Análise da obra Medeia

A tendência para reunir, classificamente, as obras literárias onde a realidade aparece de um determinado modo, através de mecanismos de estruturação semelhantes surge com as manifestações poéticas mais remotas. Assim, pode-se contar a história da teoria dos gêneros literários no ocidente, a partir da antiguidade greco-romana.

A denominação dos gêneros literários para os diferentes grupamentos das obras literários fica mais clara se lembrarmos que gênero (do latim genus-eris) significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. E o que se vem fazendo através dos tempos é filiar cada obra literária a uma classe ou espécie; ou ainda é mostrar como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova modalidade literária.

A caracterização dos gêneros literários tomando por vezes feições normativas ou apenas descritivas, apresentando-se como regras inflexíveis ou apenas como um conjunto de traços os quais a obra pode apresentar em sua totalidade ou predominantemente, vem diferenciando-se a cada época. Em defesa de uma universalidade da literatura muitos teóricos chegam mesmo a considerar o gênero como categoria imutável e a valorizar a obra pela sua obediência a leis fixas de estruturação, pela sua "pureza". Enquanto outros, em nome da liberdade criadora de que deve resultar o trabalho artístico defendem a mistura dos gêneros procurando mostrar que cada obra apresenta diferentes combinações de características dos diversos gêneros.

Com o movimento renascentista o qual defendia a bandeira dos teóricos da antiguidade greco-romana caracteriza-se a crítica renascentista pela leitura da mimese aristotélica como imitação da natureza e não como um processo de recriação. Conseqüentemente, a teoria dos gêneros passa a constituir-se como normas e preceitos a serem seguidos rigidamente para que mais perfeita fosse à imitação e mais valorizada fosse à obra.

Considerando que os antigos teriam realizado a arte de forma inigualável, o século XVI toma como modelos ideais. Desse modo o que se tem é uma concepção imutável dos gêneros em perfeito acordo com a defesa da universalidade da arte, de sua essência supra- histórica. Da necessidade de classificar poemas tais como, os do Cancioneiro de Petrarca, a poesia dramática e a poesia narrativa de Aristóteles, acrescenta-se um terceiro gênero, a poesia lírica já incluída na Epistula ad Pisones de Horácio. Na representação dramática não haveria intervenção do poetas líricos. Seriam as obras compostas somente pelas reflexões do próprio poeta; na poesia épica, ora falava o poeta, ora falavam as personagens introduzidas por ele.

Na visão Aristotélica a diferenciação formal dos gêneros literários está intimamente ligada à preocupação conteudística. Levando em consideração a temática em estudo será enfatizado o gênero dramático mostrando o seu processo evolutivo, ganhando marcas na modernidade onde os gêneros são caracterizados pela diversidade e/ou hibridismo, isto é, hoje é observável a mescla dos gêneros em uma única obra.

O gênero dramático, e em especial a palavra drama se emprega para designar o gênero dramático em geral como sinônimo da peça teatral. Como uma forma dramática específica que resulta do hibridismo da tragédia na comédia. Com essa terceira acepção surge o drama na primeira metade do século XVIII,como criação dramaturgo francês Nivelle da La Chaussée que o designou " comédia laranoyante" ( comédia lacrimejante) sendo acompanhado pelo drama burguês de Diderot que substituiu personagens da história greco-romana por cidadãos burgueses de seu tempo localizados em seu espaço próprio e em condições específicas de sua classe social. Com o romantismo caracterizado, sobretudo pela oposição as regras clássicas de produção literária propõem-se a mistura dos gêneros, fervorosamente defendida por Victor Hugo em seu famoso "Prefácio de Cromwel (1827) onde apresenta o drama romântico como resultado da fusão entre o grotesco e o sublime, o terrível e a bufonaria, a tragédia e a comédia. Dessa época convém destacar Hernani de Victor Hugo, Lorenzaccio (1833), de Musset, e Chatterton (1835) de Vigny.

Em meados do século XIX o drama vai abandonando os temas históricos (" drama de capa e espada" ) e volta-se para a produção de um teatro da atualidade ( " drama de Casaca" ), iniciado pela célebre Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho. Essa modalidade do drama atravessaria o realismo e o naturalismo.

