Raquel Schimidt ? Aluna FAAL
Prof. Dr. André G. M. Buffon ? Orientador FAAL
FAAL ? Faculdade de Administração e Artes de Limeira


Resumo

O aumento populacional que tem se verificado nas últimas décadas implica numa maior demanda e disponibilidade de água para o uso das populações e, conseqüentemente, no aumento da geração de efluentes. Entre as substâncias presentes nos efluentes que podem vir a causar problemas de saúde, estão os hormônios e os remédios. Este trabalho visa comparar dados de estudos sobre a presença dessas substâncias nos corpos hídricos. A presença de hormônios e remédios nos corpos hídricos influenciam na qualidade das águas, podendo vir a interferir no funcionamento do sistema endócrino dos animais e, até mesmo, dos seres humanos devido aos altos níveis de concentração. Na comparação, verificou-se a presença de hormônios tanto nas águas superficiais dos rios estudados como também nas amostras de água potável, o que evidencia a importância de se investir no tratamento de efluentes, através de métodos mais eficazes para a remoção dessas substâncias.

Palavras chave: corpos hídricos, interferentes endócricos, tratamento de efluentes

Abstract

The population increase that has taken place in recent decades implies a greater demand and availability of water for the use of populations and, consequently, increasing the generation of effluents. Among the substances found in effluents that may cause health problems, are hormones and drugs. This paper aims to compare data from studies on the presence of these substances in water bodies. The presence of hormones and pharmaceuticals in the water bodies influence on water quality and could interfere with the functioning of the endocrine system of animals and even human beings due to high levels of concentration. In comparison, there was the presence of both hormones in surface waters of the rivers studied as well as in drinking water samples, which highlights the importance of investing in wastewater treatment through the most effective methods for removing these substances.

Introdução

Os recursos naturais são de extrema importância para a manutenção da vida na Terra, desde o início. Segundo Braga (2005), recurso natural é um insumo que as populações, organismos e ecossistemas necessitam para se manter.
Entre os recursos naturais essenciais à existência e manutenção da vida está a água.
A água é utilizada pelo ser humano para diversos fins, tais como: suprir suas próprias necessidades metabólicas e de higiene, para uso na indústria, na agricultura e pecuária, na geração de energia elétrica, entre outros.
O aumento populacional que tem se verificado nas últimas décadas - somente no período entre 1950 e 2000, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ? IBGE (2010), a população brasileira saltou de 51 milhões em 1950 para 169 milhões no ano 2000 ? implica numa maior demanda e disponibilidade deste recurso para o uso das populações e, conseqüentemente, no aumento da geração de efluentes que comprometem a qualidade dos corpos hídricos e a saúde dos seres humanos e animais.
Entre as substâncias presentes nos efluentes que podem vir a causar problemas de saúde, estão os hormônios e os remédios.
Segundo Christante (2010), os compostos sintéticos, chamados também de interferentes endócrinos, mimetizam a ação do estrógeno (hormônio sexual feminino). Eles são moléculas diferentes entre si que possuem em comum a capacidade de interagir com os receptores de estrógenos que a maioria dos animais tem na membrana de suas células. Essas moléculas agem como hormônio, produzindo uma mensagem que pode enganar a célula, fazendo com que ela se multiplique, morra ou produza algum tipo de proteína na hora errada.
Dentre as fontes de interferentes endócrinos pode-se citar a urina humana.
Ainda de acordo com Christante (2010), as mulheres excretam estrógenos, ou seja, hormônios, na urina em maiores concentrações durante a gravidez. Os medicamentos de reposição hormonal e os anticoncepcionais também são eliminados da mesma maneira. Tais substâncias não permanecem por muito tempo no ambiente, mas devido ao aumento populacional, há uma maior quantidade e freqüência de lançamento dessas substâncias no esgoto doméstico, o que garante que elas estejam sempre presentes. Essas substâncias não são totalmente eliminadas pelo tratamento de água.

Objetivo

Este trabalho visa comparar dados sobre a presença de hormônios e remédios nos corpos hídricos, prejudicando a saúde e qualidade de vida dos seres humanos e animais devido aos altos níveis de concentração.

