ADRIÃO, Carlos Alberto da Silva [1]

Considerando o uso freqüente e banal da palavra Ética, surgiu em mim a curiosidade de identificar e querer saber seu verdadeiro significado, pois não me contentava em ver e ouvir nas falas e nas escritas acadêmicas a referida palavra substituindo vários sinônimos e amenizando colocações de certa forma ofensivas, dando conotação complementar de intelectual, mesmo que o texto parecesse grosseiro e mal escrito, acabava por receber um outro olhar quando o escritor ou interlocutor usava a palavra aqui em questão.

Etimologicamente ética é uma palavra grega, que vem de Ethos ou Eidos que significa identidade individual marcante e incomparável. Sua impressão digital é teu ethos ninguém pode ter no mínimo parecido e jamais igual, pois seu ethos e construído dos seus genes familiares que ao nascer sofre grande influência do meio social que vive criando normas novos conhecimentos e convenções que na maioria das vezes vão te ajudar a decidir a tomar decisões importantes.

É obvio que ao adquirir novos conhecimentos e amigos (comunidades) seus conceitos e preconceitos vão sendo reconstruídos a cada novo debate individual: será que meu pai ou minha mãe ou qualquer outra pessoa que tenha sido importante na construção dos meus saberes e decisões e razões individuais, que estão intrinsecamente envolvidos com minha formação estavam corretos quando me ensinaram ou falaram desse ou aquele assunto.

Existem assuntos que às vezes não conseguimos nem discutir, mas não sabemos direito o porquê de pensar assim de alguns assuntos, estão tão enraizados em nos que não gostamos nem de rever o conceito a respeito ou mesmo mudar a forma de pensar sobre.

E foi o meu ethos de irreverência e polêmico que criou em mim a necessidade de investigar o real significado da palavra em questão, pois como o autor que pesquisei refere-se à etimologia da palavra, não tenho como duvidar. Antes as pessoas explicavam sem o teor da origem da gemesses da palavra e o significado se perdia no vazio do banal, ou ao que todos dizem, a esse autor que me refiro no artigo, consegue esclarecer para mim e vou convencer vocês leitores inteligentes e pesquisadores que não acreditam em tudo que falam para nos por ai.

É o uso freqüente e banal da palavra ética nos escritores e falantes da língua portuguesa, inclusive repórteres globais, parlamentares e etc.. Que provocaram em mim a curiosidade da pesquisa e em seguida a divulgação em formato de Artigo para leitores que como eu, não se conforma com as coisas banais, que viram moda. Nesse casso até o Congresso Nacional faz uma referencia equivocada Segundo Vasquez[2], pois criou a 'Comissão de Ética', para apurar atos administrativos irregulares, uso ilegal do dinheiro público e ainda desvio de comportamento e conduta, para o autor pesquisado seria "Comissão de Moral", pois o atentado nesses casos é contra a moral e não a ética.

Neste sentido, ao tomar conhecimento dos esclarecimentos que Vasquez apresenta para seus leitores em sua obra referida abaixo, a Ética, possui uma compreensão equivocada de Moral, a comissão ao invés de chamar 'comissão de ética', deveria se chamar 'Comissão de Moral', pois segundo o referido autor tudo que é construído, instituído e estabelecido legalmente pelas leis ou pela sociedade se faz referências a Moral.

Para melhor entendermos a ênfase dada pelo autor em sua obra usarei como exemplo uma comparação: se em sua família, comunidade constrói-se ou estabelecesse regras e normais de comportamentos, condutas individuais e coletivas, aquilo o que pode ou o que não pode fazer e a partir do momento que essas normais e regras são violadas, a pessoa que violou ou quebrou as regras traiu a confiança dos principio Morais dessa comunidade.

Pois, Segundo Vasquez (1969, p.6), de um lado, atos e formas de comportamento dos homens em face de determinados problemas que chamamos morais, e, de outro lado, juízos que aprovam ou desaprovam moralmente os mesmos atos. Mas, por sua vez, tantos os atos quanto o juízo morais pressupõe certas normas que apontam o que se deve fazer.