Atualmente chamamos de drama, em oposição à comédia, a peça teatral construída com base em tensões sociais ou individuais que recebem em tratamento sério e até solene. Dois designativos são ainda de alguma forma ligados ao drama: a tragicomédia (peça que mesclava o cômico e o trágico, do século XVI ao XVII, quando se defendia a pureza dos gêneros) e o melodrama , peça que explorando um sentimentalismo exagerado, não raro desemboca no patético, em mistérios, cenas de medo, comicidade e enganos, que se desfazem milagrosamente

Como forma de exemplificação do drama contemporâneo é interessante mencionar o auto da Compadecida de Ariano Suassuna, obra fantástica que envolve temáticas religiosas com uma roupagem inovadora sendo caracterizado pelo cômico, o emocional e principalmente pela linguagem acessível aos leitores e/ou espectadores. Auto é uma modalidade do gênero dramático ligado aos mistérios e às moralidades e, na Idade Média, designou toda a peça curta de tema religioso ou profano. Ele equivaleria a um ato que viesse a atingir um espetáculo maior e completo, daí o nome auto. Os mistérios são peças teatrais cujos temas são retirados da sagrada escrituras para transmitir ao povo, de forma acessível e concreta, a história da religião dos dogmas e os artigos da fé. Nas moralidades, os temas históricos- concretos dos mistérios são substituídos por argumentos abstrato-típicos, que mostram o conflito do homem em face do bem e do mal. Suassuna traz para a contemporaneidade aquela forma dramática que teve Gil Vicente um dos maiores escritores portugueses do século XIV seu apogeu em língua portuguesa. O auto vicentino era de temática religiosa. A designação da Farsa dada ás peças de assunto profano. Neste exemplo, pode-se notar que o dramático, como indica a origem da palavra (drama vem do verbo grego dráo= fazer), é ação. Por isso, o mundo nele representado (pois o texto dramático se completa na representação) apresenta-se como se existisse por si mesmo sem a interferência de um narrador. Importante é notarmos que o objetivo do escritor não é cada passagem por si como na epopéia nem o modo especial de transmitir emocionalmente um tema, como no poema lírico, mas a meta a alcançar. Assim é que tudo se projeta para o final através da manutenção de uma forte expectativa que desemboca no desfecho ou solução.

No gênero dramático, cada parte da peça se liga as outras de tal forma que é sempre conseqüência da anterior e causa da seguinte. Essa interdependência das partes é responsável pela tensão que por sua vez exige a concentração no essencial e a aceleração do tempo, para que nada se perca nem se veja prejudicado o sentido do todo. É o que Aristóteles chamou de unidade da ação.

O diálogo é a forma própria para que os personagens ajam sem qualquer mediação dando sempre a impressão, até mesmo nos dramas históricos, de que tudo está acontecendo pela primeira vez. Conforme Emil Stayer, o dramático reúne o pathos e o problema. Pathos seria o tom da linguagem que comove que provoca paixão, envolvendo o espectador que passa a vivenciar com o ator, a dor ou o prazer. Já o problema seria a proporção, aquilo que o autor do texto dramático se propõe a resolver. Assim, unem-se o patético e o questionar do problemático conduzindo sempre a ação para adiante, para o futuro que equivale o desfecho.

As perguntas do problema serão sendo respondidos pela força progressiva dos pathos que, eliminando as distâncias entre ator e espectador, leva este obrigatoriamente à simpatia.

A antiguidade clássica e em particular o mundo grego, palco das fantásticas e admiráveis manifestações artísticas tem como grande presente à literatura e dos espectadores a tragédia.

Tragédia é uma forma dramática surgida no século V a.c no mundo grego, época de crise de valores de choque entre o racional e o mítico. E, segundo Aristóteles, teria origem no ditirambo (canto em louvor a Dionísio), passando por uma fase satírica até se fixar com todas as características. A proposta Aristotélica liga-se a etimologia da palavra tragédia: de tragos (bode) + oide ( canto). O coro dionisíaco era formado por couretas que cantavam e dançavam usando máscaras de Sátiros.

