EVASÃO ESCOLAR: A AVALIAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NA EVASÃO ESCOLAR

 

Simone Silva Souza[1]

RESUMO

Este trabalho pretende abordar o problema da evasão escolar, buscando refletir sobre motivos que afastam esses alunos da escola. Encontramos em nossas pesquisas bibliográficas, caminhos que apontam como sendo fator negativo, a postura de alguns professores com relação aos erros e acertos na hora de avaliar a aprendizagem dos seus alunos.Sabemos ser a avaliação um dos grandes medos dos alunos, mas estamos tentando de alguma forma, derrubar esta barreira. Transformar a avaliação em um ato prazeroso de descoberta e troca de conhecimento.Neste artigo, traremos o posicionamento de autores que abordam este tema e observaremos a importância da interação aluno/escola/comunidade para solucionar este problema.Devemos considerar a ação coletiva e não cruzar os braços. Renovar a escola é necessário, assim como a mente de muitos profissionais da educação.

 

Palavras- chaves: Avaliação. Educação. Evasão. Interação.

 

ABSTRACT

This study addresses the problem of school dropout, trying to reflect on the reasons that these students away from school. We found in our literature searches, paths that link as a negative factor, the attitude of some teachers regarding the rights and wrongs when evaluating their student  learning.We know that an assessment of the greatest fears of the students, but we are trying to somehow break down this barrier. Transforming assessment in a pleasurable act of discovery and knowledge exchange.in this article, we will bring the position of authors who address this issue and noted the importance of interaction between student / school / community to solve this problem. we must consider collective action and not sit back. Reload this school is needed, as well as the minds of many education professionals.


Keywords:Evaluation. Education.Evasion.Interaction.

 

 

  1. 1.    INTRODUÇÃO

A maioria das pessoas envolvidas no processo escolar preocupa-se com a permanência dos alunos na escola. No entanto, alguns fatores devem ser analisados com o intuito de melhoramento das ações para que cheguemos a erradicação da evasão escolar.

O direito a educação de qualidade é uma garantia para as crianças e jovens que consta na lei magna de nosso país. A infância e a juventude, precisa ser vivida como um período essencial ao desenvolvimento de seu potencial humano.

Este artigo não tem a pretensão de elucidar os problemas aqui apresentados, mas sim, levar seus leitores á reflexão apresentando-lhes de forma sucinta a realidade educacional em que estamos inseridos, na busca de meios que nos instiguem a andar em direção á solução.

 

2. AS PROVAS COMO FORMA DE AMEAÇA E TORTURA AO ALUNO

 

Segundo Luckese, em seu livro Avaliação da Aprendizagem Escolar (2002, pg. 18-19), os professores utilizam as provas como instrumento de ameaça e tortura prévia dos alunos protestando ser um elemento motivador da aprendizagem. Quando o professor sente que seu trabalho não está surtindo o efeito esperado,anuncia aos alunos: “Estudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia da prova”. Quando observa que os alunos estão indisciplinados, é comum o uso da expressão: “Fiquem quietos! Prestem atenção! “O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer.”

Tais ameaças transformam o dia da prova em um dia temível e os alunos já chegam á escola assustados e emocionalmente abalados. Sua visão de professor, não é de alguém que facilita o seu aprendizado, mas de alguém que poderá puni-lo através das provas, por qualquer erro que cometa.

Leio em Hoffmann (2001): “Na maioria das ocasiões, alunos e professores mostraram-se indignados com a avaliação tradicional.

            Desenharam monstros e os encarceraram ao menos em suas imagens... Estou apostando na grossura dessas barras! Na transformação do monstro! “Talvez, pela tenacidade de muitos educadores em sugerir o amanhã da avaliação como metamorfoses dessas imagens negativas.”

Há muitos personagens fazendo parte dessa história, acreditando que é preciso trabalhar por uma escola que respeite o educando de todas as idades, que o acolha em suas desesperanças e desperte-lhe confiança no futuro. Ouvir

A avaliação sintetiza, organiza e expressa, por meio de diversas linguagens, a relação que cada um estabeleceu com o conhecimento. Nós, professores, devemos acreditar e entender que somos incapazes de saber com exatidão o que nossos estudantes aprenderam sobre o conteúdo estudado. Ampliar os instrumentos avaliativos possibilita ao aluno expressar-se sobre quais associações ele produziu a partir de um determinado conhecimento.Não devemos nos aprisionar em modelos antigos que limitem ou barrem as possibilidades do saber.Ler foneticamente

 

2.1 A avaliação é de fundamental importância

É inquestionável, a importância do processo avaliativo para o aluno, não como garantia desua permanência na escola, mas para produzir um aluno capaz de interagir, aprimorar, produzir, inventar e associar conhecimentos. Um sujeito que não se contente com a escola, mas sim que vá para além dela,independente dos obstáculos á serem enfrentados.

