Estratégia em pecuária de corte (Parte I)

Não se têm noticias exatas de como a pecuária nacional iniciou o seu desenvolvimento. Têm-se notícias de alguns relatos de valor histórico, como a chegada das primeiras unidades animais trazidas que foram pelos portugueses, locadas que foram na zona costeira norte do BRASIL. Assim como temos notícias vindas do sul do BRASIL, onde os jesuítas, nas suas andanças missioneiras, conseguiram trazer tanto da Argentina como do Uruguai algumas cabeças de gado. Mas os apontamentos gaúchos nos informam da existência de inúmeras cabeças de gado bovino criadas à solta pelos pampas e cochilas a tal ponto dos índios charruas camperearem na busca de carne fácil e farta.

E a pecuária nacional sempre foi como temos dito, um instrumento de frente de abertura de novas fronteiras agropecuárias, levando consigo inúmeras famílias que se instalam nessas novas áreas e promovem o progresso. Mas um dia é chegado em que todas estas movimentações de ocupação de espaços passarão a ser questionadas e deverão receber a devida atenção. Inclusive quando se tratam de sistemas criatórios de volume considerável, ou ainda em regiões onde o solo apresenta algumas limitações, ou seja, lá, por alguma insuficiência de manejo e planejamento da área total, que possa vir a ser questionada por movimentos desordeiros de cunho social, que passam a reivindicar tais áreas para si como que sendo os justiceiros sociais, travestidos de usurpadores e totalitaristas, que nos dias atuais, se movimentam e operam com a salvaguarda dos elementos exponenciais do atual governo.

Política à parte vamos tratar do assunto.

Quando o escriba da nau portuguesa informou ao rei de Portugal que "em aqui se plantando tudo dá", omitiu de forma involuntária que "em aqui se criando, também tudo dá". E este é fato em si. O que não se cria no BRASIL? Afora os iaques e bisões, em termos de ruminantes, este BRASIL apresenta condições inauditas em termos de capacidades criatórias. E tais condições, em vez de nos fornecer situações de um melhor desenvolvimento, muitas vezes nos causam alguns embaraços e complicações. Os complexos pecuários de corte, por razões de necessidade, sempre estarão distantes dos complexos de abate, distribuição e comercialização. Nós já presenciamos um caso em que uma cadeia de supermercados, para atender as necessidades de fornecimento de carne bovina, pratica compra de carcaças a distâncias de mais de 1.000 quilômetros de Curitiba. E então temos a seguinte pergunta: por que tal situação? Será que o Estado do Paraná não apresenta condições de abastecer esta cadeia de supermercados, localizada em Curitiba? Tais situações tornam proibitivo o consumo de carne bovina por classes menos abastadas, em virtude de uma agregação de custos, que aparece embutida como sendo a de transporte.

No nosso entender, em sendo o BRASIL um país de formação continental, favorece um impulso, digamos, desordenado da atividade pecuária bovina para o corte. Nos parece que, em virtude do que já se apresenta como instalado e definido, haveria a necessidade de se iniciar alguns estudos relacionados com a Estratégia Pecuária. Ousamos sugerir alguns detalhes, se bem que de forma modesta, ante a existência de inúmeros colegas com maiores aptidões. Vejamos então:

Levantamentos agroecológicos:

  • Localização geográfica e divisões sócio-administrativas e político-administrativas:
  • Situações de melhor aproveitamento topográfico e obediência aos limites topográficos:
  • Condições de clima em relação às raças a serem criadas:
  • Geologia, em razão das capacidades de instalações de sistemas criatórios, inclusive em se tratando de solos que apresentem limitações:
  • Fisiogeografia e solos, respondendo aqui pela parte nutricional e suas limitações, inclusive no que se refere às necessidades de correções e suplementações de nutrientes - N.P.K. - quando não de micronutrientes e traços básicos:
  • Respeito e obediência a tudo o que se refere à Ecologia e em especial a sítios ecológicos:
  • Tipo e forma de vegetações existentes.

