Eu Queria Votar Num Político...
Publicado em 26 de agosto de 2008 por Nilson Maranhao Moreira
Queria votar num político que não beijasse em público. E nem o público.
Não no primeiro encontro. Assim, despudorado, com ares de intimidade.
Isso ele deveria ter com nossos mapas, com nosso solo, nossas insígnias.
Devia beijar sim, mas a bandeira, cantar o hino de cor, saber das
mazelas, das chagas abertas por anos de abandono.
Queria um político para amar. Amar a pátria.
Um que se interessasse por estatísticas. Mas não as estrangeiras, com
símbolos gozados. As nossas! Os índices de morte neonatal, de mulheres que
morrem ao abortar ou ao parir, tanto faz, (ninguém liga mesmo).
Um político que fizesse política de boa vizinhança, mas lá na Vila
Aliança.
Um político bem casado, mas não com um jardim, ou com uma farmácia, mas
com o compromisso. Um político assumido, que ostentasse no peito a medalha dos
cabelos brancos pela lida. No rosto, as rugas de chorar pelo irmão sem terra.
Na cabeça, a queda inevitável do orgulho e da arrogância. Um político que se
desnudasse de coligações, de armações, bancos, grampos, escândalos.
Talvez um que gostasse de prazer de ver seu povo comendo, sorrindo,
trabalhando, com saúde e orgulho de ser brasileiro.
Um político que quisesse procriar. Multiplicar atletas, artistas,
especialistas.
Um (ou uma, que o sexo é apêndice) batalhador pela causa justa.
Alguém bonito de alma, jovem de entusiasmo, forte de vontade, líder por
natureza.
Um pai, mãe, filho, irmão, compatriota.
Votaria no meu vizinho, aquele que sai cedo e chega tarde trabalhando,
que cede o lugar na condução aos mais velhos, que cumprimenta o motorista, que
sorri para a criança, que alimenta o mais pobre, que atura um patrão
(con)vencido, que guarda a bala pro filho, que traz a rosa pra ela, que volta
amassado, cansado, esfomeado, mas que sabe meu nome.
Votaria na vizinha de porta, aquela que sai cedo e chega tarde,
trabalhando, levando filhos pra creche, deixando o maior no metrô, ajeitando o
band-aid, ajustando a saia, acertando o passo, que cede o lugar aos mais
velhos, que segura a mochila dos mais novos, que cumprimenta a trocadora e a
motorista, que sorri para o cão, que se emociona com o sol, que chora na chuva
disfarçando com os pingos, que volta amassada, demaquilada, esfomeada, mas de
quem eu sei o nome.
E, fundamentalmente, que não beijassem em público.
Não no primeiro encontro.