Thiago B. Soares[1]

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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

 

A beleza é a eternidade mirando-se num espelho

Mas vós sois eternidade e vós sois o espelho.

(Khalil Gibran)

 

            Da Estética (do grego aisthesis, “sensação”) há muito que se dizer– seu uso se efetiva a partir de Baumgarten em 1750 – e para não nos perdemos nesse vasto caminho, seguimos as pegadas de Cortella ao asseverar que “Ao falar sobre a Estética no final do século 19, o escritor francês Émile Zola disse que a ciência do belo é uma brincadeira inventada pelos filósofos para grande hilaridade dos artistas” (2011, p. 127; itálico do autor). Nesse sentido, a Estética é um campo da filosofia, como bem coloca Giacoia Jr. (2010, p. 75): “Parte do campo da filosofia que estuda o belo e suas condições, assim como a obra de arte e o juízo do gosto”; mas quiçá não tenha sido “criada” para o entretenimento dos artistas tal como coloca Émile Zola. Nem iniciamos um comentário sobre o que é Estética e já temos algumas definições nas quais percebemos estranhezas. Em outras palavras, embora haja uma definição de Estética como sendo uma ciência do belo, há, por outro lado, diversas concepções de belo, beleza e Arte. Tentaremos, na medida do possível, passar em revista sucintamente por algumas delas.

            Iniciamos por entender o que vem a ser a arte, ou melhor, arte com “a” maiúsculo, que se diferenciaria de qualquer coisa ligada a ela por deslizamento metafórico, para tanto convocamos um filosofo contemporâneo, a saber, Comte-Sponville para quem:

A arte é um feito do homem. Nem o ninho do pássaro nem seu canto são obras de arte, como tampouco a colmeia ou a dança da abelha. Não é a beleza que faz a diferença. Que pintor figurativo poderia pretender que suas obras são mais belas do que a natureza nos oferece, que ele imita sem poder igualar? Que pintor abstrato fará melhor do que o céu ou o oceano? Que escultor, melhor do que a vida ou o vento? E quantos músicos nos agradam menos, infelizmente, do que qualquer rouxinol? (2002, p. 101).

 

Sendo assim, temos certa liberdade para dizer, então, que a arte são manifestações de feitos humanos perante os quais nosso sentimento é o de contemplação e admiração. Todavia, a cultura é uma das maiores configuradoras não só do que o ser humano faz, mas, sobretudo, do que ele admira. Portanto, nesse diapasão, temos intuição do que é arte, ainda que essa varie muito de pessoa para pessoa.

            Hegel (1770 – 1831) é quem redefine o conceito de belo e aparência, por conseguinte, a ideia de arte também é afetada. Para ele o belo artístico é superior ao natural, a arte não é imitation como era para Aristóteles (384 – 322 a. C.), nem é uma ilusão tal como a metafísica platônica propunha. Nas próprias palavras de Hegel (cf. 2008, p. 121):

É inútil a crítica estética pretenciosa exigir que o conteúdo material não determine nosso prazer estético, sustenta que a forma bela ou a grandeza de imaginação ou coisas afins sejam o objetivo das artes. Considerando-se que os épicos indianos estejam no mesmo nível dos homéricos devido a muitas qualidades formais como a grandiosidade criativa e inventiva, a vivacidade de emoções, a beleza da dicção, resta ainda uma infinita diferença de conteúdo e, portanto, o essencial.

           

            Nessa linha de raciocínio, a arte, longe de ocultar a verdade, mas, isto sim, é ela quem desdobra e revela uma forma sensível, e, por sua vez, corresponde ao “real” histórico. Noutros termos, a arte é um dos meios mais íntimos de dialogo dos homens com oZeitgeist, isto é, o espirito do tempo.

            Outro filósofo que trata a questão Estética da arte é Nietzsche (1844 – 1900) para quem essa questão está atrelada ao trágico. Ambos os temas atravessam a filosofia desse fino pensador pela articulação fundamental do estado de contradição humano, sendo que para esse a salvação reside na criação artística, a qual, numa palavra, éa expressão máxima da sublimação da vida entre as potencias destrutivas e criativas. Ele diz que

Teremos feito muito para a ciência estética quando tivermos chegado não somente à observação lógica, mas também à imediata certeza dessa tomada de posição, segundo a qual o desenvolvimento da arte está ligado à dualidade do dionisíaco e do apolíneo: da mesma maneira que a dualidade dos sexos gera a vida no meio de lutas perpétuas e por aproximações somente periódicas. Esses dois instintos tão diferentes caminham lado a lado, na maioria das vezes em guerra aberta, e incitando-se mutuamente para novas criações, sempre mais robustas, para perpetuar nelas o conflito desse antagonismo que seu designativo “arte”, comum a ambos, somente encobre (cf. 2007, p. 27; aspas do autor).

 

Nietzsche vê nessa uniãoo gênio da arte grega e ocaráter do trágico como expressão do fundamento da existência e do mundo. Desse modo, a arte proporciona uma visão penetrante sobre a vida cujo matiz é dissonante, entre sofrimento e vida, destruição e construção.

Diante de tudo o que expomos, ou seja, perante um “lampejo” pueril a respeito da Estética, muito ficou encoberto, pois sabemos que “cortes” precisam ser feitos para exprimir algum conhecimento de forma compreensível, se não fosse por este caminho começaríamos por: “Um traço de cor apenas sugerido, o corpo de um animal gravado na pedra... O homem começa a realizar gestos inéditos, como que para dar testemunho de seu próprio mistério” (LANGANEY [et. al.], 2002, p. 63).

 

Referências

COMTE-SPONVILLE, A. Apresentação da Filosofia. Trad.Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

CORTELLA, M. S. Não espere pelo epitáfio...: Provocações filosóficas. – 11° ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

GIACOIA JR., O. Pequeno dicionário de filosofia contemporânea. – 2ª ed. – São Paulo: Publifolha, 2010.

GIBRAN, K. O profeta. Trad. BettinaGertrum Becker. Porto Alegre: L&PM, 2012.

HEGEL, G. W. F. A razão na História: uma introdução geral à Filosofia da História. 3ª ed. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2008.

LANGANEY, A. [et. al]. A mais bela história do homem. Trad. Maria Helena Kühner.  Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.

NIETZSCHE, F. W. O nascimento da Tragédia: Ou Grécia e Pessimismo. Trad. Antônio Carlos Braga. São Paulo: Editora Escala,2007.