EXPERIÊNCIAS DE UMA PROFESSORA. 

Ao realizar o sonho de estar cursando Letras pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), tive o imenso prazer de conviver com professores que são realmente mestres no que se refere à educação e conhecimento. E sendo assim, afloram ainda mais a vontade em mim de ser professora. A cada dia de aula era visível a minha satisfação em estar naquele lugar repleto de conhecimento e aprendizado. Os colegas mais próximos sabem da minha devoção por cada professor que adentrava aquela porta e, com enorme prazer eu tomava para mim cada ensinamento dado por eles. Para a minha surpresa, quando ainda estava no primeiro semestre, tivemos a incumbência de apresentar um trabalho sobre diversos temas para uma professora americana. Ao sortear “frutas”, logo comecei a imaginar como falaria das frutas tropicais a alguém que não conhecia nossa costura e costumes.

Pensei logo em algo bem didático, afinal, falar sobre frutas e em inglês não seria nada fácil! Logo comecei a organizar a apresentação. Junto com a vontade, veio a primeira barreira: Quais as frutas que vou escolher? Lembrei então do meu pai que sempre foi um ótimo produtor de licores de butiá. A primeira fruta já estava escolhida.  Tão logo pensei em outra fruta que pudesse tirar o gosto do licor, apareceu então a goiaba. Foi selecionada assim a segunda fruta. A terceira deveria ser alguma que pudesse surpreender alguém que não conhecia os costumes brasileiros. Uma fruta que se adequaria perfeitamente a essas características seria o limão. E assim foram selecionadas as três frutas da minha apresentação.

Depois de escolhidas, planejei uma aula que causou impacto nos colegas e na professora. No dia da apresentação, cheguei na sala como aquelas professoras que a maioria de nós já tivemos no currículo, cheia de sacolas pesadas e com materiais que prendiam a nossa atenção. Todos pararam e um silêncio tomou conta da sala e da turma que tinha aproximadamente 50 alunos. A professora pergunta então quem gostaria de apresentar primeiro. Rapidamente eu me ofereci, pois me lembrei do gelo que estava na sacola e que a propósito eu usaria para fazer uma caipirinha do qual o limão seria o protagonista.  Levantei a mão e fui para frente da sala. Pedi, com a maior cara de pau do mundo para que a professora tirasse o material dela de cima da mesa, pois eu transformaria o espaço em um bar! No primeiro momento, puxei da sacola um avental cor de laranja que chamou a atenção de todos (o que acredito que todo professor deve fazer, prender a atenção dos alunos). Vesti o avental e comecei a tirar da sacola as frutas na respectiva ordem: o butiá, a goiaba e o limão. Como já havia planejado tudo em casa, levei pronto um pouco de licor de butiá e uma goiabada. Falei então sobre estas frutas colocando-as em um determinado contexto (o licor e a goiabada neste caso) que era o objetivo principal da aula.  Chamei um voluntário para provar, fazendo assim com que se desse a interação dos alunos com a aula planejada. Obviamente chamei a professora para provar tamanho feito! Aparentemente ela gostou! A escolha das frutas foi em ordem estratégica: o butiá no licor com o gosto forte, a goiabada para tirar o gosto do licor e o limão na caipirinha para completar a festa! O problema todo é que eu jamais havia feito uma caipirinha na vida! Mas dias antes, conversei com alguns conhecedores do assunto que me deram umas dicas. E assim eu fui para a aula.

Continuei tirando o material da sacola, tais como uma faca para cortar o limão, um copo de madeira e um socador para misturar o limão e o açúcar. Esta “prática pedagógica” me rendeu a nota máxima e os aplausos de pé da turma toda. Para a minha surpresa, a professora se curvava como que se fizessem agradecimentos a mim por ter dado a ela uma experiência única.

Conclusão dos fatos: A aula rendeu mesmo e experiências únicas foram trocadas por todos nós. Essa experiência real foi contada para mostrar que, se nós professores planejarmos nossas aulas com carinho, elas podem render prazer, e aprendizado a todos nós.