Dessa forma, fica claro para mim e aos leitores mais atentos, segundo o autor que a partir desse momento todas as vezes que for me referir aos comportamentos ou atos humanos não devemos mais dizer que essa ou aquela pessoa não está sendo ou não foi ética e sim dizer que esta ou aquela pessoa não agiu dentro dos princípios morais exigidos ou determinados como conduta ou atitude correta para estar vivendo dentro dessa sociedade, comunidade ou Nação.

Vale ressaltar que, o que pode parecer moralmente condenado em uma sociedade chamada de civilizada, em outras pode ser normal. Vejamos em algumas comunidades (Nação) Indígenas as crianças trabalham em qualquer idade desde que seu cuidador perceba que o mesmo fisicamente já tem condições de ajudar nas atividades da casa e para o sustento da família, ajudar seus pais e a comunidade.

Mas, para nossa sociedade considerada civilizada, se uma criança é encontrada ajudando os pais ou trabalhando na comunidade, independente do trabalho que esteja fazendo, para a Lei, o adulto que o colocou para executar o trabalho corre o risco de ser preso por expor um menor a trabalho análogo a de escravo, por conta disso é considerado um criminoso.

Para as Nações indígenas quanto mais cedo os meninos (as) trabalharem mais cedo aprenderão o oficio, descobrem os valores sociais junto aos mais velhos, as "lendas e magias" das florestas e dos igarapés, seja ele quem for não há discriminação. Aprende sobre o trabalho comunitário e consegue compartilhar sua infância com as outras crianças, correr, brincar e caçar e ainda aprende a sobrevivência com seus pais e avôs, com isso ficam garantidos a continuidade e a aprendizagem às gerações futuras.

Enquanto na comunidade civilizada existem Leis que protegem os jovens, por não possuírem construção muscular e óssea para o trabalho, somente aos 18 anos, sua capacidade estrutural ficará pronta para se adequar ao oficio seja qual for.

Regras criadas a partir das necessidades individuais ou coletivas de determinadas espécies. Não são regras universais. A quebra das regras pré-estabelecida devemos dizer que quebrou as regras da moralidade.

Até aqui, nosso entendimento era que a moralidade ou a imoralidade se referia apenas a assuntos de comportamentos e atitudes entre as famílias referidas a sexo ou sexualidade, o desvio na opção sexual do homem ou da mulher, gravidez precoce o envolvimento com homens ou mulheres casadas, isso era contra a moral da sociedade. Mas se tudo isso sempre foi moral porque de repente começaram a chamar de ética, só porque virou moda ou fica mais bonito dizer que fulano ou fulana não foi Ética em sua atitude, ameniza o peso da ofensa ou tudo isso deixou de ser ofensa e passou a ser contra (ética) moral.

Para poder fazer essas considerações a respeito da palavra Ética, precisei me apropriar de dois grandes filósofos (autores e escritores) que para convencer seus leitores e concluírem esses estudos tiveram que fazer um retorno a Historia da Grécia Antiga e entender a construção do comportamento de moral das Pólis e afirmarem diante dos estudos o que apresento para vocês leitores inconformados com modismo e outras banalidades que com a freqüência do uso perde seu real significado.

O primeiro autor é o Manfredo Araújo de Oliveira que produziu sua obra com o objetivo de reunir vários textos de filosofia contemporânea, traduções de textos clássicos, traduções de textos de filósofos estrangeiros contemporâneos e instrumentos de trabalho, tendo como finalidade de oferecer um acervo bibliográfico escolhido dentro de critérios rigorosos de seleção, que levem em conta o interesse do texto para pôr a serviço do leitor estudioso de filosofia e sua apresentação segundo os padrões científicos reconhecidos da produção filosófica, sobre o titulo "Ética e Sociabilidade".

O segundo autor é Adolfo Sanchez Vazquez, seu grande objetivo foi introduzir o leitor nos problemas fundamentais considerados da Ética nos dias de hoje. Além de abordar temas clássicos como 'o objeto da ética', ' a essência da moral', 'o determinismo e liberdade' e ' a avaliação moral', o autor discute questões cruciais e pouco exploradas como moral e história, e forma lógica e justificação dos juízos morais. Usando uma linguagem clara e acessível, mas mantendo o rigor teórico e observando as exigências de fundamentação e investigação sistemática, examina os diversos fatores sociais que contribuem para a prática da moral. Ele mostra que a moral é uma forma do comportamento humano que se concretiza apenas quando as pessoas estão vivendo em sociedade. Logo a moral existe necessariamente para cumprir uma função social.

