INTRODUÇÃO 

Os moluscos bivalves atuam como um importante elo na estrutura e funcionamento dos ecossistemas límnicos (CALLIL, 2003a).  Animais sedentários, que podem se fixar em substratos, são ativos filtradores, retêm partículas em suspensão na coluna d’água, podendo assim, serem utilizados como bioindicadores de qualidade de água (CALLIL & JUNK 1999).

Em particular, as raízes de macrófitas, são potenciais substratos e concentram uma fauna diversificada, fato que remete a uma grande importância em estudos ecológicos, tanto pela sua relevância na produção ou produtividade, pois esta vegetação permite o desenvolvimento sobre sua superfície de um microfilme composto por bactérias, protozoários e algas, fonte primária de alimentos para muitas espécies aquáticas, quanto pela disponibilidade de habitats para interações inter e intra-específicas (ROSINE, 1955; ESTEVES, 1988; TRIVINHO-STRIXINO E STRIXINO, 1991).

A ausência de substratos para algumas espécies de bivalves, inclusive o Limnoperna fortunei, fez com que se fixasse em macrófitas aquáticas (CALLIL, 2003b). As raízes e estolões de Eichhornia crassipes Mart (Solms-Laubach), são substratos potenciais para a fauna de moluscos local e invasora, entre estes encontramos o bivalve invasor Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) (Bivalvia, Mytilidae) que utiliza essa macrófita como substrato (CALLIL et al, 2005).  

 Segundo Darrigran (1997) são consideradas como espécies invasoras, aquelas que além de serem exóticas, caracterizam-se pela rápida maturação sexual, grande capacidade reprodutiva e um considerável poder adaptativo ao ambiente que colonizam, sejam naturais, artificiais, dulciaquículas ou salobras.  Espécies exóticas são tidas como aquelas que ocupam áreas fora de sua ocorrência prévia, onde penetram rápida e intensamente (ACIESP, 1997).

A introdução de L. fortunei (Dunker, 1857), foi através de “água de lastro” dos navios que fazem o comercio entre os países Asiáticos e a Argentina, nos estuários da Foz do rio da Prata, onde é observado desde 1991 (PASTORINO et al., 1993). Esse bivalve possui grande potencial de dispersão pelo mundo, sendo transportado especialmente na forma de larvas planctônicas nos. O tráfego de embarcações entre a Argentina e os países asiáticos foi o principal vetor na introdução do mexilhão dourado no Brasil, com ocorrência descrita para a Bacia do Lago Guaíba, no Rio Grande do Sul, no início do ano de 1999 por Mansur et al., (1999) e na usina hidrelétrica do Itaipu em abril de 2001, por Zanella & Marenda (2002). E, através da navegação entre o Brasil e a Argentina. (OLIVEIRA et al., 2002). O mexilhão dourado, como é chamado, é originário dos rios da China, onde não se tem registros de problemas que possa causar nas estações de abastecimento de água ou qualquer outro sistema de água. No entanto, os problemas causados pelo mexilhão dourado fora de seu habitat natural são conhecidos desde 1968 quando foi introduzida em Hong Kong através do fornecimento de água a partir de rios do leste da Ásia. Hoje, L. fortunei já percorreu toda a extensão do rio Paraguai e alcançou o porto da cidade de Cáceres, MT, limite Noroeste do Pantanal (CALLIL & MANSUR.,2005)

A distribuição de L fortunei no Pantanal de Mato Grosso, ocorreu da seguinte forma: no Pantanal, os primeiros registros foram de OLIVEIRA et al. (2003) que observaram a ocorrência da espécie no final de 1998em Corumbá. Os ambientes investigados foram abrangentes, considerando sistemas lóticos, lênticos e semilênticos. Inicialmente, o mexilhão dourado foi observado em material de fundo na baía Tuiuiú, ligada ao rio Paraguai (18º49’18”S e 57º39’13” W), próximo à cidade de Corumbáem Mato Grosso do Sul. Em janeiro de 1999, na região de Forte Coímbra (19º53’04”S e 57º46’44 W), e logo em seguida para a região de Bela Vista do Norte (17º38’04”S e 57º41’45” W) juntamente com a baía Castelo (18º34’S  e 57º34’ W) e canal do Tamengo (10º59’S e 57º40’ W).

