Idanir Ecco[1]

Quando a saúde do professor está ameaçada
 é a educação que adoece.

      (Afonso Celso Teixeira)

O ser professor, enquanto profissional da educação, é um dos temas que ocupa destaque significativo entre os elementos que demandam atenção, estudo, preocupação no contexto educacional formal, escolar. Mesmo que possa ser identificado um expressivo número de publicações, de reflexões considerando essa temática, as indagações não cessam, pois muitos são os pontos de vista que podem ser abordados, indagados como, por exemplo, em relação às condições reais do trabalho docente.

É de praxe, ao comemorar o dia do professor, ofertar mensagens que denotam um sentimento de gratidão, reconhecimento e de esperança considerando a importância significativa dos esforços laborais docentes. Por vezes, a impressão que fica é a de que, com o recurso de belas e aprazíveis palavras, tenta-se encobrir ou desviar o foco de uma realidade repulsiva, desagradável e tenebrosa que ronda sorrateiramente o ofício docente, ofuscando o brilho no olho de parte significativa de educadores, traduzindo-se numa síndrome denominada de burnout, registrada na literatura, também, como sofrimento psíquico dos trabalhadores.

Observa-se que o termo burnout é composto por duas palavras inglesas, a saber: Burn que significa “queimar” e Out quer dizer “fora”, “exterior”. Então, traduzindo literalmente, significa “queimar para fora” ou “consumir-se de dentro para fora”. Compreendido como “combustão completa”, que tem início com os aspectos psicológicos e culmina em problemas físicos comprometendo todo o desempenho da pessoa, atinge profissionais que lidam com dificuldades e problemas alheios, isto é, os que trabalham mais diretamente com pessoas. E o professor pertence ao grupo de profissionais denominado de “alto contato” e, deverasmente, atua num ambiente potencialmente gerador de conflitos.

Sem avultados esforços é possível identificar uma significativa literatura, produzida a partir de pesquisas científicas, na qual está demonstrado que o ato de ensinar por ser em geral, um fazer estressante, apresenta repercussões na saúde física, na saúde mental e no desempenho de professores, manifestando-se como mal-estar docente, com sintomatologia diversa.

Em relação aos sintomas da síndrome de burnout, a título de informação, o psicanalista e psicopedagogo Chafic Jbeili, no texto “Bournout em professores”, disponível na Web, classifica-os em três grupos: Sintomas somáticos/físicos (exaustão - esgotamento físico temporário; fadiga - capacidade física ou mental decrescente; dores de cabeça; dores generalizadas; transtornos no aparelho digestório; alteração do sono; disfunções sexuais); Sintomas psicológicos (quadro depressivo; irritabilidade; ansiedade; inflexibilidade; perda de interesse; descrédito - sistema e pessoas) e Sintomas comportamentais (evita os alunos; evita fazer contato visual; faz uso de adjetivos depreciativos; dá explicações breves e superficiais aos alunos; transfere responsabilidades; faz contratransferência, ou seja, reage às provocações em papéis distintos do papel de educador; resiste às mudanças).

Convém destacar que, os estudiosos da problemática em questão, são unânimes ao afirmar que os sintomas supracitados não aparecem de forma repentina. Logo, esse padecimento docente é um processo gradativo e evolutivo, com consequências muito variadas, repercutindo na vida profissional e particular, na organização escolar e na relação para com os educandos.

O estudo, o debate a cerca do mal-estar docente deve ser ampliado e assumido pragmaticamente. Urge, portanto, que se viabilizem estratégias, iniciativas para, mais que atenuar, subtrair os elementos desencadeadores desta doença ocupacional que interfere negativamente no trabalho docente.

Há que se proclamar, dar a conhecer a todos que existe uma doença silenciosa espalhando-se ardilosamente entre os que têm a incumbência de educar e formar seres humanos. Faz-se necessário, também, investigar por que o encantamento docente, para muitos, já não é tão expressivo quanto de outrora. Silenciar sobre esta realidade contribui para o agravamento e para o não desvelamento da moléstia profissional e de seus agentes fomentadores que incapacita excelentes profissionais. Por que não se fala abertamente e francamente sobre isso?

[1]   Mestre em Educação UPF/RS, Professor da URI Erechim/RS, Membro da Academia Erechinense de Letras. [email protected],