EU SOU O PÃO DA VIDA – Geraldo Barboza de Carvalho

Introdução

    "O Pai tem a vida em si mesmo, concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo". Deus Trino tem a vida em si. Deus é amor, o amor é a vida de Deus. Deus Mãe é a Senhora que dá a vida e amor ao Pai e ao Filho, e a toda criação. A essência do amor é doar-se gerando vida na Trindade imanente e fora dela. Por ser amor, a Trindade está sempre disposta a partilhar a vida com outros seres. Jesus é homem e Deus, tem a vida e o amor em si: é o Portador da vida Deus Trino pra o mundo. O Pai enviou o Filho ao mundo, no poder de Deus Mãe, pra restaurar a vida da criação ameaçada pelo pecado pessoal e do mundo. "Eu sou a vida, dou a vida por minhas ovelhas. Vim para que tenham vida em abundância. Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que, todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pelo poder que deste ao Filho sobre toda a carne, ele dá a vida eterna a todos que lhe deste. A vida eterna é esta: que te conheçam (creiam), o único e verdadeiro Deus e aquele que enviaste, Cristo Jesus. A fonte da vida está em ti: em tua luz nós vemos a luz. Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida. A vida é a luz dos homens. Ela brilha nas trevas, estas não conseguem dominá-las" Sl (35) 36,10; Jo 1,5;5,26; 8,12; 3,16;17,2-3. A vontade do Pai e Ruah é que o Filho comunique a seus irmãos e filhos de Deus a vida que recebeu de Deus Trino, pela fé. Sobretudo, que os alimente com a vida que está no seu corpo e sangue: "Nele a plenitude da divindade habita corporalmente", a abundância da vida de Deus uno e de cada Pessoa divina. Ora, Jesus não

nos comunica a vida divina contra nossa vontade, mas interpela nossa liberdade e decisão livre na fé. A fé é dom de Deus e mediação vital entre o ser humano e Deus Trino: desde a geração, ele imprime no coração de cada criança a semente da fé, da qual ela livremente se apropria quando toma consciência de si. A semente da fé são os dons pessoais colocados pelo Criador na alma de cada filho e filha desde sua geração no ventre materno. O pecado ameaça nosso potencial de fé. Jesus veio reativá-lo, não substituindo-nos, mas restituindo-nos confiança, auto-estima, nos fazendo crer em nós mesmos, assumir o nosso destino com liberdade consciente e responsabilidade. "Se Jesus me libertar, serei verdadeiramente livre, sereis discípulos meus se permanecerdes na minha palavra; conhecereis a verdade e ela vos libertará". A verdade é Jesus, o libertador da humanidade prisioneira do pecado: crer nele é permanecer, fazer experiência de Deus nele, apropriando-se pela fé na vida divina que está nele, a qual potencia nossos dons naturais, pra que ajam segundo o plano de Deus. Assumir seus dons é crer em si e no semelhante e, necessariamente, em Deus uno e trino, o criador e doador dos dons, sementes da fé e da vida nova. Quem não crê em si e em Deus, não tem auto-estima; sem auto-estima não há liberdade. Por isso, é preciso crer em si para conquistar a liberdade dos filhos de Deus. Daí, o papel do Primogenito não é fazer milagre

pra divertir pessoas desocupadas, paralisadas pela baixa auto-estima, desânimadas, nem as substituir em suas responsabilidades, de modo que passem a viver na sombra e água fresca do eterno Monte Tabor. Jesus não curou, não era missão sua curar todos os males mentais e físicos de seus contemporâneos. Pra isto existem médicos e terapeutas. Ele não é ban-aid e esparadrapo pra os males e físicos de ninguém. Sua missão é mais radical: elevar a auto-estima, ensinar os irmãos a acreditar neles mesmos e em Deus. Sem auto-estima e fé em si, não há fé em Deus. A primeira coisa que Jesus fazia com os doentes de alma e corpo, tidos por pecadores sem remédio pelas autoridades religiosas de Jerusalém, era elevar sua auto-estima: "Teus pecados estão perdoados; tua fé te curou; levanta-te e anda". Jesus nem dava a mão ao doente, mas fazia-o acreditar em seu potencial, posto nele pelo Criador, e que o pecado patológico havia anulado. Moral da história: Só nós, ninguém mais que cada um de nós pode curar a própria baixa auto-estima, acionando o potencial de fé que Deus pôs no seu coração. Fé em nós, nos outros, em Deus. Se temos fé em nós, o mais é acréscimo. Fé

em nossa capacidade, de que decorre a fé nos outros. A tarefa redentora de Jesus é acordar nosso potencial latente de fé e auto-estima, fazer-nos sair da paralisia físico-afetiva-mental a que nos levou o pecado do mundo introjetado no nosso coração, a sussurrar-nos na alma: 'Você é incapaz', e levar os poderosos a usar nossa inépcia como escambo e dominação sobre a massa inerte que o pecado patológico gerou. Ora, ninguém nasce incapaz, mas nos tornam incapazes para nos dominarem. Minha capacidade e das pessoas foram dadas por Deus. "Nossa capacidade vem de Deus. Ele opera em nós o querer e o fazer, conforme lhe apraz. Sendo assim, no nome de Cristo exercemos a função de embaixadores e, por nosso intermédio, Deus mesmo vos exorta 2Cor3,5;5,20; Fl 2,13. O Criador pôs dons suficientes em cada um de nós pra realizar-se e ser feliz. Ele realiza sua obra no mundo quando cada um realiza seus dons. Por esse viés, os dons que Deus pôs em nós, a fé em nós mesmos é a mesma fé em Deus. Crer em si é crer em Deus, o doador dos dons. Se nós temos fé, o mais é adendo; inclusive a cura dos males físicos e mentais. A pior doença mental que acomete

o ser humano é a baixa auto-estima, a falta de fé em si. Sem fé em si, tornamo-nos social e psicologicamente paralíticos, inertes. Se não cremos em nós, Deus não nos curá. "Levanta-te e vai, tua fé te curou". 'Tua fé' significa 'confiança na tua capacidade'. Jesus veio curar

