Arilanne Vilarinho
Licole Soares
Lucineide Conceição
Rita Silva
Walkíria Sousa
Fauston Negreiros
RESUMO

O presente trabalho constituiu um estudo acerca da linguagem do psicólogo. Onde buscou-se analisar a linguagem desse profissional a partir das principais abordagens; analisar os termos linguísticos usados pelos psicólogos nas abordagens psicanalítica, humanista e comportamental; comparar esses termos e analisar a possível influência desses termos na comunicação entre os psicólogos. Os dados foram coletados através de um questionário contendo questões fechadas e abertas. A análise dos dados foi feita a partir da categorização, que resultou nas seguintes categorias: uso da linguagem com o paciente, termos linguísticos das principais abordagens, linguagem e identidade profissional, dificuldade na comunicação entre psicólogos, avaliação da diversidade de termos linguísticos e uso de termos linguísticos de outras abordagens. A amostra foi composta por 10 psicólogos atuantes na clínica em Teresina. Percebe-se a linguagem como instrumento indispensável para o psicólogo. A diversidade de termos que os mesmos utilizam na sua prática influencia na comunicação principalmente entre os próprios psicólogos.

Palavras- chave: Linguagem; Psicologia;Abordagem Psicológica


INTRODUÇÃO


A linguagem constitui um dos processos cognitivos, responsável principalmente pela comunicação entre os indivíduos, seja ela falada, escrita ou sinalizada (STERNBERG, 2000).
A seguinte pesquisa trata de um estudo sobre a linguagem do psicólogo a partir das principais abordagens teórico-metodológicas: psicanálise, comportamental e humanista.
Percebe-se a importância da linguagem para o ser humano, privilégio do homem por ser o único animal a utilizá-la como forma de comunicação e principalmente por auxiliar no trabalho do psicólogo, sendo esse o principal instrumento utilizado por este profissional em sua atuação. No âmbito científico torna-se indispensável a compreensão da constituição dos processos lingüísticos e como estes podem influenciar na comunicação e consequentemente na relação com o outro.
A linguagem se dá no processo de comunicação, portanto exerce grande influência e importância no curso das relações interpessoais, nesse caso específico, na relação estabelecida entre o psicólogo e o cliente durante processo terapêutico, bem como nas explicações que esse profissional dá na mídia para esclarecimento dos estudiosos.
Será através dessa explanação lingüística específica que se tornará possível a compreensão das várias evocações lingüísticas utilizadas pelas três principais abordagens psicológicas.
O objetivo deste estudo é analisar a linguagem do psicólogo a partir das principais abordagens teórico-metodológicas. Onde buscou-se analisar esses termos e fazer uma comparação entre eles e identificar uma possível influência desses termos na comunicação entre os psicólogos.
A linguagem fala de si própria, ela se mostra através do que nós fazemos dela de acordo com nossa individualidade, portanto nós somos o conteúdo dessa linguagem, ela se torna o sujeito inteiro, centrado nessa história de vida (Meschonnic,2006).


HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

De acordo com Schultz (2005), a Grécia foi o berço da civilização ocidental. Nela deu-se o início do estudo da Filosofia. A Psicologia fazia parte da Filosofia, tendo nela a sua origem. Os primeiros filósofos surgem por volta do século VI a.C, em um período chamado Cosmológico, cuja preocupação consistia em entender e explicar o cosmo, composto de partes e elementos simples.
No final deste período aparecem os sofistas que deslocaram o objeto de especulação do mundo para o homem. Surge o período Antropocêntrico onde o homem buscava conhecer as relações dele com o outro, no qual foi chamado de iluminismo grego.
O período que se segue é o Teocêntrico, marcado pela ascensão do Cristianismo. Alguns filósofos deram a sua contribuição para a Psicologia. Santo Agostinho distingue a presença do passado (coberto pela memória), do presente (percepção) e do futuro (prospecção); estudou o hábito e a memória. São Tomás de Aquino afirmava que a experiência dos sentidos e as verdades da fé vêm de Deus. Encontrou na alma cinco gêneros de potenciais ou faculdades: a negativa, sensitiva, apetitiva, locomotiva e a intelectual. Nega a concepção de idéias inatas, afirmando que tudo depende da vontade de Deus (SCHULTZ, 2005).
Durante o último quartel do século XX, período inicial da evolução da Psicologia como disciplina científica distinta, ela sofreu a influência do psicólogo alemão Wilhelm Wundt com idéias precisas em relação à nova ciência e os tópicos de pesquisa. Influenciado pelo espírito da sua época (pensamentos filosóficos e fisiológicos vigentes) ele uniu as linhas do pensamento filosófico e científico e sua visão foi responsável pela moldagem da Psicologia durante algum tempo (SCHULTZ, 2005).
Novas idéias divergentes, entretanto, surgiram e por volta de 1900 várias posições sistemáticas e escolas de pensamentos conviveram com algumas divergências (SCHULTZ, 2005).
Podemos então afirmar que hoje a Psicologia pode estar mais fragmentada do que em qualquer outra época de sua história, com cada facção apegando-se às próprias orientações teóricas e metodológicas, com abordagens da natureza humana com diferentes técnicas, e promovendo-se com jargões e publicações especializadas, e com ciladas de uma escola de pensamento que a busca pela abordagem verdadeiramente final da Psicologia, pela escola de pensamento definitiva que vem caracterizar o campo por algumas décadas, contínua (SCHULTZ, 2005).
Segundo Massini (2004), para se conhecer a história recente da Psicologia no Brasil é importante tomar consciência do legado transmitido por quem nos antecedeu na consolidação do domínio de conhecimento e competências profissionais próprias da área.
De acordo com Martin ? Boró (1998), a identidade profissional e científica do psicólogo latino-americano e seu papel profissional permite analisar não apenas quem somos, mas quem poderíamos ter sido e quem poderemos ser, diante das exigências de nossos povos, independentemente.
No nosso Brasil, com seu contexto complexo, exige-se um grande empenho na busca de uma Psicologia verdadeira e voltada para a nossa realidade. A construção de uma representação desta identidade por parte da nossa população poderá, segundo nossa visão, ser influenciada pela atuação dos próprios profissionais segundo cada região, com seus costumes e culturas próprias.

LINGUAGEM E PSICOLOGIA: UMA INTER-RELAÇÃO FUNDAMENTAL

Para Ferreira (2000), linguagem significa o uso da palavra articulada ou escrita cuja finalidade é a de expressão e comunicação entre pessoas. Sternberg (2000) ressalta que a linguagem abrange o uso de meios organizados de combinar palavras para se comunicar. A utilização desses meios permite que nos comuniquemos com aqueles a nossa volta. Atkinson et al. (2002) acrescenta ser a linguagem o nosso principal meio de comunicar o pensamento, além de assumir caráter universal, também abrange processos que vão definir cada um de seus níveis.
Segundo Sternberg (2000), a linguagem compreende algumas características, tais como: caráter comunicativo, estrutura regulada, relação simbólica, estruturação em níveis múltiplos, caráter produtivo e dinamicidade.
Humboldt (2002 citado por SEGATTO, 2009) propõe uma nova maneira de conceber as relações entre pensamento, razão e linguagem, através de dois traços fundamentais, sendo o primeiro como conseqüência da superação da linguagem enquanto simples meio para a expressão de pensamento pré-linguísticos, pois considera a linguagem como elemento constitutivo do pensamento e do conhecimento tornando-se uma condição de possibilidade tanto da objetividade da experiência quanto da intersubjetividade da comunicação. O segundo fortalece que essa nova concepção conduz a uma necessária destranscendentalização da razão, através da qual a linguagem se manifesta em línguas particulares e histórias e por essas características não permite que haja uma separação estrita entre o transcendental e o empírico.
Para acompanhar a dinamicidade da linguagem, os lingüísticos fazem uso da gramática descritiva, na qual são apresentados as regras e princípios que informam às pessoas como criar e entender o uso das elocuções em sua língua (DAVIDOFF, 2001).
É através desse meio de comunicação que o ser humano inicia muitas vezes sua cognição à respeito da linguagem, com suas regras e conceitos, estabelecendo dessa forma meios específicos de se expressar em determinados grupos sociais.
Analisa-se o papel fundamental desempenhado pela linguagem como forma de comunicação, interação e externalização do pensamento, fica inviável imaginar a psicologia sem a utilização desse processo cognitivo. A linguagem é a principal ferramenta usada pelo psicólogo.
A linguagem se modifica ao longo do tempo, e cada sociedade possui sua própria linguagem que é constituída socialmente. A linguagem psicológica sofreu muitas influências no decorrer de sua história que iniciou com a filosofia e depois com as três grandes escolas em psicologia, estruturalismo, funcionalismo e associacionismo e pelas principais abordagens, psicanálise, humanismo e comportamental (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2005).
A psicologia possui uma diversidade teórico ? metodológica decorrente de suas abordagens que constituiram-na historicamente uma linguagem específica. Cada abordagem possuir termos lingüísticos que são usados pelos psicólogos diferenciando essas abordagens e a maneira de compreender e ajudar o ser humano, e consequentemente essa diversidade de termos influencia na comunicação, principalmente na comunicação entre os próprios psicólogos.