Justificativa

Estudar os dados sobre a presença de hormônios e remédios nos corpos hídricos se justifica pelo fato de que essas substâncias influenciam na qualidade das águas, podendo vir a interferir no funcionamento do sistema endócrino dos animais e, até mesmo, dos seres humanos.
De acordo com Filho (2008), a qualidade do meio ambiente é a base para que se preserve a vida das futuras gerações e a água é a substância na qual a sociedade humana está sustentada e estruturada.
Os hormônios e remédios que são lançados diariamente nos corpos hídricos afetam a qualidade das águas, e, segundo Lyons (2008), pesquisas mostraram que peixes, aves, anfíbios, entre outros animais, sobretudo os machos, já sofreram anomalias no seu sistema reprodutivo devido às altas concentrações dessas substâncias no meio em que vivem.
Hormônios e remédios também podem vir a provocar efeitos adversos nos seres humanos. Colborn (2002), mostra que as filhas de mulheres que foram tratadas durante a gravidez com o estrógeno sintético dietilestilbestrol, também conhecido por DES, nas décadas de 40 e 50, desenvolveram um tipo raro de câncer vaginal que chegou, inclusive, a causar a morte de algumas dessas mulheres. Outras, tiveram deformações em seu aparelho reprodutor.
Desta forma, é importante o tratamento não só de resíduos orgânicos presentes nos efluentes, mas também de substâncias invisíveis a olho nu que podem vir a causar problemas de saúdes tanto para os animais quanto para os seres humanos.

Metodologia

Segundo a autora Ghiselli (2006), a região do estudo foi a sub-Bacia do rio Atibaia, realizando-se 7 campanhas de coleta de amostras em vários pontos distintos do Rio Atibaia, Ribeirão Anhumas e Ribeirão Pinheiros. Foram coletadas amostras de água tratatada da Estação de Tratamento de Água ? ETA Sousas e de residências, comércios e áreas de lazer em diferentes pontos da cidade de Campinas. Também foram coletadas amostras de esgoto doméstico bruto e tratado da Estação de Tratamento de Esgoto ? ETE Sousas, também localizada na região de Campinas. Procurando identificar a ocorrência de interferentes endócrinos e remédios nas amostras coletadas, Ghiselli (2006) utilizou-se do método de extração líquido-líquido, trabalhando com 1 L de amostra in natura e um funil de separação de 2 L. Utilizou como solvente extrator o diclorometano (DCM) e o acetato de etila (EtOAc). Para a extração com diclorometano foi utilizado três porções de 60 mL do solvente e, para a extração com acetato de etila, duas porções de 150 mL.
Na extração em fase sólida, Ghiselli (2006) utilizou os sorventes octadecil, carbono grafitizado e resina polimérica mista. Ghiselli (2006) submeteu as amostras à filtragem com filtro de éster de celulose com porosidade de 0,45μm. Para a eluição dos analitos, utilizou diferentes combinações de solventes: metanol (MeOH), acetato de etila (EtOAc), acetato de etila e acetona (EtOAc/Acet 50:50), e diclorometano e metanol (DCM/MeOH 60:40) (este empregado quando o carbono grafitizado foi usado como sorvente). A derivatização com o reagente sinalizante N-(tércio-butildimetilsilil)-N-metiltrifluoroacetamida foi feita para as amostras da Campanha 3 e algumas soluções padrão. A análise cromatográfica foi feita em condições variadas.
A área de estudo de Filho (2008) foi a sub-Bacia do Rio Monjolinho, realizando 4 campanhas de coleta de amostras em vários pontos diferentes do Rio Monjolinho. Filho (2008) submeteu as amostras à filtragem com filtro de acetato de celulose de porosidade 0,45 μm e fortificadas com 200 ng.L-1 de E2 (estradiol) e EE2 (etinilestradiol). Logo após, 250 mL foram submetidos à extração em fase sólida. A fase de extração sólida foi feita por meio de cartuchos contendo o adsorvente octadecilsilano C-18 (500 mg/6 mL). O eluído deste processo foi conduzido para determinação cromatográfica no modo isocrático (acetonitrila/água 48:52) acoplado a detector fluorimétrico .

