Exclusão x inclusão: a defesa do absurdo

Parece que pegou, virou moda, virou praga, ganhou a mídia ? e quando a coisa ganha a mídia, ou é engolida por ela, perde seu caráter legítimo para se tornar um negócio ? e adentrou no universo do capital: dá lucro. Por isso, passou a ser chique a idéia e a pratica de defender a inclusão dos excluídos. Mas ao fazer isso, o sistema não se deu conta de que está excluindo o excludente. Ou seja, a luta pela inclusão, contraditoriamente, é uma prática excludente. Se estamos lutando por inclusão, como admitir uma postura excludente?
Muita gente apela para a Constituição Federal, afirmando que "todos são iguais". Mas isso é um mito, é um engodo, é apelação, é negação de um princípio lógico. Filosófica e logicamente não existe igualdade. A realidade é feita de diferenças e os diferentes.
Já dizia o velho Parmênides que cada coisa ou pessoa é o que é, sem ser igual (o ser é e o não ser não é). Duas coisas ou pessoas não podem ser iguais, pois negaria o princípio da identidade. Para haver igualdade não poderia haver diferença. Se A é igual a B, então A é B. Mas se A é B, então B é A e onde estaria a identidade do A e do B? Dessa forma cairíamos no perigo da realidade virar um sofisma. Se eu sou igual a você, então eu sou você e você sou eu e, então, o que seriamos nós? Aliás, não haveria nós, pois seriamos a mesma realidade...
Por exemplo, sou o que sou, entre outras, porque vejo; mas existem percepções táteis que não possuo, e que são altamente desenvolvidas por pessoas cegas. Tenho limitações em relação ao tato enquanto o cego tem limitações em relação à visão.
Então, o que vem a ser isso que se chama de exclusão? O que ou quem são os excluídos?
Ex-cluido, por definição etimológica é o que está fora, o que não faz parte: O negro está fora do grupo dos brancos, pois branco não é negro; o homossexual está fora do grupo dos heterossexuais, pois hetero não é homo; o velho está fora do grupo dos jovens, pois velho não é jovem; a mulher está fora do grupo dos homens, pois mulher não é homem... o cadeirante está fora do grupo dos andantes ? se vier a ser andante deixará de ser cadeirante; o surdo está fora do grupo dos ouvintes ? se passar a ouvir deixará de ser surdo; o cego não é vidente porque se enxergar deixará de ser cego... E in-clusão significa inserir, trazer para dentro.
Levando isso em consideração veremos que será impossível fazer com que o branco adentre ao grupo dos negros ou vice-versa. Não há possibilidade de uma mulher vir a ser homem ou um homem transformar-se em mulher (mesmo fazendo cirurgia). Também não posso ser você nem você ser eu. Cada um ou cada grupo social é o que é.
Isso implica dizer que o discurso da inclusão, da forma como em geral vem sendo conduzido é uma farsa, pois a inclusão é impossível.
Mas dá lucro. Quando ocorre desentendimento entre pessoas ou grupos distintos (brancos e negros se agridem, por exemplo) isso entra na mídia não como um desentendimento, mas como ato de exclusão. E vende jornal, dá audiência. Para superar isso organizam-se seminários, simpósios; escrevem-se livros e fazem-se pesquisas...
Mas o centro mesmo da questão fica apenas na periferia da discussão. A chamada exclusão, na realidade é a face terrível da discriminação e do preconceito. Discriminação e preconceito ocorrem não por que o outro é outro, mas porque é diferente... e, em geral, pobre.
Daí decorrem muitos equívocos, como o da discussão das cotas para ingresso na universidade. Dizer que é necessário reservar vagas porque os negros são ou foram excluídos ao longo da história implica dizer que também se deve fazer uma reserva de vagas para as mulheres, outra para os homens, outra para os índios; o mesmo para homossexuais, para heterossexuais... tem-se que fazer reserva para todas as minorias. E cada um de nós é uma minoria. Na realidade deveria se discutir ? e resolver o problema ? em relação ao porquê dos negros, como também de outros pobres, não terem facilidade de acesso à universidade. A oportunidades está ligado não à cor da pele, à opção sexual, à condição física, mas ao poder econômico. A criança negra, filho de pais ricos, tem oportunidade que nenhum filho branco de pais pobres terá. Portanto o problema exclusão-inclusão não e social, mas econômico.
Em "Ditadura Militar, esquerdas e sociedade", Daniel A. Reis (2000), embora comentado o período da ditadura, faz uma afirmação atualíssima: todos os que eram "chamados equivocadamente de excluídos, eram legítimo produto do sistema e, como tal, estavam nele incluidíssimos, embora cada vez mais aparecessem como descartáveis".
Esse é nosso dilema, superar o fato não da exclusão ? ainda bem que somos diferentes e nossas diferenças nos ajudam a nos complementarmos ? mas as causas das discriminações.

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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