AS ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

A psicologia tornou-se ciência a partir da sua "libertação" da Filosofia, onde novos estudiosos e pesquisadores passaram a produzir novos padrões de produção de conhecimento, através da definição do objeto de estudo e delimitação do seu campo de estudo, bem como a formulação de métodos e teorias de estudo a respeito desse objeto. (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2005).
O primeiro sistema de origem norte-americana, o Funcionalismo, destaca a consciência como sendo o centro de suas preocupações, buscando compreender o modo como funciona, a medida que o homem faz uso dessa consciência para sua adaptação ao meio (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2005).
Embora o Estruturalismo tenha a mesma preocupação do Funcionalismo, ou seja, compreender a consciência, aquele busca estudar seus aspectos estruturais, correlacionados com o sistema nervoso central, porém o método usado na observação é o mesmo: introspeccionismo, onde os conhecimentos psicológicos produzidos são experimentais, produzidos em laboratórios (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005; GOODWIN,2005).
Para completar a tríade, o Associacionismo tem sua relevância na formulação de uma teoria inicial de aprendizagem na Psicologia. Esse termo se originou da concepção de que o processo de aprendizagem se dá a partir de associação de idéias, das mais simples às mais complexas (BOCK;FURTADO; TEIXEIRA,2005).
Portanto, antes a psicologia era subordinada à Filosofia, mas paulatinamente ela começou a se ligar a especialidades da medicina, onde a mesma passou a adquirir o método de investigação das ciências naturais. Com essa nova realidade, começaram a surgir as três mais importantes tendências teóricas da psicologia sendo elas: Psicanálise, Humanista e a Comportamental.
A psicanálise exerceu e continua exercendo uma forte influência na cultura da sociedade, porém poucos têm conhecimento da evolução de suas idéias e os fatores que as influenciaram.
A psicanálise, de acordo com Freud, é uma teoria da personalidade, um método de psicoterapia e um instrumento de investigação científica, na qual ele atribui esse método de investigação o valor de procedimento de cura, pois à medida que a pessoa toma conhecimento si mesma, ela se torna capaz de modificar sua personalidade, ou seja, curando-se (ETCHEGOYEN, 1987).
Já a Psicologia Cognitiva estuda os processos mentais e seus efeitos sobre o comportamento. Nos últimos anos a cognição vem-se destacando como uma preocupação central da teorização psicológica. Embora seja vista muitas vezes como algo inovador, a ênfase cognitiva faz parte da teoria da aprendizagem há muitas décadas, com exceção de alguns behavioristas radicais, particularmente Skinner. (CLONINGER, 1999).
Os behavioristas que seguem a tradição do behaviorismo radical de Skinner contrapõem-se a inclusão das variáveis cognitivas nas teorias comportamentais. Eles afirmam que as variáveis cognitivas não são diretamente observáveis e não podem ser produzidas, sem duplo sentido, pelas manipulações experimentais. (CLONINGER, 1999)
Além do interesse puramente teórico, as abordagens cognitivas geraram novas estratégias de terapia e de diferentes métodos de pesquisa de um único sujeito, são relativas aos aspectos individuais da pesquisa.
A terceira abordagem aqui explorada, será a abordagem humanista, na qual concebe o homem não somente como a soma de comportamentos isolados e sim como um todo , na sua integralidade, impossível de divisões, portanto uma gestalt (CASTAÑON,2007).
Na concepção humanista, busca-se o estudo do ser humano na sua forma sadia e não sua psicopatologia, voltando-se para o estudo de suas qualidades e características positivas, deixando em segundo plano, as características negativas (CASTAÑON,2007).
Goldstein exerceu poderosa influência sobre os psicólogos humanistas, na medida que introduziu conceitos como auto-atualização e tendência ao crescimento, que passaram a ser assimilados por psicólogos humanistas. Esse mesmo autor destaca a relevância presente da Gestalt no processo humanístico (CASTAÑON,2007).
A Psicologia Humanista Caracteriza-se também, por uma contínua crença nas responsabilidades do indivíduo e na sua capacidade de prever que passos o levarão a um confronto mais decisivo com sua realidade. Nessa teoria o indivíduo é o único que tem potencialidade de saber a totalidade da dinâmica de seu comportamento e das suas percepções da realidade e de descobrir comportamentos mais apropriados para si.

