decorrer da semana, e verá o quão distorcida se tornara a rotina. Questione também se houve concessão por parte do corpo docente e constatará a verdade em meu depoimento.

Acredito que possa dizer com propriedade que nossa sociedade não prepara o terreno para os jovens, e provavelmente não o pretende fazer, uma vez que as dificuldades vividas atuam como controle intelectual, mantendo os moldes estabelecidos pelo monopólio científico e cultural. Então por que tanto se fala em democratização do ensino, exercício da cidadania, pensamento crítico e iniciação científica? Simplesmente para apresentar uma liberdade que não existe, em sua totalidade, mas que sustenta uma divisão de classes oculta.

Se não fosse assim, dispensaríamos a direção escolar, atribuindo as decisões ao conjunto de alunos e professores; seríamos capazes de decidir o futuro da nação, independente da idade; teríamos total liberdade de expressão, a qualquer momento e em qualquer lugar, e os estudantes poderiam propor e desenvolver projetos sem supervisão. No entanto, mesmo que situações como estas possam ser explicadas por meios concisos e verdadeiros, a sociedade permanece sem motivos para o preconceito contra a juventude, impondo-lhe como meta um paradoxo.

Imagine um adolescente. Ele é indagado sobre a carreira profissional a todo momento, mas sequer tem a oportunidade de assistir, ouvir ou vivenciar o grande leque de opções, partindo de escassas noções do futuro, que estão muitas vezes incorretas e mal apresentadas.

Logo que chega ao ensino médio, caso tenha tomado uma decisão, é novamente pressionado quanto à escolha da instituição de ensino, embora as desconheça. Então, depois de consultar informações desorganizadas na internet, o aluno alcança a tão esperada universidade e vive feliz para sempre... Espere! Para cursar o ensino superior é requerida muita disciplina, mesmo durante a preparação e admissão. Mas disciplina não quer dizer responsabilidade? E responsabilidade não está associada à idade?

Portanto, como exigir que o jovem estude, deixando de lado seus lazeres, e se prepare para algo que desconhece, mantendo uma postura impecável em sala, que não é cultuada pela maioria esmagadora dos adultos em reuniões e demais ambientes de trabalho? E como esperar dele responsabilidade com os compromissos escolares, se os adultos o tratam como inexperiente demais para dirigir, ir a festas, morar sozinhos ou tomar grandes decisões? Está aí a grande demonstração de descaso da instituição com o alunado: exigir um amadurecimento sem orientação, incentivo e reconhecimento, suprimindo as manifestações contrárias aos regimes exaustivos de atividades!

Espero que, a partir de agora, você, pai ou mãe, tente integrar-se à vida do filho, valorizando seu esforço; você, aluno, perceba o quão importante é sua voz dizendo CHEGA!; e, principalmente, você, que tem um cargo de coordenação de uma escola, perceba como suas decisões afetam os discentes, passando a trabalhar por uma educação mais coerente e, acima de tudo, saudável.