Estágios na Maçonaria

 

 

É muito comum encontrarmos no seio de qualquer sociedade, pessoas com real interesse em entrar para a Maçonaria. Uns, por curiosidade, outros, por vontade de ficar ricos, e já vi até quem dizia estar “revoltado com deus” (minúscula proposital).

Realmente, entrar para a referida instituição é muito fácil e razoavelmente simples: mande mensagens à alguma Loja através dos vários endereços eletrônicos existentes hoje em dia, manifeste sua vontade e se realizarão alguns procedimentos e sincâncias. Pronto! Dentro em breve serás contado entre nós, caso realmente mereça.

Entretanto, quando entramos na Ordem, no dia e durante nossa iniciação, juramos um bocado de coisas das quais ainda nem sabemos se somos capazes de cumprir, e muitos realmente não estão. As provas, como sabemos, são recheadas de desafios intelectuais e morais e NÃO, infelizmente para alguns e definitivamente para outros, NÃO fazemos pacto com qualquer entidade que possa existir no mundo sobrenatural, mormente com o capeta! Temo desapontar uma meia dúzia de idiotas e mais um terço de pseudo-estudiosos das seitas secretas correlacionadas com venda, hipoteca ou ainda empréstimo de almas de amigos e parentes.

A filosofia que traz a Ordem é das mais emblemáticas, e o que trato nesse artigo não é capaz de violar meu juramento, mas esclarecer tanto para o público interno quanto para os futuros pretendentes, que depois de um estudo prolongado e minucioso, fui capaz de identificar alguns estágios pelos quais passam alguns Maçons; me refiro àqueles que realmente conseguiram alçar essa senda. Lembro que não basta para isso entrar para a ordem. É preciso dominar a serpente, temida por muitos, odiada por alguns e pertencente a uma minoria.

A paixão impulsionadora se revela de maneira precoce. Excetuando-se aqueles que são convidados por interesses políticos (minha hipocrisia não é tão grande a ponto de negar certas ocasiões, sem abranger Pedro II), a maioria dos neófitos demonstra certo anseio que foge dos limites da normalidade, revelando-se com verdadeira e intensa paixão. Não que seja ruim, mas sabemos não ser sentimento duradouro.

Logo após o ingresso, diante das imensas dificuldades em lidar com a vaidade, com o apreço pelas coisas supérfluas e pelo contraste de ideias, muitos se deparam sorrateiramente com a DECEPÇÃO. Na verdade, esse sentimento abrange a maioria esmagadora dos Maçons, regulares ou não (uma vez que não existem ex-maçons). Diante desse obstáculo, muitos migram para outras Lojas, no intuito de conseguirem superar dificuldades encontradas em sua Loja-Mãe. Espreita-os novamente tal fantasma, inegavelmente, vez que não há como resolver um problema fugindo dele.

Outros simplesmente adormecem, desistem da carreira maçônica, escrevem livros sobre como foi sua recepção pelo diabo e as mais fantasiosas anedotas com suas facetas cômico-trágicas.

Há aqueles que conseguem perseverar em tão fatigante senda, experimentando a RESIGNAÇÃO. Percebem quão grandiosa é a idéia principal da Ordem; lutam contra seu orgulho, sua vaidade e percebem que o pó voltará ao pó. Consternam-se com algumas atitudes de alguns profanos que teimam em usar avental e contarem-se como Maçons que não são.

A resignação é variavelmente acompanhada de certo amadurecimento moral, intelectual e, para quem acredita, espiritual. É uma chave poderosa para se abrir a porta do setentrião, principalmente quando está em Saturno. É experimentando este ânimo desapaixonado, desapegado de ilusões toscas e prematuras, que percebe-se o quanto a Maçonaria é capaz de influenciar a saga da humanidade, influindo, inclusive, àqueles realmente compromissados em tal missão.

Resignado, não se percebe mais que o tilintar de moedas se faz presente na mão durante o tronco, sabendo que um pote jamais será vaso; não se dá falta de determinado membro no hospital a visitar o aprendiz enfermo (mas ah, se fosse o Grão-Mestre); no velório, o resignado preocupa-se em acalentar a viúva e os sobrinhos, e não em saber das conseqüências financeiras que isso vai nos causar; Somente um resignado é capaz de fazer a esperança sem trotes imbecis, motivado pela comicidade que não existe no dia da morte profana.

Enfim, aprende-se, através da decepção e conseqüente resignação, que é possível amar a ordem. O AMOR, referido neste artigo, não alude àquele carnal, cujas pretensões geralmente são satisfação pessoal ou de outrem; não é amor a se pôr à prova; não se trata da futilidade alicerçada em explicações bonitas, recheadas de intensos sentimentos e devaneios, que geralmente vociferam palavras que, dois dias depois, sequer são lembradas.

O amor sublime à Ordem, que só os verdadeiros iniciados conseguem sentir, é citado em muitas reuniões, festas brancas e pompas fúnebres, porém não necessariamente experimentado por seu locutor. Dizer não é sentir, e amar não é pedir.

É possível que em sua crítica, daí de cima do administrativo, real segredo, seja opaco a ponto de ser algoz, mas sou ousado suficiente para lembrar-vos que jamais vi cavaleiro usar avental alvo, senão quando naquele estágio se encontrava. Sabemos que o motivo disso é vaidade. Não tem como ser outro. Digo-o porque já o fiz. Por amor? Não creiais, é que não havia outro, e não me corou sentar no topo da coluna do norte, sem saberem os oficiais, além do receptor de minha CIM, de minha posição em Loja. De que serviria?

Decepção, resignação e amor. Distantes termos, encontrados numa proximidade assustadoramente real. Real como a arte. Arte de auto iniciar-se; Não é solitária a vida do mago?

Kleber William Antunes da Silva, Mestre Maçom e Eterno Aprendiz.