Para o primeiro autor que vai debater sobre as sociedades humanas o mesmo é categórico em afirmar que:

O que o homem é nunca está decidido de uma vez para sempre, mas exatamente, em contraposição ao mundo animal, o homem revela-se como ser essencialmente aberto; seu comportamento não está simplesmente predeterminado e preestabelecido pelo sistema instintivo: é o homem mesmo o que deve dar a orientação básica a seus impulsos. Isso significa que uma experiência originária na vida humana é o que o homem tem de conquistar-se, conquistar seu Ser no mundo de suas experiências. (OLIVEIRA, 1993)

Nessa citação o autor apresenta uma diferença básica entre o homem e o animal, pois o animal desde o inicio de sua existência produz e faz coisas até os dias atuais igualzinho, não muda nada nunca, o ninho do passarinho, a teia da aranha e a casa do joão-de-barro serão iguais até que espécie desapareça, pois essa e sua função no eco-sistema no planeta Terra. Diferentemente o humano não faz nada igual ao que fez ontem, sempre melhora e inova algo de acordo com sua necessidade, seja individual ou coletiva, pois essa é uma conquista do dia-a-dia, é a função do homem sempre melhorar sua qualidade de vida no planeta Terra.

O segundo autor define o Objeto da Ética como sendo resolução de casos reais e que a atitude individual pode gerar conseqüências a toda a comunidade, isso como:

Os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Estas normas são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias: de acordo com elas, os indivíduos compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Nestes casos dizemos que o homem age moralmente e que neste seu comportamento se evidenciam vários traços característicos que o diferenciam de outras formas de conduta humana. (VASQUEZ, 1969.p. 6)

Na citação acima o autor revela que a atitude e a forma de agir é uma construção moral das sociedades primitivas ou civilizadas, há normas estabelecidas entre os homens dessa sociedade, porém agora gostaria de revelar a vocês leitores que devem estar curiosos para chegar no final do artigo, para entender o que é afinal o significado de ética.

A Ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A Ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o principio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais.

Dessa forma, entendo que a Moral é atitude, ação e comportamento a partir dos aspectos sociais, históricos e comunitários, já a reflexão sobre os aspectos decisórios que levam em consideração as conseqüências do ato e do agir, pois nossas ações estão baseada na subjetividade, que tem haver com a toda a nossa historia de vida a esse processochamamos de Ética. Assim a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade – ou seja, a ciência de uma forma específica de comportamento humano.

Vale ressaltar que, moral é a ação e a reflexão sobre a ação é ética, pois essa deriva de ethos ou eidos, que significa individual, subjetivo e único. Nossa reflexão sobre nossas ações tem haver com a historia de vida de cada um, nossas reações individuais estão refletidas nossa convivência familiar e comunitária. Nossas reflexões nunca serão iguais a de outrem.

Para finalizar esse artigo eu encerrarei com uma frase de Vasquez, 'certamente, esta abordagem cientifica dos problemas morais ainda está muito longe de ser satisfatório, e das dificuldades para alcançá-la ainda continuam se beneficiando as éticas especulativas tradicionais e as atuais de inspiração positiva. Pois a ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano; não se deve confundir aqui a teoria com o seu objeto: o mundo moral.

BIBLIOGRAFIA

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e sociabilidade. -São Paulo : Loyola, 1993. – (Coleção filosofia : 25). 85-15-00718-5

VASQUEZ, Adolfo Sanchez, Patrício Sanz. Ética. 1104-14 México. 12, D.F. 1969.



[1] Mestrando em Ciências da Educação pela UAA. Especialista em Gestão Escolar pelo CESUPA. Graduado em Pedagogia pela UNAMA. Coordenador Pedagógico da Escola 'Nova República'.

[2] 1104-14 México 1969 Ética. Ed. 9. Civilização Brasileira.