O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem como proposta na estimulação, trabalhar com crianças entre zero e três anos com deficiência ou atraso no desenvolvimento, sendo que, a partir de suas necessidades, é traçado um plano de trabalho individualizado. As atividades são diferenciadas e focam os interesses e as respostas de cada criança, sofrendo adaptações e flexibilizações quando necessário. Partindo dessa proposta, um Projeto Ambiental foi desenvolvido e envolveu todo o Centro Municipal de Educação Alternativa (CEMEA), bolsistas, pais e crianças, buscando a integração, a estimulação, experiências lúdicas e sensoriais e a conscientização em relação ao meio ambiente. O objetivo é a interação da criança com o meio, oportunizando a aprendizagem de fatores da vida diária e prática que, muitas vezes, acabam sendo comprometidos nessa criança. Foram realizadas orientação à família quanto ao processo de desenvolvimento da criança e ao contexto social e ambiental. O lúdico tem papel fundamental no trabalho e, por meio dele, foram desenvolvidas atividades sensoriais e psicomotoras, tais como brincadeiras, jogos e dinâmicas, manuseio das plantas, das folhas, das sementes, da terra e da água. Também trabalhados aspectos de vida diária, como atividades simples e habituais do dia a dia, como abrir torneiras para lavar as mãos, estimulação para desenvolver autonomia em atos e situações diversas, perceber partes do corpo sujas, rotinas como encher o regador e molhar as plantas e vivenciar o crescimento dessas plantas a cada atendimento. As crianças participaram do processo de organização das composteiras, confeccionadas com o auxílio dos pais, ajudando a mantê-las. Observaram o crescimento das minhocas e utilizaram o chorume para regar as plantas. A família também contribuiu com a coleta de materiais recicláveis e reutilizáveis para a confecção de brinquedos e jogos lúdicos utilizados nos atendimentos. Esses brinquedos foram produzidos pelos bolsistas, pais e crianças no decorrer do ano. Apesar de o projeto ser coletivo, foram traçadas ações individualizadas de acordo com a necessidade de cada aluno. O tema Ambiental foi escolhido por ser uma área que desperta o interesse das crianças e proporciona muitas experiências sensoriais. Dessa forma, a participação da criança está sendo efetiva, e os objetivos estão sendo alcançados, tanto no projeto Ambiental quanto no trabalho da estimulação essencial. Esse projeto está sendo de fundamental importância para a criança, por possibilitar seu desenvolvimento global em um processo contínuo. Para as bolsistas, o trabalho tem proporcionado o contato direto com experiências e vivências dentro do Atendimento Educacional Especializado, possibilitando novas aprendizagens na área, trocas de saberes e interações. Participam de toda a rotina dos atendimentos e acompanham todo o trabalho realizado dentro do Centro. Planejam junto, realizam intervenções, confeccionam materiais e auxiliam na observação e avaliação das crianças atendidas. Muitas formações estão sendo realizadas, além de estudos de caso e oficinas com as bolsistas, a fim de aprimorar mais os conhecimentos e, assim, realizar um trabalho mais completo e significativo.

Palavras chaves: Estimulação essencial. Educação Especial. Pibid.

 

                 O subprojeto Educação Especial está desenvolvendo, neste ano de 2015, um projeto de sustentabilidade com alunos com deficiência, altas habilidades e transtorno do espectro autista (TEA) (também público-alvo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – 2008). O contexto desses sujeitos é a Estimulação Essencial, por muitos autores apresentada como Estimulação Precoce, que igualmente pode ser oferecida às crianças sem diagnóstico, mas que apresentam dada condição que ocasione algum prejuízo para o seu desenvolvimento (atividades funcionais, como autonomia, iniciativa, atividades de vida diária (AVD´s), função à ação, elaboração de pensamento, conceituação, construção cognitiva, entre outros) e que exija recursos, estratégias e atendimento para favorecer a promoção de seu crescimento.          A Estimulação Essencial é um trabalho promovido pela Educação Especial para favorecer o bom desenvolvimento de crianças com deficiência e transtorno do espectro autista, compreendendo os prejuízos que podem ser causados por conta dos quadros apresentados caso um bom estímulo não aconteça. Nesse sentido, Leão et al. (2014, p. 1) nos ensinam que “A carência da estimulação nos primeiros anos de vida diminui o ritmo natural do processo evolutivo infantil, aumentando também o distanciamento dos padrões do desenvolvimento psicomotor, socioafetivo, cognitivo e da linguagem.”