Resultados

Segundo Ghiselli (2006), foram encontrados hormônios naturais e sintéticos nas águas superficiais dos rios estudados e também na água potável destinada à população de Campinas em concentrações próximas às que são encontradas no organismo. Nas amostras de esgoto doméstico avaliadas, foram encontradas concentrações de hormônio etinilestradiol da ordem de 5,81 μg/L no esgoto bruto e de 5,04 μg/L no esgoto tratado.
Nas amostras de águas superficiais, no Rio Atibaia foram obtidas concentrações de etinilestradiol de 1,2-1,7 μg/L. No Ribeirão Anhumas as concentrações encontradas foram superiores a 3,5 μg/L. Nas amostras de água potável analisadas, a concentração de hormônio etinilestradiol alcançou valores entre 1,6 ? 1,9μg.L-1.
Segundo Filho (2008), o estudo realizado no rio Monjolinho, região de São Carlos, também confirmou, por meio de análises das amostras coletadas, a presença de hormônios naturais e sintéticos nas águas do rio. O hormônio estrógeno sintético etinilestradiol foi encontrado na concentração máxima de 33,51 ng.L-1.

Conclusão

Tanto Ghiselli (2006), quanto Filho (2008), relatam a presença de hormônios nos estudos realizados.
Tal fato evidencia, entre outras coisas, que os tratamentos atualmente empregados nas Estações de Tratamento de Esgoto não estão sendo eficazes na destruição dos mesmos. E, quando não devidamente eliminadas nas Estações de Tratamento de Esgoto, essas substâncias acabam por serem transportadas para as águas superficiais, por meio do lançamento do esgoto tratado no corpo hídrico, chegando até a água potável, uma vez que Ghiselli (2006) também mostra que os tratamentos empregados nas Estações de Tratamento de Água não foram eficazes para eliminar essas substâncias.
O déficit de saneamento básico no Brasil é outro fator que contribui para esse problema, segundo Filho (2008).
De acordo com Ghiselli (2006), a simples presença de um interferente endócrino no ambiente não quer dizer necessariamente que haja risco a ele associado. Para se detectar se há risco, é necessário a realização de ensaios biológicos. Apesar disso, a presença deles nunca deve ser ignorada, porque apesar de parecerem ser menos potentes que hormônios endógenos, muitos deles são persistentes, acumulando-se nos vários compartimentos ambientais e podendo ser detectados mesmo depois de terem deixado de ser produzidos industrialmente há muito tempo.
Portanto, há a necessidade de se investir no tratamento de efluentes, tanto nos tipos de tratamento já utilizados para que haja uma melhor performance, quanto em outros tipos de tratamentos e tecnologias que venham a ser mais eficazes na remoção destas substâncias. E, também, há a necessidade de haver um maior investimento em saneamento básico, pois ainda há municípios que não tratam seus esgotos, lançando-os diretamente nos corpos hídricos, prejudicando a qualidade desses corpos hídricos e, por conseguinte, a qualidade de vida de toda a população.

Referências Bibliográficas


BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental-2ª ed. Editora Pearson Prentice Hall. São Paulo, 2005. p. 4-6

CHRISTANTE, L. Descarga de hormônios. Revista UNESP Ciência. Editora UNESP. São Paulo, a. 1. n. 06. p. 18-25, mar 2010.
Disponível em <http://www.unesp.br/aci/revista/ed06/pdf/UC_06_Estrogeno01.pdf> Acesso em 22 nov 2010

COLBORN, T. et al.O futuro Roubado. Editora L&PM. Porto Alegre, 2002. p. 65-86

FILHO, R. W. R. Hormônios estrógenos no rio do Monjolinho, São Carlos - SP: uma avaliação da problemática dos desreguladores endócrinos ambientais. 2008.
Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18139/tde-17112008-135622/publico/TeseRicardoWagnerReisFilho.pdf> Acesso em 08 nov 2010

GHISELLI, G.. Avaliação da qualidade das águas destinadas ao abastecimento público na região de Campinas : ocorrência e determinação dos interferentes endócrinos (IE) e produtos farmacêuticos e de higiene pessoal (PFHP). 2006. Disponível em <http://biq.iqm.unicamp.br/arquivos/teses/ficha71345.htm > Acesso em 08 nov 2010

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LYONS, G. Effects of pollutants on the reproductive health of male vertebrate wildlife ? males under threat. 2008. Disponível em
<http://www.chemtrust.org.uk/documents/Male%20Wildlife%20Under%20Threat%202008%20full%20report.pdf> Acesso em 10 nov 2010