Em 17/08/2011, quando não me importava com espiritualidade e quando toda a minha filosofia e psicologia, assim como hoje, se limitavam ao campo do raciocínio divagativo ou devaneios, eu sonhei e documentei...

"Estava eu em uma espécie de varanda, ampla, arejada e aconchegante. Havia uma mesa retangular, grande, por volta 10 pessoas ao redor, provavelmente estavam minha mãe e minha avó. O que faziam ali? Um culto. Eu não participava do culto, mas estava presente na cena. Ao lado da varanda havia um salão, onde tocava uma orquestra. Música bela, harmônica, relaxante. Havia uma janela entre a varanda e o salão. Eu me sentei ali para apreciar a música e assistir ao trabalho dos músicos, aguardando o término do culto. Ali mesmo comecei a adormecer ao som da música. Dei-me conta de que estava adormecendo, mas antes que eu perdesse completamente a consciência, concentrei-me e tive a sensação de que pudesse eu, humano, controlar o meu suposto espírito. Foi o que aconteceu... Ou ao menos eu estava em algo que parecia ser um estado espiritual, mas consciente do ponto de vista carnal. Eu, podia sentir o meu espírito se levantando enquanto sentia meu corpo imóvel. Não podia ir muito longe, mas podia me mover dentro de mim mesmo ou em um raio próximo.

Sinto uma energia muito forte, estou mergulhado nela. É esmagadora, fico praticamente imóvel. Posso dizer, em grosso modo, que estou imerso num oceano a quilômetros de profundidade. É só uma tradução, porém a sensação não pode ser explicada com os cinco sentidos. Eu posso amenizar essa pressão, lançando mão de uma energia própria, emanada do meu ser, que contrabalanceia um pouco a energia externa. Posso me concentrar e aumentar essa energia, mas nunca a ponto de conseguir boa mobilidade. Parece existirem forças que não me permitem ver algo que eu não possa em estado consciente. Mas eu quero ir em frente! No entanto, quanto mais eu aumento a minha energia a fim de prosseguir, sinto que eu próprio não a posso suportar. Algo como uma sensação de risco de morte física... É indescritível.

Não é a primeira vez que me vejo em situação semelhante. Mas nunca eu tive tanto controle e suportei tanto tempo. Isso que foi descrito é só uma parte daquilo que não consigo me lembrar, pois de alguma forma eu sei que ocorreram mais coisas. E não era fantasia de criança. Eu queria acordar e documentar. Eu supostamente acordei, com a lembrança fresca, mas eu estava naquela varanda onde adormeci, ao lado de um salão. Houve ali, portanto, uma inserção, um sonho dentro de um sonho. Quando eu finalmente acordei, meu corpo estava cintilante, coração palpitante, respiração normal. Eu me senti bem, embora assustado. Eu me lembrei de alguma coisa remanescente, mas eu não consegui me levantar da cama para tentar documentar. Hoje no almoço eu simplesmente me lembrei do sonho e tentei contar ao meu irmão, sem muito sucesso de expressão. O fato de escrever ajuda na recordação, mas agora já se passaram muitas horas desde a experiência e eu não posso garantir com 100% de certeza a veracidade da descrição. Posso estar imaginando, mas pelo fato de ser uma lembrança acompanhada de sensações ainda pungentes, julgo ser uma descrição digna.

Se essa é uma forma de percepção do espírito, digo que não é uma experiência ruim e tampouco prazerosa. É um equilíbrio, uma noção de paz.

Outra abordagem seria o funcionamento misterioso da mente. Noutra vez, eu sonhei...

Só me lembro de ter formulado um pensamento inédito e muito expressivo. Depois disso eu acordei e com muito sacrifício tentei documentar. Eu me levantei da cama, tentei acender a luz, mas ela piscava e não acendia, peguei uma caneta em cima da minha escrivaninha juntamente com um papel e fui pelo corredor em direção à sala, vi meu cachorro saindo do quarto da minha mãe, até falei com ele “Pô, Robinho, quem te deixou entrar de madrugada?” Porém, mais uma vez tratava-se de uma inserção de sonhos. Eu não estava acordado ainda! Como se pode ver, eu sempre me lembro com detalhes do sonho, mas não do sonho do sonho, onde estava o ponto chave que eu queria me lembrar. Aqui eu abro um parêntesis para divagar sobre a mente.

(Parece existirem várias camadas na mente, e aquelas mais profundas escondem a inteligência verdadeira, a existência plena, a paz e o equilíbrio. A mente num estado profundo é infinita, é esmagadora, funciona por si própria, independe dos sentidos, é um estado metafísico onde pensamentos são processados com velocidade incrível; parece ser o próprio universo processando todos os movimentos de todas as partículas existentes e todas as suas interações mútuas em todo o espaço-tempo).

Continuando, quando finalmente acordei, eu me senti leve, me senti comum, normal, estava na crosta da mente, aquela bem básica, que te diz onde você está, quem é você e o que os seus sentidos estão monitorando. Estou com calor? Estou confortável? Droga, eu babei! O que eu sonhei? Não sei! Ora, como não sei, se acabei de acordar? Pois é, não sei, a mente superficial não está apta a compreender a mente profunda, não há um canal que ligue ambas, e, se houver, há muito ruído e as informações se perdem no caminho.

(O estado consciente, "ligado", é o mais ativo de nossa mente, e é um limitante. É também a causa de termos sofrimentos e alegrias, de sentirmos dores e prazeres. É o que nos mantêm vivos. Já a mente profunda é bem desligada dessas necessidades básicas de sobrevivência, mas mostra-se, ao menos para mim, bem ligada às questões fundamentais da existência, à paz interior).

Se formos unir as duas abordagens, poderíamos dizer que a camada mais profunda da mente se confunde com o próprio estado espiritual."

Só resgatei o texto, pois atualmente, já com algum estudo sobre espiritualidade e vivendo uma fase bem menos cética, abrindo a conciência ao místico, parece fazer muito sentido. Foi escrito durante o que hoje classifico como "o final da fase cética", ateísta. Só faço algumas ressalvas.

No texto faço referência ao MEU espírito, o que é incorreto (um desconto pela falha, devido à epoca eu não ter conhecimento). Todos somos espíritos, no entanto quando descrevemos alguma experiência desse tipo, tendemos a fazer de um ponto de vista materialista e, como acreditamos cegamente ser essa personalidade que assumimos na orbe física, taxamos coisas externas ao Ego como sendo NOSSAS. Daí dizemos: MEU corpo, MINHA mente, MEU espírito, enfim, tudo girando em torno do Ego. Ora, o que somos nós afinal, que tem corpo, mente, espírito e ego? Em nosso estágio atual, somos tudo isso, mas o Eu verdadeiro, em essência, é o espírito, o estado de pura consciência universal, a individualidade suprema e altruísta, que é independente do espaço-tempo-matéria. Ao passo contrário, o corpo físico é um estado de grande fechamento consciencial, extremamente limitado no campo da percepção, da inteligência e da moral.

O objetivo da evolução espiritual (ampliação intelecto-moral da consciência) é deixar de coexistir nesse anti-sistema que conhecemos por espaço-tempo-matéria, deixar de viver todas as dualidades que criamos ao longo das nossas experiências físicas, é alcançar a Paz, é estarmos aptos a retornar ao Sistema...