Expectativa do Professor sobre o Desempenho dos Alunos e sua Implicação no Processo de Ensino e Aprendizagem    

 

Autores: Jorge Lufiande - Docente da Universidade Pedagógica- Delegação de Quelimane- Departamento de Ciências de Educação e Psicologia

                 Leonel Jone - Docente da Universidade Pedagógica- Delegação de Quelimane- Departamento de Ciências de Educação e Psicologia

  Resumo

Falar de expectativa do professor sobre o desempenho do aluno é um assunto importante porquê desperta atenção do impacto que tem sobre no processo de ensino e aprendizagem. Muitos são os professores que não têm consciência do impacto das suas expectativas sobre o rendimento académico dos seus alunos. O presente artigo tem por objectivo explicar o impacto das expectativas do professor sobre o rendimento do aluno. Para tal efectuou-se uma pesquisa bibliográfica. Chegou-se a conclusão de que, a apesar de existirem inúmeros factores que ditam o desempenho dos alunos, o desempenho do aluno é também resultado daquilo que o seu professor espera dele.

 Palavras-chave: expectativa; desempenho.      

 Introdução

A partir de 2004, ano em que Moçambique operou a reforma curricular no ensino básico, começaram a surgir debates “abertos” em volta da qualidade do Ensino. Recordar que, antes da reforma curricular, o Ensino Básico compreendia sete classes, divididas em dois graus. O primeiro grau compreendia primeira à quinta classe e o segundo, sexta e sétima. Em todas as classes do primeiro assim como do segundo grau, realizava-se no final de cada disciplina um exame, que avaliava o grau de assimilação dos objectivos preconizados para cada classe. Somente tinha direito de transitar para outra classe o aluno que obtinha resultado positivo no exame.   

Com a reforma curricular introduzida em 2004, o exame passou a ter lugar somente no final de cada ciclo de aprendizagem. O ensino básico passou a ser constituído por três ciclos de aprendizagem, dois no primeiro grau e um no segundo grau. O primeiro ciclo correspondente à primeira e segunda classe e o segundo a terceira, quarta e quinta classe. O segundo grau que compreende a sexta e sétima classes corresponde ao terceiro ciclo.

O sistema de avaliação passou para promoção por ciclo de aprendizagem dos alunos, que consiste na transição destes, de um ciclo de aprendizagem para o outro.

A reprovação passou a ser uma excepção, que somente aconteceria mediante a um consenso entre o professor, o Director da Escola e os Pais/Encarregados de Educação de que a criança não atingiu as competências mínimas e, por isso, não podia beneficiar da progressão para o estágio seguinte, (INDE & MINED, 2003:24).  

Este sistema de avaliação vem criando debates acesos no seio de académicos e sociedade civil, porque associa-se a má qualidade de ensino existente no ensino básico em Moçambique.

De acordo com um estudo divulgado pela agência Lusa, aproximadamente a 80 por cento dos alunos moçambicanos com quinto ano do ensino básico enfrenta “dificuldades” em resolver problemas fáceis e ler frases simples. O mesmo estudo adianta que estas dificuldades resultam supostamente do sistema de passagem semi-automática que permite que uma criança transite até ao quinto ano de escolaridade sem reprovar, aplicado nas escolas moçambicanas no âmbito do novo currículo escolar, introduzido em 2004.

Um estudo realizado pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), em sete distritos das províncias de Gaza, Zambézia e Cabo Delgado que teve como base as opiniões dos beneficiários dos serviços do ensino básico, nomeadamente os próprios alunos, concluiu que existe uma percepção generalizada de que a qualidade de ensino continua a ser negativa e deficitária.

Quem comunga da mesma opinião é o Secretário da Organização dos Professores Moçambicanos (ONP) para os Assuntos Internacionais, que considera a baixa qualidade dos alunos como resultado do sistema de passagens semi-automáticas.