em nós a pior doença: a baixa auto-estima, acomodação, falta de fé em nós mesmos e nos outros, a resignação à pseudovontade de Deus. Quem tem fé em si, tem fé nos outros e em Deus. Por isso, é pessoa ativa, não se assusta com situações negativas, mas vai à luta gerar vida nos outros, no mundo. Apropriamo-nos da vida divina pela fé e a fazemos gerar vida no mundo. Cabe-nos deixar Deus Mãe nos educar para a fé e firmar nos nossos corações a aliança de vida e amor de Deus Trino conosco. Pela fé nos tornamos membros do Corpo de Cristo e passamos a viver a vida de Jesus, como os ramos vivem da vida da videira: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou" Gl 2,20. Crer é viver da vida de Jesus e praticar obras teândricas no Nome como ele as praticou: "Quem crê em mim faz as obras que eu faço". Crer é aderir a Jesus "com todo o ser, de todo coração, de toda a alma, com todas as forças", intelectuais, emocionais, físicas. Crer é entregar a vida a Jesus como ele entregou a sua a mim, e viver os valores e lugares teologais que ele viveu, cujo ápice e clima é o amor fraterno. Jesus é Santo por natureza, eu sou pecador, mas justificado por ele pela fé e santificado por seu Espírito. A fé é dom de Deus, mas não é imposta. Preciso querer crer. Se creio de verdade, estou em comunhão de vida com Deus Trino, através de Jesus Cristo, mediante a fé. Pela fé, aproprio-me da vida divina que está em Jesus. Para se manter, a fé precisa ser alimentada, como toda vida. Alimentamos nossa fé, a fé alimenta-nos de três maneiras: A escuta e a prática da Palavra de Deus; as boas obras: esmola, oração, jejum; a comunhão eucarística no corpo e sangue de Jesus Cristo.

1)ESCUTA E PRÁTICA DA PALAVRA DE DEUS: Após 40 dias de jejum no deserto da Judéia, aproveitando-se da fragilidade de Jesus, Satanás tentou manipular a seu favor o poder divino, induzindo Jesus a transformar pedras em pães, Ele não caiu na cilada, mas lhe deu a resposta paradigmática: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Eis que virão dias em que enviarei sede e fome à terra, não de água e pão, mas de ouvir a palavra de Javé. Não é a produção de frutos que alimenta os que crêem em ti, mas a tua palavra sustenta os seres humanos" Mt 4,4; Am 8,11; Sb 16,26. A Palavra de Deus é Deus, tem a mesma essência e eficácia de Deus. "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia no princípio junto de Deus.

Ela existe antes de todas as coisas e nela todas as coisas têm consistência. Foram criadas nela todas as coisas no céu e na terra, os seres invisíveis e os visíveis. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não a conseguiram dominar. Tudo foi criado e feito por meio dela, através dela e para ela, e nada de tudo que existe foi feito sem ela. Javé disse: Faça-se a luz, e a luz foi feita. Façamos o ser humano à nossa imagem, como nossa semelhança. E Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, homem e mulher ele os criou. Quase igual aos anjos o fizeste, de glória e honra o coroastes. Jo 1,1-5; Cl 1,16-17; Gn 1,3.26-27; Sl 8,6. A Palavra de Javé é glória do povo de Israel; ela é a garantia da existência de Javé e do cuidado dele com seu povo. "Javé tu és minha lâmpada, meu Deus, ilumina minha treva. Tua palavra é lâmpada pra os meus pés, luz para o meu caminho. Teu preceito é uma lâmpada, a instrução é uma luz, um caminho de vida é a exortação que disciplina" Sl 18,29; 118 (119),105; Pr 6,23. A palavra de Javé ao povo da antiga aliança está contida no Decálogo. Os verbos "ouvir e praticar" são os mais frequentes no AT. O Decálogo começa assim: "Ouve, shemá, ó Israel", os estatutos e normas que hoje proclamo aos vossos ouvidos. Vós os aprendereis, cuidareis de praticá-los. Eu sou Javé teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, casa da ecravidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não pronunciarás em vão o Nome de Javé teu Deus, pois Javé não deixará impune aquele que pronuniciar em vão o seu Nome. Guardarás o dia do Sábado pra santificá-lo. Honra teu pai e tu mãe. Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não apresentarás contra teu próximo um falso testemunho. Não cobiçarás a mulher do teu próximo. Não desejarás pra ti a casa do teu próximo, nem o seu campo, seu boi e o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo" Ex 20,1-21. Javé não fala palavras vazias, mas criadoras. Ele dá sua palavra ao povo para que creia e a pratique o que crê: gere obras semelhantes às geradas pela Palavra que sai da boca de Javé. Não há desculpas pra não praticá-la, pois os preceitos estão ao alcance de todo ser humano: podem ser cridos e praticados. Javé odeia quem não pratica boas obras da fé. "Este mandamento que hoje te prescrevo não é difícil pra ti, não estão fora do teu alcance. Não está no céu pra que digas: quem poderá subir ao céu por nós pra apanhá-lo? Quem no-lo fará ouvir pra que possamos cumpri-lo? Não está do outro lado do mar, para dizeres: quem atravessará o mar por nós pra apanhá-lo? Quem no-lo fará ouvir pra que o possamos cumprir?  Ao contrário, ele está bem ao teu alcance, no teu coração, na tua boca, para que possas cumpri-lo" Dt 30, 12-14. O Credo histórico Judeu, condensado no Decálogo, iniciou com o Êxodo de Abraão  da Caldéia pra Canaã, foi reeditado no Êxodo do Egito, que é o início histórico do povo da antiga aliança: "Javé disse a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e casa do teu pai, pra  terra que te mostrarei. Farei de ti um grande povo, te abençoarei, engrandecerei teu nome. Sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amadiçoarem. Por ti serão benditos todos os clãs da terra. Abrão partiu para a terra de Canaã, como Javé lhe disse, fazendo estágio em Harã, antes de se estabelecer no Carvalho de Moré, no lugar santo de Siquém" Gn 12,1-9. Os descendentes de Abrão, Isaac e Jacó pecaram contra Javé e foram exilados no Egito, de onde foram reconduzido a Canaã com o poder de Javé, pelas mãos de Moisés. O Credo Judeu resume assim esta saga: "Meu pai era um arameu errante;

ele desceu ao Egito e ali residiu com poucas pessoas; depois tornou-se uma nação grande,

forte e numerosa. Mas, os egípcios nos maltrataram, humilharam, impondo-nos escravidão

dura. Então, gritamos a Javé, Deus de nossos pais, que ouviu nossa voz: viu nossa miséria, nosso sofrimento, nossa opressão. Javé nos fez sair do Egito com braço estendido e mão forte, em meio a grande terror, com sinais e prodígios, e nos trouxe a este lugar, nos dando esta terra, onde mana leite e mel" Dt 26,4-9. A palavra traz e transmite, comunica o humor e o espírito, a intenção de quem fala. Se lemos, ouvimos palavras tristes, ficamos tristes; se lemos palavras bem humoradas, ficamos de bom humor. Palavras sábias geram sabedoria, palavras inteligentes geram inteligência. A Palavra de Deus conduz e comunica também o humor, os sentimentos, a inspiração, o Espírito de Deus, Deus Mãe e a vida divina aos que crêem. Por isso, quem ouve a Palavra, a acolhe na fé e a pratica já está na vida eterna.

