EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: PRÁTICAS SOCIAIS E CIENTÍFICAS

 

Mestre Maria José de Azevedo Araujo

 

 

RESUMO

A rápida transformação das sociedades dá-se no sentido da mundialização e também no sentido da busca de raízes locais. A capacidade de reflexão crítica do professor, a sua habilidade de inovar na educação, tanto sobre as contradições das diversas abordagens teóricas existentes no contexto da evolução do conhecimento, quanto sobre as tradicionais condições do ensino, o leva a acreditar que a utopia é possível.  Trabalhar em instituições de nível superior como profissional da educação exige a busca constante pela motivação/mobilização dos alunos, com o objetivo de construir o conhecimento crítico e transformador da sociedade/comunidade a partir de interferências que favoreçam a evolução dos projetos sociais, especialmente quando estes envolvem as comunidades mais carentes. À universidade brasileira compete encontrar formas de envolvimento/integração da comunidade dentro e fora da instituição de ensino superior. A extensão como formadora de profissional cidadão permite uma atividade cada vez mais perto da sociedade, privilegiando a produção do conhecimento na superação das desigualdades sociais existentes.

 

PALAVRAS-CHAVE: Extensão, cidadania, educação universitária.

 

ABSTRACT


The rapid transformation of societies takes place in the direction of globalization and also towards the search for local roots. The capacity for critical reflection of the teacher, their ability to innovate in education, both on the contradictions of the various theoretical approaches in the context of the evolution of knowledge about how the traditional terms of education, led him to believe that utopia is possible. Working in higher education institutions and professional education requires a constant search for motivation / mobilization of students, in order to build the critical knowledge and transforming society / community from interference favoring the development of social projects, especially when these
involve the communities most in need. In the Brazilian university must find ways of engagement / integration of community within and outside the institution of higher education. The extension for the formation of national professional activity to a closer society, favoring the production of knowledge in overcoming social inequalities.

 

KEYWORDS: Extension, citizenship, and education.

A EXTENSÃO E OS BENEFÍCIOS SOCIAIS

As mudanças na sociedade neste início de milênio representam: alterações na maneira de pensar e de enxergar o mundo. A rápida transformação das sociedades dá-se no sentido da mundialização e também no sentido da busca de raízes locais.

O contexto histórico brasileiro, caracterizado pela globalização econômica e pela reestruturação produtiva, é assinalado por fortes mudanças nas relações entre o estado e a educação e por transformações paradigmáticas que paradoxalmente enfatizam o significado ético e subjetivo da prática educativa. A educação é um dos pontos essenciais para que a nação se consolide num estado soberano e moderno diante da comunidade internacional.

 

O Brasil vem ampliando cada vez mais a sua presença no cenário mundial, sem, contudo, ter conseguido aniquilar a grande dívida social acumulada historicamente com o seu povo.

 

O resgate desta dívida só poderá ocorrer mediante uma ação conjunta e organizada do poder público, das entidades representativas e das instituições da sociedade civil, e, nesta perspectiva, as instituições de ensino superior têm sido desafiadas a desempenhar um papel de significativa importância neste processo.

 

As instituições de ensino superior adentram no século XXI enfrentando provocações na busca da superação dos obstáculos à formação de profissionais das diferentes áreas, a partir de uma proposta político-pedagógica - PPP que sustente o projeto pedagógico institucional - PPI, e, ao mesmo tempo, garanta uma efetiva relação da instituição com a sociedade. É preciso construir novas abordagens, novos parâmetros e paradigmas de inclusão social.

 

Conforme Melo e Bittencourt Júnior,

 

[...] Acreditamos que a universidade é o caminho para o desenvolvimento social. Entretanto, para a realização deste desenvolvimento não basta tão somente às universidades buscarem a todo custo a formação dos acadêmicos, pura e simplesmente. A universidade deve, além disso, incentivar e cobrar a pesquisa científica como forma de buscar soluções para problemas que aflijam a nossa sociedade. E mais, fazer valer um entrelaçamento entre teoria e prática, realizando o seu verdadeiro papel junto à sociedade, que é o social. (2006, p.22).

 

Concorda-se que é possível educar o homem e ao educá-lo, educaremos o mundo. Precisamos educar para a inclusão, para a vida e para a diversidade. Educar demanda respeito ao conhecimento do outro e o abarcamento de suas diferenças, com humildade, tolerância e luta em defesa dos sonhos e ideais; exige disponibilidade para o dialogo, consciência critica, liberdade e bom senso e alem de tudo, exige compromisso político com a causa da educação.

 

Espera-se que a educação consiga transformar o educando com competência para tornar-se um novo homem, com capacidade de autogoverno, o que coloca em evidência a “escola” e “o professor”, na construção do indivíduo, interagindo com a comunidade.