Conforme Aristóteles, a tragédia é a mimese de uma ação de caráter elevado (importante e completa) num estilo agradável executada por atores que representam os homens de mais forte psique, tendo por finalidade suscitar terror e piedade e obter a catarse (libertação) dessas emoções. Assim sendo, a tragédia comporta seis elementos dos quais depende a sua qualidade, a saber: Fábula (mito) - princípio, a alma, isto é, conjunto de ações, caracteres: aquilo que mostra a escolha duma situação dúbia, aceitação ou recusa. Pensamento: capacidade de exprimir o que, contido na ação, com ela harmoniza. Elocução: É a interpretação por meio de palavras. Canto: é a interpretação por meio de canto, música. Espetáculo: É a encenação em sim marcada por todos os elementos que compõe a tragédia. É importante mencionar que o conjunto de pensamentos- mito está dividido em três partes importantes que são a peripécia: reviravolta das ações dos personagens, reconhecimento: passagem do não conhecimento de uma ação para o reconhecimento e catástrofe que são as ações de dor e destruição. Para exemplificar melhor essas características, utilizaremos como exemplo a obra Édipo Rei. Este trata-se basicamente de sua investigação sobre o assassinato de Laio e de sua própria origem. Laio ficou sabendo pelos oraculos que seu filho iria matá-lo e desposaria sua esposa. Então ele mandou sua mulher jogar do alto de um penhasco,porém ela entrega a um pastor. Édipo cresce e fica sabendo pelo oraculo que irá matar seu pai e desposar a mãe e por isso foge de sua cidade natal pensando que os pais de criação fossem os pais verdadeiros dele. Édipo dirigiu-se a Tebas, quando encontrou numa encruzilhada um velho acompanhado de cinco servos. Édipo entrou numa luta com ele e, num gesto de ira e arrogância, matou o velho e quatro de seus servos. A peça abre com a cidade assolada pela praga e seus cidadãos pedindo providências a Édipo. Ele consulta o oráculo de Delfos que declara que a praga cessará quando o assassino de Laio, primeiro marido de Jocasta, for encontrado e punido. Édipo se dispõe a procurar o assassino de Laio e muito do resto da peça está centrada na investigação por ele conduzida com esse fim. Numa série de cenas tensas, angustiantes e agourentas, a investigação de Édipo se transforma numa reconstrução obsessiva de seu próprio e desconhecido passado, quando começa a suspeitar que o homem que matou na encruzilhada era Laio. Finalmente Édipo descobre que, quando bebê , fora abandonado para morrer por seus pais Laio e Jocasta, pois estes temiam uma profecia que afirmava que seu filho mataria o pai. Pode perceber que esse drama possui o mito que são o conjunto das ações, como elas estão desenvolvidas em toda peça. O caráter do personagem é de um temperamento forte, impaciente, arrogante, além de ser inteligente por ter descoberto o enigma para salvar a cidade de Esfinge. Ele é um típico herói trágico, não sendo perverso, mas também ser muito bom. Se ele não fosse tão inteligente assim, ele não descobriria e conseqüentemente não casaria com sua mãe. Pode-se perceber nesse drama que a vida de Édipo é movida pelo destino.Ele tentou fugir de Corinto pensando que seus pais de criação eram os verdadeiros para evitar a tragédia, porém ele não consegue fugir ao seu próprio destino. As atitudes realizadas por Édipo, no pensamento dele, eram as mais corretas e ele era feliz e realizado. Porém quando aparece todo o desenlace da peça, acontecendo o reconhecimento, ou seja, quando ele descobre que quem é o assassino de Laio é ele próprio, passando de uma situação de não conhecimento ou de felicidade para o conhecimento/infelicidade. Nela, a peripécia acontece quando o mensageiro chega e, ao contrário de libertar Édipo de sua inquietação, faz com que ele se desespere ainda mais. A catástrofe é quando Jocasta se suicida pelo fato de ter descoberto a verdade e Laio desesperado, infeliz pelo que cometeu se cega. A catarse é quando surge a liberação das emoções suscitando temor e piedade no espectador, ou seja, a catarse na obra Édipo irá acontecer quando Édipo se cega e sua mãe suicida-se gerando no espectador temor e piedade, pois no decorrer da peça o espectador já sabia do destino de Édipo e para o espectador ficava aquela sensação de angústia para saber qual seria o fim dele. Quando dá o efeito catastrófico e assim gerando a catarse os espectadores liberam aquela angustia, porém suscitando temor e piedade pelo fim dado a Édipo e a Jocasta.

O Herói trágico vê-se sempre entre duas forças opostas: o ethos, seu próprio caráter, e o dáimon (destino), e se movimenta em um mundo também trágico, no qual se encontram tensão e organização social e jurídica caracterizadora da época, e a tradição mítica e heróica. Dessa forma para que o herói caia na desgraça é necessário vivenciar um desequilíbrio: a hybris que o coloca em erro inconsciente (falha trágica) e que se vinculando ao destino conduz à destruição de seu mundo.