   Os verbos "ouvir e praticar" são frequentes também no NT. "A fé vem pela pregação, e esta, pela palavra divina. Mas como poderão crer em quem não ouviram? Como poderão ouvir sem pregador? Como poderão pregar se não são enviados? Quem é da verdade ouve  a minha voz. Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, que lhe dá o Espírito sem medida. Quem escuta minha palavra e crê no Pai que me enviou tem a vida eterna. Quem crê no Filho tem a vida eterna. Vem a hora - e é agora - em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; os que o ouvirem, viverão. Quem vive e crê em mim, não morrerá" Jo 3,34. 36; 5,24.26; 11,26; 18,37; Rm 10,14-17. Jesus é taxativo sobre ouvir e praticar a Palavra: "Nem todo que diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas quem faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Pois não são justificados perante Deus os que ouvem, mas os que cumprem a Lei. Sede praticantes, não apenas ouvintes da Palavra, enganando-vos vós mesmos. Pois, quem ouve a Palavra e não pratica, é como o homem que, olhando seu rosto no espelho, se limita a olhar-se e vai embora, logo esquecendo-se de sua aparência. Mas aquele que acolhe atentamente a Lei perfeita da liberdade e persevera nela, não sendo ouvinte esquecido, mas fazendo o que ela ordena, este é feliz no que faz. Se alguém, tendo bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus? Filhinhos, amemos não com palavras e a língua, mas com ações e de verdade. A religião pura perante Deus nosso Pai consiste em visitar os órfãos e viúvas nas suas tribulações, se guardar da corrução do mundo. Quem ouve e prática minhas palavras, é como o homem sábio que construiu a casa na rocha. Vieram enchentes, sopraram ventos, a chuva caiu e ameaçou a casa, mas ela não caiu pois estava fincada na rocha. Mas, quem ouve minhas palavras e não as pratica, é como o homem tolo que construiu a casa na areia. Sopraram os ventos e caiu a chuva, enchentes vieram, ameaçaram, ela caiu, grande foi sua ruína. Se compreenderdes e praticardes isto, felizes sereis". A Palavra de Deus é criadora, 'bará'. Quando pronunciada, ela cria algo no coração do homem ou fora dele. Jamais Deus a pronuncia em vão e trata como iníquos os que a pronunciam pra se exibirem e parecerem santos diante do mundo, mas não a praticam. "Como a chuva e a neve descem do céu e pra lá não voltam sem antes terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazerndo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: não torna a mim sem fruto; antes, ela cumpre a minha vontade e assegura o êxito da missão pra qual foi enviada" Tg 1,22-27; Rm 2,13;10,8; 1Jo 3,17; Jo 13,17; Dt 30,11-14; Is 55,10-11. Deus não falavra diretamente, mas através dos profetas, que creem, assumem, vivem e transmitem a Palavra em Nome, com a autoridade de Deus. por isso, a palavra do profeta verdadeiro tem o mesmo peso da Palavra de Deus: o que diz se realiza. "Colocarei minhas palavras na sua boca, ele lhes comunicará o eu que lhes ordenar. Casa haja alguém que não ouça as minhas palavras, que este profeta em meu nome pronunciar, meu próprio irei acertar contas com ele. Todavia, se o profeta tiver a ousadia de falar em meu nome uma palavra que eu não lhe tiver ordenado, ou falar em nome de outros deuses, tal profeta deverá ser morto. Como sabemos que tal palavra não é uma palavra de Javé? Se o profeta fala em nome de Javé e a palavra não se cumpre, não se realiza, trata-se, então, de uma palavra que Javé não disse. Tal profeta falou com presunção. Não temas" Dt 18,18-22.

2) AS BOAS OBRAS – A aliança que Javé fez que seu povo é sustentada pela fidelidade de Javé e a fé do povo na palavra de Javé, proclamada nas celebrações litúrgicas, vivida na prática do direito e da justiça. A aliança foi feita visando apoiar a fragilidade ética do povo e dar-lhe subsídios pra conversão. A fé decorrente da aliança visa transformar moralmente, mudar os maus costumes, educar o ser humano na prática do direito e da justiça, antes que prestar culto a Deus. Agrada mais a Javé a prática do direito e da justiça que os louvores e cultos vazios, que saem das bocas, mas não brotam de corações sinceros e justos. Agrada,  pois, mais a Javé seu povo viver eticamente, que rezar com o coração cheio de iniqüidades e as mãos vazias de boas obras. Cultos azios sem prática dos valores éticos ofendem Javé. "Parai de fazer oferendas mentirosas! Incenso é coisa me aborrece! Não suporto mentira com festa religiosa! Tudo isto é um peso que não agüento carregar. Quando me estendeis as mãos, desvio meu olhar. Inda que multipliqueis as orações, de forma alguma atenderei. É que vossas mãos estão sujas de morte. Lavai-vos, limpai-vos, as injustiças que praticais, tirai-as da minha vista. Aprendei a fazer o bem, parai de fazer o mal, defendei o direito do oprimido, buscai o que é correto, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Depois, vinde e podemos discutir" Is 1,13-18. A dimensão ética é da essência da fé, na medida em que o fiel não faz concessão ao direito e à justiça, mas denuncia atitudes que diminuem a qualidade de vida do povo. Se a oraçaõ e o louvor não melhoram os costumes, não refinam os sentimentos do povo nem aprimoram as relações humanas, as relações com Deus estão  falseadas. "A fé sem obras é morte" Tg 2,17. De que obras se trata? Para judeus e cristãos  trata-se da prática do direito e da justiça: a esmola, a oração, o jejum. "Oração com jejum é coisa boa; melhor é a esmola com justiça que a riqueza com a iniqüidade" Tb 12,8.

