Todos são diferentes. Isto a própria biologia explica, afinal, este é o motivo do DNA ser tão propenso a mutações. Isto fez com que o primeiro ser vivo neste mundo se tornasse esta miríade de seres de hoje em dia. Em relação aos seres humanos isto não poderia ser diferente. E nossas diferenças mais profundas nem são as físicas, mas as psicológicas – que inclusive nos diferenciam dos outros seres vivos, que são o objeto deste pensamento.

Toda pessoa difere da outra. Contudo, dentro de cada ambiente cultural – desde vizinhanças até civilizações inteiras – existem padrões que permitem determinar os traços em comum dos indivíduos que dividem o mesmo tempo-espaço – um brasileiro do século vinte é diferente de um brasileiro do século dezenove, bem como é diferente de um chinês do século vinte. Porém, nos grupos sociais, sempre existem os indivíduos que são os “pontos fora da curva”, ou seja, aqueles que são diferentes demais dos outros que dividem o mesmo tempo-espaço com ele. Tais diferenças, por vezes, ocasionam um destaque para tais pessoas, que muitas vezes – senão na sua quase totalidade – sofrem em demasia por suas opções diferenciadas sendo tachadas de esquisitas, diferentes, etc.

Muitas vezes aqueles que são diferentes podem ficar se perguntando: ah, mas porque eu sou tão esquisito? Porque eu, justo eu, fui ser diferente? Porque eu não consigo ser igual às outras pessoas, querer o que eles querem, pensar o que eles pensam? Isto gera um sofrimento que provoca a autodesvalorização do indivíduo, ao ponto em que ele passa a ter autorrejeição, desprezo a si próprio, e em muitos casos ele se esforça e até consegue levar uma vida similar aos demais, mas acaba sacrificando um ponto verdadeiramente comum a todos os seres humanos, que é a busca da felicidade.

Por experiência própria, considero que mais difícil do que ser diferente é aceitar-se diferente, e entender porque você é assim. Contudo, esta condição não deixa de ter uma explicação igualmente lógica que explique a real necessidade das pessoas diferentes se auto aceitarem. Em analogia com a explicação biológica do inicio do texto, considero que as pessoas diferentes são como as mutações do DNA. As células vão se replicando, iguaizinhas, até que uma é a esquisitona, a que vai ser diferente porque o DNA que a formou saiu um pouco fora de ordem. Quem conhece um pouquinho de genética vai saber que este ponto fora da curva é a cereja no sundae evolucionário, e a cada célula que sai um pouco errado do forno, todo o sistema vai evoluindo.

As pessoas esquisitas, diferentes, erradas segundo os padrões médios, são exatamente assim. Elas são as que fazem a sociedade humana evoluir e se tornar melhor. Agora, por exemplo, estou escrevendo em um computador, e provavelmente quem me lê o faz também por um computador ou em uma folha impressa de um computador. Isto porque a sociedade humana atual depende deste tipo de equipamento para o seu desenvolvimento, e até para coisas inúteis, como facebook e twitter. Mas para que os normaizinhos e normaizinhas que adoram pegar no pé dos diferentes possam trabalhar, ou mesmo ficar xeretando a vida alheia nas redes sociais, foi necessário que esquisitos e diferentes, como Bill Gates, Steve Jobs, Steve Wozniac e Mark Zuckerberg metessem a mão na massa e fizessem a diferença. Ah, e ficaram mais ricos do que os normais (bom, isto é uma observação egoística, mas fazer o quê, é verdade)!E eu nem vou entrar em detalhes sobre Einstein, Galileu, da Vinci, Newton, Darwin...

O primeiro esquisito que preferiu fazer fogo e comer carne assada ao invés de crua, o primeiro esquisito que preferiu estabelecer uma morada fixa ao invés de vagar, o primeiro esquisito que buscou registrar o que acontecia graficamente, ao invés de ficar só nos relatos orais, o primeiro esquisito que pregou a paz e não a violência... estes são os esquisitos anônimos a quem devemos nossa gratidão, por terem feito da sociedade humana o que ela é. Se não existissem esquisitos, estaríamos nos balançando com os macacos até hoje.

Neste sentido, ser esquisito, diferente, ter uma visão de vida diferenciada mesmo de todos os demais, não pode de maneira nenhuma ser motivo de vergonha, mas de orgulho! E se o esquisito tem ciência disto, toma esta característica como um sinal de vocação para realizar grandes coisas, ele segue em frente e entrega aos normais um mundo um pouco diferente, como ele, mas com certeza melhor. Isto é coisa que os normais nunca terão capacidade de fazer.

“Vocês riem de mim por eu ser diferente. E eu rio de vocês, por serem iguais”.

Bob Marley