                 Os mesmos autores ainda nos trazem que “[...] o estímulo tem como objetivo desenvolver e potencializar, através de jogos, exercícios, técnicas, atividades e de outros recursos, as funções do cérebro da criança beneficiando seu lado intelectual, seu físico e sua afetividade.” (LEÃO et al., 2014, p. 3). Em outras palavras, o objetivo principal da estimulação essencial é que as experiências necessárias sejam proporcionadas às crianças desde a mais tenra idade e aproveitando ao máximo o seu potencial para que seja garantido seu bom desenvolvimento.

                 Esse trabalho pode ser desenvolvido com muita qualidade pelos profissionais da Educação Especial que, para tanto, formam uma equipe técnica que, por sua vez, precisa, necessariamente, ter compreensão além da atuação profissional, da formação. Esses profissionais precisam ser pessoas comprometidas com a Educação Especial e com a Estimulação Essencial, destacando-se, entre eles, o professor, o fonoaudiólogo e o psicólogo que, comumente, integram essa equipe.

                 Consideramos que há necessidade de ser além da formação porque é essencial  que conheçam os fundamentos da sua profissão, como também compreendam as singularidades e particularidades das crianças em questão, além de que tenham muita clareza do processo de inclusão de que fazem parte as crianças aqui apresentadas, porém, numa perspectiva ampla que envolve não somente matrícula, materiais e/ou adaptações, conforme descreve Werneck (1997) a inclusão significa conhecer a sociedade como ela é, com toda a diversidade possível, não apenas a da deficiência. Significa que cada pessoa tem o direito de contribuir com o seu talento para o bem comum. Talento que todos nós temos e que a escola não está preparada para perceber. A inclusão significa valorizar a diversidade, com dignidade. A inclusão é muito mais do que o respeito à diferença, isso é cidadania. Inclusão é quando você se dá conta de que estamos buscando um mundo social inspirado na diversidade porque o mundo humano é assim. Inclusão é perceber que todos nós somos diferentes.

                 Sob outra perspectiva, esse trabalho é também marcado pela participação efetiva dos pais, sendo imprescindível que estejam envolvidos, compreendendo o que pode e deve ser feito também em casa, lembrando sempre que não serão seus terapeutas, mas, sim, colaboradores constantes do trabalho desenvolvido e elaborado pelos profissionais. Isso porque,

“[...] quando uma criança nasce, um outro aparece entre nós. E é um outro porque é sempre algo diferente da materialização de um projeto, da satisfação de uma necessidade, do cumprimento de um desejo, do complemento de uma carência ou do reaparecimento de uma perda. É um outro enquanto outro, não a partir daquilo que colocamos nela. É um outro porque sempre é outra coisa diferente do que podemos antecipar, porque sempre está além do que sabemos, ou do que queremos ou do que esperamos. Desse ponto de vista, uma criança é algo absolutamente novo que dissolve a solidez de nosso mundo e que suspende a certeza que nós temos de nós próprios”. (LARROSA, 2004, p. 187)

      

              É fundamental que a equipe técnica considere a participação dos pais, envolvendo-os e colaborando para a sua compreensão acerca do processo. Nem sempre os pais compreendem o quanto entendem os seus filhos, mas são sempre os melhores informantes dos profissionais que com eles trabalham. É preciso dar empoderamento aos pais acerca dessa situação, no sentido de que são imprescindíveis ao processo, de que podem colaborar e, principalmente, auxiliar na construção do planejamento do que realmente esses profissionais desejam conquistar.

              Quanto ao público-alvo da Estimulação Essencial, as crianças com deficiência ou com TEA, perguntamos: de que precisam?

              Inicialmente, precisam ser amadas, respeitadas, compreendidas e vistas enquanto sujeitos com sua cidadania garantida, com um nome que não seja primeiramente o da deficiência ou do transtorno, mas, sim, Pedro, Paulo, Maria, Lurdes e assim por diante, porque, antes de qualquer quadro clínico, são crianças com um nome. E depois?