(a) A esmola é boa obra ligada à diaconia, ao serviço gratuito decorrente da fé. "É melhor praticar a esmola do que acumular o ouro. A esmola livra da morte, limpa de todo pecado. A água apaga a chama, a esmola expia o pecado. Os que dão esmola terão longa vida (vida eterna, já na terra. Ancião é alguém maduro na fé. "Velhice venerável não é longevidade e não é medida pelo número de anos; as cãs do ser humano são a inteligência, a velhice, uma vida santa" Sb 4,7-9); mas os que cometem o pecado, praticam a injustiça, são inimigos da própria vida. Toma dos teus bens pra dar esmola. Nunca afastes de algum pobre a tua face, e Deus não afastará de ti a sua face. Regula tua esmola segundo a abundância de teus bens: se tens muito, dá mais; se tens pouco, dá menos, mas não tenhas receio de dar esmola, pois assim acumulas um bom tesouro para o dia da necessidade. Pois a esmola livra da morte e impede que se caia nas trevas. Dom valioso é a esmola para quantos diante do Altíssimo a praticam. Quem dá ao pobre não terá necessidade, mas quem dele esconde seus olhos terá muitas maldições. Quem faz caridade ao pobre empresta a Javé, e ele dará tua recompensa. Filho, não recuses ao pobre o seu alimento, não desvies teus olhos do miserável. Não faças sofrer aquele que tem fome, não irrites o homem na sua indigência. Não agites um coração desesperado, não negues teu dom ao necessitado; não rejeites o pedinte oprimido, teu rosto não desvies do pobre. Não desvies teu olhar do que pede, não lhe dês motivo pra maldizer-te, pois te amaldiçoando em sua amargura, o Criador atenderá seu clamor. Quando houver um pobre no teu meio, que seja um só de teus irmãos numa das tuas cidades, não fecharás a mão para este teu irmão pobre, nem endurecerás teu coração; ao contrário, abre-lhe a mão, emprestando o que lhe falta, na medida de sua necessidade. Fica atento que teu olho se torne mau para com o teu irmão pobre, nada lhe dando; ele clamaria a Javé contra ti um pecado em ti haveria. Quando lhe deres algo, não dês com má vontade, pois em resposta a este gesto, Javé te abençoará em todo o teu trabalho, em todo empreendimento da tua mão. Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e pobre na tua terra. Guardai-vos de praticar vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. Do contrário, não recebereis recompensa junto ao vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola não te ponhas a trombetear em público como fazem os hipócritas nas sinagogas e ruas com o propósito de ser glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Eles querem passar por justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações; o que para os homens é elevado, é abominável para Deus. Mas quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, para que tua esmola seja secreta; teu Pai que vê no segredo, recompensar-te-á. Fecha a tua esmola no teu celeiro e ela te livrará de todo mal. Mais que forte escudo e lança poderosa, por ti ela combaterá o inimigo" Tb 4,7-11; 12,8-10; Pr 19, 17; 28,27; Eclo 3,30; 4,1-6; 29,12-13; Dt 15,7-11; Mt 6,1-4. É incalculável o potencial de vida eterna da esmola, do gesto de socorro aos necessitados. Jesus chega a condicionar a partilha da vida eterna conosco à prática desta boa obra de aparência humilde, mas de grande significado. O peso de vida eterna da esmola não está no valor material do que damos, mas no espírito como é dada: Com fé ou indiferença para livrar-nos do importuno. Quem dá esmola com espírito de fé, o faz como enviado de Jesus, sinal da presença atual da misericórdia do Pai no mundo. O espírito solidário que leva Jesus a viver conosco, compatilhar nossa fraqueza,  anima quem estende a mão ao pobre. A esmola é sinal da misericórdia do Pai, que "faz a chuva cair sobre bons, maus e ingratos e o sol levantar-se sobre justos e injustos". Até um copo d'água dado por amor merece vida eterna com a Família Divina. A prática da esmola definirá nosso destino eterno. No Juízo Final alguém poderá alegar ter rezado muito, feito milagres em nome de Jesus, mas ouvirá dele palavras muito severas: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" Mt 7,23. Iníquas são as obras sem fé, praticadas por ostentação, sem o espírito misericordioso, solidário de Jesus. Quando relata o Juízo Final, Jesus revela a seriedade da esmola, a gravidade dos que fecham as mãos aos necessitados do mundo. "Quando o Filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, se assentará em seu trono glorioso. Todas as nações da terra – cristãs e não cristãs –, serão reunidas diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à direita, os cabritos à esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos do meu Pai! Recebei em herança o Reino que o Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois estava com fome, e me destes de comer; com sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu, e me vestistes; na prisão, e me fostes visitar; doente, e cuidastes de mim'. Então os justos lhe perguntarão:'Senhor, quando foi que te vimos com fome e de demos de comer? Com sede e te demos de beber? Forasteiro, e te acolhemos em casa? Sem roupa, e te vestimos? Doente ou preso e te fomos visitar?' O Rei lhes responderá, então: Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um dos irmãos meus mais pequeninos, a mim o fizestes! Depois, aos que estiverem à sua esquerda o rei dirá: Afastai-vos de mim, malditos! Ide pra o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos! Porque estava com fome, não me destes de comer; com sede, não me deste de beber; era forasteiro, não me recebestes em casa; nu, não me vestistes; doente, na prisão e não me fostes visitar. E estes responderão: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome, sede, forasteiro, nu, doente, preso, e não te servimos'? Então o Rei lhes responderá: Em verdade, vos digo: todas as vezes que não fizestes isso a um dos mais pequenos, a mim o deixastes de fazer. Estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna" Mt 25, 31-46. As palavras de Jesus ecoam as de Javé, Deus dos órfãos, viúvas, estrangeiros. "Javé é compaixão, piedade, cheio de amor, lento pra cólera. Javé realiza atos justos, faz justiça a todos os oprimidos" Sl 102 (103),6.

(b) A oração também é boa obra decorrente da fé que penhora a vida eterna. A instituição

da eucaristia selou a missão diaconal e profética do Redentor no mundo, e iniciou a missão