Ao decorrer do curso, mais precisamente no terceiro semestre, fui apresentada à professora Nóris, que ministrava a disciplina de Linguística aplicada ao ensino de Língua Portuguesa. Foi ai que literalmente eu me apaixonei pelo ensino de língua materna. A aula, tão bem elaborada e ministrada fazia com que as minhas tardes rendessem horas a fio de extremo êxtase. E a cada semestre que passava mais eu tinha certeza de que estava no lugar certo e com as pessoas certas. Para a minha surpresa maior, quando eu pensava que a professora Nóris não estava mais na academia, aparece ela para ser a orientadora do meu estágio de observação. Não preciso nem comentar o fato diante da perplexidade que tomou conta de mim naquele momento. E o primeiro dia de aula com ela então! A recepção foi digna de minutos intermináveis de um longo abraço que ela dava em cada aluno que adentrava na sala.

Por este e outros motivos eu escolhi a docência como minha profissão, na verdade este dom está em mim desde a primeira vez que abri meus olhos. Acredito que para ser um professor, antes de tudo deve-se ter vocação e, juntamente a isto, devemos ter o profissionalismo que a profissão exige. Esta é a lição (pelo menos uma delas!) que levarei sempre comigo. Sei que serei uma profissional diferenciada, pois foi isso que eu aprendi a ser na academia com a professora Nóris.

Mais do que isso, a importância do professor nem sempre é observada pelos olhos da lógica, da racionalidade. E as pessoas esquecem que são eles, responsáveis pela formação e consolidação intelectual, seja de uma criança ou adolescente. Educar não é fácil, e como já dizia Paulo Freire, um dos maiores educadores que o Brasil conheceu, “Educar é uma especificidade humana”. Bons profissionais “nascem” de bons professores. É preciso que todos tenham total entendimento que valorizar o professor nosso de cada dia, é impulsionar a nação, é gerar progresso.

Certa lenda conta que duas crianças estavam patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada, fria e as crianças brincavam sem preocupação.

De repente, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear o gelo. Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:

- Como você fez isso? É impossível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra em suas mãos tão pequenas!

Nesse instante, apareceu um ancião e disse:

- Eu sei como ele conseguiu.

Todos perguntaram:

- Como?!

O ancião respondeu:

- Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não poderia fazer!

É isto que ocorre na escola ou fora dela, muitas vezes. Pessoas nos dizendo que isto ou aquilo não é possível! Nós, como professores, estamos o tempo todo pensando em como encorajar nossos alunos em suas descobertas, em seu autoconhecimento. Nos preocupamos em tornar nossas aulas atraentes, estimulantes e agradáveis. Procuramos auxiliar jovens e crianças a avançarem em seus desafios, a descobrirem quem são e do que são capazes. Nos aventuramos com nossos alunos. Precisamos sempre dar prioridade ao que o aluno aprende e não ao que queremos ensinar. É fundamental que tenhamos consciência de que somos modelo de valores e padrões que o aluno imitará ou rejeitará; levará na lembrança para a vida toda ou esquecerá.

Sempre que alguém me desafia a dizer o que os professores realmente fazem, minha primeira resposta é que os professores fazem “os alunos trabalharem mais duro do que eles imaginavam ser possível”. Alguns profissionais conseguem esse feito por meio de orientação e encorajamento, ao passo que outros se valem do medo e da intimidação. Eu poderia dizer que ambas as estratégias são formas de amor. Simplificando, os melhores professores são aqueles para quem você vai estudar e se esforçar como louco porque quer que eles o admirem como aluno. Esta resposta eu tive da professora Nóris. Agradeço incansavelmente por cada aula que ela deu. Por cada palavra que foi como um tijolo para a construção dos meus conhecimentos e da minha formação. Acredito que um bom professor se constrói pela teoria e pela prática. E hoje eu digo, sem medo de errar que construí um grandioso castelo e estou preparada para enfrentar os exércitos que virão. Não estou pronta, pois um bom professor está sempre em construção, mas estou preparada!

Agradeço com toda a minha alma aos grandes mestres que tive o orgulho de ter como professores cito entre os tantos a professora Nóris, professora Maria José, professor João Manuel, professor Aulus, perdoem-me os que aqui não foram citados, mas em meu coração e em minha alma, um lugar muito especial foi reservado a cada um de vocês.

Luciane Kaster Barcellos.