EURÍPEDES E SUA OBRA: MEDEIA

Uma das tragédias que irá ser focada e analisada com maior detalhe será a obra Medeia escrita em 431 a.C pelo poeta Eurípedes. Os dados sobre sua vida são inseguros e pouco conhecidos. Segundo os estudiosos, Eurípedes era apaixonado pelo debate de idéias, e suas investigações e estudos lhe trouxeram mais angústias do que certezas. Há também aqueles que dizem que Eurípedes foi o primeiro psicólogo da dramartugia,pois ele trazia uma reflexão,uma análise muito profunda em suas obras.Na suas obras trágicas, inovou na transformação do Coro (diminui a função do Coro, centralizando suas peças na ação das personagens). O Coro passa a ter função apenas indireta. Era função do coro mostrar as ações que estavam sendo apresentadas para a platéia, direcionando sua atenção e reforçando as passagens que deviam, conforme a intenção do poeta, ficar bem salientadas, identificadas. Era formada por atores que não representavam personagens específicos, sendo quase que um personagem único, geralmente com pouca influência na trama.

Segundo a obra poética, Aristóteles considerou Eurípedes como o poeta mais trágico entre todos. Isso porque Euripedes, além do coro, inovouem seus dramas. Ele criou personagens mais densos psicologicamente, isto é, seus personagens estando sempre angustiados, com sentimentos dolorosos, beirando á loucura. Segundo a revista Urutágua, Giovana dos Santos diz que por ser inovador e ter mostrado o lado frágil e humana de seus protagonistas foi tido como exemplo para vários escritores romanos.

Vários temas de suas peças foram retomados, como na obra Medeia, por exemplo, pelo brasileiro Chico Buarque que adaptou a obra, para uma Medeia Brasileira.

Podemos ver na obra Medéia, sua angústia e dor, em que esta no ínicio da obra, começa a lamentar, a desesperar-se por causa de Jason tê-la abondonando por outra mulher :

Como sou infeliz! Que sofrimento o meu, desventurada! Ai de mim! Por que não morro? Versos 115- p. 119.

Suas obras eram críticas da sociedade grega vigente daquela época e das tragédias escritas por autores anteriores a ele. Seus dramas transformaram os heróis da mitologia grega em pessoas comuns, sujeitas a comportamentos discutíveis do ponto de vista ético, moral e psicológico. Segundo Eurípedes, os homens devem ser mostrados com realismo. Além disso, o objetivo da tragédia dita por ele era expressar os mais intensos pensamentos humanos, e tinha como função analisar, geralmente num contexto mitológico, as relações entre os mortais e as divindades, além de querer avaliar as opiniões dos próprios cidadãos atenienses, que compunham a platéia. Em Medeia, Eurípedes irá focar nas ações da personagem feminina. Primeiro porque na antiga sociedade da Grécia a mulher não tinha nenhum valor, e era vista como um símbolo de fraqueza. Era considerada um ser inferior e não tinha os mesmos direitos que os homens. O papel da mulher era cuidar do lar e se dedicar ao seu marido, apenas isso.

Direito de discutir temas polêmicos, política e filosofia não fazia parte do mundo, da vida da mulher. Em suas peças ele dá um destaque muito forte para a figura feminina e isso está presente na obra, Medeia. É por isso que quando o espectador assiste à peça sente-se chocado e surpreso por ver a mulher servindo de destaque no drama, percebendo o quanto a mulher tem sentimentos, sente raiva, ódio, amor, o quanto ela é uma cidadã igual ao homem, e não uma mulher que só serve para o lar. É a partir dele que a crítica é introduzida na tragédia. Eurípedes dá a Medeia o caráter louco, ou seja, a loucura, em que ela afligida pelo conflito interno, pelos seus sentimentos de angustias, entre matar seus próprios filhos e abandonar a vingança ao marido traidor.

A obra teatral Medeia possui uma sinopse bastante teatral. Seus diálogos são bem construídos , e sua personagem é marcada por um imenso sofrimento e angústia. Eurípedes dá vida a feiticeira Medeia para mostrar a natureza específica da mulher, fazendo uma análise crítica do papel social da mulher. Medeia não é uma heroína convencional. Sua vida, marcada por transgressões, por crimes, é o oposto dos padrões de heroísmo das obras clássicas. Na personagem, o autor dramatizou os conflitos internos do indivíduo. Pode-se perceber que em todo o texto, ela é movida pelo ódio, pela ira, pelo orgulho ferido. As suas ações durante a peça é de tremendo drama movido pela angústia, pela sua dissimulação na parte em que ela manda chamar Jason para pedir desculpas e mostrá-lo que ele estava correto, em sua atitude:

Suplico-te, Jason, que me perdoes tudo

Que eu te falei antes; deves ser indulgente

Com meus momentos de exasperação, depois

Das inúmeras provas de amor que nos demos. Versos 985- p. 154.