sacerdotal do Cordeiro de Deus, que consiste em interceder junto ao Pai, dia e noite, para sustentar na fé os que crêem e converter os que não crêem, deixando com os discípulos e sucessores a tarefa de servir e anunciar-lhes a Boa Nova a todas as nações. Na última ceia da antiga aliança, no decorrer da qual Jesus instituiu a eucaristia, a primeira, paradigmática e única ceia da nova aliança, o lava-pés foi o gesto profético emblemático da diaconia que Jesus quer ensinar aos discípulos a praticarem na continuidade dele. Depois que lhes lavou e enxugou os pés, ele explicou-lhes significado do seu gesto, perguntando-lhes: "Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, dizeis bem, pois eu o sou. Mas, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, pra que façais assim como eu fiz a vós" Jo 13,12-15. O mandato de anunciar a Boa nova aos povos foi transmitido no Dia da ressurreição: "Como o Pai me enviou, eu vos envio também. Recebei Deus Mãe, disse Jesus soprando sobre eles" Jo 20,21-22. Envio confirmado no Dia da ascensão: "Toda autoridade me foi dada no céu, na terra. Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, batizai-as em Nome do Pai, do Filho e de Deus Mãe. Ensinai-as a observar tudo que vos tenho ordenado. E estou convosco todos os dias até o fim dos tempos" Mt 28,19-20. A partir de Pentecostes, os Doze iniciaram o anúncio do Evangelho e de fazer discípulos pra Jesus, cujo sinal é a partilha de bens e o serviço aos pobres, especial às viúvas: "Eles tinham tudo em comum e repartiam entre si"At 4,32-35; At 6,1s. A esmola é a diaconia emblemática, pois visa assistir os mais pobres dos pobres. Por meio dela, pela fé participa-se da missão régia de Jesus, que consiste em servir gratuita e humildemente aos irmãos. Junto ao Pai, a intercessão é a missão sacerdotal, exclusiva de Jesus, que apoia a missão profética e diaconal de seus enviados. A oração, primeira missão do cristão, une-se à oração invisível de Jesus. Por ela, o fiel, em especial o contemplativo, participa da missão sacerdotal de Jesus de entregar a vida em sacrifício de louvor a Deus e interceder pelos irmãos. Mas só será ouvida por Javé a oração que é precedida da diaconia misericordiosa pelos irmãos mais pobres de Jesus. Oração sem a prática da misericórdia ofende o Pai misericordioso, Deus Mãe e Jesus, cujos olhos estão voltados de preferência pros filhos mais desasistidos, com os quais Jesus se identifica sem hesitar. Por outro lado, a oração nutre a prática da misericórdia, da partilha pois, por meio dela, nos é comunicada Deus Mãe, a fonte da misericórdia, da compaixão de Jesus e de seus enviados. A força da oração está no fato de o fiel participar da missão sacerdotal de Jesus, incorporar o poder do Alto e receber energia que o capacita a praticar ações humano-divinas, teândricas de Jesus, pela a fé. Jesus é o orante emblemático, que nos quer orantes incessantes. "Vigiai, orai pra não cairdes em tentação. O espírito é forte, mas a carne é fraca. Tudo que pedirdes ao Pai em meu Nome, o farei, para que o Pai seja glorificado. Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e se vos abrirá". Jesus nos ensinou o que praticava com regularidade. Depois dos dias fatigantes em missão, ele se recolhia em lugares ermos, passava a noite a sós com o amado Pai. Antes de decisões importantes, Jesus orava: no batismo, antes de começar sua missão pública, na escolha dos Doze, quando eles lhe pediram pra ensiná-los a rezar, ele ensinou- a oração modelo, o Pai-Nosso; na ressurreição de Lázaro, no Getsémani, na cruz. A oração é o alimento da vida e missão de Jesus. Tão importante que, após ressurreição, se tornou sua missão exclusiva: interceder dia e noite junto ao Pai por nós (Hb). Em, com e por Cristo, orar é a missão precípua do que crê: estar em união com Deus trino pra receber luz para o discernimento e energia pra missão profética e régia. É preciso orar insistentemente, sem cessar, pra não desanimar na tarefa de anunciar a boa nova e servir os pobres. "Vigiai, orai pra não cairdes em tenção. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Pedi e vos será dado. Quem de vós, que é pai, se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se pedir um ovo, lhe dará escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar aos vossos filhos coisas boas, quanto mais o Pai do céu dará Deus Mãe ao que o pedir" Lc 11,9-13; Mt 7, 8; 26,41. Ao infundir-nos Deus Mãe, a oração leva à vida eterna, na intimidade da Família divina. Dela depende a fecundidade da vida de fé e sucesso da missão diaconal e profética. Por isso, depois da ascensão, para os Onze não se dispersarem, até que enviasse Ruah da parte do Pai, que lhes dará força pra continuarem sua missão, Jesus lhes diz: "Eis que vos enviarei o que meu Pai prometeu: o Paráclito, Deus Mãe, que o Pai enviará no meu nome. Ele vos ensinará e recordará tudo o que vos disse. Por isso, permanecei em Jerusalém até serdes revestidos da força do Alto. Eles se prostraram diante dele, e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria e estavam continuamente no Templo louvando Deus. Todos estes, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre elas Maria mãe de Jesus e os irmãos dele" Lc 24, 49; Jo 14,26; At 1,14. Enquanto oravam, escolheram Matias para substituir Judas Iscariote. Depois, sobre os Doze e as mulheres, e sobre os judeus que estavam em Jerusalém, veio "Deus Mãe, que dá vida" a todas as coisas. A partir de então, acabaram as dúvidas e o medo: os Doze retomaram a missão diaconal e profética de Jesus, interrompida por 50 dias, da instituição da eucaristia a Pentecostes. Após a ressurreição, Jesus delega aos Doze a continuidade da sua obra salvífica, apoiados e guiados pela Força de Deus Mãe. "Como o Pai  me enviou, eu vos envio também. A seguida soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide pelo mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura. Fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e Deus Mãe, ensinando-as a observar tudo que vos ordenei. Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crê está condenado, porque não creu no nome do Filho único de Deus" Jo 3,18; 20,21-22; Mc 16,15-16; Mt 28, 18-20. Ruah é a energia dos enviados de Jesus. Ela lhes é comunicada em especial durante a oração. Quanto mais a comunidade ora, tanto mais Deus Mãe a visitará e ela terá luz pra discernir e energia pra realizar a obra de Jesus. Sem oração, nada na vida cristã se sustém: nem missão, nem boas obras, nem o Reino de Deus virá a nós, as relações sociais serão precárias. Em Atos fica claro que os enviados de Jesus intuíram a importância da vida fraterna, oração e evangelização: "Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" At 2,42.