Percebendo a relevância da questão avaliativa e o quanto as provas são aterrorizantes para alguns alunos, preocupamo-nos em ampliar a discussão e mostrar que alguns autores e profissionais da educação, buscam formas de atuar para elucidação da problemática, esperando que haja êxito nos resultados de seus trabalhos e que a culminância seja não somente a permanência desses alunos em sala de aula como o prazer pelo ato de estudar.

2.3- Avaliação classificatória é ensino de qualidade?

         Esta pergunta refere-se à crença no sistema tradicional de avaliação como responsável por uma escola competente (uma visão bastante saudosista da escola existente, rígida, disciplinadora, detentora do saber) que, no entanto, não encontra respaldo na realidade com a qual nos deparamos neste momento. Porque não se pode considerar como competente uma escola que não dá conta sequer do alunado que recebe, promovendo muitos alunos a categoria de repetentes e evadidos.

Na maioria das escolas públicas apresentadas o mesmo panorama: muitas turmas, de muitas crianças, nas primeiras séries de primeiro grau; turmas únicas, de poucos alunos, nas oitavas séries do primeiro grau. Para cada 100 escolas de primeiro grau completo, 10 escolas, em média, de segundo grau. Índices assustadores de reprovação nas classes de alfabetização e nas quintas séries, principalmente, além de discutíveis índices de evasão (o aluno desiste, muitas vezes, quando percebe que será reprovado!).

Não se pode falar em melhoria da quantidade de ensino sem antes atender o direito fundamental da criança de ter acesso (ingresso) à escola.

Pretendo alerta, pois, que os professores coniventes com uma política de utilização do ensino público e justificando-se através de exigências necessárias a manutenção de ensino de qualidade.

O papel das escolas em uma estrutura capitalista behaviorista é produzir trabalhadores que alimentam um sistema econômico desigual. (Kaufman, 1993, pg.94).

Em suma, maior número de alunos matriculado pode, inclusive, significar índices proporcionalmente maiores de reprovação e evasão na escola pública se não forem discutidos os significados de tais índices. A discussão mais urgente, dos educadores, é sobre o seu compromisso de manter na escola esse aluno ingressante, mas lhe favorece de tanto o acesso ao saber e, por conseguinte (não simplesmente por promovê-lo), o acesso a outros graus do ensino (acesso como permanência, continuidade dos estudos).

É preciso atentar para o fato de que uma escola quantidade é que a da conta, de fato, de todas as crianças brasileiras, concebidas em sua realidade concreta.

É interessante como educadores reagem à questão inovação que digam respeito à metodologia tradicional de aplicação de provas e atribuição de notas/conceito periódicos. Os educadores, em geral, discutem muito como fazer a avaliação e sugerem metodologias diversas, antes, entretanto, de compreender verdadeiramente o sentido da avaliação na escola. Mas, sem duvidas, esse não é um comportamento apenas dos professores, porque toda sociedade vem se manifestando no mesmo sentido, ou seja, reagindo quando se fala em abolir o sistema tradicional de realização deprovas obrigatórias e atribuição de notas e conceitos periodicamente, basicamente como uma rede de segurança que se constitui sem refletir exatamente por que.

Há muito Hoffmann investiga o significado da avaliação entre os educandos e educadores de todo o Brasil. A configuração do mito é clara e consistente.

Quando se questiona sobre a possibilidade de eliminar a avaliação da escola, há inúmeros e entusiasmados adeptos dessa hipótese. A questão é que forma tais professora vem interpretando, no seu cotidiano, propostos de promoção automática?

Nos últimos anos surgiram como programas de governo, em estados brasileiros, propostas de promoção automática para o ensino fundamental, em resposta, justamente, a séria constatação de índices de evasão e repetência na escola pública. Países como a Itália, a França, e a Alemanha, vêm perseguindo tais princípios (de promoção automática, para diminuir o índice de evasão e repetência) há muitos anos, praticamente zerando índices de repetência e analfabetismo a partir de tais propósitos.

           O significado da avaliação na escola alcança um sentido próprio e abrangente,                                                                   muito diferente do sentido observado apenas em situações programadas. É natural, portanto, que os governantes, os pais, os próprios alunos, resistam a inovações nesse sentido, porque lhes parecem propostas de abandono.

