PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização; Linguística; Metodologias; Aprendizagem.

1- INTRODUÇÃO

A ligação entre a Linguística e o processo da aprendizagem da leitura e da escrita, que são elementos paralelos, mas, ao mesmo tempo interdependentes, é o que será explorado nessa pesquisa, com o intuito de analisar os benefícios que essa ciência proporciona ou pode proporcionar a esta etapa da escolarização denominada Alfabetização, a partir da análise de leituras e de entrevistas através de questionários com professoras alfabetizadoras (1º e 2º anos das séries iniciais do ensino fundamental), de escolas públicas de Gravataí/RS.
De acordo com os estudos realizados, serão descritos em cinco seções alguns aspectos relevantes, explicando algumas características da alfabetização embasada na Linguística, considerando as práticas atuais e algumas práticas possíveis nesse sentido.
Considerando as muitas mudanças ocorridas na cultura educacional, e o avanço científico da Linguística, observa-se, segundo alguns autores como Cagliari (2004), Tasca (1990), Josefi (2002), Golbert (1988), Brito (2009), entre outros, que essa ciência poderá auxiliar no processo ensino-aprendizagem da alfabetização, podendo seus estudos serem melhor aplicados para o desenvolvimento da alfabetização com efeitos mais eficientes.
Podem-se perceber alguns avanços nos próprios materiais didáticos atuais, onde contém algumas citações e referências a livros e pesquisas lingüísticas, porém, através de novas pesquisas e análise da realidade, poderia haver uma utilização maior e melhor desses conhecimentos para o progresso do ensino e da aprendizagem no processo de Alfabetização.
No entanto, muito pouco se conhece sobre a aplicação da Linguística na Alfabetização. Cagliari (2004, p.8) afirma que "só recentemente tem havido a participação significativa de linguistas em projetos educacionais" o que está auxiliando nas novas propostas didáticas para a alfabetização, mas ainda é muito pouco, pois, como esse mesmo autor afirma, a maioria dos professores colabora com o fracasso escolar por não identificarem a função da Linguística na Alfabetização ou nem saberem o que é a Linguística.
Cabe ressaltar ainda as contribuições de grande relevância que a Linguística vem fazendo nos estudos sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, renovando as práticas educativas desse processo, na tentativa de facilitá-lo. Muitos são os estudos feitos nessas áreas: de um lado os pedagogos buscando novas alternativas para a alfabetização e, de outro, os linguistas apresentando novos e não menos importantes estudos sobre a aprendizagem e funcionamento da língua. Vale lembrar, que as duas ciências ? a Pedagogia e a Linguística - são essenciais e complementam-se.


2 - RESSIGNIFICANDO A ALFABETIZAÇÃO

A alfabetização tem sido repensada constantemente para acompanhar as mudanças culturais que vêm acontecendo através da rapidez da comunicação, com meios como a TV e, principalmente a Internet. A Linguística tem auxiliado nessa estruturação, embora recente como afirma Cagliari (2004), mas como considera Josefi (2002, p.8) "Percebe-se, hoje, a expressiva (e indispensável) presença dos linguistas nos eventos em que se discute a alfabetização." Observa-se, através dos livros didáticos, a grande tendência à valorização do uso da linguagem feita pelas crianças e a exploração que pode ser feita das variações que ela apresenta.
Essa variação se dá por vários motivos, entre eles os regionais, mas o que mais distingue as crianças é a vivência familiar e as condições financeiras em que ela vive. A maior dificuldade encontrada é que a criança que chega à escola pública é diferente das que o professor ou os livros didáticos idealizam, pois ela é da periferia das grandes cidades. Como diz Golbert (1988, p. 10):

Essa, representante legítima da maior parcela da população infantil brasileira, é filha de operários que, na melhor das hipóteses têm o 1º grau completo. Dispõe de poucos materiais de escrita em sua casa, talvez um jornal que chega eventualmente [...] seus pais não têm tempo e disposição para ler ou contar histórias, as quais poderiam abrir-lhes as portas para o mundo abstrato da linguagem. Além de ter a criança não freqüentou a pré-escola, desconhece o que seja uma sala de aula ou convívio organizado com outras crianças, teve poucos contatos significativos com lápis, papel, tintas e lápis de cor.

