EVOCAÇÃO  DOS  ESPÍRITOS 

O que é evocação? 

No caso em pauta, trata-se de: chamar o Espírito de alguma pessoa já morta (ou melhor: desencarnada) de algum lugar; ou, então, fazer com que o mesmo apareça para alguma tratativa, esclarecimento, auxílio, etc, através de um médium, ou seja: um intermediário entre os dois planos existenciais: o físico ou material, e o não-físico ou espiritual. 

Deve-se dizer que tal possibilidade é todos os tempos da humanidade; a Bíblia Sagrada, por exemplo, é o maior repositório de fatos mediúnicos os mais diversos, sendo desnecessário fazermos um estudo aprofundado de tais fatos, ocorrendo-me, de momento, pinçarmos apenas um à guisa de exemplo. Trata-se de um fenômeno a que o Espiritismo dá o nome de Materialização Espiritual, ou, simplesmente, de Ectoplasmia. O mesmo está descrito em: 

(1 Samuel 28, 7:20), 

Onde o rei Saul, acossado por seus inimigos, procura um médium (nos tempos antigos: uma necromante) para uma consulta mediúnica ao profeta Samuel que havia morrido pouco tempo antes. E não é que o Espírito de Samuel aparece para os membros daquela distante reunião mediúnica e confabula com Saul, tal como hoje se verifica nos fenômenos de comunicabilidade espiritual em questão? Portanto, é só o leitor conferir em sua Bíblia Sagrada tudo quanto tenho dito, para que não haja dúvidas a respeito.

 

Assim, ao tempo da Codificação Espírita, em meados do século dezenove, Kardec estudara e estabelecera as leis atinentes a tal mecanismo de comunicabilidade mediúnica enfeixando grande parte de suas conclusões extraídas do Espiritismo experimental no importante “O Livro dos Médiuns” (Allan Kardec - 1861); onde comenta sabiamente, e como todo estudioso da Doutrina conhece, praticamente tudo sobre as evocações e as comunicações espontâneas.

 

 

De seu capítulo vinte e cinco (25), ‘Das Evocações’, estarei a extrair alguns apontamentos úteis ao que ora pretendo defender e esclarecer. No item duzentos e oitenta e um (281), ‘Utilidade das Evocações Particulares’, ministra o mestre codificador:

 

“As comunicações que se obtêm dos Espíritos muito superiores, ou dos que animaram os grandes personagens da antiguidade, são preciosas pelo alto ensinamento que encerram. Esses Espíritos adquiriram um grau de perfeição que lhes permite abraçar uma esfera de idéias mais amplas, de penetrar nos mistérios que ultrapassam a capacidade vulgar da humanidade e, por conseqüência podem nos iniciar, melhor do que outros, em certas coisas. Não se segue daí que as comunicações de Espíritos de uma ordem menos elevada sejam sem utilidade; o observador delas extrai mais do que uma instrução”.

 

“Para conhecer os costumes de um povo, é preciso estudar todos os graus da escala. Quem não o tenha visto senão por uma face, o conhece mal. A história de um povo não é a de seus reis e das sumidades sociais; para julgá-lo, é preciso vê-lo em sua vida íntima, em seus hábitos privados. Ora, os Espíritos superiores são as sumidades do mundo espírita; sua própria elevação os coloca de tal modo acima de nós que nos espantamos com a distância que nos separa deles”.

 

“Os Espíritos mais burgueses (que se nos permita esta expressão) nos tornam mais palpáveis as circunstâncias de sua nova existência. Entre eles, a ligação entre a vida corporal e a vida espírita é mais íntima, compreendemo-la melhor, porque nos toca mais de perto. Aprendendo, por eles mesmos, em que se tornaram, o que pensam, o que experimentam os homens de todas as condições e de todos os caracteres, os homens de bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os felizes e os infelizes do século, em uma palavra, os homens que viveram entre nós, que vimos e conhecemos, cuja vida real pudemos conhecer com suas virtudes e manias, compreendemos suas alegrias e seus sofrimentos, a eles nos associamos e deles haurimos um ensinamento moral tanto mais proveitoso quanto as relações entre eles e nós sejam mais íntimas”.

 

“Colocamo-nos mais facilmente no lugar daquele que nos é igual do que daquele que não vemos senão através da miragem de uma glória celeste. Os Espíritos vulgares nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades das quais os Espíritos superiores nos ensinam a teoria. Aliás, no estudo de uma Ciência nada é inútil: Newton encontrou a lei das forças do universo no mais simples fenômeno.”

 

“A evocação dos Espíritos vulgares tem outra vantagem que é a de nos colocar em relação com Espíritos sofredores, que se podem aliviar e aos quais se pode facilitar o adiantamento por conselhos úteis. Pode-se, pois, tornar-se útil instruindo-se a si mesmo; há egoísmo em não procurar senão sua própria satisfação na conversa com os Espíritos, e aquele que desdenha estender mão segura aos que são infelizes dá, ao mesmo tempo, prova de orgulho”.

 

“De que lhe serve obter belas recomendações dos Espíritos de elite, se isso não o torna melhor para si mesmo, mais caridoso e mais benevolente para com seus irmãos deste mundo e do outro? Em que se tornariam os pobres doentes, se os médicos recusassem tocar suas chagas”? (Opus cit.).

 

Óbvio que de tal instrução se tira muitas outras instruções! Por exemplo: a principal razão de ser do atendimento cristão, caritativo e fraterno aos Espíritos sofredores participantes de uma singela reunião mediúnica onde tais elementos, aos prantos, são enfim esclarecidos, confortados e devidamente encaminhados - pelos nossos superiores hierárquicos - às diversas colônias de recepção, de atendimento médico-hospitalar e de socorro aos doentes que, doravante, estarão a viver em uma nova sociedade, participando de cursos e de escolas de aprimoramento espiritual, aguardando, erráticos, novas oportunidades de imersão na matéria objetivando outros progressos intelecto-morais.

