MARLON ALVES OLIVEIRA

PATRICIA MENDES

ROSA GOMES DOS SANTOS FERREIRA

ESTRESSE LABORAL:

O OLHAR DO ENFERMEIRO DO TRABALHO

 

 

 LABOR STRESS:

THE LOOK OF THE WORK NURSE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. Introdução...............................................................................................p.8
  1. Metodologia............................................................................................p.11
  1. Apresentação dos Resultados...............................................................p.12
  1. Conclusão..............................................................................................p.26
  1. Referências............................................................................................p.29

 

ESTRESSE LABORAL: O OLHAR DO ENFERMEIRO DO TRABALHO

 LABOR STRESS: THE LOOK OF THE WORK NURSE

 

 

 

 

Marlon Alves Oliveira ¹

Patricia Mendes2

Rosa Gomes Dos Santos Ferreira3

 

 

RESUMO

O estudo tem por finalidade a observação do enfermeiro do trabalho frente às complicações advindas do estresse laboral com a perspectiva da diminuição do absenteísmo. Dessa forma a enfermeiro precisa conhecer seus funcionários assim como as suas práticas, setores e rotinas para que possa ter um acompanhamento sistemático e evolutivo de cada trabalhador. Com isso potencializa o indivíduo em suas jornadas laborais de modo a influenciar diretamente na produção das empresas e na satisfação profissional de seus colaboradores.

Palavra Chave: enfermagem, enfermagem do trabalho, estresse.

ABSTRACT

This study aims to observe the work nurses in complications from work stress with the perspective of reducing absenteeism. In this way, the nurse needs to know your employees as well as their practices, sectors and routines so a systematic and evolutionary monitoring of each worker can be done. It empowers the individual in their working journeys in order to directly influence the production enterprises and professional satisfaction of its employees.

Keyword: Nursing, Nursing work, stress.

¹ Enfermeiro.Massoterapeuta.Aluno do curso de Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho. UNIG

² Enfermeira.Aluno do curso de Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho. UNIG

3Aluno especial de doutorado (EEAN/UFRJ). Mestre em enfermagem pela EEAN/UFRJ. Especialista em terapia intensiva, cardiointensivismo, nefrologia e saúde mental, Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa (IPUB-UFRJ), Ouvidora (IPUB-UFRJ), membro do GPESME (EEAN/UFRJ), membro do NUPESENF (EEAN/UFRJ), enfermeira intensivista do CTI adulto (HMMC-SMS/RJ).

Endereço para correspondência: e-mail [email protected]

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

 

 

A globalização, a partir da utilização de recursos tecnológicos e do crescimento populacional, vinculou as empresas a se adequarem às necessidades de aprimoramento para atuarem no mercado capitalista e o método utilizado para alcançar tal objetivo, encontra-se na contratação de mão de obra especializada, o que exige que o profissional desempenhe sua função laboral com conhecimento amplo e especializado.

A aceleração do crescimento econômico decorrente da livre concorrência ampliou a necessidade das empresas em se qualificar no referente à prestação de serviços e na fabricação de produtos, pois a demanda é tão grande quanto à procura, o que impõe as empresas, eficiência para sanar os defeitos e/ou vícios a fim de manter a clientela.

A grande e constante exigência das empresas em contratar profissionais com qualificação específica exige que os trabalhadores se dediquem cada vez mais a vida profissional, abrindo precedentes para um possível desconforto emocional, pois os afazeres do cotidiano, o trânsito, trabalho, família e estudos fazem com que a readaptação e reorganização do tempo desencadeiem sobrecarga e conseqüentemente, o estresse.

As pressões decorrentes das cobranças impostas no ambiente de trabalho são motivadas, não só pela exigência da qualificação profissional, mas, pela padronização da mão de obra e da crescente necessidade de readaptação as exigências do mercado profissional que podem agravar os abalos emocionais gerando um desequilíbrio psíquico. 

O cérebro está ligado a órgãos e sistemas, os quais possuem sua função específica, onde a junção deles visa o bom funcionamento do corpo, e em caso de ocorrer falha em um deles todos serão afetados, visto que o funciona como uma máquina.

A medicina moderna, por meio de recursos tecnológicos e científicos consegue conhecer o genoma das pessoas antes mesmo delas nascerem; realizar transplantes de órgãos à distância; criar vacinas que combatem doenças que já devastaram a população de uma cidade, no entanto, apesar da evolução da medicina a mente humana permanece como um mistério, e tanto a psiquiatria como a psicologia muitas vezes não conseguem alcançar a origem dos desequilíbrios psíquicos, pois a “psique” humana é um enigma que não se compreende com uma dessecação cerebral.