Há também outras realidades muito mais precárias, como coloca a mesma autora, que fazem com que a variação linguística e o tempo de aprendizagem da leitura e da escrita sejam diferentes e para alguns, considerado mais demorado.
É pelo confronto com essas realidades e diferentes características que não é mais possível pensar em uma alfabetização uniforme, em que não se leve em conta as especificidades de cada um. Golbert (1988, p.14) afirma ainda que:

Não é mais admissível que a alfabetização seja concebida como um processo existente dentro das paredes da sala de aula, desencadeando a partir da utilização de um método de ensino (no qual os elementos de escrita são representados numa seqüência preestabelecida e rígida), num tempo, espaço e ritmo controlado pelo professor.

É nesse sentido que a Linguística vem contribuindo para esse processo, como constata Josefi (2002, p.2) dizendo que "Tal fato, talvez, constitua-se na principal contribuição para a ressignificação da alfabetização na escola, onde a compreensão de teorias sobre os processos de aquisição da leitura e da escrita passa a ser mais importante do que a escolha de uma determinada metodologia." Entre as mudanças ocorridas com a introdução da Linguística na Alfabetização está a troca do método fônico (criado pelo linguista Bloomfield, que consiste em aprender a escrever decorando os sons das letras, num processo mecânico) para a concepção construtivista que se dá muito mais pelos aspectos sociais ? características dos educandos ? do que pela livre escolha dos professores, já que a comunicação mundial está muito mais ágil e as pessoas estão cada vez mais informadas e, talvez conscientes da sua linguagem. Consequentemente elas estão indo para a escola sabendo muito mais coisas do mundo e podendo contribuir muito mais com as informações trabalhadas em aula, gerando, assim, um certo desconforto em quem acredita que o professor é o dono do saber, pois os alunos demonstram mais agitação e descontentamento com o que é discutido em aula.
Essas informações devem ser bem aproveitadas para que o processo de desvendamento da leitura e da escrita seja mais interessante. O que a Linguística coloca é a necessidade de, além do processo fônico, levar os alunos a entender como se dá a formação da escrita e o desenvolvimento da leitura, pensar sobre isso e criar suas próprias hipóteses para apropriar-se desses instrumentos comunicativos de forma completa e bem estruturada.

3 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUÍSTICA

A Linguística, como ciência que estuda a linguagem verbal, oral ou escrita humana, sem interesse em ditar regras, segundo Orlandi (1999), começou no início do século XX e, desde então, está integrando-se à Alfabetização, naturalmente, por esta ser a aprendizagem do objeto de estudo daquela. Segundo Tasca (1990), a Linguística auxilia a professora alfabetizadora na escolha de atividades mais apropriadas para a dificuldade do aluno. Também diz que compete à Linguística aplicada munir a professora de instrumentos para diagnosticar desvios de leitura e escrita, além de exercícios terapêuticos e de reeducação da linguagem, ajudando, além disso, na construção de medidas de avaliação.
Os estudos feitos pela Linguística ajudaram na elaboração de novos conceitos para a Alfabetização, novas crenças e consequentemente novas práticas, dando conta de que, como afirma Cagliari (2004), a criança, para aprender a falar, não precisou de ditados, memorização de regras, repetição de fonemas e sílabas, que nenhuma mãe preocupa-se em ensinar a seu filho a ordem das palavras nas frases e, no entanto, toda criança sabe qual ordem é possível ou não usar. Sendo assim, o ensino das sílabas simples para depois as mais complexas, na Alfabetização é inapropriado e limita o aprendizado do alfabetizando.
A partir dessas construções, constata-se que "o educador, lançando mão de conhecimentos da Linguística, passou a ver a criança como sujeito do processo de aquisição da leitura e da escrita: um sujeito que, ao chegar à escola, já traz uma representação do que seja ler e escrever", como afirma Josefi (2002), transformando, assim, o dia-a-dia do processo ensino-aprendizagem da leitura e da escrita com planejamentos mais dinâmicos e apropriados às expectativas das crianças.
Pode-se afirmar, então, como Josefi (2002, p.3) que "os conhecimentos lingüísticos são, portanto, imprescindíveis para o professor, em uma tarefa tão complexa como a de alfabetizar". A partir disso, não há mais como duvidar da introdução da Linguística na Alfabetização, no entanto, alguns professores ainda não têm conhecimento das características didáticas indicadas nos estudos dessa ciência, o que faz com que ainda tenhamos algumas dificuldades de modernização da metodologia dessa etapa da escolarização.