A verdade é que o sistema classificatório é tremendamente vago para apontar as falhas do processo. Discrimina e seleciona antes de qualquer coisa. Apenas reforça a manutenção de uma escola para poucos.

 

2.2 Erros x Acerto

De acordo com Luckese (2002), tanto o sucesso/insucesso como o acerto/erro podem ser utilizados como fonte de virtude em geral na aprendizagem escolar.

Não há porque, ser castigado pelos outros ou por si mesmo em função de uma solução que não se deu de forma bem sucedida. Há sim, que se utilizar positivamente dela para avançar na busca da solução pretendida.

Ao detectarmos a existência de um erro, devemos procurar analisá-lo adequadamente, observando as lições que podem ser retiradas para crescimento do próprio errante. Comparando a situação dos alunos em sala, vemos que, ao atribuirmos umaatividade a um aluno e observamos que este não conseguiu chegar ao resultado esperado, conversamos com ele, verificamos o erro e como ele o cometeu, reorientamos o seu entendimento e sua prática. E então, muitas vezes ouvimos o aluno dizer: Puxa, só agora compreendi o que era pra fazer!Ou seja, foi o erro conscientemente elaborado que possibilitou a oportunidade de revisão e avanço. Todavia, se nossa conduta fosse castigar, não teríamos a oportunidade de reorientar e o aluno não teria a chance de crescer. Ao contrário, teria um prejuízo no seu crescimento e nós perderíamos a oportunidade de sermos educadores.

Citaremos a seguir uma experiência vivida por Magda Soares (2002): “... Foram entrevistados três alunos que evadiram na rede pública de ensino, com o objetivo de tentarmos detectar os motivos que os levaram a evasão escolar.

Começamos a entrevista com P.S.A. 32 anos, onde afirmou que o motivo de ter saído da escola, foi a falta de inteligência, falta de atenção dos professores, falta de motivação e por não conseguir acompanhar os colegas nos estudos; F.S.S. 21 anos, diz que engravidou aos 18 anos e teve que ir trabalhar, mas apesar de tudo tem vontade de voltar aos estudos por que sempre se identificou com a escola. Afirmou também, que seus professores eram muito exigentes e incompreensíveis no período em que estavagrávida, o que levou a desmotivação dos estudos, principalmente por acharem que ela seria incapaz de fazer o trabalho sozinha; M.A.S. 18 anos, desistiu dos estudos por achar a escola exigente, se sentir rejeitado pelosfuncionários da escola por ser pobre e os professores o considerarem incapaz de acompanhar a turma. “Isso o levou a perder totalmente a vontade de voltar aos estudos”.

Percebemos então que são vários os motivos apresentados na entrevista e que a autoconfiança desses alunos na sua capacidade de aprender era baixa.

Entretanto, nossas análises mostram que os motivos da evasão, não são somente atribuídos a estas causas, pois todo aluno é capaz de desenvolver-se cognitivamente desde que seja estimulado e bem trabalhado. Nessa perspectiva, surge então a necessidade das escolas assumirem o seu verdadeiro papel na formação integral do indivíduo, trabalhando uma proposta curricular voltada para as necessidades de seus alunos, suprindo as dificuldades daqueles envolvidos no processo do aprender.

Não queremos apoiar o erro, mas considerar que podemos reorganizar o saber de forma a aprender com os erros.

A arrogância de alguns professores também contribui para que um grande número de alunos abandone a escola. A postura muitas vezes inflexível destes profissionais na hora de aplicar uma prova faz parecer que, este instrumento avaliativo revelará aquilo que o aluno de fato aprendeu. O que sabemos não ser verdade e se constitui em fator contribuinte para a evasão escolar.

 

3. PRÁTICAS INOVADORAS

Criatividade é um elemento fundamental no cotidiano escolar, pois permite ao professor uma revitalização das suas práticas educacionais. E permite ao aluno uma valorização como sendo a coisa mais importante no processo de ensino-aprendizagem.

A prática pedagógica, baseia-se na realidade dos fatos que ocorrem, fruto de atividades experimentadas pelos alunos nas mais diversas situações de aprendizagem. Podem-se utilizar jogos, atividades dramáticas, experiências científicas, desenhos, música, histórias contadas oralmente e escritas, de acordo com o que se pretende trabalhar.