  O povo da nova aliança deu, pois, continuidade à história de fé do povo da aliança antiga, feita de oração, serviço, queda, perdão, transgressões e reconciliações. Central foi o papel dos patriarcas no equilíbrio das relações do povo pecador com o Deus santo, cujo selo é a prática do direito e da justiça. Não há santidade sem respeito à ética, ao direito e à justiça, que é a essência da santidade de Javé, da aliança que fez com seu povo. Javé é Deus ético. O desrespeito ao direito e à justiça, a falta de retidão ética provoca a ira do Santo de Israel. Ofendido com a falta de ética da humaidade, Javé decide destruí-la, pois "viu que a terra estava pervertida, a maldade do homem era grande, toda a carne tinha conduta pervertida sobre a terra, era continuamente mau o desígnio do seu coração. Javé se arrependeu de ter feito o homem sobre a terra, afligiu-se seu coração e disse a Noé: chegou o fim de toda a carne, pois a terra está cheia de violência por causa dos homens, os farei desaparecer da terra. Mas Noé achou graça diante de Javé" Gn 6,12-13. Por causa da intercessão de Noé, Javé desistiu de destruir a criação, revertendo o extermínio da humanidade em devastador dilúvio que submergiu quase toda a criação. Graças à intercessão de Noé, uma parcela da criação foi salva na arca que ele fez e introduziu nela um casal de seres de cada espécie para, após o dilúvio, retomar a caminhada interrompida pelo pecado. Abraão, Moisés, Ana mãe de Sanção e a mãe de Samuel, Débora, Judite, Rute, o Salmista 'falavam com Deus como um amigo fala com outro', pois tinham vida de oração. A vida do povo dependia do contato direto com Javé na oração. Quando fraquejava na oração e seguia falsos deuses, o povo corria perigo. A dupla diáspora de Israel se deveu à incredulidade do povo, sobretudo de seus líderes. É paradigmática a cena de Moisés com o braço elevado a interceder pelo povo na guerra com os amalecitas. Quando o braço cansado baixava (deixa de interceder), o povo começava a perder a guerra. Quando Moisés voltava a elevar o braço (retomava a intercessão), o povo tornava a vencer. Quando não suportava mais, puseram sob o braço de Moisés uma pedra, para ele não ter de baixá-lo por exaustão e o povo perder a guerra. A pedra simboliza Cristo e a fé do povo nele. Colocar a pedra sob o braço direito de Moisés significa que alguém de fé juntou-se a ele na intercessão, aumentando o poder da oração. Jesus garante que onde tiverem dois ou mais reunidos em seu Nome, pela fé (a Lei veio por Moisés, a fé, por Jesus Cristo), ele estará com eles. Daí, a vitória do povo foi garantida pela oração vicária de seu líder e assessor. Vitória política da oração: dimensão política da oração, quando feita pelo bem comum. "Feliz o povo cuja Deus é o Senhor". Depois que o pai da fé de judeus e cristãos venceu os reis inimigos, o Sacerdote do Altíssimo, o Rei da Paz, Melquisedeque apareceu a Abraão e ofereceu a Javé pão e vinho em agradecimento pela vitória dele, dizendo: "Bendito seja Abraão pelo Deus Altíssimo que criou céu e terra, bendito seja Deus Altíssimo que entregou em tuas mãos teus inimigos" Gn 14,19-20. Jesus é o herdeiro das promessas de Abraão, a fé no Cristo se enraíza na fé de Abraão. "Os que têm fé são descendentes de Abraão e abençoados com a bênção de Abraão, homem de fé" Gl 3,7.9. A bênção de Abraão é sua fé em Jesus Cristo, o Fruto Bendito do ventrede Maria,  e pela fé a bênção de Abraão é transmitida a todo aquele que crê, pois a fé de Abraão já é em Jesus Cristo (Jo 8,56). Remonta também a Abraão o sacerdócio existencial de Jesus, cujo paradigma é o sacrifício de Melquisedeque, que, oferecendo pão e vinho, antecipou a instituição da eucaristia, sinal eficaz da imolação de Jesus, que rompeu com o sacerdócio ritual levítico da antiga aliança. A eucaristia é a maior oração intercessora pelos pecadores, o grande canto de louvor ao Pai pela vitória sobre o pecado. No AT há muitos cantos de vitória, conseqüentes à oração de intercessão de pessoas de fé. Lindo é o canto da vitória, entoado a Javé por Moisés e os filhos de Israel depois da passagem do Mar Vermelho (Ex 15). Comovente são o cântico Moisés antes de morrer, depois de pôr a Lei ao lado da arca da aliança e bençoar o povo (Dt 31;33). É lindo o cântico da juíza Débora (abelha), depois da vitória sobre o general Sísara (Jz 5). Feliz é o cântico da estéril Ana, porque engravidou de Samuel (1Sm 2). Vitorioso é o cântico do rei Davi, "quando Javé o livrou de todos seus inimigos e da mão de Saul" (2Sm 22). Humilde é a oração de Salomão quando assumiu o trono de Israel no lugar de Davi, seu pai (1Rs 4,14;2Cr 1,3-12;Sb 8, 19-9,12). Compungida é a cerimônia expiatória após o retorno do exílio babilônico (Ne 9). Os lamentos de Tobias após cegar e de Sara depois de enviuvar sete vezes são comoventes (Tb 3). São de gratidão as orações de Tobit, Sara, Ragüel e Tobias depois que Tobit sobreviveu ao casamento com Sara retornou à casa dos pais (Tb 8;11.14.15;13). É de clamor a oração de Judite pelo povo inquieto com a invasão iminente do país pelo exército de Holofernes; de vitória, as orações  do Chefe do povo, Ozias, do sumo sacerdote Joaquim, do Conselho de anciãos e de Judite, depois que, com sua beleza e sedução, dominou e matou o general assírio com a espada dele (Jd 9;13,18-20;15,9-10;16). Corajosas são as orações de Mardoqueu e da rainha Ester, depois que ela, judia como ele, fez o rei Assuero desistir de extermlnar os judeus da Pérsia (Est 4,17a-17z). Os Salmos são orações que exprimem as contradições a vida do povo. O Magnificat, o Benedictus, o Nunc Dimitis são cantos de vitória e gratidão da mãe de Jesus, de Zacarias e Simeão pela bondade de Javé com o seu povo: "Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia, da sua aliança sagrada que fez ao nosso pai Abraão e sua descendência" (Lc 1,46-79; 2,29-32). Jesus ordena discrição na oração. "Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e esquinas, pra serem vistos pelos homens. Digo-vos em verdade: já receberam recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e fecha a tua porta, ora ao teu Pai que está no segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará. Nas vossas orações não useis de vãs repetições como os gentios, que imaginam ser ouvidos pelo palavreado excessivo. Não sejais como eles: o vosso Pai sabe do que necessitais antes de lho pedirdes. Portanto, orai desta maneira: 'Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua Vontade, na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores.     E não nos exponhas à tentação, mas livra-nos do Maligno" Mt 6,5-13.

   Em Deus, palavra e ação são inseparáveis: elas são como o verso e reverso do verdadeiro Deus, que se caracteriza por fazer o que diz; ao contrário, é mentirosa a palavra dos falsos deuses, porque não é seguida de obras que a confirmem. "Por que diriam as nações: 'Onde está o Deus deles'? O nosso Deus está no céu e faz tudo o que deseja. Javé firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo. Por suas palavras o Senhor faz suas obras e a criação obedece sua vontade. Os ídolos das nações são de prata e ouro, obras de humanas mãos: têm boca, mas não falam; olhos mas não vêem; ouvidos, mas não ouvem; mãos mas não tocam; pés, mas não andam; não há murmúrio na sua garganta. Todos os que os fazem e neles confiam ficam como eles," Eclo 42,15b;Sl 115(113 B),2-8; Sl 102(103),19. Oração  e ação também são inseparáveis para quem crê e alimentam-se reciprocamente. Ambas são expressões e brotam da fé. A fé é o poder de Deus comunicado a nós em virtude da nossa enxertia vital no Corpo de Jesus desde a encarnação do Primogênito no ventre de Maria. A fé resulta de um processo, iniciado com a escuta da Palavra, seguida da adesão voluntária e livre às Três Pessoas santas, autoras da Palavra Divina. Como elas fazem o que dizem, a Palavra Três Pessoas merece fé. Javé, Deus fidedigno, fez aliança com um pequeno povo,

para ter com ele uma relação de fé. Daí, a fé é conseqüência da aliança, do convívio diário e da comunhão do povo com o verdadeiro Deus. O povo sabe em quem deposita sua fé e confiança, que não será enganado. O trato fundamental, o coração da aliança entre Javé e o povo está consubstanciado na sentença:  "Eu serei o teu Deus e tu serás o meu povo". Isto

