O diagnóstico médico é extremamente importante e necessário para um tratamento eficaz na cura e prevenção de doenças e suas sequelas. Na psiquiatria e psicologia não é diferente. O exato diagnóstico traz informações sobre medicamentos e  tratamentos  mais adequados para cada transtorno. Porém, a busca por refinamento e exatidão de sintomas e comportamentos, gerou um exagero de subtipos e divisões das enfermidades mentais, que mais atrapalha do que facilita a vida dos pacientes e médicos.

No congresso brasileiro de psiquiatria em São Paulo o psiquiatra britânico, David Goldberg, discutiu a relevância dos diagnósticos e da criação de diferentes subtipos para cada transtorno mental. Atualmente temos visto na clínica pacientes com diagnósticos como “transtorno de pânico com ansiedade geral” ou “agorafobia com pânico”; combinações de transtornos de medo que podem deixar o paciente ainda mais confuso diante de seu quadro. “Temos transtornos muito relacionado uns com os outros. Acho isso estúpido, porque há apenas pequenas variações de sintomas que distinguem um transtorno do outro. Minha impressão é que há diagnóstico em excesso”, diz Goldberg.

A experiência clínica demonstra que os pacientes confusos com seus diagnósticos aceitam tratamentos medicamentosos quando muitas vezes não seriam necessários. Segundo Goldberg há uma tendência a incluir nos manuais de psiquiatria, conhecidos como DSM e CID, os transtornos subclínicos. Estão inclusos, como transtornos    subclínicos, todos aqueles estados emocionais moderados. “Não gosto de medicalizar estados de tristeza moderada pelos quais todos passamos” pondera Goldberg que se opõe a tendência de patologizar as reações emocionais normais e moderadas. Segundo Goldberg muitos dos diagnósticos de transtorno alimentares são subclínicos e não há necessidade de medicamentos. “Os transtrornos alimentares subclínicos sao muito mais comuns do que a bulimia e a anorexia nervosa completas.(...)Se quiser impedir esses transtornos de se desenvolverem, é preciso reconhecer que eles existem em um grau subclínico, sem necessariamente chamá-los de doença. O que importa é que a criança e a família recebam bons conselhos.”

Cresce o número de artigos e estudos que apontam ao crescimento de transtornos de humor e da depressão, alguns até citam uma epidemia depressiva, que assola nossa sociedade moderna. Além destes, existem os transtrornos ansiosos e de hiperatividade e os transtornos alimentares. Como consequência, as estatísiticas demonstram dados alarmantes sobre o crescimento de crianças, adolescentes e adultos que utilizam medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e ritalina (medicação dada em casos de hiperatividade).

Não cabe julgar a importância dos diagnósticos e dos tratamentos medicamentosos. A questão importante neste caso é refletir sobre o crescimento de casos de depressão paralelo ao crescimento de subdivisão dos diagnósticos. Será que um dia todas as espécies de emoções e suas variantes em grau de tristeza e melancolia serão descritas e expostas num manual de diagnóstico? Será que as emoções, como luto, perda e dor, serão vistas como patológicas e assim passíveis de serem medicadas?

Vale a pena o questionamento.

Veja entrevista completa no site da Folha São Paulo

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u661693.shtml