EXÓSPOLES: AS NOVAS FORMAS ESPACIAIS DA SOCIEDADE CAPITALISTA
JÚLIO CÉSAR DIAS DO NASCIMENTO

EXÓSPOLES
A análise da estrutura social, econômica e espacial das cidades na atualidade, nos remetem a entender a evolução de sua forma urbana através de sua relação com a reestruturação do capitalismo e expansão das metrópoles, que culminaram com a ampliação das manchas urbanas.
A rigor esse processo de reestruturação produtiva do sistema capitalista está relacionado à busca contemporânea de superlucros, recriando padrões novos e mais complexos de desenvolvimento. A maior parte da mobilidade do capital e da localização das atividades produtivas geraram um desenrijecimento nas estruturas econômicas e comerciais mais antigas, criando uma nova ordem nas relações capitalistas. Segundo Soja,
"o termo reestruturação, em seu sentido mais amplo, transmite uma idéia de freada, de ruptura, de mudança em relação a uma determinada ordem e configuração da vida social, econômica e política. Evoca, pois uma combinação seqüencial de desmoronamento e reconstruções, de desconstrução e tentativas de reconstituição, provenientes de algumas tendências ou perturbações nos sistemas de ação e de pensamento aceitos" (SOJA, 1993, p. 193).
Compreende-se o processo de reestruturação produtiva como resultado e condicionante da emergência de uma nova fase no desenvolvimento do modo de produção capitalista em escala global na busca incessante de lucros (SANTOS,1997) . Essa busca de superlucros acarretou numa nova estratégia do sistema capitalista, a extensificação da produção, que vai ser marcada principalmente pelo "alargamento" da divisão do trabalho, abertura de novos mercados e sua expansão geográfica para drenar fontes de mão-de-obra e matérias-primas baratas, além do aumento do âmbito da exploração do desenvolvimento geográfico desigual, mediante as transferências de valor e as trocas desiguais .
A reestruturação produtiva provocou modificações no processo de urbanização, gerando alterações nos papéis que as cidades desempenham dentro da rede urbana, já que as pequenas e médias cidades assumiram uma nova lógica como produto e determinante do Sistema capitalista (SOJA,1993). Nesse contexto as indústrias, as atividades comerciais e outras atividades não vão mais se restringir aos centros das metrópoles, vão se espalhar por outros espaços .
Neste sentido, as cidades médias e pequenas assumiram papéis importantes no processo de reestruturação produtiva, o que culminou na modificação de sua estrutura urbana, redefinindo os usos do solo urbano, a lógica das centralidades e as relações tempo-espaço nessas cidades (SOJA,1993) . Ocorre então, fora da metrópole, a emergência de novos espaços intrametropolitanos com certo nível de autonomia frente à metrópole e com poder de articular outros subespaços ao seu redor, configurando-se naquilo que Soja (2000) chamou de exóspoles ou cidades externas emergentes . Essas cidades possuem um núcleo central desenvolvido e independente, refletindo os arranjos econômicos e espaciais verificados no núcleo central da metrópole, com as mesmas funções, porém, evidentemente com tamanhos e escalas menores. No modelo de cidades externas emergentes projetado por Soja, haveria um centro comercial, circundado por uma área residencial de elite e que teria em sua periferia um distrito industrial cercado por uma área residencial de trabalhadores, com alguns enclaves de população de baixa renda, chamada pelo autor de guetos das minorias, configurando-se como um estoque de mão-de-obra acessível e barata . Esse modelo reproduz em escala regional, o modelo de organização que antes só era observado na metrópole (SOJA, 2000).
A cidade torna-se, assim, palco de uma sequência de espacializações, que acabamos de descrever no tocante da evolução da forma urbana, induzidas pela reestruturação capitalista, cujo padão principal de expansão visa incorporar novas áreas em busca de condições de acumulações lucrativas . Então, se antes da reestruturação do capitalismo, cujo modelo se mantia centralizador, a matéria-prima, a mão-de-obra e o consumidor iam de encontro as atividades industriais, comerciais e outras atividades, na nova lógica capitalista ocontece o inverso, ou seja, ocorre a expansão geográfica das atividades econômicas que vão de encontro à mão-de-obra barata, à matéria-prima e ao mercado consumidor. Neste sentido, o espaço urbano não apenas se estendeu por uma área muito mais vasta, como também se deflagrou em muitos pedaços .

REFERÊNCIAS

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.
SOJA, Edward. Geografias Pós modernas. A reafirmação do espaço na Teoria social crítica . Rio de Janeiro: Zahar, 1993.

_________ . Postmetropolis: Critical Studies of Cities and Regions. Oxford: Backwell, 2000.