Pesquisas científicas no campo da medicina concluíram que devido à uniformidade e coesão do organismo humano, é possível compará-lo ao sistema eletrônico de um robô o que comprova, portanto, a propensão a falhas. Sabe-se que o corpo humano é dotado de uma parte material e outra imaterial a qual se localiza na mente, na parte central do cérebro que é o centro de comando de todas as emoções, ações e que está suscetível a distúrbios psíquicos.

No ambiente de trabalho as constantes cobranças profissionais decorrentes da busca de lucros, da competição acirrada e da eficiência profissional cada vez maior podem agravar os níveis de estresse, pois o sistema nervoso do trabalhador fica exposto de modo excessivo a pressões que se repetem diariamente e que podem elevar os níveis de estresse desencadeando uma queda da produtividade e doenças físicas e psicológicas.

A medicina como toda ciência, se subdivide em áreas específicas para tratar diretamente as doenças, e para estudar a mente e as perturbações de trato psíquico, tais como a psicologia, a neurologia e a psiquiatria. 

A psicologia, a neurologia e a psiquiatria têm avançado progressivamente ao longo dos anos na busca de garantir o bem-estar físico e mental do homem, visando amenizar o sofrimento e/ou dano que o estresse, o assédio moral, assédio sexual e outros fatores podem gerar.

O ser humano é dotado de partes imateriais que são compostas de emoções e as variações das emoções podem acarretar problemas psicológicos para o homem, tudo depende do desenvolvimento e do preparo psiquico mental que cada um possui para enfrentar as adversidades.

Alguns pesquisadores entendem que o estresse nada mais é do que uma reação de readaptação do organismo humano as diferentes situações impostas pelo cotidiano e que acarretam reações adversas que variam de acordo com a cultura e o psicológico do homem.

O estresse atrelado ao trânsito caótico, à preocupação com a família, as contas, os estudos e as responsabilidades gerais são agravados quando o ambiente de trabalho é um local de tortura e cobranças.

Nesta perspectiva, estudo tem por objetivo:

  • Observar, através da reunião do produzido cientificamente, a compreensão do enfermeiro do trabalho, frente às complicações advindas do estresse laboral, com a perspectiva da diminuição do absenteísmo.

O enfermeiro do trabalho precisa conhecer e aprender a identificar os sintomas oriundos do estresse laboral e os motivos de seu desenvolvimento para o desequilíbrio emocional e psíquico do trabalhador a fim de afastar uma queda na produtividade. Eis a justificativa para o desenvolvimento desta matéria.

A prevenção ao estresse laboral pode evitar a empresa um gasto excessivo e a perda de um bom funcionário, pois em alguns casos verifica-se que o desprazer em laborar torna-se algo permanente e irrevogável.

2. METODOLOGIA

 

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, tipo descritiva e exploratória que consiste na busca de apreender um fenômeno particular em profundidade, ao invés de estatísticas, regras e outras generalizações, trabalhando com descrições, comparações e interpretações. (SILVA e LOUREIRO, 2008)

 Esta pesquisa utilizou-se de um levantamento bibliográfico, que se realizou através de uma busca em bases de dados virtuais, como a BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), avaliando os descritores em saúde que se adéquam à matéria em tela.

A pesquisa bibliográfica ocorre quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente de material disponibilizado na Internet. (SILVA, 2005)

As pesquisas exploratórias são investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar conceitos. (SILVA, 2005)

Já o estudo descritivo consiste em investigação de pesquisa empírica cuja finalidade é o delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos sem manipulação do pesquisador. (MARCON, 2010)

A partir deste movimento inicial, foi possível procedermos a busca nas bases LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e SCIELO (Scientific Eletronic Libary Online).

O cumprimento destas etapas, nos subsidiou tecer comentários a respeito do encontrado, sob visão crítica e reflexiva, o que é esperado em nível do enfermeiro especialista.

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

 

3.1  CONCEITO DE ESTRESSE/ ESTRESSE LABORAL

 

Segundo Dejours (1995) a expressão ‘estresse’ somente surgiu nos anos 30 no Canadá por intermédio do médico endocrinologista Hans Selye com o seguinte conceito: “o estresse é um processo vital e fundamental dividido em dois tipos: quando passamos por mudanças boas, temos o estresse positivo e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo.”