 

Propostas de educação inovadoras e desafiadoras, estimulantes e criativas, devem atender aos anseios da sociedade de maneira universal. A escola é vista como o lugar onde se forma um novo homem para uma nova sociedade, como uma ponte para um futuro de melhor projeção.

 

A capacidade de reflexão crítica do professor, a sua habilidade de inovar na educação, tanto sobre as contradições das diversas abordagens teóricas existentes no contexto da evolução do conhecimento, quanto sobre as tradicionais condições do ensino, o leva a acreditar que a utopia é possível. Somente os utópicos conseguem mover o mundo.

 

 O educador competente e comprometido é um profissional utópico e sendo utópico, ele aumenta as chances da não apatia, da não aceitação das exigências impostas através de processos educacionais, que representam os equívocos de uma pedagogia puramente técnica, mecanizada, instrumental, autoritária, adestradora e coercitiva.

 

O mundo globalizado, com pessoas mais esclarecidas, exige novas competências pedagógicas, profissionais que recriem constantemente sua prática educativa, a partir da ação-reflexão-ação.

 

Teoria e prática não são dissociáveis, pois nossa fundamentação teórica torna-se concretizada e sólida quando inovamos e atuamos na prática docente conectada aos pressupostos teóricos. Não significa que somente a experiência ou somente a cultura universitária poderão valer por si só.

 

Trabalhar em instituições de nível superior como profissional da educação exige a busca constante pela motivação/mobilização dos alunos, com o objetivo de construir o conhecimento crítico e transformador da sociedade/comunidade a partir de interferências que favoreçam a evolução dos projetos sociais, especialmente quando estes envolvem as comunidades mais carentes.

 

As ações de extensão universitária, especialmente programas e projetos, podem ser integralizadas ao currículo de cursos de graduação, com atribuição de créditos. Sabemos que há uma indissociabilidade no tripé ensino – pesquisa – extensão. À universidade brasileira compete encontrar formas de envolvimento/integração da comunidade dentro e fora da instituição de ensino superior. Para tanto, existem os projetos extensionistas que ampliam os conhecimentos, relacionam a teoria com uma pratica educativa mais dinâmica e, consequentemente, leva aos acadêmicos a vivência de momentos que ficarão registrados na memória intelectiva, afetiva e temporal.

 

Mas, afinal, o que são os projetos extensionistas?

Conforme o Plano Nacional de Extensão Universitária, elaborado no Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (2000 – 2001), a Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade.
A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. (http://www.unibave.net/index.php?a=4918)

 

Preparar o cidadão para a transformação social não é catequizá-lo de acordo com a ideologia vigente, mas fomentar as suas capacidades intelectuais, o caráter e os comportamentos críticos, produtivos de bens materiais e culturais. A extensão universitária renova as propostas de trabalho educativo que serão desenvolvidos de forma interdisciplinar envolvendo disciplinas diversas, mas integradas. Pode ser desenvolvida também por apenas um educador e por uma determinada disciplina. Nos dois casos haverá a obrigação de envolver a comunidade/educadores/alunos na elaboração, execução e avaliação de um projeto determinado.

Para SCHEIDEMANTEL,

A extensão como formadora de profissional cidadão permite uma atividade cada vez mais perto da sociedade, privilegiando a produção do conhecimento na superação das desigualdades sociais existentes. Essa Prática acadêmica consolida uma atividade de ensino e de pesquisa juntamente com as demandas da sociedade, integrando ainda mais a ciência ao homem. (2004, p.52).

A elaboração, execução e avaliação conjunta do projeto extensionista, pelo professor, alunos e o envolvimento da comunidade intra e extramuros da universidade, leva a uma postura socializadora, investigativa, prazerosa e a certeza de que não existem limites para o ato de aprender.

Precisa-se apresentar abertura para as mudanças, para que a nossa identidade individual e coletiva possa ser construída e reconstruída de forma tranqüila e progressiva: Exercitar a inversão de valores, valorizando o saber dos nossos alunos, pais, comunidade, analisando o olhar do grupo, poderemos então compreendê-los melhor.

As práticas extensionistas favorecem o processo de desenvolvimento da personalidade e de qualidades como, apresentar cooperação, colaboração e ampliação da socialização, levando à autonomia, sensibilidade e prazer autêntico em se inclusão com outras pessoas, na direta relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais.

Através da implantação dos projetos de extensão, as instituições de nível superior, na sua interação com a comunidade, participam, interatuam e vivenciam seus problemas mais contundentes, buscando a superação das contradições da realidade sócio-política e econômica, sendo o trabalho extensionista norteado pela preocupação com o fortalecimento progressivo dos setores marginalizados, pelo compromisso social crítico, e pela contribuição que a instituição de nível superior pode oferecer para o progresso da sociedade.

