ESTRUTURA, PROCESSO, FUNÇÃO E FORMA NA CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Júlio César Dias do Nascimento

Inicialmente, nosso exercício será o de analisar a relação sociedade-espaço, já que dentro da Geografia esses dois elementos são indissociáveis. Segundo SANTOS (1992: 49) "o espaço constitui uma realidade objetiva, um produto social em permanente mudança". Quando se estuda qualquer tipo de espaço devemos ter a noção que a sociedade não opera fora dele, e sim atua sobre ele, provocando um movimento temporal. Desta forma, toda vez que voltamos nossas atenções para compreensão de uma organização espacial e sua evolução temporal não podemos deixar de analisar quatro categorias de análise espacial fundamentais, que devem ser sempre entendidas como disjuntivo e associado, instituídas por SANTOS (Ibidem). Essas categorias são: estrutura, processo, função e forma.
A estrutura segundo SANTOS (Ibidem) deve ser analisada sempre na dicotomia espaço-tempo, sendo ela um produto imposto ao espaço pela sociedade. Para ele o termo estrutura se refere a como os objetos estão inter-relacionados entre si não tendo uma exterioridade imediata sendo compreendida num aspecto cultural. Já CORRÊA (1986:77) define estrutura de maneira mais simplificada e diz que esse termo se refere "a natureza social e econômica de uma sociedade em um dado momento do tempo".
Processo é uma ação praticada continuamente no espaço, objetivando um resultado indeterminado, mas que implica em tempo e mudança. (SANTOS, 1992). Para Corrêa (1986) "os processos ocorrem dentro de uma dada estrutura social e econômica e resultam das contradições internas da mesma". O processo pode ser considerado uma estrutura em movimento.
Forma é para SANTOS (1992:50) "o aspecto visível de uma coisa, se refere ao arranjo ordenado de objetos, a um padrão. CORRÊA (1987) cita uma casa, um bairro e uma rede urbana como exemplos de formas espaciais em diferentes escalas. A forma revela a espacialidade de uma sociedade.
Função é o papel, uma atividade ou uma tarefa a ser desempenhado por uma forma (CORRÊA, 1987). Forma e função têm uma relação direta, já que uma forma é criada para exercer uma função.
A partir da compreensão das relações entre as categorias de análise espacial, estrutura, processo, forma e função, consideramos que essas em conjunto e relacionando-se entre si, servem de base teórica e metodológica para a análise dos fenômenos espaciais dentro de uma organização espacial pré-estabelecida.
O espaço apresenta-se dinâmico, cuja dinamicidade é atribuída ao fato desse ser reflexo da sociedade e do sistema político e econômico vigente. Neste contexto, para CASTELLS (2006), o modo capitalista de produção conduz a uma concentração de capitais e conseqüentemente a uma especialização dos lugares. Assim, relacionando estrutura, processo, forma e função ao espaço urbano, podemos entender essas categorias da seguinte maneira. O modo capitalista de produção (estrutura) impulsiona constantes transformações na sociedade (processo), as quais contribuem para formação de diferentes organizações espaciais, entre as quais, se destaca o espaço urbano, que segundo GOTTDIENER (1993) é a materialização (forma e função) do desenvolvimento contínuo do capitalismo (estrutura) . Desta forma, o espaço urbano é visto enquanto expressão dos processos sociais e econômicos apresentando formas, movimentos e conteúdos com os mais distintos usos (funções) articulados entre si (CORRÊA, 1995).


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CASTELLS, Manuel. A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. 3ª ed.Tradução de Arlene Caetano.

CORREA. Roberto Lobato. O espaço urbano. 3 ª ed. São Paulo: Ed. Ática, 1995.

____________ . Região e organização espacial. São Paulo: Àtica, 1986.

Santos, Milton. Espaço e método. 3ª ed. São Paulo: Nobel, 1992.

GOTTDIENER, Mark. A Produção Social do Espaço Urbano. São Paulo: EDUSP, 1993.