Segundo França e Rodrigues (2005):

 

“Há o eustresse que é o tipo positivo e o distresse que é o tipo negativo; no eustresse o indivíduo tem garra, motivação e ânimo...; o distresse é uma sobrecarga emocional reprimida que origina doenças de cunho psicológico e físico.”

     Todos os acontecimentos que envolvem o ser humano refletem nas suas emoções e consequentemente influi no bem estar ou mal estar da mente humana que como parte integrante do conjunto de órgãos tende a desencadear certas alterações comportamentais, habituais e até culturais, ou ainda a originar doenças físicas.

Baumgart (2006) afirma que:

“... o psiquismo corresponde à parte imaterial do ser humano e varia de acordo com a concepção imposta pela sociedade, ou seja, cada pessoa está intimamente preparada ou não para reagir às constantes aflições do dia a dia de acordo com o que lhe foi ensinado na infância”.

As frustrações e cobranças no ambiente de trabalho podem insurgir em reações adversas, pois o sistema nervoso depende da peculiaridade de cada pessoa. “Assim, pessoas que sofrem um alto nível de estresse decorrente de pressões emocionais podem surtar e se desequilibrar, já que nem sempre foram preparadas para enfrentar situações variadas.”

Júnior e Medeiros (2005) afirmam em sua tese que o estresse é a “conseqüência de uma pressão muito grande no acúmulo de emoções e cobranças de caráter biofísico, orgânico ou social que a psicologia esclareceu e esclarece a partir das concepções populares da sobrecarga emocional.”

Lopes (2001) afirma que o “estresse passou a ser conceituado nos anos 30, mas somente a partir da década de 90 que passou a ser pesquisado e tratado, e trata-se de uma ponte para possíveis doenças mentais e/ou físicas.”

Santos (1999) entende que “o estresse é uma falha entre o meio social e o sujeito durante o acúmulo de sensações de medo, pavor, exigência e cobrança profissional, individual ou familiar.”

 

Segundo Deitos (1997) “o estresse é uma consequência da alteração, da mudança, da transformação na qual o organismo ante a situação nova, ou cobrança, ou necessidade de mudança reage como uma explosão de sentimentos.”

Goleman (1997)afirma que o estresse é um mecanismo necessário e normal para o ser humano, pois aflora a sensibilidade do homem e o caracteriza como ser dotado de capacidade racional, propenso a respostas e adaptações diante de situações perigosas ou dificultosas. E mesmo diante de acontecimentos positivos o organismo humano pode reagir como um vulcão cuspindo larvas.

Segundo Ruff e Korchin (1967); Lipowsyk (1975); Bonner (1967); Groen e Bastians (1975) o estresse possui inúmeras concepções acerca do seu conceito tais como ânimo de sustentar as funções essenciais das emoções humanas; notícias positivas ou negativas que o individuo interpreta por meio de suas emoções como perigosa ou ameaçadora; frustração pela não concretização dos projetos ou por um desastre.

Selye (1956) explica que o estresse se divide em três fases, as quais vão determinar o grau de sobrecarga emocional, e que são: alerta, resistência e exaustão. Na fase de alerta o sistema nervoso para se defender e adaptar-se a tensão emocional a qual é exposto se prepara para reagir como modo de defesa natural objetivando preservar o bem estar; em caso existir uma permanência do estresse passa-se para a fase de resistência, onde o sistema nervoso tenta restabelecer a homeostase; e a fase de exaustão onde o conflito nervoso desencadeia problemas como falta de memória, irritabilidade e cansaço constante, ou seja, a constante pressão psicológica a que o sistema nervoso fica exposta dificulta à adaptação ou resistência a avalanche de emoções estressantes.

Os filósofos Platão, Aristóteles e Hipócrates elaboraram teorias sobre o homem possuir duas partes que são: alma e corpo facilitando o surgimento de questionamentos científicos sobre o conjunto de sentimentos que se desenvolvem na alma.

Antes das concepções de Hipócrates o cuidado com o bem estar humano, não ia além do corpo físico, pois não se acreditava na possibilidade de haver uma parte física e uma parte espiritual no corpo humano.

    E o estresse ocasionado no trabalho não possuia importância, pois era analisado como sendo um mal necessário ao crescimento profissional das pessoas. No entanto, o estresse laboral é tão grave que pode produzir doenças físicas ou mentais nos funcionários que se submetem aos mais variados tipos de situações em troca da garantia do trabalho.

 

 

3.2 O AMBIENTE DE TRABALHO E O TRABALHADOR

 

O trabalho corresponde a uma força tarefa aplicada em troca de um determinado benefício próprio, trata-se de uma atividade humana, individual ou coletiva empregada com a finalidade não só de receber uma compensação econômica e material, mas de alcançar a satisfação psicológica e social necessárias ao bem estar humano.