MÉTODO

O estudo baseou-se numa pesquisa quanto-qualitativa, na qual segundo Minayo(1994) é uma pesquisa que se complementa, uma vez que a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. Através do estudo quantitativo será possível descrever um método eficiente para explicar a realidade social, pois a mesma se sustenta na questão da objetividade. Junto a esse estudo será associado também o caráter qualitativo, no qual aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, mostrando um lado que não pode ser perceptível e representado em estatísticas.
A amostra a principio constituiu-se de 12 (doze) psicólogos, atuantes no município de Teresina- PI, de uma Instituição de Ensino Superior Privada, sendo 4 (quatro) psicanalistas, 4 (quatro) comportamentalistas e 4 (quatro) humanistas, de ambos os sexos (masculino e feminino). Para participar desta amostra os profissionais deviam contemplar o critério de atuar na clinica através das seguintes abordagens acima citadas.
Devido à indisponibilidade de alguns profissionais não foi possível contemplar fidedignamente o critério proposto com os comportamentalista, que a priori seriam 4 (quatro), e somente 1 (um) participou da nossa pesquisa. Enquanto que a amostragem de psicanalistas ultrapassou a quantidade de 4 (quatro) participantes, e foi para 5 (cinco), devido a uma maior quantidade de profissionais da área disponível na instituição. E a amostra de humanista foi completa, com 4 (quatro) profissionais.
Sendo um estudo de caráter quanto-qualitativo, a pesquisa teve como principal instrumento de coleta de dados o questionário misto, composto por perguntas abertas e fechadas. Segundo Minayo (2006) esse questionário presume suposições e questões onde o ponto inicial são as referências do próprio pesquisador.
A confecção do questionário foi feita pelos pesquisadores, os quais utilizaram uma linguagem simples e direta para que os respondentes respondessem sem dúvidas às questões.
O questionário foi constituído de 09 questões, sendo 05 questões fechadas e 04 questões abertas, as quais abordaram conteúdos relacionados com a prática dos profissionais e que contemplasse os objetivos gerias e específicos da pesquisa.
O uso do método quanto-qualitativo objetivou esclarecer dados indicadores e tendências que foram observadas, associados aos dados matemáticos obtidos, possibilitando dessa forma uma linguagem das variáveis obtidas, as quais poderam assumir um valor aplicativo através da produção de modelos teóricos (MINAYO, 1994; 2006).

ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos dados obtidos a partir do questionário misto, descrito por Minayo (2006), resultou nas seguintes categorias: uso da linguagem na relação com o paciente, termos linguísticos das principais abordagens, linguagem e identidade profissional, dificuldade na comunicação técnica entre psicólogos, avaliação da variedade de termos linguísticos, e uso de termos linguísticos de outras abordagens.
A linguagem independente da forma como será expressada, através da fala, da escrita ou de símbolos abrange o uso de meios organizados de combinar palavras cuja finalidade é estabelecer a comunicação, visto o papel fundamental desempenhado pela mesma como forma de comunicar-se, interagir e externalizar o pensamento. A linguagem traduz em palavras, em comportamentos o que pensamentos sobre o mundo (STERNBERG,2000).
A primeira categoria de análise tem como finalidade verificar o uso da linguagem na relação com o paciente, ou seja, saber se os termos linguísticos exercem influência na comunicação e como os psicólogos avaliam esses termos específicos de sua abordagem na relação com o paciente. Nessa categoria aglutinou-se duas questões sendo uma fechada com o propósito de verificar de forma mais ampla se os termos linguísticos exercem influência no processo de comunicação, 100% da amostra considerou que sim. E quando questionados sobre sua avaliação a respeito do uso desses termos na relação com o paciente. De acordo com relatos obtidos, os psicólogos avaliam ser fundamental o uso de termos específicos da abordagem que atuam na relação com o paciente, desde que haja um esclarecimento dessas terminologias com o mesmo para se evitar confusão com o senso comum.