Pelo ódio e a crueldade quando ela pretende e mata seus dois filhos.

Não volto atrás em minhas decisões, amigas;

Matarei as crianças, sem perda de tempo,

E fugirei daqui. Versos 1410- p. 169 e 170.

A obra Medeia apresenta como objeto da mimese ações de homens de caráter elevado, isto é, Medeia, conhecida nas lendas da antiguidade por seus poderes mágicos, neta do sol, foi heroína por ter salvado Jason das provas impossíveis de ser realizado, feito pelo rei Aietes, e acabou se tornando esposa dele. Porém quando Jason abandona-a por outra, ela se sente magoada, revoltada, angustiada e sai de cena o heroísmo da personagem para entrar a mulher fria, impiedosa, que mata seus dois filhos e ainda a noiva de Jason juntamente com o pai desta para se vingar. Simplificando, o objeto da imitação é representado nos homens em ação, ou seja, as ações de Medeia. Estes, segundo Aristóteles, se caracterizam eticamente como bons ou maus, no caso de Medeia ela no início foi boa por ter salvado Jason, mas no desenrolar do drama ela foi mau por ter matados seus filhos. Desde no início nos identificamos com sua situação e nos compadecemos com as infelicidades oriunda delas. Pois esta mesma personagem, pela qual temos piedade no decorrer da peça nos aterroriza com seus últimos atos, típico do herói trágico. É interessante perceber que ao contrário do que se acontece nas tragédias gregas, os erros de Medéia são devidos aos seus próprios atos e ela não atribui ao destino ou algum deus vingador. Segundo Aristóteles, O meio da mimese é expressada por uma linguagem ornamentada ( a beleza dos próprios versos originais) , elaborada, através do diálogo e do espetáculo cênico o modo como a imitação se dá e visando a purificação, a liberação das emoções a medida que suscita o temor e a piedade no espectador. O efeito catártico ( a catarse) no drama é apresentado na cena em que Medeia mata seus filhos a partir que suscita o temor no espectador, porém as emoções,o alívio da personagem é expresso depois que mata sabendo que a sua vingança estava cumprida, no momento em que Jason se desespera com o ato efetuado por Medeia,ou seja, ela se sente aliviada, purifica suas emoções depois que efetua o crime massuscita o temor no espectador, assistindo a cena.

A imitação trágica analisada por Aristóteles apresenta uma composição formada de partes qualitativas (mito, caráter, pensamento, elocução, melopéia e espetáculo). O mito é a parte mais importante da parte qualitativa da tragédia. Ele é como as ações são representadas, segundo uma ordem coerente com suas partes ordenadas em princípio, meio e fim, apresentando o nó (enredo) (que vai do início da tragédia até o ponto onde se produz a mudança de sorte do herói), o reconhecimento, a peripécia, a catástrofe e o desenlace (desfecho). O reconhecimento, a peripécia e a catástrofe são as partes do mito mais importante da tragédia. O reconhecimento é o que faz passar da ignorância ao conhecimento. Para exemplificar melhor, Medeia, ao ver Jason falando com seus filhos, com aquele carinho de pai, e percebe (reconhece) naquele momento que só matando realmente os filhos, prejudicaria, afetaria Jason por completo. O trecho abaixo mostra melhor:

Jason voltando- se para os filhos

Não descuidou de vós vosso pai, meus filhos;

Ele vos assegura, com a ajuda dos deuses,

Um bom futuro. Creio que aqui em Corinto

Um dia chegareis às posições mais altas

Em companhia dos outros irmãos. Crescei

Então; o resto cabe ao vosso pai e aos deuses,

Dos quais espero a graça de vos ver chegar

À juventude exuberantes de vigor,

Superiores em tudo aos meus inimigos. Versos 1040- p. 156.

Dirgindo-se para Medeia

Mas, por que banham os teus olhos tantas lágrimas?

Por que procuras ocultar teu rosto pálido?

Minhas palavras não te deixam satisfeita?

Medeia

Nada... Eu estava pensando nessas crianças... versos 1045- p. 156.

