Seu time do coração é líder do campeonato e está invicto há 10 jogos. O próximo compromisso será contra uma equipe considerada muito fraca e a vitória é certa. Durante o decorrer da partida, inúmeras falhas individuais fizeram seu time perder o jogo por um placar inimaginável (o placar foi de 5 x 1 para os visitantes). Os torcedores, indignados, vaiaram a equipe, xingaram o treinador de Burro ofendaram a torcida adversária que estava em minoria no campo, jogaram pedras no gramado, etc, etc. Um microfone escondido no vestiário do time perdedor captou a seguinte discussão entre os jogadores e técnico após a partida:

- Técnico: Caracas meu, como é que você perdeu aquele gol feito ?

- Atacante: Mas eu fiz o gol de honra. E você porque não substituiu o Jorjão no segundo tempo?. Ele tava travado.

- Técnico: Eu achei que ele iria render mais na segunda fase.

- Goleiro: Eu bem que avisei a barreira para se posicionar melhor nas 2 faltas que acabaram em gol do outro time.

- Componentes da barreira em côro: Você é que não sabe arrumar a barreira e fica colocando a culpa na gente.

- Goleiro: Mas se não fosse minhas defesas, perderíamos mais feio ainda.

Resumindo, todo mundo tem uma desculpa por um insucesso e sempre acham um culpado pela derrota. Ninguém tem a humildade de reconhecer o próprio erro, voltar à prancheta e analisar o que poderá ser melhorado na próxima partida.

Como no futebol, a habilidade individual de cada membro de uma equipe é muito importante mas não é essencial para que os objetivos sejam atingidos e/ou superados. A situação acima narrada mostra exatamente o que acontece dentro de uma organização. A premissa de que em time que está ganhando não se mexe é equivocada e está ultrapassada na linguagem empresarial contemporânea.

Analisando um time de futebol, onde o trabalho em equipe é a chave do sucesso e das vitórias e, comparando com uma empresa, podemos afirmar que as pessoas que nela trabalham devem estar coesas, falando o mesmo idioma e comungando os mesmos objetivos. A divisão de tarefas de acordo com as características individuais de cada membro da equipe cabe ao TÉCNICO ou COACH do grupo. O que temos que entender é que esta divisão não impede que o ZAGUEIRO do time atue no ataque na tentativa de fazer algum GOL. Da mesma forma, o ATACANTE  deve recuar de vez em quando para ajudar na defesa. O GOLEIRO, peça indispensável no elenco é responsável por FECHAR O GOL para o adversário, mas pode abandonar sua posição momentaneamente para COBRAR UMA FALTA ou bater um PENALTY, desde que seja treinado e se sinta confortável em fazê-lo.

Encontrar empresas cujos TIMES são especializados no trabalho em equipe é muito raro nos dias de hoje. Algumas investem fortemente em treinamentos, eventos específicos para melhorarem sua performance e dos seus executivos, desenvolvimento pessoal, etc. Na grande maioria das vezes estes treinamentos acabam sendo inócuos, o que significa dizer que o investimento acabou indo para o ralo. Não há continuidade do processo de aprendizado ao término destes treinamentos. Ao retornarem para seus postos, não costumam aplicar o que aprenderam ou se reunirem periodicamente para fixarem os conceitos e técnicas aprendidas. Muito menos aplicam estes conhecimentos no dia-a-dia. Também é verdade que uma pequena parcela destes colaboradores absorvem estes ensinamentos e tentam aplicá-los no seu trabalho, mas acabam desestimulados ao verem que o restante da equipe continua como antes, ou seja, individualistas. O TIME não engrena, as dificuldades continuam, a empresa não cresce, os clientes não observam melhoras no atendimento, etc, etc.

Trabalhar em equipe significa saber ceder no momento correto, saber se impor no momento oportuno, ter a sensibilidade de recuar e delegar algumas tarefas, entender as dificuldades dos colegas que fazem parte da equipe, enaltecer as habilidades individuais e, principalmente cobrar do TÉCNICO da equipe que ele seja o MENTOR de cada jogador, conduzindo harmonicamente seus pupilos. Não adianta acreditar que individualmente superar as expectativas para as tarefas que lhe foram atribuídas, o TIME será  vencedor. 

Reparem que atualmente as empresas estão muito preocupadas em contratar profissionais no mercado que já tenham um perfil senior de trabalho em equipe, um QI emocional diferenciado, que consigam trabalhar os conflitos pessoais e do grupo e que tenham uma liderança nata. Aspectos técnicos ou habilidades específicas, com raras exceções estão ficando num segundo plano.

O grande desafio para uma equipe é chegar ao final de um processo de trabalho sem que haja nenhum perdedor, culpado ou mártir. Afinal de contas, o que devemos evitar de todas as formas é a famosa sentença: EU GANHEI, NÓS EMPATAMOS, VOCÊ PERDEU.