Ética e Aborto1 

Um dos grandes temas relacionados a bioética e que sempre teve alta repercussão mundial e ainda tem é o aborto. De acordo com o CNPF2 (2013, p.10), o “aborto é a morte prematura do embrião ou do feto durante o desenvolvimento” e pode se dividir em aborto espontâneo, quando a morte não é provocada e aborto provocado, quando o feto ou embrião voluntariamente é impedido de se desenvolver.

De acordo com CNPF (2010, p.11), no mundo ocorrem cerca de 50 milhões de abortos por ano, ou seja, uma em cada 5 crianças é morta antes de vir ao mundo. Se analisar-se somente os Estados Unidos, este número torna-se ainda mais alarmante, pois nesse país uma em cada três crianças é abortada.

Inúmeros argumentos são utilizados por aqueles que são favoráveis ao aborto. Geisler (2010, p.155-158) aponta alguns desses argumentos, dentre eles pode-se citar, por exemplo, que o bebê não é um ser humano até que este possua uma autoconsciência, outro argumento ainda afirma que o bebê é uma extensão do corpo da mãe, portanto a mãe tem todo o direito de fazer o que quiser com ele, ainda apela-se ao argumento do estupro, alegando que a mulher não vai querer algo que foi gerado involuntariamente, dentre muitos outros argumentos que favorecem a legalização e apoiam o aborto.

Porém, o próprio Geisler (2010, p.155-158), refuta esses argumentos e os demais numa cosmovisão cristã, sendo o primeiro condizendo que a autoconsciência não se faz necessária para que se caracterize um ser humano, e que um embrião de maneira alguma é uma extensão do corpo de sua mãe, ele é um outro ser humano, independente e livre, e por fim, mesmo que um estupro abale emocionalmente uma mulher, isto não justifica um assassinato, um aborto.

Mesmo assim, ainda existem pessoas que optam por abortar, segundo o CNPF (2013, p.11-12), os métodos mais utilizados para abortar são o aborto por aspiração, o aborto através de curetagem, o aborto através do nascimento parcial, o aborto por injeção, o que acontece através de DIU, também através de Mifepristona (RU 486) que é uma espécie de pílula abortiva e a mais comum e muitas vezes utilizada sem a consciência de que se pode estar praticando o aborto, que é a pílula do dia seguinte, vendida em muitas farmácias como se fosse um remédio comum.

Mas então, por que abortar? A própria Palavra de Deus, em Jeremias (Cf. Jr 1,5), vai dizer “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações”, logo todo ser gerado é amado incondicionalmente por Deus, independente da forma como ele foi gerado, se foi voluntária ou involuntariamente, toda vida é querida e amada pelo Criador.

O Catecismo da Igreja Católica (1997, p. 588), no número 2258, vai dizer que a vida humana é sagrada, porque desde a sua origem é ação criador de Deus, e sempre terá uma relação direta com o Criador e que ninguém, em circunstância alguma pode reivindicar o direito de dar a morte a alguém, principalmente um ser inocente.

O aborto é considerado como assassinato e uma falta grave, de acordo com João Paulo II (1995, p.32), na Carta Encíclica Evangelium Vitae “o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave”, logo é um crime, um assassinato retirar uma vida que não pode se defender.

Mas há de se saber também que Deus é misericórdia e está aberto a perdoar quem cometeu o aborto, seja qual for o motivo que levou a pessoa a cometê-lo, cabe a pessoa arrepender-se e abrir o coração ao perdão de Deus e estar disposta a mudar de vida.

Cabe aos cristãos, por fim, acolher essas pessoas e ajudá-las, pois todo e qualquer aborto, com certeza traz consequências psicológicas e espirituais para a mulher que abortou e não deve-se julgar, isso cabe somente a Deus, pois foi o próprio Deus que criou a mulher que aborta, o feto abortado e todos os demais seres humanos, portanto, conforme o Evangelho de Mateus (Mt 7,1) “Não julgueis para não serdes julgados”, pois o dia de amanhã a Deus pertence e nunca se sabe a situação que se terá de enfrentar, seja pessoalmente ou com familiares e pessoas próximas. Deve-se orientar e aconselhar para que não se pratique o aborto, mas se a pessoa praticou, jamais julgar e condenar, e sim amar e acolher em suas necessidades.

 

Referências Bibliográficas:

BÍBLIA, Português. Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB. Brasília: Edições CNBB, Ed. Canção Nova, 2010.

Catecismo da Igreja Católica, 5ª Ed., 1997.

Comissão Nacional da Pastoral Familiar – CNPF. Manual de Bioética: chaves para a bioética. Brasília: CNPF, 2013.

Geisler, Normal L. Ética cristã: opções e questões contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.

João Paulo II. Carta encíclica Evangelium Vitae sobre o valor e inviolabilidade da vida humana, 1995.

LIMA, Paulo. Curso de pós-graduação na área de teologia: ética cristã. Brasília. AVM Faculdade Integrada, [2015]. 93 pags. Apostila.

1  O autor, Samuel Colombo Pirola, é Bacharel em Filosofia, graduando em Teologia e pós-graduando em Liderança e Administração Eclesiástica.

2 CNPF = Comissão Nacional da Pastoral Familiar da Igreja Católica. Referência Bibliográfica segue abaixo.