ESTRATÉGIAS DE LEITURA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

 

 

O ensino de segunda língua não é mais relacionado, exclusivamente, a traduções. Segundo Titone (1989), o aluno precisa ter a compreensão e o pensamento na língua estrangeira; e, para desenvolver essa capacidade, a leitura é uma forte aliada. Nos estudos de O’Malley (apud Colaço, 2000), podemos constatar as “Estratégias de Leitura” como mecanismos metacognitivos que o leitor se utiliza para realizar a leitura. Dito isso, podemos concluir que as estratégias facilitam a leitura, no sentido de orientar o processo de codificação e decodificação de mensagens textuais. 

Palavras-chave: leitura – metacognição – aquisição de língua estrangeira.

 

INTRODUÇÃO

       Atualmente, renomados linguistas, pedagogos, entre outros estudiosos, estão investigando o processo de leitura, isto é, como se dá esse ato exclusivamente humano. A leitura é mais que uma fonte de informação, ela pode ser uma ponte entre o homem e o mundo. Segundo Paulo Freire (2001), o ato de ler começa pela nossa visão de mundo, ou seja, antes de aprender a ler e compreender textos, é preciso aprender a ler e compreender o mundo.

       No que diz respeito à Psicolinguística, o processo de leitura pode ser analisado também através do estudo das estratégias de leitura. Tais estratégias são mecanismos mentais que o leitor utiliza conscientemente para facilitar o ato de ler, seja uma leitura em língua materna ou em língua estrangeira.

REFERENCIAL TEÓRICO 

          O projeto a ser desenvolvido encontra-se no campo da Psicolinguística, e, para iniciar o embasamento teórico do mesmo, é imprescindível definirmos essa área.

          A Psicolinguística é o estudo do processo de aquisição da linguagem ou de língua, seja materna ou estrangeira(s), fazendo também o estudo dos mecanismos mentais que tornam possível o uso da língua. Para Titone “a psicolinguística, literalmente, como o nome diz, está basicamente interessada na linguagem como um fenômeno psicológico e, mais especificamente, com a linguagem do indivíduo”. É esse aspecto que diferencia a Psico da Sociolinguística. A primeira preocupa-se com o estudo da aquisição da linguagem em uma visão do individual, enquanto a segunda, em uma visão do social. 

         Para estudarmos as estratégias de leitura na aquisição de uma segunda língua, faz-se necessário, ainda, um breve olhar pelo processo de ensino – aprendizagem da segunda língua.

         Slama – Cazacu (1989) afirma que é preciso haver uma conjunção entre os termos aquisição e ensino de línguas, apesar de deixar bem claro que há diferenças entre os dois, já que a aquisição pode se dar sem um instrutor ou professor e o ensino, não.  

          A autora coloca que, embora seja fundamental conhecer a construção feita pela criança na aquisição da língua materna já internalizada, não é indicado tentar ensinar uma segunda língua seguindo os moldes de aprendizagem de língua materna. Um fator que impossibilita essa metodologia, é o da idade, por mais que uma criança inicie bem cedo, ela não estará mais na fase inicial de balbucios, e, se for um adulto, até torna-se ridículo iniciar com ele um balbucio em espanhol, por exemplo.

         O ideal é que se faça o estudo da segunda língua, tendo o código anteriormente assimilado (língua materna) como um fundo de orientação. Apesar disso, ainda há vestígios do ensino tradicional de língua estrangeira, como as listas intermináveis de palavras a serem decoradas, gramática normativa e traduções. Daí surge a discussão sobre o que é mais indicado ao aluno: traduzir ou pensar em língua estrangeira?

          Segundo Titone (1983), ao traduzir, o aluno realiza uma atividade mental de substituir o código estrangeiro pelo código nativo, ou vice-versa, o “trans-codificar”, ou seja, procurar mudar o significante de uma língua para o de outra, sem mudar o significado. Já o ato de pensar em língua estrangeira, exige um conhecimento bem mais aprofundado da língua e requer a capacidade de transferir não só signos, mas também refletir a língua e suas sentenças, para utilizá-la adequadamente em situações de comunicação, portanto o aluno que só domina a tradução, não está preparado para produzir textos orais e escritos, a fim de comunicar-se, o que é essencial em qualquer língua.

          No ensino de línguas estrangeiras, as estratégias de leitura são uma forte aliada dos “novos falantes”. Para Pearson (apud Pinzás, 1997), a compreensão na leitura depende de dois tipos de fatores: de conteúdo e de processos. O primeiro subdivide-se também em dois: as estruturas do conhecimento da memória semântica, ou seja, nosso banco de informações que permite uma melhor compreensão de textos sobre temas já conhecidos ou que temos conhecimento prévio; o outro fator de conteúdo é o que influi sobre a compreensão, pois é o conhecimento da estrutura de texto conforme seu gênero literário, seria a visão geral do texto. O segundo fator, o de processos, refere-se ao momento em que o leitor dispõe-se a processar o que lê, inclui-se aí a atenção, a codificação, a inferência, o depósito de memória e evocação.

         No ato de ler, o nosso cérebro realiza processos conscientes e processos inconscientes; essas são processos cognitivos, involuntários ao indivíduo, enquanto aquelas são as atividades metacognitivas nas quais há intencionalidade e ação do leitor, no sentido de facilitar a leitura.

