No atual cenário arquitetado pela compulsiva busca por glória unipessoal, tende-se à crescente banalização de gestos não altruístas e à dissolução da ética - que, constantemente, tem seu papel diminuído frente às novas prioridades individuais. O baixo grau de importância atribuído a ela, por sua vez, ocasiona conflitante reestruturação dos princípios arraigados na sociedade.
Engendradas associações de polias e roldanas possibilitam que um único homem levante colossais blocos de concreto. Da mesma forma, complexas interações sociais transformam a ação de um simples indivíduo em exemplo para todo o grupo: nossas práticas - éticas ou não - são amplamente disseminadas. Desse modo, como afirma Bauman, a corrente conjuntura pós-moderna se encaminha para a liquefação dos valores éticos - resultante do individualismo; todavia, o colapso - ainda não absoluto - da conduta ética perpassa outros fatores: a falta de controle sobre nossas intrínsecas incoerências e a volubilidade das opiniões.
Defender princípios éticos baseados em relações sociais humanistas torna-se árdua tarefa na medida em que as pessoas consideram essa atitude ingênua ou fora do padrão. Tal consideração deve-se ao fato de que o atual contexto está estruturado no unilateralismo das ideias, limitando a visão de conjuntura das pessoas - que, então, negligenciam o pensamento divergente de outrem. Mina-se, dessa forma, o papel e a importância da ética no cotidiano.
A ética nunca deixou de ser essencial. A pequena importância atribuída a ela hoje, portanto, pode e deve ser repensada. Como o arquiteto reforma prédios antigos, o homem é capaz de resgatar e reconstruir princípios. As vigas dos prédios representam a própria ética: são essenciais na estrutura e na sustentação, pois, como afirma Kant, o equilíbrio do convívio reside na ética.