Portanto, a partir dos estudos acima citados percebe-se que a qualidade de ensino básico em Moçambique é preocupante e que esta percepção não é somente da sociedade civil e dos alunos, é também dos professores que são fundamentais na implementação da reforma curricular.

Professores estes que assumem serem passivos perante o novo sistema de avaliação, na medida em que entram outros intervenientes na tomada de decisão em relação a passagem de classe dos alunos. Estes factores influenciam aos professores a terem uma expectativa negativa sobre o desempenho dos seus alunos.

  Este artigo pretende despertar os actores sobre o impacto que a expectativa do professor tem sobre o desempenho escolar do aluno e ao mesmo tempo explicar a importância dos professores terem uma expectativa positiva sobre o desempenho dos seus alunos. A base da pesquisa foi a revisão bibliográfica.

 

 

Expectativa -Conceitualização

Na Lexicoteca, expectativa é “esperança fundada em promessas ou probabilidades” (Leal, 2007, p. 50, cit. Barbosa, 1985, p. 1023). O termo promessa está associado a um compromisso relacionado a um evento futuro.

 Para Rosenthal et all, (1998) citado por Leal (2007), expectativa é uma predição em relação ao comportamento de outrém. Estes autores acreditam que, “a expectativa que uma pessoa tem sobre o comportamento de outrém pode, sem pretendê-lo, converter-se numa predição exacta, simplesmente pelo facto de existir”. Trata-se pois, das famosas profecias que se cumprem.

 De acordo com o autor acima citado, a expectativa que um indivíduo pode ter sobre outrém pode ser num sentido positivo ou negativo. Positivas aquelas que se ligam com o sentido da esperança e do optimismo, com a realização de algo que é entendido como bom para o indivíduo sobre o qual recaem as expectativas e expectativas negativas quando estas se referirem a situações dolorosas ou infelizes, a realizações que penalizem de alguma forma o indivíduo sobre o qual recaem as expectativas.

    

 

A expectativa do professor em relação ao desempenho dos seus alunos

 

Expectativa do professor em relação ao desempenho do seu aluno, é um assunto de longa data. A preocupação dos pesquisadores é de mostrar a relação que existe entre a expectativa do professor e o desempenho dos alunos.

O foco dos pesquisadores tem sido de identificar a variável independente e dependente. Por exemplo: é a expectativa do professor que determina o desempenho do aluno ou o desempenho do aluno determina a expectativa que o professor criar sobre eles? Para responder a esta questão Rosenthal e Jacobson em 1968 apresentaram, testaram e provaram a hipótese segundo a qual os alunos em que os professores possuem uma expectativa positiva em relação ao seu desempenho realmente apresentam o bom desempenho.

Como justificativa para o estudo foi dito às professoras que havia necessidade de avaliar a eficiência de um novo tipo de teste, planejado para predizer o progresso intelectual das crianças. Utilizou-se o Teste de Capacidade Geral de Flanagan (TOGA), que é um teste padronizado de inteligência e desconhecido pelas professoras na época, por ser relativamente novo. O teste foi aplicado a todas as crianças da escola pelas professoras. Em cada uma das 18 classes cerca de 20% das crianças foram aleatoriamente escolhidas e indicadas a suas professoras como potencialmente capazes de rápido desenvolvimento intelectual, a partir dos resultados obtidos no teste. A apresentação dos nomes das crianças para as professoras foi intencionalmente informal. O tratamento experimental constituiu-se, pois, apenas em indicar os nomes de algumas crianças a suas professoras como sendo crianças das quais se poderia esperar progressos intelectuais rápidos no ano que se iniciava.

 Portanto, a diferença entre as crianças do grupo experimental e as crianças do grupo controle (todas as outras que não foram indicadas), estavam apenas na mente das professoras. Todas as crianças responderam novamente aos testes 4 meses depois do início das aulas e ao fim do ano escolar. Os resultados, de maneira geral, indicaram que as crianças de quem as professoras esperavam melhores resultados intelectuais mostraram tais progressos.