Há séculos atrás o trabalho era realizado por mão de obra escrava ou servil, e o ambiente de trabalho se baseava na cobrança e exigência de uma execução laboral que satisfizesse os interesses do senhor feudal independente da saúde física e mental do trabalhador. E mesmo com a implantação de trabalho assalariado não existia nenhuma medida protetiva e garantidora para assegurar os trabalhadores.

Após o século XX o universo trabalhista sofreu inúmeras e significativas mudanças com o avanço tecnológico e a globalização que passaram a exigir profissionais capacitados e mais preparados para atender a demanda da livre concorrência que aumentou significativamente.

Seguida da implantação de leis mais humanas voltadas para o bem estar do ser humano com a defesa de sua dignidade.

O ambiente de trabalho é o espaço físico no qual os funcionários realizam as tarefas laborais, seja galpão, escritório ou casa, podendo ainda realizá-las em ambiente aberto, como ocorre com profissionais entregam mercadorias. Em geral, aqueles que executam atividades laborais externas sofrem com o trânsito caótico das grandes cidades, além da cobrança de agilidade ou presteza no atendimento ao cliente, mas o trabalhador que permanece no espaço físico da empresa é supervisionado pelo encarregado ou chefe que cobra de forma mais rigorosa. 

O ambiente de trabalho é um espaço social no qual os trabalhadores passam pelo menos oito horas do seu dia, durante pelo menos cinco dias por semana, e é de suma importância que a convivência e a prática das atividades laborais sejam realizadas com satisfação para que o estresse positivo favoreça o crescimento profissional do trabalhador.

Peiró (1993) afirma que o ser humano ao vender sua força de trabalho busca mais que a retribuição financeira busca a satisfação de suas “necessidades biológicas, de segurança, de relação social, de autoestima e auto realização”.

Amélia Cohn apud Carl Wernicke (1996) com a seguinte citação: “as fazendas de engenho do Brasil eram verdadeiros matadouros cercados de feitores com chicotes e armas de fogo, e o escravo que deixasse de executar suas tarefas laborais era severamente castigado e o nível de estresse da época só existia em relação aos senhores feudais e seus capatazes, pois os trabalhadores possuíam status de coisa e objeto não tem saúde...”

 

 

 

Na atualidade o medo da chibata ou de qualquer outro tipo de castigo físico acabou, mas o temor de perder o emprego, ou de ser rebaixado, ou de não conseguir a tão sonhada promoção, ou de perder a confiança do chefe podem estimular uma sobrecarga emocional sobre o trabalhador afetando sua autoestima.

À constante preocupação com a estabilidade profissional pode desencadear um alto nível de estresse negativo causando um desconforto no trabalhador coibindo-o de frequentar o ambiente de trabalho tornando-o um lugar desagradável e incapaz de suprir a sua autofirmação pessoal.

Quando o trabalho deixa de ser uma coisa prazerosa ou agradável para se tornar um sacrifício, as atividades laborais são realizadas de modo desleixado.

As empresas devem cuidar para que não ocorra a desvalorização do profissional ou que a excessiva cobrança por resultados se torne em humilhação por parte do chefe, encarregado ou demais colegas, a fim de evitar que possam surgir inúmeras razões para um desinteresse de executar as tarefas laborais.

A psicóloga Marie-France (2009) explica que:

“Diante de uma situação estressante, o organismo reage pondo-se em estado de alerta, produzindo substâncias hormonais, causando depressão enfraquecendo o sistema imunológico e modificando os neurotransmissores cerebrais. De início, trata-se de um fenômeno de adaptação, que permite enfrentar a agressão, seja qual for sua origem. Quando o estresse é episódico e o indivíduo consegue administrá-lo, tudo volta à ordem. Mas, a repetição de fatos desestabilizadores pela persistência eleva as taxas de hormônios de adaptação acarretando distúrbios que podem vir a instalar-se de forma crônica provocando doenças físicas e/ou psíquicas.”

 

 

Algumas empresas possuem a gestão voltada para a padronização da mão de obra operária, esquecendo que os trabalhadores são seres humanos dotados de capacidade intelectual, e que determinadas atitudes radicais abalam a sua essência ‘robotizando-os’ e acabando por martirizá-los.

A cobrança exarcebada da empresa e do superior hierárquico torna a permanência no trabalho uma tortura, a perseguição dos colegas por inveja ou ciúmes poderá agravar o estresse baixando ainda mais a qualidade de vida no trabalho.