é: 'Temos compromisso de respeito mútuo ao trato que fizemos. Como Parceiro principal, eu te comunico minha vida e poder; tu viverás da minha vida, estarás equipado com o meu poder, para seres meu representante plenipotenciário, testemunha e embaixador no mundo, capacitado e autorizado a ser meu servo e profeta, a realizar minhas obras e a falar minhas palavras para trazer outros povos a fé em Javé. Tu és o meu servo, minha luz no mundo, a luz das nações em Nome de Deus uno e trino. E eu estou convosco todos os dias até o fim dos séculos'. É evidente que o fiel precisa dar seu consentimento, adesão livre à proposta

de Javé pra capacitação da fé se tornar efetiva. Posto isto, ele tem autoridade para realizar obras e falar em Nome, isto é, com a plena autoridade de Javé. "Quem crê em mim fará as obras que eu faço, fará até maiores que elas, porque eu vou para o Pai. E o que pedirdes ao Pai no meu Nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Nossa capacidade vem de Deus. É ele quem opera em nós o querer e o executar, segundo lhe apraz. E é por nosso intermédio que ele vos exorta" Jo 14,12-13; 2 Cor 3,5; 5,20; Fl 2,13. Quer dizer, a fé nos mune do poder de falar e fazer o que Jesus falou e fez por delegação de Deus Trino. As obras de Jesus testemunhavam sobre a origem e a veracidade da Palavra dele. "Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, porque saí de Deus e dele venho; não por mim mesmo, mas ele me enviou. Nada faço por mim, mas falo como me ensinou o Pai. Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim; mas, se as faço, crede nas obras, mesmo que não acrediteis em mim, para conhecerdes e conhecerdes sempre mais que o Pai está em mim e eu no Pai. Quem me enviou está comigo. Não me deixa sozinho, porque sempre faço o que lhe agrada" Jo 8,28-29.42;10,37-38. Em Jesus há sintonia perfeita entre Palavra e obras. A oração é uma boa obra que só têm legitimidade e valor se realizada em contexto de fé e acompanhadas de ação. Fé e oração sem obras são mortas. A principal obra da oração com fé é a conversão, a mudança de mentalidade, o refinamento dos sentimentos de quem crê. Quer dizer: a oração por si só não tem valor nem é ouvida por Javé, se consistir apenas em palavreado vazio desligado das obras que atestem sua veracidade. A oração verdadeira tem dimensão ética, social, política: precisa ser seguida da prática do direito e da justiça: quem se acha piedoso mas se apresenta diante de Javé com as mãos sujas das más obras e vazias do bem estará se enganando e pronunciando em vão o Nome de Javé e sua oração não será ouvida. Jesus é claro: "Nem todo que me diz: Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas aquele que pratica a vontade do meu Pai que está nos céus. Muito me dirão naquele Dia (Juízo final): Senhor, Senhor, não foi em teu nome que expulsamos demônios, fizemos muitos milagres, profetizamos? Então, lhes direi: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Basta de trazer-me oferendas vãs, que são um abominável incenso pra mim. Quando estendeis vossas mãos desvio de vós os meus olhos; mesmo que multipliqueis a oração, não vos ouvirei. Tirai da minha vista vossas más ações! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem. Vossas mãos estão cheias de sangue: purificai-vos, lavai-vos. Buscai o direito, corrigi o opressor! Defendei a causa da viúva, fazei justiça ao órfão! Então, poderemos discutir. Ainda que vossos pecados sejam vermelhos carmesim e como escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve e a lã. Comereis o fruto precioso da terra, se estiverdes dispostos a ouvir. Mas, se vos rebelardes e recusardes, pela espada sereis mortos" Mt 7,23; Is 1,13-20. Espada de dois gumes da Palavra de Deus, que é benção pra o justo, perdição para quem pratica o mal. Quem nela crê e a pratica está no Reino; quem nela não crê nem a pratica está fora do Reino. "Feri-vos por intermédio dos profetas, vos matei pelas palavras da minha boca, pra que meu direito surja como luz" Os 6,5. Eis aí a face de Javé que muita gente dita piedosa não admite: Deus habita no mais alto céu, que tem ele com as coisas da terra? Ora, Javé mora no céu dos céus, mas cuida da sua criação com amor:  "Javé firmou no céu o seu trono, mas sua realeza governa o universo. Ele tem nas mãos as profundezas da terra, e dele são os cumes das montanhas; é dele o mar, pois foi ele quem o fez e a terra firme, suas mãos plasmaram. Sim, tu és Javé, o Altíssimo sobre toda a terra. És nosso Deus, nos fizeste, te pertencemos, somos teu povo, o rebanho de teu pasto. Javé ama quem detesta o mal, guarda as vidas e liberta os fiéis da mão dos ímpios" Sl 94 (95),4-5.7; 96 (97),9-10; 102 (103),19. Os que vivemos pela fé sabemos que Javé fez aliança de vida e amor conosco e, como um bom Pai, cuida de nossas vidas com carinho, espera que cuidemos das suas coisas com zelo filial. Diz-nos como bom Pai: "não te irrites por causa dos maus, não invejes os que praticam a injustiça; pois, como erva, verde relva, murcham depressa secam. Confia em Javé, faz o bem e habita na terra, vive tranqüilo, coloca tua alegria em Javé, ele realizará os desejos do teu coração. Entrega teu caminho a ele, confia nele e ele agirá; manifestará tua justiça como a luz e o teu direito como o meio dia. Evita o mal, pratica o bem, pra sempre terás moradia; pois Javé ama o direito e jamais abandona seus fiéis" Sl 36 (37),1-5. Javé não abandona o justo (que crê), espera que não o abandonem, até aqueles que não sabem orar, por força da aliança, cuja essência é a prática do direito e da justiça, a principal exigência ética de Javé para quem vive pela fé. Quem vive eticamente, mesmo sem recitar piedosas orações, será acolhido por Jesus na Casa do Pai no Dia do Juízo final. "Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o Reino para vós preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Jesus, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver? Ao que lhes responderá o rei: 'Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'. Em seguida dirá aos que praticaram a iniqüidade (não praticaram o direito e a justiça): Apartai-vos de mim, malditos, pra o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos! Pois tive fome e não me destes de comer. Sede, não me destes de beber. Fui forasteiro e não recolhestes-me. Estive nu e não me vestistes, e doente e preso, não me visitastes'. Então também eles perguntarão: Senhor, quando foi que te vemos com fome, sede, forasteiro, doente, preso, nu e não te servimos? Ele lhes responderá: em verdade vos digo: todas vezes que deixastes de fazer isto a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer'. E irão estes para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna: os esclarecidos, que ensinam a muitos a justiça, os que tiverem feito o bem, para a ressurreição de vida; eles resplenderão como o resplendor do firmamento, serão como estrelas por toda a eternidade. Mas os que tiverem praticado o mal, terão uma ressurreição de julgamento, irão para o opróbrio, o horror eterno" Mt 25, 31-46;Jo 5,29; Dn 12,2-3. Sem a prática do direito e da justiça, a oração alguma garante a vida eterna. Não se engana Deus com palavras vazias.

