Costuma-se afirmar nos compêndios dedicados aos estudos de linguagem, que o pensamento linguístico ocidental é representado, basicamente, por dois grandes pólos de atenção: o Formalismo e o Funcionalismo. De um modo geral pode-se dizer que o Formalismo consiste numa abordagem cujo foco incide tão somente na observação e descrição das características estruturais das línguas, desconsiderando suas possíveis funções. Já o Funcionalismo consiste em qualquer abordagem linguística que dá importância aos propósitos inerentes ao emprego da linguagem.
Halliday (1985) assinala que a oposição entre essas duas abordagens relaciona-se ao tipo de orientação que cada um segue. Assim, para o referido estudioso, o Formalismo assenta-se na lógica e na filosofia e se caracteriza por uma orientação primariamente sintagmática. Por isso, suas gramáticas interpretam a língua como um conjunto de estruturas, nas quais podem ser firmadas, num segundo passo, relações regulares. Ancoradas nesta concepção, tendem a enfatizar os traços universais da língua, creditando à sintaxe o centro dos estudos linguísticos. Por extensão, organizam a língua em torno da frase. Ou seja, são gramáticas arbitrárias.
No que tange ao Funcionalismo, Halliday (1985) afirma ser esta abordagem assentada na retórica e na etnografia, com orientação paradigmática. Logo, as gramáticas funcionais concebem a língua como uma rede de relações, enfatizando as variações entre diferentes línguas, considerando a semântica como base de análise e organizando-a em função do texto ou do discurso.
Abordagem Formal: Estruturalismo
O estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da lingüística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. Esta abordagem veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizado para analisar a língua, a cultura, a filosofia e a sociedade. Fernand de Saussure é geralmente visto como o iniciador do estruturalismo, especialmente em seu livro de 1916 "Cursos de Lingüística Geral".
Nesta abordagem a língua é conceituada como um sistema organizado de signos que expressam a idéia no aspecto codificado da linguagem. O objetivo da lingüística é estudar as regras deste sistema e seus sentidos produzidos. O estruturalismo não considera o contexto de uso das manifestações linguísticas, tampouco as relações com os falantes que as enunciam (seus propósitos, os atos interacionais e institucionais que ativam sua classe social, sexo, idade, nível de escolaridade) ou o processamento cognitivo que lhe é inerente (VASCONCELO, 2002).
O estruturalismo é governado por princípios como "o da estrutura" reporta aos elementos que compõe uma língua, caracterizados em virtudes da organização global de que fazem parte. Sob este prisma, fazer ciências da linguagem é postular, e simultaneamente, elucidar as estruturas sistêmicas inerente ao enunciado. Cada unidade é sistêmica e, portanto, só pode ser identificada no seu interior
O objetivo da gramática de Saussure é nomeado por seus seguidores de "Estruturalismo", é estudar a organização da língua e o sistema linguístico, investigando as relações entre as unidades linguísticas por meio de suas oposições ou contrastes, ignorando totalmente o estudo da linguística histórica, ou seja, a mutação do sistema através dos tempos.
Os estruturalistas consideram a língua como um sistema de relação, ou mais precisamente como um conjunto de sistemas ligados uns aos outros, cujos elementos (fonemas, morfemas, palavras, etc.) não têm nem um valor independente das relações de equivalência e de oposição que os ligam.
A pergunta: O que é estruturalismo? Bartes (1970, p. 49) responde "Não é uma escola, nem mesmo um movimento, pois a maior parte dos autores que se associam geralmente a esta palavra não se sentem de modo algum ligados entre eles por uma solidariedade de doutrina ou de combate". Quanto aos teóricos formalistas, é comum a referência aos nomes de Chomsky, Bloomfield, Z. Harris e outros. No Brasil, é possível destacar, entre outros os nomes de Carlos Mioto, Roberto Pire e outros. Em relação aos gramáticos podemos citar Celso Cunha, Lindley Cintra, Napoleão entre outros.
Abordagem Funcionalista
Os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desemborcaram nos estruturalismos funcionais, projetados com o Circulo Linguístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram emboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Lingüística de Haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas teses emana o principio básico do Funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções linguísticas determinam a estrutura da língua.
O Funcionalismo é um "movimento particular dentro do Estruturalismo" (LYON, 1981, p. 166) defende a hipótese de "que a estrutura fonológica, gramatical e semântica das línguas é determinada pelas funções que exercem na sociedade em que operam".