 A partir deste estudo pode-se comparar com o desempenho negativo dos alunos do ensino básico em Moçambique como sendo resultado das expectativas negativas que os professores deste nível possuem sobre o desempenho dos seus alunos. A expectativa negativa que os professores do ensino básico sobre o desempenho dos seus alunos começou duma forma generalizada com a inovação curricular concretamente no aspecto de sistema de avaliação que consiste na promoção por ciclos de aprendizagem. É de salientar que muitas vezes os professores não têm consciência dos efeitos das suas expectativas. É necessário perceber que a expectativa dita a forma de relacionamento entre o professor e aluno.

 Brophy & Good, (1974) Darley & Fazio, (1980), citados por Coll (1990:276), mostram um modelo que contempla o processo das expectativas em três fases ou etapas: os professores desenvolvem expectativas; os professores proporcionam um tratamento educativo diferente aos alunos, em função de suas expectativas; os alunos reagem aos diferentes tratamentos educativos de tal maneira que confirma as expectativas dos professores. Comparando com o desempenho dos alunos do ensino básico em Moçambique podemos inferir que o desempenho negativo dos alunos não constitui alarme para os professores porque é assim que eles esperavam e sem ter consciência usam meios ou métodos que justificam o fraco desempenho dos alunos.

 Quando um professor classifica definitivamente um aluno numa ou outra categoria (de alguém que nunca conseguirá ler ou escrever por exemplo), permite que essa classificação condicione daí para frente o seu relacionamento com ele. As consequências dessas expectativas a priori são bem conhecidas: os alunos julgados bons ou sérios têm praticamente garantido sua aprovação, porque até mesmo seus erros ou suas faltas serão relevados, os julgados malandros ou que “não querem nada com nada” terão de lutar e muito contra uma reprovação quase certa, (Abreu & Masseto, 1990)

 
 Considerações Finais

A partir dos estudos realizados por Rosenthal e Jacobson pode-se concluir que a expectativa do professor determina o desempenho académico do aluno.

Há necessidade de criar meios que levam aos professores a terem expectativas positivas em relação ao desempenho dos seus alunos. Porque isto ajudaria aos professores a serem persistentes e a usarem métodos adequados no processo de ensino e aprendizagem. Ora, se conseguirmos que os professores tenham expectativas positivas sobre o desempenho dos seus alunos, é de admitir que essa esperança reverte-se a favor dos mesmos, na medida em que o professor tenderá a agir no sentido de confirmá-la, o que contribuirá para ajudá-los a obter um melhor e maior desenvolvimento de capacidades intelectuais dos alunos. É também proporcionar um desafio ao professor de ser alguém de transformação e que tem o poder de levar o aluno a alcançar os objectivos preconizados para cada classe.  

 Embora o estudo tenha tendência de responsabilizar ao professor pelo desempenho dos seus alunos é necessário admitir que existem também outros factores que determinam o desempenho do aluno. Dentre vários estão o próprio aluno que tem um papel activo no seu desempenho.  

 Referência bibliográfica

 ABREU, M. C. de; MASSETO, M. T. (1990). O professor universitário em aula: práticas e princípios teóricos. São Paulo: MG Ed. Associados.   

 COLL, César. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. Volume 2. Editora Artes Médicas Sul LTDA. Porto Alegre, 1993.

 DA SILVA LEAL, J. A. Ferreira. Expectativas e Sucesso Escolar: Contributo para a desmitificação da Matemática. Porto, 2007.

 DE BRITTO, V. M. V. & BITENCOURT, J. F. Expectativa do professor: implicações psicológicas e sociais

 INDE/MINED- Moçambique Plano Curricular do Ensino Básico Maputo, 2003.

 NEVES, Liliane Ferreira. Um Estudo sobre as Relações entre a Percepção e as Expectativas dos Professores e dos Alunos e o Desempenho, Brasil, 2002.