EU NÃO TENHO CERTEZA DA MINHA MORTE

Reza um dito popular que a morte é a única certeza que o ser humano tem nesta vida, e que, para morrer, basta apenas estar vivo.

Não obstante este ditado, venho corroborar o título que encima o presente artigo: Eu não tenho certeza da minha morte.

Mas o que foi que deu em mim? Desvario? Empáfia? Atrevimento?

Para o homem natural, incréu, que está inserido em 1Co.2:14, este meu assunto não passa de um desvario de minha parte, mas para o homem espiritual, crente, que está inserido em 1Co.2:15, eu gozo de perfeito juízo.

Às Páginas Sagradas!

Vejamos se nelas eu encontro embasamento para a minha assertiva, ou se realmente eu estou desvairado.

A Bíblia me faz saber o que originou a morte: "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram." (Rm.5:12). "Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte." (Tg.1:15)

Sabendo, então, que a morte teve a sua origem no pecado, no pecado de um só homem, Adão (1Co.15:21,22), sei também que o pecado tem como salário, como paga, a morte: "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a Vida Eterna em Cristo Jesus nosso Senhor." (Rm.6:23).

Diante do acima exposto, eu sei que morrerei: "Pois os vivos sabem que morrerão", revela-me Ec.9:5. Eu sei que sou mortal (Sl.8:4; Rm.6:12), sei que sou um vapor que se desvanece (Tg.4:14); portanto, sei que posso bater a caçoleta a qualquer momento, mas nem assim tenho certeza absoluta da minha morte.

Ao nascer, o homem se vê diante de duas mortes: A física e a espiritual.

A morte física é aquela que todos nós já presenciamos ao menos uma vez. A Bíblia mostra-nos várias de suas ocorrências, como a de Lázaro, o mendigo, e a do rico gozador: "Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado." (Lc.16:22)

Já a morte espiritual é a que, consoante Rm.5:12 (texto supracitado), todos nascem sob seu domínio; herdamo-la do nosso pai Adão, como mostra-nos o santo e piedoso rei Davi: "Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe." (Sl.51:5)

Ora, eu nasci em iniquidade e em pecado, porque os meus pais também nasceram em iniquidade e em pecado, herança maldita dos seus pais, dos avós, dos bisavós, dos trisavós, dos tetravós... de Adão.

Com efeito, desde o princípio da criação o abacateiro produz abacates; e o pecador, pecados...

A verdade é que nós já nascemos espiritualmente mortos e, destarte, separados da glória de Deus: "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." (Rm.3:23). Destituídos, separados da glória de Deus, por causa da natureza adâmica incrustada em nós, necessitamos, com extrema urgência, morrer para o pecado e nascer de novo, se quisermos ver a glória de Deus: "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus." (Jo.3:3)

Ainda a respeito do Novo Nascimento, quando indagado por Nicodemos, "Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." (id.vv.5,6)

Então, quando a pessoa, pela fé em Jesus Cristo, morre para o mundo e nasce de novo, isto é, nasce do Espírito, ela deixa imediatamente a triste realidade da morte espiritual (Ef.2:4,5), não entra mais em juízo, e passa para a Vida Eterna: "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha Palavra, e crê naquele que me enviou, tem a Vida Eterna e não entra em juízo, MAS JÁ PASSOU DA MORTE para a Vida." (Jo.5:24)

Quando experimentamos o Novo Nascimento, quando passamos da morte para a Vida, significa que Deus, o Pai, imediatamente "nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o Reino do seu Filho amado;" (Cl.1:13).

As trevas exerciam em nós um poder espiritual muito grande (Hb.2:14), e por isso éramos cegos: "Pois aquele em quem não há estas coisas é cego," (2Pd.1:9). E, assim como o cego jaz nas trevas naturais de sua deficiência visual, nós jazíamos nas trevas espirituais da perdição eterna, até que Cristo, a Verdadeira Luz (Jo.1:9; 1Jo.2:8), nos resgatou dessas trevas.