              Depois, precisam ser avaliadas sob circunstâncias reais, apresentadas em momentos específicos, analisadas em suas dificuldades e valorizadas em seus potenciais para, aliando tudo isso, serem compreendidas em suas necessidades. É preciso, a partir de um estudo de caso detalhado, propor e inovar para garantir um planejamento que consiga desenvolver, estimular e valorizar o que essas crianças conseguem fazer, levando em consideração a necessidade de sempre “alçar voos mais altos”, para além do que seria a sua dificuldade. Como fazer isso?

              Consideramos que seja essencial que os profissionais que atuam com essas crianças repensem a prática pedagógica, como também o espaço educacional, e entendam que esse espaço é para todos e que nele cabem realmente TODOS. Muito do que esses profissionais propõem é realizado com pequenas adequações, adaptações, materiais nem sempre de alto custo, que envolvem de maneira muito íntima a necessidade de se dispor ao outro, de sentar para brincar, de não sentirem repugnância pela baba, de tolerar a demora da resposta, de ver que, para uma dessas crianças sair andando é um desafio e que, para outra, sentar é seu objetivo de vida!

            Perguntamos, então: como funciona o trabalho da Estimulação Essencial dentro do Atendimento Educacional Especializado (AEE)?

As crianças que frequentam a Estimulação Essencial possuem idade entre 0 e 3 anos e,   quanto mais cedo iniciarem o atendimento, melhor será o seu desenvolvimento e mais rapidamente poderão apresentar resultados em aspectos que necessitam de acompanhamento e mediação.

Para ingressar no atendimento, as crianças passam, inicialmente, por um processo de triagem com uma equipe multiprofissional, ocasião em que é verificado se se encontram no perfil do Atendimento Educacional Especializado. Passando por esse processo, são iniciados os atendimentos em uma sala própria de Estimulação, com recursos didáticos e materiais apropriados para tal função. Os atendimentos acontecem de preferência individualmente, duas vezes por semana, num período de, aproximadamente, 45 minutos a 1 hora.

Igualmente, é fundamental que o trabalho seja de forma contínua, por meio de brincadeiras e movimentos que favoreçam o desenvolvimento global da criança, nos aspectos afetivo, cognitivo, social e físico, com o objetivo de minimizar, diminuir ou até mesmo propiciar a modificação radical de um quadro em atraso, buscando evitar e minimizar prejuízos futuros.

Cabe ressaltar, porém, que o trabalho da Estimulação Essencial não substitui a frequência na Educação Infantil, sendo mister que os pais sempre sejam orientados a matricular a criança caso ela ainda não esteja frequentando um Centro. A respeito disso, Vigotsky (1998) nos explica que antes de ingressar na escola, a criança participa do grupo familiar, e de grupos ligados à família. Mas é no ambiente escolar que este processo de interação em grupo se intensifica. A frequência de encontros faz com que a experiência seja diferenciada de qualquer outra vivenciada até então, imputando à escola o status de espaço legítimo de construção e partilha de conhecimentos. Nela, a interação é constante, mesmo quando não mediadas pelo educador se consolidam aprendizagens que não constam nos currículos escolares.

As palavras de Vigotsky (1998) permitem ponderar que cabe ao profissional do AEE orientar os Centros de Educação Infantil a trabalharem com a inclusão de forma flexibilizada, incluindo a criança no grupo e revisando o planejamento para que contemple a turma num todo. As visitas aos Centros de Educação Infantil fazem parte da Política de Atendimento da Estimulação Essencial.

As atividades de Estimulação variam conforme a necessidade de cada criança e de acordo com o perfil de cada aluno. A partir disso, são organizadas e planejadas atividades específicas, de forma muito lúdica e dinâmica, pois constituem a melhor forma para estimular as crianças nessa fase em que se encontram. Através da constante mediação do adulto, processos psicológicos instrumentais mais complexos começam a tomar forma. Os adultos servem de mediadores do contato da criança com o mundo. A medida em que as crianças se desenvolvem, esses processos de interação que eram inicialmente partilhados com os adultos, acabam por ser executados dentro das próprias crianças. (VIGOTSKY, 2001).