Chiavenato (1995) entende que a qualidade de vida no ambiente de trabalho possui duas dimensões diferentes: uma correspondendo aos anseios e desejos da pessoa referente ao seu bem estar e sua satisfação no trabalho; e a outra diz respeito ao interesse da empresa quanto aos seus efeitos profissionais, ou seja, o trabalhador consegue alcançar o objetivo proposto pela empresa sem deixar de lado as suas características pessoais, os seus projetos profissionais.

Os profissionais de saúde que prestam serviços para as empresas devem procurar analisar se no ambiente de trabalho em que o trabalhador desenvolve suas atividades laborais ocorrem um alto nível de estresse a fim de garantir ao trabalhador um bem estar e as empresas um crescimento na produção.

A sociedade antiga não analisava as questões laborais como hoje, a implantação da Constituição Federal em 1988 fundamentada nos princípios da dignidade humana e da igualdade ampliou os moldes das relações sociais, mas dentro das empresas a falta de fiscalização e a necessidade do funcionário se manter no quadro da empresa motivam uma gama de abusos tais como: assédio moral, assédio sexual e pressão psíquica agravadora do estresse.

Quando o ambiente de trabalho é saudável, com profissionais bem dispostos e que se dão bem sem competitividade e sem tentativas levianas de derrubar um ao outro; quando a empresa possui uma gestão voltada para os interesses da coletividade partindo de uma cobrança saudável e uma organização dinâmica e produtiva os níveis de estresse são baixos e as condições da empresa desenvolver-se no mercado é muito maior, pois os empregados sentirão prazer em executar as tarefas e o serviço tende a fluir com naturalidade.

A expressão vestir a camisa da empresa vislumbra a real importância das empresas e empregados conviverem harmoniosamente desenvolvendo um clima agradável no ambiente de trabalho prezando pela união tendo como objetivos conquistar a autoafirmação no mercado.

O trabalhador é a pessoa que presta serviço a uma empresa, vende sua força de trabalho para alguém seja ela pessoa física ou jurídica; e o ambiente é o local no qual o serviço é desempenhado pode ser ambiente interno ou externo.

A doutora Marie-France afirma que assim como a casa das pessoas o ambiente de prestação de serviço é o local onde a pessoa passa grande parte de sua vida e, assim, como ocorre com a escola durante a primeira infância, o local de prestação do serviço deve ser o lugar no qual se materializa as esperanças e sonhos de cada trabalhador necessitando que seja um lugar tranquilo e pacifico, pois é o local de realizações profissionais.  

3.3 CONSEQUÊNCIAS DO ESTRESSE PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DO TRABALHADOR

Segundo Luttwak (1995) o ápice do estresse do trabalhador encontra-se nas “traumáticas mudanças pelas quais está passando este país e a busca da eficiência a todo custo e o excesso de competição entre as empresas estão moendo as pessoas. Do ponto de vista humano é cruel. Do ponto de vista econômico é contraproducente.”

 

 

 

Molina (1996) explica que o estresse no ambiente de trabalho pode ser agravado com a situação de tensão aguda e crônica decorrente das pressões pela concorrência individual ou coletiva de outras empresas e dos próprios colegas de serviço. E o motivo de agravo ao estresse pode decorrer de:

“situações desagradáveis que provocam dor, sofrimento e desprazer” em estar no ambiente de trabalho, em ter que executar as tarefas propostas pelo superior hierárquico ou pelo tratamento recebido pela gestão da empresa.”    

Há uma linha tênue entre o estresse positivo e o estresse negativo, e para controlar e revertê-lo é necessário que se conheça a sua reação, pois os sintomas mais frequentes do estresse nocivo são: irritação, frustração, ansiedade e tensão. Qualquer tipo de pressão emocional gera uma crise, decorrente da tensão excessiva que pode provocar insônia e fazer subir a pressão sanguínea, além de provocar um derrame e um ataque do coração.

Segundo estudos da Drª Marie-France os índices de esgotamento mentais decorrentes do estresse negativo são elevados, podendo-se afirmar que de cada 100 funcionários pelo menos 45% sofrem com as pressões e cobranças dos superiores hierárquicos; 35% não dão importância para o reconhecimento do chefe e não se punem pelas cobranças, mas buscam melhorar o seu desempenho laboral, enquanto 10% não se importam e nada fazem para mudar; já os outros 10% nem tomam ciência das cobranças.