Caro leitor, com base nestes textos sagrados, eu posso lhe afirmar que não me encontro mais sob o jugo da morte espiritual. Posso lhe afirmar, com a mais absoluta convicção, que eu deixei, de uma vez e para sempre, a triste condição de morte espiritual, passando definitivamente para a Vida Eterna, para o Reino de Jesus Cristo.

E isto não se deve a méritos alguns meus, mas pelos merecimentos de Cristo Jesus, que por mim morreu, e eu o aceitei e o recebi, por meio da fé, como meu Único e Todo-Suficiente Salvador e Senhor.

E esta preciosíssima Escritura sossega sobremaneira a minh'alma: "Porque a lei do Espírito da Vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte." (Rm.8:2)

Em resultado, desfruto da Salvação Eterna. Da Vida Eterna eternamente inamissível.

Vou agora explicar o porquê de eu não ter certeza da minha morte física, apesar de eu ser mortal, uma vez que o Senhor Jesus Cristo já solucionou definitivamente o assunto da minha morte espiritual, e dela não preciso mais temer. Aliás, não tenho receio nem da morte corporal, visto que a sua ocorrência em minha vida é uma evidente incerteza.

Certamente eu vejo o avanço dos dias me aproximando a mancheias da morte natural, mas vejo também a incontestável verdade bíblica me revelar que essa morte pode nunca ocorrer...

É que o Senhor Jesus Cristo pode voltar antes de eu morrer, e arrebatar-me para Ele!

Na verdade, todo lídimo cristão vive esta doce esperança: A súbita e gloriosa vinda do Senhor Jesus Cristo!

Os Cristãos Primitivos, logo após a Ascensão do Senhor Jesus Cristo ao Trono da Glória, isto é, ainda nos tempos apostólicos, já esperavam, anelantes, a Segunda Vinda do Senhor Jesus para aqueles dias, conforme revelam-nos At.1:10,11; Rm.13:11; 1Co.1:7; 15:51,52; Fl.3:20,21; 4:5; 1Ts.4:15,17; 5:2,3; Tt.2:13; Hb.10:25,37; Tg.5:8; 1Pd.4:7; 2Pd.3:10,12; Ap.1:3; 22:7,12,20.

Ouçamos o Apóstolo Paulo: "Eis aqui vos digo um mistério: NEM TODOS DORMIREMOS mas seremos transformados." (1Co.15:51).

DORMIR, aqui, é sinônimo de MORRER. Este sinônimo encontra-se aplicado em muitos outros textos das Escrituras Sagradas. Jesus mesmo o usou quando da morte de seu amigo Lázaro: "E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, DORME, (...) Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro MORREU." (Jo.11:11,14)

Em 1Ts.4:15, Paulo contrasta-o claramente com os VIVOS: "Dizemo-vos, pois, isto pela Palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos VIVOS para a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que já DORMEM."

NEM TODOS DORMIREMOS, assegura-nos o Apóstolo.

Então, consola-me saber que posso ter, ainda vivo, o Inefável Evento da Parousia como epílogo desta minha peregrinação terreal!

Concluo este trabalho dizendo o mesmo que disse no início: EU NÃO TENHO CERTEZA DA MINHA MORTE.

Ela é tão provável quanto improvável; mas, se ela acontecer, faço minhas as palavras do grande Apóstolo: "Porque para mim o VIVER É CRISTO, e o MORRER É LUCRO." (Fl.1:21). Aleluia!

E, se for da vontade do Senhor a morte deste meu corpo fraco, corruptível, certamente será um dormir efêmero, porque, pela fé insopitável que Deus me concedeu (1Co.13:13) firmo-me em mais esta esperança: "Declarou-lhe Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em mim, AINDA QUE MORRA, VIVERÁ; e todo aquele que vive, e crê em mim, JAMAIS MORRERÁ. Crês isto?" (Jo.11:25,26)

Lázaro Justo Jacinto