           Até 2003, os registros para o Pantanal consideravam o limite de ocorrência para L. fortunei, a baía Gaíva, um grande lago perene, abastecido pelo rio Paraguai, localizado na divisa dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bolívia; à montante do Parque Nacional do Pantanal.

            A partir de então estudos vêm sendo desenvolvidos no sentido de monitorar a ocorrência deste bioinvasor. Diferentes abordagens já estão sendo empregadas no sentido de monitorar a velocidade de dispersão, a densidade de indivíduos em diferentes substratos, e a dinâmica populacional. Estudos também vêm considerando o impacto sobre a comunidade e o ecossistema como um todo, por onde a população de L. fortunei tem se instalado (CALLIL, 2005)

Desde o primeiro registro da espécie no Lago Guaíba, (MANSUR et al., 2003) observaram que L. fortunei se fixa por fio de bisso, dando preferência a substrato como os rizomas de junco. Neste apresentou densidades máximas de 27.275 ind/m2. Dois anos depois do aparecimento da espécie no Guaíba, surgiram os primeiros registros de “macrofouling” nos poços captadores de água para a cidade de Porto Alegre e na indústria de celulose Riocell-Klabin, Município de Guaíba (30º06’S51º20’W) com problemas nas grandes, poços, tubulações e trocadores de calor. Fixa-se também à região posterior de bivalves e gastrópodes nativos, não permitindo o fechamento total das valvas ou do opérculo (MANSUR et al, 2003). Houve um caso de fixação de L. fortunei nas partes moles, dentro da área do sifão de Leila blainvilliana (LEA, 1834),. A recente diminuição das áreas dos juncais nas margens do Guaíba é atribuída à presença de L. fortunei (MANSUR et al, 2003). No Guaíba, são cada vez mais freqüentes os problemas causados por L. fortunei às embarcações, onde costumam se aglomerar, tanto no casco, como no interior de tubulações, motores, entre as vedações de borracha e nas hélices (MANSUR et al 2003). O avanço “descontrolado” desta espécie invasora é causado, principalmente, pela capacidade adaptativa elevada, precocidade sexual e alta taxa reprodutiva (DARRIGRAN 1997). Os impactos causados pelo êxito desta espécie percorrem os âmbitos econômicos, tal qual o entupimento de turbinas de UHEs e tubulações de captação de água e ecológico como alteração da comunidade bentônica nativa onde, acabam se tornando uma verdadeira ameaça à estabilidade ecológica (DARRIGRAN & DRAGO, 2000).

            A criação de Unidades de Conservação tem sido uma das medidas mitigadoras no que tange a perda da biodiversidade, uma vez que estas subsidiam a manutenção dos processos ecológicos e a sobrevivência das comunidades em diferentes ecossistemas (CALLIL & MANSUR., 2003). Preocupada em manter a biodiversidade e proteger todas as estratégias de vida presentes no Pantanal, a Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2002), recomenda que a área mínima necessária para uma Unidade de Conservação aquática, apenas 0.44% do Cerrado e do Pantanal estão assim contemplados. Este importante patrimônio biológico, mesmo reconhecido e protegido pela legislação, ainda assim é vulnerável e está sob ameaça frente à invasão e o estabelecimento de espécies exóticas .

A investigação da ocorrência e densidade de L. fortunei associados às raízes de E. crassipes é de grande relevância para o entendimento da dinâmica desta espécie invasora no processo de colonização de lagoas que margeiam o rio Paraguai.  Assim, Objetivos deste trabalho são determinar a densidade e avaliar a estrutura populacional de L. fortunei associadas às raízes de E. crassipes em 15 lagoas adjacentes conectadas ao rio Paraguai.