Primeiro quadro comparativo entre os funcionários de uma empresa de cosméticos:

Total de funcionários.

100 = 100%

FUNCIONARIOS QUE SOFREM COM AS COBRANÇAS E BUSCAM MUDAR E MELHORAR A BASE DE SEU DESIQUILÍBRIO.

45 = 45%

 

 

FUNCIONARIOS QUE NÃO DAO

IMPORTÂNCIA E NÃO SE PUNEM, MAS BUSCAM MELHORAR.

35 = 35%

 

 

NÃO SE IMPORTAM E NADA FAZEM PARA MUDAR.

10 = 10%

FUNCIONÁRIOS QUE NEM SE DÃO CONTA DAS COBRANÇAS.

10 = 10%

E como parte deste estudo a Drª Mary-France, constatou-se que os funcionários com mais de 05 anos de contrato eram relapsos e desinteressados deixando de lado seu interesse em se tornar um profissional melhor, enquanto que os funcionários novos com menos de 01 ano de contrato de trabalho se desesperavam com as pressões e cobranças dos superiores desenvolvendo um estresse negativo degenerativo, e os funcionários com mais de 02 anos de trabalho não davam importância as cobranças, mas conseguiam melhorar seu desempenho profissional, e aqueles que passavam dos 03 anos deixavam de lado as cobranças preocupando-se apenas com manter-se no emprego.

Segundo quadro comparativo dos anos de serviço dos funcionários em relação ao desempenho das funções laborais:

 

FUNCIONÁRIOS COM MENOS DE 01 ANO DE SERVIÇO

45%

 

FUNCIONÁRIOS COM MAIS DE O2 ANOS DE SERVIÇO

35%

 

FUNCIONÁRIOS COM MAIS DE 03 ANOS DE SERVIÇO

10%

 

FUNCIONÁRIOS COM MAIS DE 05 ANOS DE SERVIÇO

10%

Coleman (1992) afirma que o descontrole emocional e a fraqueza psicológica de determinados trabalhadores a reagir às pressões cotidianas e a enfrentar as situações oriundas do ambiente de trabalho podem fazer surgir doenças que afetam a saúde dos funcionários, tais como:

“[..]doença mental e psicológica; tremores ou sensação de fraqueza; tensão ou dor muscular; inquietação; fadiga fácil; falta de ar ou sensação de perda de fôlego; palpitações; sudorese, mãos frias e úmidas; boca seca; vertigens e tonturas; náuseas e diarréias; rubor ou calafrio; polaciúria (aumento do número de urinadas); bolo na garganta; impaciência; resposta exagerada à surpresa; dificuldade de concentração ou memória prejudicada; dificuldade em conciliar e manter o sono; irritabilidade.”

 

 

Murta e Tróccoli (2004) explicam que o estresse laboral decorrente da globalização e da crescente concorrência no mercado de trabalho pode desestruturar o ser humano e lhe fazer desenvolver doenças físicas. A necessidade de autoafirmação e a manutenção das relações interpessoais e de sobrevivência geram no homem um desconforto emocional e psicológico que pode agravar o estresse e acarretar doenças no trabalhador. Em 1998 foi elaborado um estudo nos EUA com 46.000 trabalhadores que demonstrou que os custos com o seguro de vida aumentaram para mais de 50% em função daqueles funcionários que reconheceram sofrer de um estresse mais elevado no ambiente de trabalho

Frankenhaeuser (1991) afirma que o desequilíbrio hormonal do estresse, é produz um alto nível de adrenalina e baixa produção de cortisol, o que mantém em baixa o controle emocional e a falta de estímulo que pode desencadear enfermidades físicas e mentais.

Marie-France (2009) psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta e formada em vitimologia, na França e nos Estados Unidos, realizou inúmeras pesquisas acerca do estresse laboral e chegou à conclusão que:

“Os primeiros sinais de estresse são, segundo a suscetibilidade do indivíduo, palpitações, sensações de opressão, de falta de ar, de fatiga, perturbações digestivas, dores abdominais, bem como manifestações psíquicas, como ansiedade... A vulnerabilidade ao estresse varia de pessoa para outra... E a fragilidade pode ser adquirida progressivamente quando o indivíduo se defronta com agressões crônicas... Como essas pressões continuam por longos períodos (meses ou até anos), a resistência do organismo esgota-se, e a vítima não consegue mais evitar a emergência de uma ansiedade crônica.”