"Com certeza se utiliza muitos termos linguísticos característicos da abordagem de atuação, pois estes termos traduzem os conceitos desta teoria, e ao trabalhar com o paciente, você necessita responder ou interpretar o conteúdo trazido por este através do referencial teórico" (Psicanalista).

"De fundamental importância, pois algumas terminologias são impregnadas de sentido no senso comum, assim algumas palavras podem passar uma postura diferente daquela proposta pela abordagem" (Humanista).

"Avalio que muitas vezes ao apresentar, na clínica, alguma terminologia,é necessário efetuar um esclarecimento conceitual ou mesmo metafórico; dessa maneira, obtem-se uma comunicação mais clara, coesa e produtiva ao processo terapêutico. Vale destacar que algumas terminologias carecem, sim, de esclarecimentos precisos, em especial para evitar interpretações próximas do senso comum, e improdutivas ao avanço clínico" (Comportamentalista).
Cada abordagem possui uma terminologia específica que caracteriza a maneira de compreender o ser humano e consequentemente a forma de ajudá-lo que diferencia cada abordagem, essa variabilidade de termos decorre do processo histórico, que de acordo com Schultz; Schultz (2005), a Psicologia foi submetida e recebeu influência de outras áreas científicas. Baseia-se a partir desse processo histórico uma caracterização geral do principais termos usados em cada abordagem.
A segunda categoria de análise tem como propósito descrever uma caracterização geral dos termos linguísticos das principais abordagens. Na abordagem psicanalítica os principais termos linguísticos apontados pelos psicólogos dessa abordagem na amostra foram: mecanismo de defesa, inconsciente, neurose, desejos, castração, repressão, lembranças do passado, e transferência. Analisando os termos apontados pela amostra com os da literatura (ETCHEGOYEN,1987;FADIMAN;FRAGER,1986;CLONINGER, 1999), que ressaltam a origem, os fundamentos da psicanálise concentrados nos eventos de ordem mental basicamente do consciente ou inconsciente , percebe-se essa questão bastante explícita nos termos descritos, alguns termos como id, ego, superego, complexo de édipo, libido marcantes dessa abordagem não forma citados.
Na abordagem Humanista, os termos citados foram: sentido de vida, confronto, transcendência, possibilidade de superação, acolhimento, escuta, insight, compreensão, figura fundo, o todo é mais do que a soma das partes, como você se sente, como foi para você. Ao comparar com a concepção dessa abordagem que busca o estudo do ser humano na sua forma sadia, percebe-se que os termos traduzem essa concepção a cerca do homem e condizem com os da literatura pesquisa (HALL, 1984;CASTAÑON, 2007).
Os termos destacados da abordagem Comportamental foram: reforço positivo, reforço negativo, punição, extinção, modelagem, contingência, controle aversivo, estímulo, esses termos definem bem os fundamentos dessa abordagem que se concentra no comportamento do homem, sendo possível modelá-lo (FADMAN; FRAGER, 1986).
Torna-se importante a utilização da linguagem como forma de comunicação, interação e externalização do pensamento, uma vez que a Psicologia faz uso desse processo cognitivo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2005).
A terceira categoria linguagem e identidade profissional, cujo propósito é saber da amostra se a abordagem psicológica é um elemento de identidade lingüística, e se for como percebem os termos linguísticos como agentes formadores da sua identidade enquanto psicólogo. Nos dados coletados, 80% da amostra considera que a abordagem psicológica é um elemento de identidade linguística. Os relatos obtidos e descritos abaixo reforçam esse dado:
"O termo representa um referencial, e cada teoria tem uma forma de expressar seu pensamento e para isso utiliza termos que melhor se adaptam ao que ela deseja estudar. Quando se escolhe uma abordagem, se escolhe também uma forma de percepção de mundo e a linguagem está inserida nesta identidade" (Psicanalista).
"Uma vez que eles falam da forma como percebo o ser humano, em sua capacidade de crescimento" (Humanista).
"A linguagem por si só em uma cultura corresponde a um forte elemento identitário. Com relação a uma profissão como a do psicólogo, o uso de alguns termos linguísticos o difere de outras profissões, assim como indica algumas representações que a sociedade pode fazer a cerca desse profissional" (Comportamentalista).
Os relatos mostram de forma explícita uma identidade linguística em cada abordagem psicológica e essa identificação reflete na maneira que cada uma percebe o ser humano.