4 - A PRÁTICA LINGUÍSTICA NA ALFABETIZAÇÃO

4.1 - NO INÍCIO DA ALFABETIZAÇÃO

Todas as oito professoras entrevistadas preocupam-se com a bagagem de conhecimentos, de coordenação motora e/ou a realidade em que vive a clientela que recebem no início da Alfabetização, porém apenas uma citou a preocupação com as expectativas que essas crianças teriam em relação à escrita.
Cagliari (2004) diz sobre isso que se deveria perguntar às crianças o que elas acham da escrita, para que serve na comunidade em que vivem e o que pretendem fazer com esse conhecimento.
Essa preocupação é, talvez, a mais importante, pois, além de proporcionar um planejamento de atividades de acordo com o que os alunos esperam, tornando, assim, a aprendizagem muito mais atraente, para a Linguística, são essas informações que vão embasar o trabalho, pois o foco é a linguagem usada no momento, já que essa ciência estuda o que e como está sendo falado, ouvido, escrito, para, a partir daí, detectar as variações, as dificuldades e as patologias.

4.2 - NO FINAL DA ALFABETIZAÇÃO

Já sobre o que as professoras esperam dos alunos no final da primeira série, tivemos respostas que indicam variações dos objetivos do 1º ano de Alfabetização. Umas esperam que eles estejam alfabetizados, já sendo leitores, outras que estejam motivados a aprender a ler e/ou tenham conhecimentos básicos como os números e as letras e duas citam a prontidão da coordenação motora.
De acordo com a Revista Nova Escola (2009), algumas expectativas para o 1º ano seria inferir o conteúdo de um texto com base no título, ler textos de memória, confrontar idéias, opiniões e interpretações, conhecer as representações das letras maiúsculas imprensa, produzir textos de memória de acordo com a sua hipótese de escrita, escrever usando a hipótese silábica, reescrever histórias ditando ou de próprio punho, produzir escritos de sua autoria ? bilhetes, cartas [...].
A disparidade de objetivos das entrevistadas se dá muito mais pela recente troca de sistema escolar para o ensino fundamental de nove anos. No entanto, linguisticamente falando, os objetivos sugeridos pela revista, baseados nas expectativas da rede municipal de São Paulo, são apropriados para essa fase da aprendizagem, pois permitem desenvolver a exploração das capacidades linguísticas das crianças, ampliando as possibilidades e facilitando então a aprendizagem, que terá muito mais qualidade.
Essas novas práticas têm propiciado novos conceitos, como o de letramento, que se relaciona à apropriação do uso da leitura.