 

 

As maiores vítimas do estresse negativo são os recém contratados, que buscam alcançar uma realização profissional deixando de lado o lazer e o convívio social e em família. Estudos recentes da Drª Mary-France comprovaram que o estresse negativo decorre de inúmeros fatores, tais quais, falta de controle do tempo e afastamento do convívio social e familiar.

 Terceiro quadro comparativo entre os funcionários que sofrem estresse laboral em relação às funções desempenhadas em relação a falta de tempo para se socializar:

Número de funcionários que sofrem com estresse negativo laboral.

Funcionários que estudam, trabalham e não tem tempo para a vida social.

Funcionários que trabalham, estudam, mas curtem a vida social.

Funcionários que só trabalham

Funcionários que relapsos

no trabalho.

     4 5 = 45%

           40%

       0%

           5%

       0%

É visível a conseqüência dos desgastes que as pressões cotidianas podem gerar aos trabalhadores.

A doença decorrente do estresse no ambiente de trabalho pode se desenvolver em especial na área psicológica e mental causando transtornos psíquicos e impedindo um funcionamento normal do organismo humano.

Dejours explica que desde os primórdios o trabalho humano sempre representou um sofrimento em diversas nuances, destacando-se a necessidade de alcançar a condição mínima para viver com dignidade. “O medo, pressões, cobranças, competitividade e preocupações decorrentes da atividade laboral são as maiores fontes de aumento do estresse no ambiente de trabalho e podem trazer doenças como insônia, taquicardia, dores abdominais, nervosismo, angústia, depressão e etc., pois o organismo humano é um conjunto de órgãos e sistemas que trabalham juntos e quando a mente não vai bem nada vai bem.”

E as doenças decorrentes do estresse laboral podem ser evitadas se a empresa se preocupar em desenvolver técnicas para inibir as excessivas cobranças e exigências de padronização pessoal, deve-se praticar políticas de socialização e incentivar o lazer, cabe aos profissionais de saúde alertar as empresas de que um funcionário saudável é sinônimo de empresa saudável e produtiva. 

 

4. CONCLUSÃO

O estresse é o chamado “mal” do século, assim conceituado erroneamente pelos leigos, visto que os estudiosos do assunto concluem que o estresse trata-se de um fenômeno de adaptação do ser humano a necessidade de reagir a novas situações impostas a ele.

Assim com base nas afirmativas dos doutores citados ao longo deste trabalho, podemos concluir que o estresse é uma espécie de contra resposta a situações positivas ou negativas de acordo com que é proposto.

O tipo positivo de estresse é o estresse no qual o indivíduo demonstra garra, determinação, motivação e ânimo predispostos a partir de felicidade, saúde, longevidade e que estimula as pessoas a lidar com as situações de estresse com criatividade, coragem e empenho; já o destresse é originário de uma sobrecarga emocional reprimida que pode originar doenças físicas ou psíquicas, tais como: doenças gástricas, problemas de pressão, gastrite, dores musculares, depressão, insônia, falta de ar, entre outros sinais e sintomas.

Quando o ambiente de trabalho deixa de ser um lugar agradável no qual se desenvolve os projetos de realização profissional e passa a ser um local de tristezas, angústia, perturbações, humilhações e etc. onde as frustrações fazem parte do cotidiano do trabalhador. E ao invés de ter prazer em trabalhar sente-se obrigação de realizar as tarefas laborais e a cada vez que comete um erro no trabalho se sente incapacitado e infeliz e mesmo assim cada vez erra mais.

No ambiente de trabalho a rotina é estabelecida, via de regra pela gestão da empresa que coordena as ações e atividades laborais supervisionadas por um superior hierárquico, mas para o ser humano que possui características peculiares ter que seguir uma conduta idêntica aos outros é um sacrifício muito grande.

A necessidade de especialização profissional expõe o trabalhador a um estresse negativo já que este tem que se dividir entre o trabalho, os estudos e a família; e a competitividade e o mercado concorrente fazem surgir uma preocupação psíquica que pode desestabilizar emocionalmente o indivíduo.

A saúde do trabalhador com a manifestação do estresse negativo (distresse) pode evoluir para o aparecimento de uma doença mental e psicológica; tremores ou sensação de fraqueza; tensão ou dor muscular; inquietação; fadiga fácil; falta de ar ou sensação de perda de fôlego; palpitações; sudorese, mãos frias e úmidas; boca seca; vertigens e tonturas; náuseas e diarréias; rubor ou calafrio; polaciúria (aumento do número de urinadas); bolo na garganta; impaciência; resposta exagerada à surpresa; dificuldade de concentração ou memória prejudicada; dificuldade em conciliar e manter o sono; irritabilidade, pressão alta, dores no peito, ataque epilético e etc.