(c) O jejum, juntamente com a esmola e a oração, é também valiosa boa obra da fé, lugar teológico de escol, penhor da vida eterna. Assim como a esmola agradável a Javé não é tão só estender a mão sem amor ao necessitado e oração genuína não é só pronunciar fórmulas piedosas sem sinceridade de coração, o jejum verdadeiro é mais que privação de comida: só vale quando imbuído de dimensão ética. Por isto, como a oração e a esmola, ele precisa ser praticado com discrição e sinceridade de coração. Sendo boa obra, o jejum precisa ser praticado, não simulado em rituais pseudo-penitenciais. Javé abomina coração enganador, simulado. "Quando jejuardes não tomeis ar sombrio como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que seu jejum seja percebido pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge tua cabeça e lava teu rosto, para que os homens não percebam que estás jejuando, mas apenas teu Pai que está lá no segredo; o Pai que vê no segredo te recompensará" Mt 6,16-18. Afetação não combina com viver pela fé, ser ético, mas sinceridade, transparência. Não agradam a Javé sacrifícios rituais, jejum sem conversão, sem a sinceridade do coração e prática do direito e da justiça. "Sacrifícios não queres, holocaustos não te agradam. Sacrifício a ti é espírito contrito, não desprezas, Deus, coração esmagado, contrito" Sl 90(91),18. O coração sincero do justo atrai a misericórdia, atenção, delicadeza, amizade de Javé. Por força da aliança, se há arrependimento, será no segredo do coração, no tálamo da alma que acontecerá o diálogo de quem crê com Deus, comunicação da vida aos que praticam a esmola, oram e jejuam. Fazendo aliança conosco, Javé quer comunicar-nos seu espírito de santidade, a dimensão ética do direito e da justiça e ensinar-nos, como um bom Pai ao filho, à filha, os modos dele sentir, pensar e agir. Toda a caminhada de Javé com o povo da fé até hoje é no sentido de educá-lo com a pedagogia da misericórdia, pra que aprenda com ele a ser misericordioso, bom e tolerante, perdoando até os maus e ingratos, como o Pai misericordioso. "Quando Israel era menino, eu o amei, do Egito chamei meu filho. Javé o achou numa terra deserta, um vazio solitário e ululante. De cuidados o cercou, cuidou dele e guardou com carinho, como se fosse a menina de seus

olhos. Como a águia que vela por seu ninho e revoa sobre os filhotes, estendendo as asas, Javé o tomou e carregou sobre suas penas. Criei filhos e os fiz crescer, mas contra mim se rebelaram: Meu povo não pôde entender. O jumento conhece a manjedoura do seu senhor, o boi, seu dono, mas Israel é incapaz de conhecer Javé. Eu mesmo vou seduzi-la, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração: desposar-te-ei para sempre na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eis que te desposarei na fidelidade e tu conhecerás Javé. Mas não é em consideração a vós que estou agindo assim, mas por meu santo Nome que vós profanastes entre as nações. Borrifarei água sobre vós e ficareis puros; sim, purificar-vos-ei de todas vossas imundícies e de todos os vossos ídolos imundos. Libertar-vos-ei de todas as vossas impurezas. Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra, vos darei um coração de carne. Porei no vosso íntimo meu espírito (inspiração ética, humor), farei com que andeis segundo meus estatutos e guardeis as minhas normas e as pratiqueis. Sereis meu povo, serei vosso Deus. Retornai, pois, agora a mim de todo o vosso coração, com jejum, lágrimas, lamentação. Rasgai vossos corações, não vossas roupas, retornai a Javé, vosso Deus, que se compadece da desgraça, é bondoso, misericordioso, lento na ira, cheio de amor. Grita a plenos pulmões, faz meu povo ver sua transgressão. Buscam-me todos os dias, mostrando interesse em conhecer meus caminhos, como se fosse a nação que pratica a justiça, não abandona o direito estabelecido por Javé. Pedem-me justas leis, mostram interesse em estar comigo. E me perguntam: por que temos jejuado e não vês? Temos mortificado nossas almas e tu não tomas conhecimento disto? A razão está em que, no dia exato do vosso jejum, explorais vossos trabalhadores, correis pra  vossos negócios; jejuais pra entregar-vos a contendas e rixas, ferirdes com punho perverso. Não continueis a jejuar como agora, se quereis que vossa voz seja ouvida. Por acaso é este o jejum que escolhi, um dia em que o homem mortifica sua alma, é isto que chamais de dia e jejum agradável a Javé? Por acaso a esse inclinar-se de cabeça como junco, fazer cama sobre pano de saco e cinza, é este vosso jejum? Por acaso o jejum que escolhi não consiste nisto: romper os grilhões da iniqüidade, pôr em liberdade os oprimidos, soltar as cordas do jugo, quebrar todo o jugo? Repartires o teu pão com o faminto, recolheres em tua casa os pobres desabrigados, vestires quem vês nu, não te esconderes daquele que é tua carne? Se fizeres isto, tua luz romperá como a aurora, rapidamente se operará a cura das tuas feridas, tua justiça irá à tua frente e a glória de Javé irá na retaguarda. Então, clamarás por socorro e Javé responderá: 'Eis-me aqui'" Is 1,2-3;58; Os 2,16.21-22; 11,1; Dt 32,10-11; Ez 36, 22.29; Jl 2,12-13. Por isto, não santificam obras exteriores, sem prática do direito e justiça, sem respeito pelas relações humanas. Praticar os valores éticos é a condição pra alimentar-se com o pão da Palavra, da oração, da esmola e do jejum, sobre com o corpo e sangue de Jesus, o pão e o vinho descidos do céu para a vida do mundo. Mas, sem vida ética, inútil querer enganar Deus com rituas e práticas vazias, e o coração sujo de maus desejos, maus pensamentos, mas ações, e as mãos omissas vazias de boa ação. "Só comunga nesta mesa quem comunga na vida do irmão". Mesa da Palavra, das boas obras, da oração e eucristia.