Essa diversidade de termos linguísticos de acordo com Goodwin (2005), influencia na comunicação, podendo causar confusões, e dificultar a comunicação principalmente entre os próprios psicólogos. A quarta categoria dificuldade na comunicação técnica entre psicólogos, identifica se existe essa dificuldade e a quinta categoria avaliação da variedade de termos linguísticos tem como propósito a avaliação desses psicólogos a respeito da diversidade de termos. Em dados, 60% dizem haver dificuldade técnica entre eles, porém considera importante e favorável a existência dessa diversidade, os relatos ilustram melhor essa afirmação:
"Essas diferenças inicialmente, forma mais radicais, mas hoje vejo uma integração de conteúdos, linguagens e técnicas. Algumas abordagens são mais flexíveis nesta integração, outras continuam fechadas, tanto em relação as técnicas quanto a linguagem. Alguns termos inclusive representam muito uma abordagem e não irão mudar, pois fazem parte da estrutura teórica desta abordagem" (Psicanalista).
"Apesar de, em alguns momentos, haver dificuldades de diálogo essa variedade de nomenclaturas torna a Psicologia menos engessada uma vez que permite várias formas de analisar um fenômeno" (Humanista).
"Essa variedade, por vezes, pode implicar de maneira direta e/ou indireta na comunicação minuciosa, detalhada em torno de um caso clínico entre os próprios psicólogos, bem como na relação com demais profissionais (de outras áreas)" (Comportamentalista).
A sexta e última categoria uso de termos linguísticos de outras abordagens tem como finalidade discorrer se esses profissionais utilizam ou já utilizaram os termos de outras abordagens na sua prática clínica, e se enquanto um profissional que utiliza a linguagem como instrumento na sua atuação, considera importante que haja uma inter-relação entre os diferentes termos usados nas diferentes abordagens, os dados foram obtidos através de duas questões fechadas.
Em relação a questão do uso de termos na prática clínica, 80% da amostra usa ou já usou termos linguísticos de outras abordagens na prática clínica, o que desperta uma reflexão acerca da dimensão ética do profissional,pois apenas 20% diz não fazer o uso de termos de outras abordagens.
A respeito da questão de haver uma inter-relação entre os diferentes termos linguísticos, 90% da amostra mostra-se favorável a uma inter-relação entre os termos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o material coletado durante o processo de pesquisa, tornou-se possível a compreensão dos processos linguísticos presentes na prática clínica do profissional de Psicologia, uma vez que esse se constituiu como um meio eficaz na relação estabelecida entre o psicólogo e seu paciente.
Os termos linguísticos constituem na sua essência processos identificatórios relacionados com cada abordagem específica, inseridos na prática profissional.
A variabilidade de termos específicos de cada abordagem psicológica justifica-se a partir da influência de outras áreas científicas que integraram ao longo desse processo histórico bases teóricas relevantes para a construção da Psicologia como ciência. Devido a essa influência mútua dessas áreas dentre elas a Filosofia, Fisiologia e demais áreas a Psicologia encontra-se atualmente de forma demasiadamente fragmentada, visto que em praticamente todas as áreas profissionais, tal ciência tem contribuído de forma significativa através de seus procedimentos e técnicas profissionais.
Essa fragmentação decorrente desse processo evolutivo, faz da Psicologia uma área de estudo que pode ser relacionada a vários processos cognitivos dentre eles a linguagem, que foi aqui abordada.
É através dessa linguagem que se constituiu as principais abordagens teórico-metodológicas, uma vez que cada abordagem faz uso de seus termos linguísticos específicos.
A partir dos resultados analisados através da amostragem, percebe-se a importância desse processo cognitivo (linguagem) na prática profissional e no seu processo inter-relacional com outros profissionais da sua área, bem como na compreensão do paciente durante o contato com o seu psicólogo. Durante esse processo investigativo pode-se ter noção de quanto que essa é uma temática relevante, porém pobre em pesquisa em torno do assunto.
Por conta dessa realidade pretende-se com esse artigo deixar portas abertas para que futuros estudos possam ser desenvolvidos aumentando cada vez mais a fidedignidade a cerca dos resultados.
Portanto, a inter-relação estabelecida entre linguagem e Psicologia adquire um caráter extremamente essencial, o qual visa através desse elo levar o profissional ao paciente e mesmo para o indivíduo enquanto cidadão o cerne do seu processo relacional identificatório uma vez que este encontra-se inserido em um contexto social que não prescinde sem a linguagem.

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