Deve-se procurar manter dentro do ambiente de trabalho uma política social voltada para o bem estar comum dos funcionários, realizarem tarefas organizadas, promulgar reuniões informais e praticar o respeito mútuo no que diz respeito às diferenças culturais, sexuais, de raça e crédulo religioso, pois a saúde das pessoas é algo muito delicado e cada organismo possui seu próprio limite e este limite tem que ser respeitado por todos.

É de suma importância que a equipe de enfermagem do trabalho presente nas empresas esteja apta a identificar os sintomas do estresse laboral a fim de viabilizar a reversão do quadro de estresse laboral coibindo a evolução do quadro para uma doença física e psicológica.

                                         

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 BAUMGART, Amália. Lecciones Indroductorias de Psicopatologia. 2. Edição. Buenos Aires: Eudeba, 2006.

2 CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. São Paulo: Editora Atlassa. 1995.

3 COHN, Amélia; ELIAS, Paulo Eduardo. Saúde no Brasil. Políticas e Organização de Serviços. São Paulo: Cortez, 1996. p. 248.

4 COLEMAN, V. Técnicas de controle do estresse: como administrar a saúde das pessoas para aumentar lucros. Rio de Janeiro: Imago. 1992.

5 Deitos, F. O  mito de Ulisses.   Santa Maria: Kaza do Zé. 1997.

6 DEJOURS. Christophe. Revista Brasileira de Saúde ocupacional, n. 54, v. 14, maio - jun., 1995.

7 DEJOURS, Christophe. A banalização da Injustiça Social. Tradução por: Luiz Alberto Monjardim. 4. Ed., Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001. Original: Souffance en France: La Banalisation de L’ injustice Sociale.

8 FRANÇA, A. C. L. & Rodrigues, L. A. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas. 2005.

9 Frankenhaeuser, M. Lundberg U & Forman, L. Dissociation between sympathetic – adrenal and pituitary – adrenal responses to an achievement situation characterized by high controllability comparison between type A and type B males and females. Biological Psychology 10:79-91. 1980.

 

10 Goleman, D. Inteligência Emocional.  Rio de Janeiro: Objetiva. 1995.

 

11HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: A violência perversa no cotidiano. Marie-France Hirigoyen; tradução de Maria Helena Kühner.  – 11. Ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. P. 172 - 173.

 

12 JÚNIOR, Francisco da Costa e MEDEIROS, Marcelo. Alguns Conceitos de Loucura entre a Psiquiatria e a Saúde Mental: diálogos entre os opostos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusp/v18n1/v18n1a04.pdf acessado em: 21/02/2012 as 12: 20.

13 LOPES, José Leme. A história da Loucura, esquizofrenia e psicose. Palestrante proferiu conferência em 1988, transcrita em 2000, submetida à revisão do psiquiatra Paulo Delgalarrondo.

14 MARCON M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 7ed. São Paulo: Atlas, 2010.

15 MOLINA, o. estresse no cotidiano. São Paulo: Pancast. 1996.

 

16 MURTA, G. S. & TRÓCOLLI, T. B. Avaliação de Intervenção em Estresse Ocupacional.  Revista Psicológica: Teoria e Pesquisa, l, (2): 39-47. 2004.

17 NICOLAE, Eduard Luttwak. Capitalismo-Turbo: Vencedores e Perdedores na Economia Global. Eduard Luttwak Nicolae; tradução de Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 46.

18 PEIRÓ, J. M.; Salvador, A. Estrés Laboral y su Control. Madrid: Endema. 1993.

19 Santos, M. A. A constituição do mundo psíquico na concepção winnicottiana: uma contribuição à clínica das psicoses. Psicologia, Reflexão e Crítica, 1999, 12(3), 603-625.

20 SELYE, H. The stress of life. Y: McGraw-Hill. 1956.

21 SILVA, D.C.M; LOUREIRO, M.F; PERSE, R.S.Burnout em profissionais de enfermagem no contexto hospitalar. Psicol. Hosp. 2008, Abr; 6(1). 39-51.

22 SILVA, E.L [et all...] Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 4° edição revisada. Florianópolis; 2005. Disponível em: https://projetos.inf.ufsc.br/.../Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de... Acesso dia 21/04/2015 as 01:34h.

23 __________ (1997).  Verdades simples, mentiras essenciais: a psicologia da auto-ilusão. Rio de Janeiro: Objetiva.

24 __________ (1998). Trabalhando com a inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.