 

Situação sócio-econômica:

  • A organização familiar como um todo e em especial a relacionada com a mão-de-obra:
  • Qual será o impacto em termos das populações existentes e em relação à demografia, no sentido de produzir para estas populações e sua capacidade de absorver a produção e, ainda, sua capacidade financeira para tal:
  • Sistema educacional não só para se entender como necessário para os empreendimentos em si, mas todos os correlatos a tal:
  • Migrações internas e suas conseqüências, em especial aos seus costumes e tradições:
  • Sistemas de produção de alimentos básicos para todos os que operam e participam da Cadeia Pecuária de Bovinos de Corte, já instalada ou a ser instalada:
  • Existência de sistemas de saúde pública e de atendimento clínico-hospitalar:
  • Posse mansa e pacífica da terra, respeitando situações que possam gerar conflitos e em especial ao que se refere às áreas indígenas e/ou passíveis de conflitos agrários, levando-se em consideração a necessidade de se exigir junto aos Cartórios de Registro Imobiliários, no mínimo uma Certidão Centenária.

    Localizações de Projetos já instalados e a serem instalados: pontos a considerar:
  • Situação geo-espacial e vantagens locacionais:
  • Impactos sociais e perspectivas de aproveitamento de mão-de-obra local e a geração de novos empregos, com a absorção de mão-de-obra local e importada:
  • Quais os aspectos econômicos a serem gerados, levando-se em conta o social, o econômico e a infra-estrutura existente e ou a ser implementada:
  • Quais serão os impactos relacionados com o aumento de renda familiar, para os partícipes, de forma direta ou indireta de um Projeto Pecuário de Corte:
  • Que impacto causará a existência de um Projeto Pecuário de Corte e ou implantação futura, nos aspectos valorização da terra, desmobilização fundiária já existente, concentração fundiária, êxodo rural, descaracterização de sistemas produtivos já existentes e consolidados:
  • Sobre o aspecto terra, haverá a necessidade de efetuar um aprofundado estudo relacionado com as possibilidades da adoção do sistema integração lavoura/pecuária: quando não, quais serão os impactos relacionados com conseqüências diretas e indiretas em relação à valorização pecuniária da terra como um todo:
  • Quais são os cuidados relacionados com a fauna e a flora, levando-se em consideração a biodiversidade que antes existia e existe no momento passado e presente:
  • A genética como fator preponderante, isto é, onde se acentua a necessidade da opção técnica para o uso correto deste recurso, em relação não só à raça como um todo, mas das possíveis interações com o meio:
  • Os impactos sociais advindos da abertura de novas áreas para implantação de pastagens e o desequilíbrio ecológico:
  • As alterações de clima e sistema de chuva, que a longo tempo poderão interferir no ecossistema.

A estratégia pecuária para a alimentação animal: pontos a considerar:

  • Relação espécie, variedade e cultivar. Clima/topografia/solo:
  • Aproveitamento das espécies nativas - leguminosas - na consorciação de pastagens:
  • Consultas a organismos regionais de pesquisas especializadas em pastagens:
  • Consultas a pecuaristas já instalados:
  • Bancos nativos de proteína vegetal:
  • Utilização de alternativas para instalação de banco de proteínas de origem vegetal:
  • Introdução de novos cultivares e variedades:
  • Alternativas de sistemas de uso de alimentos: resíduos industriais (polpas, bagaço de cana, resíduos de destilarias de cerveja):
  • Condições favoráveis de clima, solo e topografia para a produção de suporte alimentar na entressafra (ensilagem, fenação, pasto irrigado):
  • Sistema de pastoreio a ser implantado - intensivo, rotacionado, extensivo:
  • Qual o tipo de exploração pecuária a ser implantada em relação à espécie, variedade e cultivar, clima, topografia, solo:
  • Qual a produção estimada de Matéria Seca/hectare/ano, em relação ao tipo de exploração pecuária a ser implantada.