A peripécia é a reviravolta das ações do personagem, por exemplo, Medeia manda chamar Jason e se faz de submissa a ele, mas no fundo ela não esta o perdoando e sim dissimulando. Ela age de um modo, mas que a sua ação será totalmente diferente da sua atitude. Exemplo:

Jason

Estou aqui em atenção ao teu chamado;

Não pude mostrar-me insensível ao apelo,

Mesmo sabendo de teu ódio contra mim,

E tenho ouvir, mulher, o teu novo pedido. Versos 980- p. 154.

Medeia

Suplico-te, Jason, que me perdoes tudo

Que eu te falei antes; deve ser indulgente

Com meus momentos de exasperação, depois

Das inúmeras provas de amor que nos demos... Versos 985- p. 154.

Vale ressaltar, que segundo Aristóteles, o mais belo do reconhecimento é o que acontece junto com a peripécia, porque é o que mais se integra a ação e determina os sentimentos de temor e piedade, presente no drama. Em Medeia, os dois elementos acontecem juntos, pois no momento em que Medeia manda chamar Jason e se faz de submissa e este passa a acreditar no seu arrependimento (peripécia) é a partir dessas ações, da conversa entre Medeia e Jason que ela reconhece que matando os filhos afetaria profundamente Jason.

A ação do drama, em sua sequência e em seu conjunto, tem simplicidade, o encadeamento e a unidade das obras realmente belas, e todos os toques do patético nela se desenvolvem em uma progressão quase rítmica e sem quebra na intensidade, no sentido de um desfecho fatal. Medeia é uma personagem que não é simpática para nós. Uma vez que sempre consideraremos errados a sua atitude, o seu comportamento orgulhoso. Assim, no final da peça quando ela comete a ação trágica, para o espectador não será tão surpreendente, pois já esperávamos não a mudança de caráter da personagem. Seu caráter é vingativo e sanguinário. Apesar de que suas atitudes efetuadas tiveram um motivo. Outra característica tratada por Aristóteles que podemos notar na obra Medeia é no que se refere ao espetáculo. Era característica da tragédia grega, a cena única que, apesar de dividida segundo os fundamentos da estrutura, apresentava um único ambiente onde as ações se sucediam, praticamente sem cortes de cena. Esta condição limitava muito o espetáculo e pouca coisa podiam os dramaturgos fazer quanto aos problemas que isso acarretava. Um deles, por exemplo, era o fato de, muitas vezes, ações fundamentais da trama se darem fora de cena, sendo apenas mencionadas ou descritas por outrem. Na própria Medeia ocorre isto, criando uma lacuna bastante incômoda aos espectadores modernos. Momentos cruciais da peça de Eurípedes, como a morte de Creonte e sua filha, não são encenadas no palco. A filha de Creonte, a propósito, nem sequer aparece em cena uma única vez, devido a esta característica.

Analisando a obra com a realidade, o acontecimento realizado por Medéia não é incomum na sociedade atual. O que mais acontece são mulheres abandonadas pelos seus maridos ou namorados e muitas mulheres inconformada com a situação tende-se a vingar, cometendo qualquer tipo de crime, sendo se suicidando, matando o marido, a mulher na qual o marido está, e até como apresenta no drama matando os próprios filhos. Atualmente, para as pessoas quando assistem ou presenciam crimes como esses ficam chocados e com aquele grande temor, imagine então aquelas pessoas que assistiram à peça escrita a milhares de séculos atrás.

Há exemplos na atualidade que podemos relacionar com a obra Medeia:

Um crime praticado no Rio há um bom tempo, praticado por uma mulher que abandonada pelo amante, seqüestrou-lhe uma filha de cinco ou seis anos- Tânia, a mais querida pelo pai- e matou-a com requintes de perversidade "para fazer o pai sofrer". Crime bárbaro, mas que tem toda relação com a obra de Eurípedes, sabendo-se que sua obra é universal, acontece ainda nos dias atuais. Então como podemos perceber o drama pode realmente acontecer na realidade. A questão é que tentamos não enxergar essa realidade chocante diante de nossos olhos.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES, Poética. São Paulo, 1981.

EURÍPEDES. Medéia, As Hipólitas, As Troianas. Trad. e estudo introdutivo Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

MILITZ, Lígia. A poética de Aristóteles- Mímeses e Verossimilhança. Ática; 2002.

SOARES, Angélica. Gêneros literários. Ática, 2000.

http://www.urutagua.uem.br/014/14lopes.htm

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/e00001.htm