 

Assim, vimos que ao tempo de Kardec era muito comum a evocação dos Espíritos das mais diversas posições e categorias hierárquicas, para a codificação da nova Doutrina do Espiritismo que surgia lançando as bases de uma nova civilização: a do Espírito.

 

Nos tempos ora transcorridos, ou seja, nos tempos dos grandes médiuns escreventes, tais como Divaldo Franco, Yvonne Pereira, Chico Xavier, como pode ser encarada essa questão da evocação dos Espíritos? É aconselhável tal procedimento? Pode-se sair por aí evocando os Espíritos de Sócrates, Platão, Paulo, São Francisco de Assis, Newton, Einstein e outros tantos Espíritos de escol, da mais elevada sabedoria, da mais santa espiritualidade, bem como da mais importante ciência terrena?

 

E haveria, eles, de nos atender? Teríamos médiuns, especiais e bem desenvolvidos, para tamanha conjectura? E, não caberia, a tais Espíritos, tão importantes e tão altas ocupações no mundo espiritual, no que se convencionara chamar de erraticidade? Não haveria de estar, parte deles, já reencarnados em mundos muito superiores ao nosso e gozando de outras tantas potencialidades psíquicas, morais, espirituais, o que dificultaria, quiçá, sua presença e sua comunicabilidade conosco, pequenos estudantes da nova Ciência do Espírito imortal?

 

Vê-se, pois, que a problemática é maior do que se imagina.

 

E, portanto, estou plenamente de acordo com a magnanimidade de Emmanuel que, oitenta anos depois de “O Livro dos Médiuns”, adverte no item trezentos e sessenta e nove (369) de uma de suas sábias instruções, que:

 

“Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum. Se essa evocação é passível de êxito, sua exeqüibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração”.

 

 

E, mais ainda, pondera o ilustre Emmanuel:

 

“Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidade e méritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns”. (Vide: “O Consolador” – Emmanuel – 1940 – Feb).

 

Creio que todos os espiritistas estudiosos, humildes e ponderados estarão atentos às recomendações de Emmanuel no tocante à espontaneidade das comunicações mediúnicas, o que também está endossado por André Luiz; mas tem mais ainda:

 

“... precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidade e méritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns”.

 

Lembrando, pois:

 

a) A Tarefa Excepcional do Codificador;

b) A Necessidade da Implantação da Codificação Espírita, em sua mais ampla conjectura e possibilidades teóricas e experimentais; e

c) Méritos Advindos da Personalidade Superior de Kardec.

 

Do qual estamos distantes evolutivamente, pois que somos Espíritos medianos, aprendizes comuns das Leis Espirituais. Portanto, quanto haverá de nossa parte por aprender da Ciência Espírita, de sua Filosofia-Moral e, portanto, de colocar em prática os ensinos do Mestre Jesus, de praticá-lo e vivê-lo em nosso cotidiano de sorte a nos alçarmos, mesmo que minimamente, no campo da moralidade cristã?

 

É simples questão de bom senso: mesmo que tenhamos assimilado tudo dos ensinamentos científicos e filosóficos doutrinários, aliados aos aprendizados da ciência terrena - pois que tais se associam e se juntam em complexão – será que tudo fora compreendido e vivenciado do Evangelho, este considerado como sendo o mais importante Código de conduta social, humana e espiritual?

 

Creio que não! Por outro lado, e, por mais de trinta anos de trabalhos espiríticos, feitos na observância dos ditados atinentes à espontaneidade das comunicações mediúnicas, constato o quanto se extraíra e se extrai de benefícios aos médiuns participantes levando o consolo aos Espíritos sofredores que, por vezes, retornam arrependidos para agradecer, nos alentar e louvar; e, mais ainda, o quanto evolui e aprende nossa alma em termos conscienciais, e, sobretudo, no campo do coração que se aproximara de um sofredor para estender-lhe mão amiga, confortadora, repleta de bênçãos que atrai, consola e reergue os que se quedaram na ignorância, no ódio e noutras tantas patologias deste mundo provacional.

 

Trata-se, portanto, de uma confirmação positiva, extraída de um fato, e, portanto, da observância científica do trato mediúnico moderno, onde ao lado da caridade para com os sofredores, jamais o nosso trabalho deixou de ter assistência superior, dos protetores anônimos, que trabalham na doação do amor e do bem, o que não exclui, em tempo algum, a identificação de um Espírito reluzente, como já tivemos com a presença de um Juscelino Kubistchek, com sua postura altaneira, sua palavra robusta e forte a nos esclarecer, quando, de repente, quando mais queríamos usufruir tão nobre figura, ele se despede e parte, pois que Espíritos de tal categoria têm muito que fazer, ao contrário de muitos desocupados da romagem terrena.

 

E, portanto, o tempo passa; e novas posturas esclarecedoras aparecem, apesar dos mais ortodoxos que persistem em dar de ombros às mais reluzentes e modernas rotas traçadas pelos nossos maiores como as dos sábios Emmanuel e A. Luiz. Reflito assim: que se estude “O Livro dos Médiuns”; que se leia e medite com artigos excelentes como, por exemplo, do amigo Jorge Hessen que acaba de postar na net o seu: “Evocar ou não Espírito, uma breve reflexão espírita”; e prossigamos trabalhando, evoluindo, iluminando nossas mentes e nossos corações na certeza de que a espontaneidade, do lado de cá, reflete Vontade, Intenção e Lei, do lado de lá, dos dirigentes dos progressos humanos.

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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