ESTUDAR,  DIVULGAR  E  DESENVOLVER  KARDEC 

A razão, como tudo em nosso mundo se transforma o tempo todo. O que ontem eu pensava, refletia, raciocinava, hoje eu já não penso mais, não reflito e não raciocino mais, como ontem, antigamente, eu raciocinava. Somos assim: uma metamorfose intelecto-moral consolidando as duras escaladas do progresso que, indiscutivelmente, se faz. O que significa dizer que: somos mutáveis por natureza, por essência da Lei, notoriamente evolutiva. Somos um vir-a-ser, aquilo que um dia haverá de ser, que um dia, indiscutivelmente, será. 

Relativamente ao Espiritismo, doutrina de minha predileção, creio que, de imutável nele, sejam tão somente os seus alicerces básicos como, por exemplo: Existência de Deus, Imortalidade do Espírito, Reencarnação, Comunicabilidade Mediúnica, e etc. Mas a sua abrangência e complexidade de ensinos é essencialmente evolutiva. E, portanto, e, quanto a tal propriedade, não se pode, pois, deixar de estudá-lo, de refleti-lo, de raciocina-lo, constatando seu dinamismo, sua perenidade. Mas nossos estudos não devem restringir-se tão somente ao nosso campo doutrinário; eles precisam abrir-se para os mais diversos setores da atividade humana, entrosando-se com múltiplas áreas do conhecimento já estabelecido no mundo, constituindo um campo cultural multidisciplinar bastante interessante. Assim, constato que nosso aprendizado é constante e, humildemente afirmo, com serenidade e convicção, que: estou aprendendo sempre e, por isso mesmo, penso que os espiritistas deveriam e devem estudar sempre, ampliando seus horizontes culturais. 

Mas o fato é que alguns se acomodam e, outros, chegam ao ponto de pensar e de dizer que já sabem tudo, que já viram tudo, que já viveram o bastante e que, portanto, chegou a hora de parar.  O que é lamentável! Ora, é preciso recapitular e recomeçar sempre, pois que nada para e, portanto, não podemos parar.

Podemos até frear um pouco nossas atividades físicas, mentais e profissionais, em função das contingências naturais da vida, mas parar quando tudo está em movimento, quando tudo muda e está mudando o tempo todo, é estar mal informado, é expressar-se de forma equivocada ante o dinamismo de tudo que, portanto, recusa a blindagem de nossos Espíritos às tantas motivações de mudança, às tantas injunções de renovação e de progresso incessante, de tudo e de todos nós.

Relativamente à nossa abrangente Doutrina, penso que o espiritista, além de estudar mais, deveria se esforçar - na medida do possível e sem fanatismo algum - para a sua divulgação! E isto pelo fato de que o trabalho de Kardec, mesmo nos moldes do estritamente codificado, ainda será alvo de nossos estudos e reflexões por alguns séculos adiante, apesar de todos os desenvolvimentos já realizados e a se realizarem. E, por isto, defendo que a Codificação deva manter-se como fora concebida no mundo, sem modificações e adulterações da mesma e que deva ser divulgada sempre, hoje e amanhã, por todas as editoras que dela tenham a sua licença de divulgação. O mundo precisa e vai conhecer Kardec: sua batalha, sua obra, sua grande missão.

Em nossos estudos de grupo tenho tentado fazer alguma coisa. Estudando Kardec tenho procurado mais que estudá-lo. Venho tentando, como sempre, mostrar sua poderosa correlação com os novos tempos e, dos novos tempos, com Kardec, por meio do desenvolvimento doutrinário e científico já estabelecido. Por exemplo: a questão sexual tratada em “O Livro dos Espíritos”. Ora, como resolver o tão complexo problema da sexualidade humana e dos Espíritos em apenas três itens (200, 201 e 202) de sua indagação maiêutica junto aos seus instrutores espirituais? Que eu saiba, a “Revista Espírita”, de janeiro de 1866, também estampa em suas páginas um determinado artigo do nosso codificador respeitante a tal; porém, trata-se de um trabalho genérico, estando longe das análises mais aprofundadas, das particularidades e conclusões que o assunto demanda.

E, daí, a necessidade de se trabalhar pelo estudo, pela divulgação e, digo mais: pelo desenvolvimento do pensamento espiritista, seja de Kardec, seja dos Espíritos codificadores, por meio de trabalhos mais recentes que fazem novos enfoques da questão aprofundando a mesma, lhe atualizando, como, por exemplo, nas obras de que faço as seguintes citações: 

-Forças Sexuais da Alma, Jorge Andréa, Feb;

-Sexo e Destino, André Luiz, Feb;

-Palingênese: A Grande Lei, Jorge Andréa, Soc. F. V. Lorenz;

-Vida e Sexo, Emmanuel, Feb;

-Sexo e Evolução, Walter Barcelos, Feb;

-Evolução Em Dois Mundos, André Luiz, Feb, e outras mais. 

