A análise da obra ? Ética e diálogo na prática pedagógica universitária - por Ângelo V. Cenci e Elli Benincá, aborda em primeira instância as considerações sobre o trabalho do professor frente às dificuldades de entendimento sobre o agir humano, que geralmente se deve ao relativismo e a especificidade da ética quanto a não formulação clara dos julgamentos das ações humanas.
O livre arbítrio e a automação do indivíduo são pressupostos da ética e essa, busca entender os princípios orientadores da ação, através de estudos e fornecimento destes princípios. A prática nasce amparada pelo ideal grego de justa medida e do equilíbrio nas ações dos indivíduos, ou seja, é amparada pelos princípios morais universais como " não faças aos outros aquilo que não queres que seja feito a ti". A partir desta visão, ganham espaço princípios indicadores de ser a ética não a perfeição do agir, mas sim que as ações devem ser direcionadas da melhor forma possível dentro de um contexto.
No âmbito escolar a necessidade do professor estar qualificado para compreender e direcionar diferentes situações em seu ambiente de trabalho, pode determinar a qualidade e rendimento de suas funções, pois a ética implica também, em assumir e delegar responsabilidades. E o processo pedagógico também depende que o professor se qualifique de forma permanente, para que o ensino esteja voltado para um processo de reconstrução contínua, tanto na prática deste ensino quanto ao aprimoramento dessas práticas, uma vez que o professor tem o papel primordial de despertar no aluno o desejo de buscar seu próprio conhecimento.
Deve-se observar a compreensão por parte do aluno frente a estas questões de aprendizagem, que são apontadas a partir dos referenciais que lhe são ofertados pela prática em sala de aula, nos aspectos tais como inserção na vida acadêmica, busca e sistematização dos conhecimentos adquiridos, pesquisa, engajamento participativo e qualificação para as aulas, através de estudos pessoais.
Não existe ética sem qualidade e a qualidade não pode ser considerada apenas um atributo do trabalho do professor, sendo necessário o envolvimento da sociedade neste processo, pois o método educativo é bastante interativo. Portanto, na análise feita até aqui, é possível afirmar que embora o professor não seja o único responsável pelo processo da obtenção desta qualidade, uma vez sendo ele detentor de um saber mais elaborado, acaba tornando-se responsável por grande parte da viabilização da ética na prática pedagógica.
A prática pedagógica na sala de aula, segundo a visão de Elli Benincá, pretende abordar as ações pedagógicas como uma ação dialógica, ou seja, o aprendizado através do diálogo, pois o mesmo demonstra ser uma estratégia favorável para instaurar e dinamizar as ações empreendidas neste processo. O diálogo na abordagem dialógica se refere à reciprocidade de pessoas através da palavra. No diálogo as pessoas se anunciam e se revelam a partir da confrontação de idéias.
Os maiores empecilhos para que o diálogo aconteça são identificados através da dificuldade mostrada pelo indivíduo em achar que conhece o íntimo do outro, sendo esta impressão apenas fruto do próprio reflexo exterior e sendo assim, o conhecimento seria apenas superficial e parcial. O outro obstáculo para o diálogo seria a resistência de se revelar o pensamento, uma vez que revelar idéias é para grande parte dos indivíduos, um desnudamento, uma exposição que poderá constranger e por isso ocorre a resistência dessa revelação. O não comprometimento é outro entrave ao diálogo, pois a acomodação a uma situação vicia o indivíduo a uma postura indiferente as idéias que o rodeiam.
Na educação, especialmente dentro da sala de aula, a relação professor- aluno favorece o desenvolvimento do diálogo. O professor não deve frustrar a capacidade de diálogo de seus alunos, da mesma forma que deve evitar subestimar essa capacidade . Deve-se levar em conta que o universo do aluno é mais rico do que se mostra para o desenvolvimento dos conteúdos escolares. Suas experiências de mundo, suas vivências pessoais devem sim ser levadas em consideração pelo professor nas capacidades de desenvolver o diálogo e, para isso, assuntos que sejam interessantes e provoquem impacto nos indivíduos envolvidos no processo ensino -aprendizagem devem ser incluídos no conteúdo das aulas. A narração além de contribuir para a estratégia pedagógica centrada no diálogo, atribui uma função portadora de elementos enriquecedores complementares a ação pedagógica.

Perfazendo este mesmo caminho que nos trouxe até aqui, podemos afirmar que a necessidade da ética e do diálogo está ligada com o mundo cognitivo e de vida dos indivíduos. O que Cenci corrobora em sua análise no meio acadêmico, é o que Benincá explicita em suas observações dentro de sala de aula. Se atualmente temos situações extremas de não-comprometimento tanto por parte daqueles que ensinam, quanto daqueles que recebem este ensino, pode-se constatar que realmente algo falta para serem reconstruídos alguns pontos dentro da educação.
A prática dentro de sala de aula é o maior desafio para o professor e a qualificação do mesmo frente às diversas situações que se manifestam de maneira constante, é o meio mais autônomo de se fazer um bom trabalho. Uma vez o descontentamento com as políticas públicas nos setores de educação, há de ter uma consciência maior por parte destes profissionais, um comprometimento renovado frente a estes desafios. Isso é ser ético consigo e com o próximo, já que a maior função da educação é transformar.