Um grande número de professores está rediscutindo suas práticas pedagógicas, questão primordial para todo educador, pois, segundo Freire (1997:44) ”É pensando criticamente a prática de hoje e de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Assim, a prática pedagógica só será verdadeiramente útil se for capaz de estimular a inteligência coletiva de seus estudantes, mais ainda, fazê-lo sentir-se sujeito da ação pedagógica Não podemos esperar por um pacote pronto de técnicas e métodos de ensino, mas sim buscarmos desenvolver a criatividade e na prática recriarmos a nossa própria prática pedagógica. Dessa forma a inovação da escola, dependerá da sua responsabilidade que motivará e caminhará para as transformações realizadas pela reflexão constante de sua prática, propondo aos educandos conhecimentos inerentes aos diversos contextos escolares e extra-escolares, encontrando meios que facilitem a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento educacional.

 

3.1 A autonomia do aluno e sua interação na escola

O mundo em que vivemos é reconstruído e repensado pelo homem constantemente. Num processo de transformação que demonstra sua natureza dinâmica e seu modo de existir com autonomia, como pessoa capaz e que escolhe seu próprio caminho.

A escola tem discutido a sua autonomia ao longo dos anos e chamado para tomar parte neste debate toda à comunidade escolar, formada não somente de professores, diretores e técnicos educacionais, mas contando com a participação direta dos alunos, dos pais e da comunidade local.

Atualmente, nas escolas vive-se um período de interação social visando atingir o disposto na lei nº 9.394/96, art.12 e inciso VI:

Art.12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

VI- articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola.

Quando desenvolvemos a autonomia do aluno na escola, desencadeamos um processo espontâneo de organização e autocontrole, pois ele se compromete com a ação á ser trabalhada, mudando seu posicionamento e praticando o seu direito de escolha.  O aluno tornar-se-á capaz de argumentar, pensar ou agir de acordo com suas próprias decisões.

É ponto de grande importância, o desenvolvimento de trabalhos nas dependências da escola, para que haja a participação dos alunos em decisões, para que eles aprendam a fazer uma análise das situações e para que experimentem a satisfação de pôr em prática suas idéias. É preciso haver interação entre aluno/professor e a consciência de que sempre há algo novo para ser assimilado, portanto, deve-se estar sempre disposto à aprender a aprender. Dessa forma, o aluno estará sempre motivado para estar na escola e o risco de evasão diminui.

 

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que a evasão escolar é um dos problemas mais agudos da educação brasileira. Não será simplesmente aplicando uma prova que manteremos o interesse de nossos alunos ou que resolveremos o problema. No entanto, existe toda uma trajetória na história da avaliação educacional no Brasil, que precisa ser revista, principalmente no que diz respeito á práticas docentes, para que alcancem melhores resultados. Se o diálogo entre professor e aluno penetrar em suas práticas,e os professores tiverem coragem de deixar seus alunos errarem para discutir com eles seus erros, haverá alguma esperança de mudança.

A crueldade do sistema autoritário de avaliar, a falta de compromisso com a profissão, entre outros fatores levam um grande número de alunos a abandonar a escola.

Quando a avaliação é trabalhada na função classificatória, ela se torna uma arma poderosa nas mãos de quem quer oprimir o outro, pois, quando ela reprova, atinge violentamente um dos pontos mais delicados do homem que é a sua auto-estima, sendo taxada de incapaz para prosseguir os estudos e conseqüentemente, essacondição o leva a um sentimento de inferioridade e desânimo.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB9394/96 ) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um número elevado de faltas sem justificativas e a evasão escolar, ferem o direito das crianças e dos adolescentes. Nesse sentido, cabe á instituição escolar valer-se de todos os recursos dos quais disponha para garantir a permanência dos alunos na escola. Prevê ainda a legislação que esgotados os recursos da escola, a mesma deve informar o Conselho Tutelar do Município, sobre os casos de faltas excessivas não justificadas e de evasão escolar, para que o conselho tome as medidas cabíveis.

Nosso desejo enquanto educadores é que haja um horizonte a ser conquistado. Desejamos tomar parte no processo de formação de cidadãos críticos, reflexivos, conscientes de seus direitos e deveres na sociedade e amantes do saber.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. O Estatuto de Criança e do Adolescente.

BRASIL,Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, 1997.

HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação: Mito e Desafio. Uma perspectiva Construtivista. Porto Alegre: Educação e realidade, 1991.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. 12° Ed São Paulo: Cortez, 2002.

SOARES, Magda. Linguagem e Estórias: Uma Perspectiva Social. 17° Ed. São Paulo, Ática, 2002.<GOOGLE>



[1]Pedagoga com Extensão em História de Sergipe. FSLF. Email: [email protected]