4.3 - A METODOLOGIA

Sobre a metodologia utilizada, uma professora disse partir do nome da criança, através dos níveis de escrita, com produções textuais, deixando que a criança descubra a construção da palavra partindo da sílaba; outra citou a metodologia do GEEMPA, que parte de histórias as quais são reescritas, dramatizadas e refletidas e de onde são escolhidas palavras para serem estudadas através de um glossário; outras citaram músicas, jogos, brincadeiras, sons das letras, famílias silábicas, textos coletivos com palavras-chave, materiais concretos, uso de parlendas. Uma comentou que usava metodologia construtivista, mas puxando também para o tradicional, pois acredita que ajuda muito, e que procura diversificar bastante suas aulas. Por fim, uma das professoras colocou que usa o que acha melhor em cada método, globalizando. Talvez todas essas opções juntas sejam a melhor escolha, já que cada criança aprende com um ritmo diferente e de um jeito diferente.
Conforme Martins (2009), para as línguas neolatinas (Português e Espanhol, particularmente) o método fônico se torna imprescindível por conta do próprio sistema linguístico, fazendo correspondência entre grafemas e fonemas.
Mas as dúvidas geradas sobre esse aspecto seriam sanadas se as professoras tivessem algum embasamento linguístico para conseguir identificar qual a dificuldade da criança na aprendizagem da leitura e da escrita ou pelo menos, se é possível resolver essa dificuldade na sala de aula, já que alguns problemas devem ser encaminhados a um especialista, pois nem sempre as questões são solúveis somente mudando a metodologia. Por isso, na tentativa de dar conta das várias possibilidades de dificuldades, a Linguística se divide em vários ramos de estudo, como a Fonética (estudo da natureza física do som), a Fonologia (estudo do sistema sonoro de um som), Sintaxe (estudo da frase), Semântica (estudo do significado), Morfologia (estudo da estrutura e formação das palavras), a Sociolingüística (estudo da relação da língua e sociedade), a Psicolingüística (estudo das conexões entre a língua e a mente), a Neurolinguística (estudo da elaboração cerebral da linguagem), Etnolinguística (estudo da língua das chamadas sociedades primitivas).

4.4 - SENTIMENTOS PERANTE AS DIFICULDADES DOS ALUNOS

Ao serem questionadas sobre o que sentiam diante das dificuldades dos alunos, as professoras responderam que sentem angústia, preocupação, frustração, impotência, motivação para descobrir uma maneira diferente para alfabetizar. Também disseram que buscam ajuda com a Orientação Escolar, o Laboratório de Aprendizagem da Escola, com monitoria e/ou usando diferentes materiais, porém quando o que a Escola dispõe não resolve e têm que depender da família e de assistência médica, nem sempre conseguem pelos vários fatores sociais em que estão inseridos.
Vários aspectos contribuem para aumentar as dificuldades dos educandos, e que envolvem os conhecimentos linguísticos. De acordo com Golbert (1988, p.12):

A habilidade de ler e escrever pode ser dificultada pela escola ao agravar a complexidade da tarefa de várias formas e, sobretudo, ao enfatizar as discriminações e associações visuais e auditivas, desconsiderando que tais habilidades só irão se refletir em domínio do alfabeto quando acompanhadas de outros pré-requisitos (discriminação visual, auditiva, desempenho linguístico, diferenciação da linguagem, consciência da natureza simbólica da escrita, capacidade para análise segmental da fala e capacidade para reconhecer a autonomia da escrita) igualmente pertinentes na alfabetização.

Sabemos que uma escola engloba dificuldades de inúmeros setores em que os alunos estão envolvidos, mas no caso da linguagem, que é um dos principais fatores de desinteresse e repetência, deveria haver mais entendimento por parte dos professores do assunto, ter um trabalho maior de conscientização das famílias das crianças com dificuldades, pois muitas não dão importância para esses fatores, e maior disponibilidade de assistência, inclusive médica, por parte das mantenedoras das escolas públicas, principalmente.

4.5 - O MATERIAL DIDÁTICO

Para a escolha do material didático, as professoras responderam que levam em consideração: se é criativo e envolvente; se é divertido, colorido e simples; se se enquadra na proposta utilizada; a ilustração, tamanho da letra, palavras que tenham significados, textos de fácil interpretação oral; se a metodologia é embasada na teoria construtivista.
Existem muitos jogos e atividades de fácil aplicação para ajudar a criança a desenvolver suas hipóteses ou para adquirir os conhecimentos desejados, ou mesmo para a professora detectar os níveis de escrita em que o aluno se encontra ou então as suas dificuldades em relação à fala, a leitura ou a escrita. No caso dos livros didáticos, percebe-se que, ou são simplistas, tradicionais e repetitivos demais, ou contém muitas informações e o aprendiz não consegue entender sozinho como realizar as atividades. Duas das entrevistadas inclusive citaram que usam muitos livros para planejar suas atividades. A dificuldade disso, sabemos, é que não há uma cópia pronta para o aluno, então todos os dias as professoras têm de fazer o próprio material, pois os livros não contemplam a cultura própria de cada comunidade com suas variações linguísticas e nem atividades adequadas para todos os níveis de escrita. Seria muito bom se pudessem ser feitos livros diferenciados, pelo menos para cada região do país, com a linguagem própria, ilustrações do conhecimento, ou da realidade dessas comunidades, pois o que acontece é que se contempla uma região só do país, com expressões ou informações utilizadas somente lá.
Como afirma Josefi (2002) há livros para alfabetizar que, segundo Cagliari (1999), apresentam erros grosseiros de fonética porque confundem fatos da fala com fatos da escrita. O exemplo citado pelo autor refere-se à interpretação dos valores fonéticos da letra "x" em que se pretende distinguir os sons "s" e "ss", quando na verdade eles representam um único som. Outro equívoco apontado por ele é o das propostas de atividades que consideram como sendo a mesma coisa o "ba" de banho e o "ba" de batata.
Quando a criança está aprendendo a escrever, observa muito a própria fala, porque esta se constitui como única referência de conhecimento já adquirido. Ocorre que os livros ou as chamadas cartilhas não consideram isso e propõem que os alunos interpretem os fenômenos fonéticos da fala, usando como modelo a forma escrita e não a realidade fonética das palavras. Por isso as professoras fazem um trabalho desgastante de escolha e elaboração de materiais na tentativa de contemplar os aspectos acima citados.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos, a Linguística, em seus diversos ramos, tem expandido seus estudos e contribuído de forma consistente sobre a prática da alfabetização. Seus estudos propiciaram ajudar alguns professores na busca de soluções para as dificuldades dos alunos, com atividades que possibilitam diversificar o pensamento linguístico da criança, fazendo-a explorar seus conhecimentos e ampliá-los.
A proposta linguística para a Alfabetização, que se iniciou com o método fônico, foi adquirindo novas propostas, para métodos que contemplam mais o pensamento, a criação de hipóteses, o uso de variações da fala, fazendo a leitura e escritas mais próximas da realidade das crianças e não algo distante, repetitivo e cansativo.
Nas entrevistas podemos constatar que, em relação à metodologia, as professoras estão buscando realizar aulas de acordo com as novas propostas linguísticas, mas talvez, sem saber disso, pois muitos cursos de Magistério, Pedagogia ou mesmo Pós-graduação nessa área não contemplam estudos dessa área, ou deixam para as últimas disciplinas, quando, se fossem estudadas no início dos cursos, poderiam ajudar muito mais no planejamento das aulas e para detectar problemas de fala, audição, leitura ou escrita nas crianças.
Sobre o que querem saber dos alunos no início da Alfabetização, percebemos que as professoras consideram muito importantes os conhecimentos e habilidades que os alunos já têm, mas deve-se dar mais importância ao que a criança pensa sobre a escrita e a leitura, pois é esse o objetivo de aprendizado na escola nessa fase, e trabalhando isso, os aprendizes adquirem juntamente os conhecimentos e habilidades, ou mesmo, contribuem durante o aprendizado com aquilo que já sabem e, numa perspectiva interativa, auxiliam os colegas que ainda não conseguem.