Neste entendimento, a instituição de nível superior deixará de ser um meio de perpetuar os vícios da sociedade para tornar-se um lugar, um ambiente, em que as pessoas tornam-se mais esclarecidas sobre o seu real papel na comunidade, a partir de aprendizagens significativas.

O educando tem papel fundamental no enriquecimento do próprio conhecimento. Tornar-se um aluno mais crítico, com capacidade de organizar as idéias e torná-las vivas, concretas, a partir de novas audácias, novas costumes, novos padrões comportamentais. Os quatro pilares da educação definem que é preciso: “aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conhecer e aprender a conviver”.

Estar na instituição de nível superior é privilégio de poucos, em detrimento do desejo de muitos que não conseguiram alcançar a abertura de portas para o nível superior, “sonho dourado” das famílias brasileiras. Portanto, faz parte das obrigações sociais da universidade, a responsabilização pela divulgação/conscientização da ciência, do conhecimento historicamente acumulado aos que estão excluídos deste nível de ensino.

A instituição de nível superior deve ser o ambiente em que alunos, pais e professores promovam conjuntamente a educação. Aliás, toda a comunidade deve participar, buscando recursos materiais e humanos, criando condições favoráveis para o efetivo desempenho do grupo. Legalmente, a educação é proclamada como direito de todos; Legitimamente ainda não alcançamos a universalização da educação básica com necessária qualidade.

 

Balbinot ao discorrer sobre a ação educativa como práxis dialógica, afirma que:

 

O diálogo, como práxis, somente é quando está sendo, com o estar sendo do ser humano e do mundo. Ele assume um caráter dialético, segundo o qual não pode ser sem estar sendo. É praticamente impossível, a partir dessa ótica, buscar pela ação educativa o ser mais sem agir no mundo, sem dialogar, sem dizer o mundo, sem relacionar o que se diz com a situação concreta-existencial do que está sendo dito, com o sujeito que pronuncia e o sujeito que reconhece esta pronúncia, pois o que se diz é dito a e por si mesmo e para alguém. [...] Nesse ponto, a ação educativa se constitui, simultaneamente, como uma ação experimental, no sentido de ser sempre nova, de não poder ser padronizada, e como uma ação humana dialógica. O problema de quem ensina e aprende não é propriamente o de comunicar o conhecimento e o processo pelo qual se chegou a ele. Seu problema é produzir experiência de “produção do conhecimento”. (2006, p.149).

 

A proposta extensionista exige a co-participação responsável, provoca a realização de múltiplas tarefas, a partir de óticas diferentes, extremamente heterogêneas, mas articuladas e complementares entre si, com a finalidade de alcançar objetivos, compromissos e competências compartilhadas.  Ela deve ser reconhecida como processo de evolução da educação, através do qual a sociedade adquire progressivamente condições de tornar-se mais solidária, buscando favorecer o sujeito histórico, tornando-o consciente e com capacidade de conceber e efetuar projeto próprio.

 

Os grupos extensionistas que apresentam mais possibilidades de sucesso, de alcançar vivências mais interdisciplinares são constituídos por pessoas de formação variada e oriundas de múltiplos cursos, instituições e organizações, o que resulta em uma visão global, cooperativa, participativa e não fragmentada da mesma realidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ressalta-se a compreensão de que a formação de educandos e também de educadores, sendo um processo permanente, que se dá no cotidiano educacional e que precisa ser sustentada por fundamentação teórica que permita a ressignificação das teorizações e das reflexões através de uma prática pedagógica mais intensa e articulada com a comunidade.

Afinal, se a educação não servir à comunidade, especialmente a mais carente, para que serve a educação? Quais as intenções da educação? Reconhece-se que ela está relacionada com a transmissão e construção de valores éticos, morais e espirituais.

Os estudos, as pesquisas e o conjunto de leis que alteram o padrão de formação do professor indicam a necessidade de repensar, à luz das novas teorias, as concepções e pressupostos estabelecidos sobre o processo de sua formação, as mudanças fundamentais para construção de uma identidade profissional mais compatível com os valores e condições postos pela modernidade.

 

REFERÊNCIAS

 

BALBINOT, Rodinei. Ação pedagógica: Entre verticalismo pedagógico e práxis dialógica. São Paulo, Paulinas. 2006.

 

MELO Jucá Adriano Silva & BITTENCOURT JÚNIOR, Antônio. A educação e o papel da universidade: O caso da UNIT em Aracaju. In: Universidade: Educação & diversidade nos 150 anos de Aracaju. PAACE – Pró-Reitoria Adjunta de Assuntos Comunitários e Extensão. Aracaju, Universidade Tiradentes, 2006.

 

SCHEIDEMANTEL, S. E. A importância da extensão universitária: O projeto Construir. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte,2004.

 

http://www.unibave.net/index.php?a=4918