ÉTICA II

Thiago B. Soares[1]

(Quando usar o artigo, lembre-se de citar a fonte)

[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

            Ao tratarmos de ética, jamais podemos esquecer a implicação que o próprio desenvolvimento da filosofia tem diretamente na concepção dela. Com efeito, a ética não está incólume ao passar dos tempos tampouco às mudanças socioculturais de um período histórico. Dito isso,

 

Em filosofia contemporânea, podem-se identificar duas grandes tendências no tratamento da ética: uma de matriz kantiana, que tende a fundar a ética a partir da moral; outra de matriz hegeliana, que, em sentido inverso, tende a fundar a moral a partir da ética (GIACOIA JUNIOR, 2010, p. 77).

 

            Em outras palavras, temos hodiernamente o que seria equivalente a duas correntes de pensamentos acerca da ética, quais sejam, a kantiana e a hegeliana. Podemos afirmar, grosso modo, que a primeira matriz vincula-se, mormente, com a noção de imperativo categórico de Kant (1724 – 1804). Nesse sentido, um furo na rede ética seria o aspecto subjetivo envolvido, dado que a ética vive em condição de moratória da moral que, por sua vez, é advinda das estruturas categoriais da racionalidade de cada indivíduo. Em seu caráter ontológico, a ética não pode ser universal se todos não tiverem as mesmas condições racionais para se chegar a melhor medida a ser tomada em todas as ações, visando não só o bem para si, como também para o outro. Em contrapartida, a matriz oriunda do pensamento de Hegel (1770 – 1831), visa o caminho inverso, ou seja, uma ética que possa ser implantada pelo “poder absoluto”, o estado, de maneira que todos, sem exceção, possam agir em igualdade.Não obstante, temos nesse caso uma intervenção relativamente forte do estado na vida social, com vistas a obter nos atos das pessoas a moralidade.

            Se no primeiro há margem para uma subjetividade, não podemos esquecer que essa deve sempre se referir as estruturas categoriais da racionalidade – (quase romântica) na qual todas devem se “encontrar”, no segundo existe um apagamento da subjetividade porquanto essa vem da ética do estado. Todavia, na contemporaneidade, ainda que reine a ética estatal, o imperativo categórico tem seu valor sendo até em certos casos previstos pela lei. Portanto, na sociedade hodierna, em geral, há uma prevalência da matriz hegeliana para se pensar os códigos de ética. Todavia, nos dilemas éticos que todos em dado momento de suas vidas acabam vivendo, a matriz kantiana é a única saída louvável.

            Tendo em vista o que foi dito, não podemos olvidar que a ética independentemente da matriz filosófica responde aos anseios da vida em sociedade e ao mesmo tempo constrange as possibilidades dessa mesma entrar em colapso. Diante disso, as questões jurídicas, educacionais, sobretudo, políticas estão implicadas quando se empreende uma discussão a respeito de ética. Mesmo que não se faça menção explícita,elas são candentes no estudar, fazer e viver éticos.

 

Disto concluímos que, se há princípios éticos de abrangência universal, devem se aplicar à sociedade humana em geral. Não é o mesmo que afirmar que todos os homens são iguais em todos os aspectos. Em verdade, seria tolice asseverar que o são, porque de fato não o são. Os Homens diferem em seus interesses, sua capacidade, e em muitos outros aspectos. Mas, no que tange a critérios éticos, não será válido limitá-los a um grupo particular (RUSSELL, 2013, p. 490).

 

            Portanto, a ética mesmo sendo um campo de estudos filosóficos é, antes de qualquer coisa, condição sinequa non da vida em sociedade. Posto ser o homem integrante do social, e ele, como disse Protágoras, “a medida de todas as coisas”, então, a ética é um processo contínuo no qual os sujeitos e, consequentemente, suas situações são a medida de todas as éticas.

Referências

GIACOIA JUNIOR, O. Pequeno dicionário de filosofa contemporânea. 2ª ed. São Paulo: Publifollha, 2010.

RUSSELL, B. História do pensamento ocidental: A aventura dos pré-socraticos a Wittgenstein. Trad. Laura Alves e Aurélio Rebello. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.