         Portanto podemos dizer que há, ainda que mínima, uma diferença entre cognição e metacognição, pois a primeira se dá quando estamos lendo normalmente e a segunda, quando percebemos que não estamos entendendo alguma coisa e fazemos algo para resolver essa situação, ou seja, temos uma intenção, agimos conscientemente. Assim, podemos dizer também que a  metacognição são atividades planejadas, reflexivas e intencionais.

         Dito isso, queremos evidenciar que o enfoque principal nesta pesquisa: as estratégias metacognitivas de leitura. Para Van Dijk e Kintsch (apud Colaço, 2000) o termo estratégia refere-se à ”ideia que um agente tem acerca da melhor forma de atuar com finalidade de alcançar uma meta”. Então as estratégias de leitura são as ações do leitor em relação ao que lê, como ele realiza a leitura, se faz anotações, se faz resumos, se destaca só o que o interessa, ou só o que não entendeu, em fim, é a manipulação do texto.

          Anne Brown (apud Colaço, 2000) apresenta uma tipologia de estratégias de leitura: as de aprendizagem e as de comunicação. As estratégias de aprendizagem referem-se à memória e têm por finalidade a aprendizagem, enquanto as estratégias de comunicação referem-se à produção de mensagens com finalidade consciente de comunicar uma determinada mensagem para um determinado momento.

         Em uma visão de leitura como um processo de cognição e metacognição, é imprescindível termos bem claros esses dois conceitos, porém trataremos aqui das estratégias metacognitivas de leitura.

         O’Malley (apud Colaço, 2000) aponta as estratégias de leitura, vejamos três delas que consideramos as mais apropriadas para análise já proposta:

         Organizadores antecipatórios ou elementos contextualizadores: têm a função de antecipar ao leitor o assunto principal do texto, ou seja, contextualizar, são elementos como título, subtítulo, legendas, gravuras, gráficos, destaques, data, fonte, local de publicação, entre outros.

          Atenção seletiva: o leitor seleciona ideias relevantes no texto, de acordo com seus objetivos previamente estabelecidos, então ele faz resumos, sublinha, faz esquemas, ignora palavras ou frases não entendidas, ou seja, ocupa-se somente com aquilo que chamou sua atenção, tudo em um mesmo texto. Aí se encontra a diferença entre atenção dirigida e atenção seletiva. A primeira é o direcionamento da atenção de um texto para outro, enquanto a segunda é a seleção de ideias dentro de um mesmo texto.

          Auto-avaliação: é a ato de avaliar seu próprio desempenho como leitor ou o grau de satisfação com a leitura. Quando o leitor está entendendo bem, seus olhos têm um movimento rápido, mas, quando o entendimento está mais lento e o texto mais complexo, esse movimento tem ritmo mais lento. 

         

         Foucambert (apud Colaço, 2000) coloca que ler requer estratégias sempre, pois é associar nosso conhecimento prévio às novas descobertas que encontraremos em nossas leituras. Assim, tendo estratégias eficientes, nossa leitura também assim o será, seja em textos de nossa língua materna ou de uma segunda língua.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  

          Através do referencial teórico e da análise dos dados coletados neste trabalho, constatamos novos conceitos de leitura, sendo que essa não pode mais ser vista como um processo de codificação, ela é bem mais abrangente, é uma ponte entre o homem e o mundo. Todavia não há leitura sem o hábito da leitura em todas as situações de nossa vida, mas principalmente no processo de aquisição/aprendizagem de uma segunda língua. Quanto maior o contato com a língua em estudo, mais rápido e fácil será a sua aquisição/aprendizagem.

         Quanto às estratégias, podemos afirmar que quanto mais e melhor as utilizamos melhor será nosso desempenho como leitores. O bom leitor usufrui todas as estratégias no momento adequado, tornando-as suas “companheiras” de leitura, proporcionando uma interpretação coerente e, o mais importante, relacionado o texto lido com seu conhecimento prévio, ou seja, sua vida, o que faz cumprir a verdadeira função da leitura, seja em língua materna ou em língua estrangeira

 

BIBLIOGRAFIA BÁSICA 

          COLAÇO, Silvania Faccin. Diagnóstico das estratégias metacognitivas na leitura de textos dissertativo-argumentativos na 3a série do Ensino Médio. Porto Alegre: PUC, 2000. (Dissertação de Mestrado)

          FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortes, 2001.

          FULGÊNCIO, Lúcia & LIBERATO, Yara. Como facilitar a leitura. São Paulo: Contexto, 1992.

         MOITA LOPES, Luiz Paulo. Oficina de Linguística Aplicada: a natureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de línguas. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

        ORLANDI, Eni Pulcinelli (org.). A leitura e os leitores. Campinas: Pontes, 1998.

          PINZÁS, Juana. Metacognición y Lectura. Pontificia Universidad Católica del Perú, 1997. 

         SLAMA-CAZACU, Tatiana. Psicolinguística aplicada ao ensino de línguas. (Trad. De Leonor Scliar Cabral). São Paulo: Pioneira, 1989.

          TITONE, Renzo. Psicolinguística Aplicada: introdução psicológica à didática das línguas. (Trad. De Aurora Bernardini). São Paulo: Sumus, 1983.

          WISCHÑEVSKY, Amalia. ¿A qué juegan las palabras? Estrategias para la creatividad linguística. Buenos Aires: Printed, 1994.

          Texto-fonte:

         CAMPRUBÍ, Joana Bonet. In: Marie Clarie. Sept. 1998, n 132.

 

INTERNET:

Professor João Sedycias

http.://home.yawl.com.br/sedycias