Assim, penso que o nosso procedimento, nos dias atuais seja, de fato, de ordem tríplice, firmado pela sentença: 

“Estudar, divulgar e desenvolver Kardec”. 

E não só com a farta literatura espírita mais recente, mas também, e, como já me referi, e, até onde for possível, com a literatura e pesquisa de renomados especialistas humanos de tais áreas. Obviamente que não é tarefa fácil, nem para o expositor e tampouco para os seus aprendizes. Nenhuma tarefa de ordem intelectual e pedagógica é fácil, e, sobretudo nos tratos de uma Doutrina que é tão complexa, cujos tentáculos culturais invadem e são invadidos por outras áreas tão complexas como a nossa mesma. Mas é preciso fazer alguma coisa para melhorar e, por isso, se requer dos profitentes, dentro do que for possível, algum esforço intelectual, pois que a Doutrina recomenda nossa dedicação. 

Conheço uma casa espírita em que só estudam “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e mais nada. E não adianta insistir. Um de seus integrantes chegou a confessar-me que o Espiritismo não precisa de mais nada não. Só do Evangelho: “é no estudo e na prática do mesmo que está a nossa salvação”. O que, em parte, concordo. Mas, no todo, discordo. É preciso estudar, sim. E não só o Evangelho, mas toda a Codificação e todas as obras suplementares, de Kardec a André Luiz. É preciso estudar tudo e aculturar-se sempre, criando vias de maior discernimento em nossas mentes para que saibamos separar o joio do trigo, o ruim do que seja bom.

O Evangelho, é óbvio, tem de ser mesmo é vivenciado. 

Mas é claro que existem outros equívocos e distorções doutrinárias bem mais graves às quais me recuso, agora, de comentar. Já pude até mesmo produzir alguns artigos de desabafo, pois que certas coisas não podem ficar entaladas em nossa garganta. Mas acredito ter produzido uma crítica seria e desapaixonada, fundamentada naquilo que a lógica doutrinária nos permite detectar e, por fim, construtivamente, denunciar. Contudo, se diria que aquele nosso confrade da citação anterior até que está bem encaminhado pelo Evangelho. Mas isto não encerra tudo. A Doutrina pede mais aos seus profitentes. Pede fé sintonizada com critérios de racionalidade. 

Se preconiza que se esforce pelo aprimoramento moral, se reformando, também recomenda que se esforce pelo aprendizado e incessante aculturamento. Como já o disse: o Evangelho, e seus princípios norteadores de conduta reta junto aos nossos semelhantes, precisam sim, serem aplicados, colocados em ação, como o fazia Jesus: o Mestre do Amor em Ação. Mas como não nortear, igualmente, os nossos raciocínios ao âmbito de uma Doutrina tão abrangente e tão complexa como a nossa? E não faltaram advertências de Kardec como, por exemplo, em seu “Espiritismo Experimental” esclarecendo: 

“... que o Espiritismo é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra Ciência, ser aprendido a brincar”. (Vide: “O Livro dos Médiuns” – Allan Kardec). 

Nada obstante, devo repisar que: não podemos exigir das pessoas, espiritistas ou não, mais do que elas podem dar e compreender em termos de uma Doutrina que abrange uma corrente tão caudalosa de novos conhecimentos como a codificada por Kardec e pelos nossos maiores da Espiritualidade. Doutrina esta que se ampliara vastamente no último século com a vinda e reencarnação dos grandes médiuns psicógrafos tais como: Francisco C. Xavier, Ivonne Pereira, o grande Divaldo P. Franco e tantos outros a quem podemos dar crédito por sua disciplina e notável seriedade doutrinária. 

E, por outro lado, não se pode implantar uma ditadura espírita preconizando o que está certo e o que está errado. Então, é preciso tenhamos a compreensão de que não somos iguais em termos de evolução espiritual, ou seja, somos de infinitas variantes psíquicas, intelectuais e morais. 

Nada obstante, na medida do possível, temos de esclarecer com o que há de melhor e de mais sério em termos doutrinário e espiritista que implicam uma revolução e uma vasta transformação na psicosfera ambiental terrena.

Quiçá o consigamos! 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio
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