Com relação as expectativas para o 1º ano de Alfabetização, ainda estão um pouco confusas; porque cada entidade mantenedora projeta seus próprios objetivos de acordo com suas bases teóricas, porém, de acordo com os estudos da Linguística, deve-se priorizar o entendimento do que se lê e suas finalidades, num contexto e não uma análise simbólica e em partes, que dificulta o entendimento da criança, já que, para falar ela não usa termos fora do contexto ou separados uns dos outros. Também não fala "silabando" as palavras e nem aprende primeiro só palavras com sílabas simples para depois as complexas, então, para aprender a escrever precisa ter contato com todas as formas possíveis da sua realidade usando ao máximo as possibilidades de expressão.
De acordo com as respostas das professoras na entrevista sobre as dificuldades dos alunos, podemos constatar o grande problema de detectar os obstáculos e também de transpô-los. Isso porque são muitas as falhas do sistema educacional, inclusive com falta de profissionais habilitados nas áreas da medicina que poderiam auxiliar os professores com alunos que apresentam características de aprendizagem que fogem do âmbito escolar. Além disso, são muitos os conhecimentos que a realidade atual exige dos professores, que, além de ensinar a ler e escrever, precisam ser mães, pais, psicólogos, médicos, enfim, tornando o trabalho mais estafante, causando a falta de tempo para estudarem assuntos relacionados diretamente à aprendizagem dos alunos. Por exemplo, procurar atividades que ajudem os alunos a resolver o problema de troca de letras por serem representações de fonemas muito próximos, como as duplas f/v, d/t, ou os sentidos diferentes de uma mesma palavra, entre outros inúmeros fatores importantes na aprendizagem da leitura e da escrita.
Por essas dificuldades e fatores relativos à Alfabetização é que se torna imperativo ter em mãos materiais didáticos que facilitem a vida do professor e do aluno. Devem ser materiais práticos, com atividades contextualizadas e próximas das realidades das crianças, abrangendo conhecimentos apropriados e permitindo a ação da criança como sujeito da aprendizagem sem repetições desnecessárias. Além disso, não se pode abrir mão de jogos, brincadeiras, músicas, parlendas, entre outros materiais que possibilitam a ampliação linguística e o pensamento sobre o seu uso pelas crianças.
Enfim, podemos constatar as muitas contribuições da Linguística na Alfabetização, que podem ser ampliados e com certeza serão, pois os linguistas e pedagogos estão constantemente buscando novas propostas para adequar o ensino da leitura e da escrita à atualidade.


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1 Artigo Científico apresentado como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Alfabetização e Letramento ? Educação Infantil e Séries Iniciais.
2 Pós-graduanda no curso de Alfabetização e Letramento ? Educação Infantil e Séries Iniciais da Faculdade Avantis . E-mail: [email protected]
3 Professora Orientadora do TCC, Mestre em Educação. E-mail: [email protected]


REFERÊNCIAS

CAGLIARI, Luís Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2004.

GOLBET, Clarissa S. A evolução psicolinguística e suas implicações na alfabetização ? teoria ? avaliação - reflexões. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

JOSEFI, Ângela Helena Bona. A Linguística e a aquisição da escrita. Departamento de Pedagogia, UNICENTRO, Guarapuava, PR, 2002 ? Disponível em: www.unicentro.br, acesso em 10/10/09.

MARTINS, Vicente. A guerra dos métodos de Alfabetização. Disponível em: www.filologia.org.br, acesso em 23/08/09.

MENEZES, Thales de. Alfabetizar é todo dia. Revista Nova Escola, 22ª edição, 2009.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é Linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999.

TASCA, Maria; POERSCH, José Marcelino. Suportes linguísticos para a Alfabetização. Porto Alegre: Sagra, 1990.