Podemos destacar algumas atividades muito utilizadas na Estimulação Essencial, como brincadeiras de faz-de-conta, de casinha, com bonecas, blocos lógicos, literaturas, desenhos, pinturas, recontagem de histórias, relato de fatos do cotidiano, atividades de classificação, seriação, sequenciação, diferenciação, pista de “carrinhos”, jogos, bolas, atividades sensoriais (tapetes sensoriais, texturas diversificadas, areia, “pedrinhas”, gomas, água, terra etc.), materiais alternativos, brinquedos com sons, luzes, atividades motoras (motricidade ampla, fina, equilíbrio, lateralidade etc.): cama elástica, piscina de “bolinhas”, massa de modelar, motoca, “bolinha” de sabão, pegar objetos, rastejar, engatinhar, entre outros.

A brincadeira funcional, que diz respeito à manipulação de objetos e/ou brinquedos de acordo com suas funções (acionar, fazer encaixes e jogos de construção), é muito utilizada na Estimulação Essencial, pois possibilita à criança  aprender a real função não só do brinquedo como da sua própria ação. A exploração apenas pelo explorar não faz muito sentido nesse contexto.

Para Vigotsky (1998), o brinquedo tem intrínseca relação com o desenvolvimento infantil. Embora o autor não considere como o único aspecto predominante na infância, é o brinquedo que proporciona o maior avanço na capacidade cognitiva da criança. É por meio do brinquedo que a criança se apropria do mundo real, domina conhecimentos, se relaciona e se integra culturalmente.

Quanto ao projeto alvo deste relato, está sendo realizado com as bolsistas de Iniciação à Docência (ID), com supervisão e coordenação do Pibid, e envolve, este ano, uma série de atividades específicas focadas no desenvolvimento da criança por meio de ações práticas e de vida diária. Tem como título “Experiências lúdicas, sensoriais e ambientais no processo de estimulação e desenvolvimento da criança com deficiência no Atendimento Educacional Especializado”.

Os projetos são diferenciados e ressaltam os interesses e as respostas de cada criança, sofrendo adaptações e flexibilizações quando necessário. Esse Projeto de Sustentabilidade envolve todo o Centro Municipal de Educação Alternativa (CEMEA) no qual está sendo desenvolvido, os pais e as crianças, buscando a integração, a estimulação e a conscientização em relação ao Meio Ambiente. O objetivo é a interação da criança com o meio, oportunizando a aprendizagem de fatores da vida diária e prática que, muitas vezes, acabam sendo comprometidos nessa criança. Além disso, é dada orientação à família quanto ao processo de desenvolvimento da criança e ao contexto social e ambiental. O lúdico tem papel fundamental no trabalho e, por meio dele, são desenvolvidas atividades sensoriais e psicomotoras, tais como manuseio das plantas, das folhas, das sementes, da terra e da água. Também são trabalhados aspectos de vida diária, como abrir torneiras e lavar as mãos, como também rotinas, como encher o regador e molhar as plantas e vivenciar o crescimento dessas plantas a cada atendimento.

As crianças participam do processo de organização das composteiras, confeccionadas com o auxílio dos pais, ajudando a mantê-las. Observam o desenvolvimento das minhocas e utilizam o líquido das composteiras para regar as plantas. A família também contribui com a coleta de materiais recicláveis e reutilizáveis para a confecção de brinquedos e jogos lúdicos utilizados nos atendimentos. Esses brinquedos são produzidos pelos bolsistas, pais e crianças ao longo do ano.

Apesar de o projeto ser coletivo, foi possível traçar ações individualizadas, de acordo com a necessidade de cada aluno. Dessa forma, a participação da criança está sendo efetiva, e os objetivos estão sendo alcançados, tanto no Projeto Ambiental quanto no trabalho da Estimulação Essencial. Esse projeto está sendo de fundamental importância para a criança por possibilitar seu desenvolvimento global em um processo contínuo.

Essa ação do subprojeto Educação Especial está propiciando aos bolsistas do Pibid experiências educacionais inclusivas e ressignificação de concepções e práticas, levando-os a compreenderem a diferença humana em sua complexidade, não mais com um caráter fixo e um lugar: preponderantemente no outro, mas entendendo que as diferenças estão sendo constantemente feitas e refeitas e estão em todos e em cada um.