Ministrando aulas de Produção de Textos por contrato, substituindo uma professora que se ausentara, recebi um programa que versava sobre tipologia textual e enfatizava as temáticas dos livros de Maria Tereza Serafini, Como produzir textos e de Platão e Fiorin, Para entender o texto - leitura e redação. O alvo era explorar a diversidade de textos e estilos e produzir cada tipo.

Inicialmente perdi muito tempo explicando características dos textos, seus estilos e fornecendo exemplos. Depois decidi distribuir as unidades dos livros entre os alunos para as estudarem e apresentarem em seminários. Resolvi estudar o livro mais teórico junto com os alunos, definindo os métodos e conceituando os mais utilizados, os tipos de parágrafos, os encadeamentos, os elementos de coesão e as análises externas e internas dos textos.

O trabalho mais prático que envolvia a produção de cada tipo de texto coube aos alunos que se revezavam nas apresentações dos seus próprios textos e análise.

Por último, os alunos elaboraram trabalhos de resumo e resenhas acerca dos temas estudados, obedecendo às normas de textos acadêmicos publicados pela UEL.





Nessa primeira turma (16 alunos) senti que meu trabalho deixou a desejar quanto à abertura do programa. Teria sido mais proveitoso se eu tivesse conduzido as turmas a pesquisas e discussões de seus resultados. Assim, os alunos não ficariam restritos, como ficaram, às leituras pré–determinadas o que considero uma atitude, da minha parte, empobrecedora do conteúdo.

Para a 2a turma de Letras (18 alunas) para a qual lecionei, em 1997, já como docente estatutária, procurei abrir mais o programa para outras possibilidades de leitura, pesquisa e discussões voltadas, também, para a variedade de linguagens. A meta era fazer a turma ler bastante, pesquisar mais e criar seus textos com base em suas escolhas, estruturando-os e reestruturando-os, passo a passo, com a minha intervenção apenas em caso de refacção. Desse modo, o direcionamento centralizava apenas o conteúdo essencial, porém, não restringia os alunos ao que estava anteriormente determinado.

Comecei pela criação, junto aos alunos, de temas voltados para o que era primordial para a turma. Após combinar os temas de estudo, os grupos fizeram escolhas e distribuíram as tarefas entre si para procederam às pesquisas. Eu me limitei a registrar e sugerir bibliografias e a orientar a pesquisa.

Temas sobre A intertextualidade nas canções de Chico César; A ambigüidade no discurso político; A redundância na linguagem do professor; Ironia e eufemismo nas crônicas de Jô Soares, são alguns exemplos de trabalhos realizados pelas equipes que realmente me surpreenderam.





Nessa turma, uma falha minha foi ter deixado de lado qualquer informação acerca da metalinguagem ou alguma orientação no sentido de revisão gramatical dos textos. A preocupação de explorar muitas leituras e propor produções de textos diversos culminou no esquecimento de explorar fatos da norma culta, o que implicou trabalho excessivo só para a professora, no momento das revisões.

Com uma nova turma em 1998 (24 alunos), procurei rever algumas questões que ainda não estavam claras na minha atuação em sala de aula. Desejava, além de exigir muitas leituras, fazer produzir vários tipos de textos, contemplar todos os fatores que lhes dão textualidade e priorizar a gramática textual de forma contextualizada, de modo que os alunos dessa turma aprendessem a usar a norma culta nos seus textos sabendo explicar os porquês.

Para essa turma selecionei uma bibliografia que priorizava os aspectos do texto que o fazem coerente, coeso e claro. Os trabalhos de Koch, Travaglia, Citelli, Sayeg, Serafini, Platão e Fiorin serviram de base para as lições, destes últimos foi adotado o livro Lições de texto, apresentadas em discussões e seminários.

As atividades acadêmicas de leitura, pesquisa, seminários, debates e discussões eram realizadas em grupos, e as de interpretações e produções de textos eram individuais, de modo que os alunos pudessem ser avaliados em sua atuação nas equipes e isoladamente. Cada aluno ficava incumbido de uma lição e a apresentava para a turma; cada grupo montava seu seminário com um certo número de lições, fazia uma proposta de redação para todos e, ao final da unidade, elaborava ensaios ou relatos das suas atividades acerca dos temas criados por eles mesmos.

Algumas monografias apresentadas pelos alunos trataram da relação dos textos de jornais com a caricatura; da intencionalidade dos textos publicitários; do conhecimento partilhado através de editoriais; da intertextualidade e referências nas canções de Raul Seixas; do intertexto contextual nas composições de Gabriel, o pensador; da contextualização como fator de aceitação do texto didático; das inferências da comunicação; e da informatividade e aceitabilidade nos textos da propaganda.

Pela primeira vez, em três anos de tentativas, consegui explorar com os alunos, como idealizava, as noções gramaticais nos seus próprios textos, a cada reestruturação, a cada revisão. Esse trabalho foi realizado em duas situações: com toda a turma, através dos comentários dos problemas dos textos que iam sendo apresentados, durante as aulas; e, em pequenos grupos, nos momentos de refacção de textos, em minha sala de orientação.

Assim, percebi ser possível contextualizar os fatos gramaticais nas aulas de produção de textos; no entanto, precisam ser criadas condições de tempo, ambiente e acesso ao material de consulta e de apoio para as revisões. Não é pelo fato de ser professora de produção de textos que devo me dar ao luxo de me preocupar apenas com a criação de argumentos, pois, não posso ignorar que, antes de tudo, sou professora de Língua Portuguesa e tenho o compromisso de fazer conhecer esse código, seus usos e formas.