O Funcionalismo concebe a linguagem prioritariamente, como instrumento de interação social, validado pelos falantes com o objetivo principal de transmitir informações aos interlocutores em geral, ou seja, quando se fala em Funcionalismo, insiste-se sobre tudo na ideia de uma análise linguística que considera metodologicamente o componente discursivo, dada sua função prioritária na gramática de uma língua.
As correntes Funcionalistas atuais, por sua vez, com mais veemência enfatizam as características inerentes ao emprego das expressões linguísticas no discurso, abrangendo fenômenos interacionais, sociais, culturais, cognitivos e outros.
No que concerne aos principais representantes do Funcionalismo clássico, é plausível citar os membros da Escola de Praga como (Buhler, Jakobson, e Martinet), a escola de Londres e Halliday. No âmbito das abordagens Funcionalistas vale colocar em evidencia os nomes Gívón, Heine, Bybee e Traugott. No Brasil destacam-se, entre outros os trabalhos de Ataliba Castilho, Sebastião Votre, A. Naro e Adair Gorski.
A "função" na teoria Funcionalista, não se aplica as relações de interdependência entre as palavras na oração (as ditas "funções sintáticas": objeto direto, objeto indireto, etc.); refere-se "ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos (...)" (NEVES 2004, p.8). Para Halliday (1973; 104. Apud. Neves, 2004: 8), esse é o sentido básico e principal do termo "função" do Funcionalismo. Na gramática funcional de Halliday, importam investigar o modo como os significados são veiculados, o que implica considerar as formas da língua como um meio para a realização de um propósito, e não como um fim em si mesmo. A denominação Gramática Funcional diz respeito a uma teoria linguística que, assentada no componente significativo (caráter funcional), procura interpretar as formas linguísticas (caráter gramatical).
Como é intenção do falante comunicar-se mediante a realização de enunciados, ele aciona a função interpessoal, pela qual pode "agir" sobre o seu destinatário. Assim, a estrutura sintática ? semântica da frase se adaptará a realidade, o que implica necessariamente, diferença na análise e na interpretação dos constituintes frásicos. O falante pode, conforme sua perspectiva, selecionar um novo predicador (verbo) e, conseqüentemente as unidades a ele relacionadas (seus argumentos).Tomemos para exemplo a frase seguinte: " O maratonista corria muito." Nesta frase, há um predicador de 'ação' (correr) que determina uma estrutura semântica, a qual inclui, necessariamente um agente (maratonista). Esse predicador determina, portanto, um esquema sintático ? semântico específico.
Análise estruturalista
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 3 ed. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 231 e 232.
Nesta gramática encontra-se o estudo da sintaxe na perspectiva estruturalista, segundo os autores as relações sintáticas que se estabelecem entre as palavras que, de certa forma definem as estruturas possíveis na sintaxe das línguas. As noções de estruturas e de relação estão, portanto, intimamente ligadas. O mesmo pode dizer da noção sintática só é possível dizer que se estabelece uma relação sintática entre os elementos de um enunciado, porque cada um tem uma função especifica, nas quais fazem parte e no interior das quais entram em relação.
Função Sintática Na Abordagem Estruturalista
Eduardo comeu um doce de goiaba
? "um doce de goiaba": objeto direto de "comer"
? "comer um doce de goiaba":predicado verbal do sujeito "Eduardo"
? " Eduardo" Sujeito do verbo "comer"
? "um" e "de goiaba": adjunto adnominal do objeto direto.
OBS. Fazer a análise sintática dos enunciados da língua nada mais é do que explicar as estruturas, relações e funções dos termos que os constituem.
Conclusão
O Estruturalismo que se originou a partir do Curso de Linguística Geral de Ferdinand Saussure, introduziu conceitos importantíssimos como: Língua X Fala, Sincronia X Diacronia e Significante X Significado. Ao encararmos o Estruturalismo como um estudo sistemático, percebemos que cada elemento deste sistema é determinado pelas relações de equivalência ou diferença que possuem com os demais elementos quando analisados juntos. È o conjunto das relações entre elementos que determinam a estrutura.
Nesse estudo, percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma tentativa de definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é abordada como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de apontar normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é: escrever e falar a língua padrão.
Já no funcionalismo, a língua é um instrumento de interação social, pois existe em função de seu uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários. Por isso a aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a sintaxe e a semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática