Universidade Aberta à Terceira Idade

A Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) está localizada dentro da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), procura receber idosos com faixa etária igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, de qualquer classe sócio-econômica, atende atualmente 600 alunos próximos a área de localização da Universidade, mobilizando-os com oficinas diversas.

A UATI surgiu com a finalidade de estimular a prática consciente da cidadania por meios de socialização, abrangendo a saúde e proporcionando aos alunos um ambiente para estimular e exercitar atividades de livre expressão artísticas e culturais, resgatando a auto-estima e autoconfiança, através de uma formação teórica e prática.

A UATI é composta por uma equipe multidisciplinar das áreas de: pedagogia, serviço social, psicologia, nutrição, enfermagem, dentre outros.

Utilizam como técnica de ensino, um projeto pedagógico que visa oportunidades educacionais por meio da oferta de oficinas: teóricas, de expressões corporais e de trabalhos manuais. Visando ampliar as desenvolturas de acordo com a disposição de cada um.

As oficinas do núcleo de Aprendizagem Teórica têm como objetivo refletir sobre a realidade do Brasil e do mundo, considerando conceitos sobre cultura e meio ambiente. São compostas por: Oficinas de Inglês e Espanhol, Nutrição, Saúde, Memória e Identidade, Valorização do Idoso na Família, Tecendo Redes de Saberes.

As oficinas do núcleo de Aprendizagem Corporal têm como objetivo desenvolver o exercício de atividade física e lazer, enfatizando o melhoramento das condições físicas, psicológicas e sociais. São compostas por: Oficinas de Dança de Salão, Yoga, Teatro, Tai Chi Chaun, Dança do Ventre, Teatro.

E as oficinas do núcleo de Atividades Manuais têm como objetivo fortalecer a auto-estima e sociabilidade, e melhorar a coordenação motora. São compostas por: Oficinas de Pintura em tela, Pintura em Gesso e Madeira, Corte /Costura, Mãos e Criação, Artes Plásticas, Artes Regionais.

Essas oficinas não têm o desígnio de avaliar através de notas o aprendizado do aluno, mas sim estimulá-lo a alcançar o seu potencial Máximo.

Os alunos podem se inscrever em apenas uma atividade oferecida em cada um dos três núcleos, sendo obrigatório cursar uma oficina de Aprendizagem Teórica e uma de Aprendizagem Corporal, e fica a critério de escolha o núcleo de Atividades Manuais. Os alunos podem participar da mesma oficina várias vezes, sendo que há um incentivo por parte da UATI para que os alunos transitem por todas. O critério para manter a vaga na oficina é através da presença, sendo a mesma, se o aluno faltar mais de três vezes, perde a vaga.

Análise dos dados:

Na análise das observações foram escolhidas para serem identificadas cinco oficinas (Artes Plásticas, Tecendo Rede de Saberes, Dança de Salão e Dança do Ventre) que foram subdivididas em categorias (Relação Professor/Aluno; Relação entre os Alunos e Concepção de ser Idoso).

Artes Plásticas

Descrição: Sala pequena, com duas mesas amplas, ventilador, composta em sua maioria por mulheres.

Relação Professora/ Alunos: Nesta oficina pôde-se observar que a professora buscava sempre manter uma relação autoritária, sem proximidade com os alunos, exigindo a todo o momento silêncio e quietude. Nas observações, raramente havia oportunidades dos alunos conversarem entre si, a não ser quando iam discutir sobre alguma atividade realizada, ou sobre algum material proposto em aula e somente observaram-se conversas paralelas entre a professora e os alunos, quando a mesma estava explicando sobre a atividade ou fazendo-a.

Essa relação de distância pode ser observada em alguns relatos dos alunos:

A professora reclama com as alunas pelo fato de não terem levado as camisas para a realização da atividade e diz para não conversarem nem fazerem tumulto.

A professora em voz alta pede para fazerem silêncio e aluna diz: “Ela briga bastante com a gente” (Maria*)

Alunas começam a fazer a atividade sem a ordem da professora e a mesma pergunta por que não esperou ela para começar. Devido a isso a aluna fica com medo de errar e a professora diz que já que ela havia começado, que iria terminar.

Outra observação importante, é que este comportamento se contradiz quando se trata da atividade em si desempenhada. Nas situações em que o aluno necessita da ajuda da professora para tirar alguma dúvida ou para solucionar a atividade proposta, a professora se mantém disposta e atenciosa.

Helena* chama a professora devido ao fato de ter borrado a camisa e conseqüentemente sua pintura ficou uma porcaria. A professora a ensina como limpar a camisa caso ocorra de borrar nessas circunstâncias e diz: “Não estou vendo porcaria nenhuma, o problema de vocês é que no primeiro trabalho já querem perfeição, e também é a primeira vez que mechem com essa tinta”.

Marta* diz que não vai conseguir realizar a atividade, pois sua mão treme. A professora diz que ela conseguirá e pede para que a continue tentando.

 Relação entre os Alunos: As alunas apresentaram entre si uma relação bastante próxima, ajudavam-se entre si, até mesmo aquelas que não possuíam materiais, sentavam-se próximas umas as outras e opinavam e davam “firmeza” ao pano para que o trabalho saísse perfeito. Soraia* era vista pelos demais como líder, pela mesma se mostrar eficiente e tomar a liderança na ausência da professora, tanto nas instruções quanto nas realizações das atividades. Contudo, foi observado também que em algumas ocasiões, os alunos mantêm uma relação de afastamento com os demais, tanto em realização de atividade quanto em questões que envolviam a relação do professor com o aluno.

Júlia* chega atrasada para a aula, e se aproxima de um grupo, sentasse com Robson* que pede ajuda e ao tentar a ajudá-lo, Jamile* a interrompe dizendo que ele mesmo deveria fazer para melhorar a atenção e paciência.

Marcos* sentasse entre duas alunas e ao mesmo tempo em que esta realizando a atividade tenta conversar com elas. A aluna que apesar de aparentar prestativa, não mostrou interesse em dialogar com ele, e disse que o mesmo deveria sentar-se ao lado de Soraia* , pois era ela quem gostava de conversar.

Carla* bate o braço num saco de miçangas que seriam utilizadas para enfeitar a camisa, a aula que se encontra próxima começa a ajudá-la, porém quando vê a professora se aproximando, afasta-se. Carla* então pede desculpas para a professora e solicita para que as outras que estão próximas procurem ver se caiu alguma miçanga ao chão. Mas ninguém se manifesta.

Concepção de ser idoso (Saúde Física e Mental): As alunas apresentaram duas formas de lidar com a concepção de idoso, uma das observações, demonstraram otimismo por ainda se sentirem saudáveis e jovens.

Dora* leva um pacote de biscoito e nos oferece, dizendo que somos crianças, mais que ela era ainda mais.

Porém, quando se tratava dessa relação referente ao outro, balizam suas respostas baseadas nos princípios morais.

Duas alunas conversam sobre a vacinação da H1N1 e pergunta se ela já foi tomar a vacina, a colega responde que não e então ela diz: “Mas tem que se vacinar o quanto antes, essa gripe não é brincadeira”.

Jamile* diz para Julia* que estávamos ali para observar os velhos, então Julia* enfatiza que não se acha velha não, que se ela irá se achar com apenas 60 anos, imagine quando estiverem 80 anos.

Tecendo Rede de Saberes

Descrição: Sala ampla, com espelhos, ar-condicionado, composta apenas por mulheres.

Relação Professora/ Alunos: Pôde-se observar uma relação bastante próxima com os alunos, tratava-se de maneira igualitária, Mostravam-se reciprocidade e satisfação pelas atividades expostas. A professora busca fazer com que todos participem que falem sobre experiências pessoais, vivências, como meio do aluno expor qualquer angústia ou felicidade e através da fala e da expressão corporal, e através daí, buscar uma melhora. Mostra-se sempre atenciosa e disposta a ouvir os alunos, até mesmo quando uns falavam mais que os outros, ou quando fugiam do tema proposto, para falar da vida pessoal.

A professora solicitou que todos ficassem de pé e fizessem uma roda, em seguida agradece pela presença de todos e pede para que alguém se manifeste criando uma frase que servirá como um “grito de guerra” para aquele dia.

A professora recebe todos os alunos com sorriso e diz: “quem vem para participar não pode ficar só olhando”. Em seguida pega na mão e convida para participar da aula.

Relação entre os Alunos: As alunas mostraram-se bastantes solidárias umas com as outras, ainda mais quando a dinâmica era para dançar, as alunas puxavam umas as outras, revezado entre si, não demonstrando nenhum receio, nem vergonha em relação a estarem se expondo através da dança e da cantoria. Apenas em algumas situações em que estavam sentadas e alguma aluna ultrapassava um tempo ou pedido exposto que algumas diziam: “chega”, “está bom já”, “cala a boca”.

Concepção de ser idoso (Saúde Física e Mental): Aparentavam lidar bem com essa questão, quando se expressavam através da fala, contando sobre suas experiências de vida.

Jacira* fala sobre a importância das aposentadas de se sentirem lembradas no local onde trabalharam (Referia-se a uma homenagem realizada para aposentados) e como ficou emocionada com o poema exposto lá que relatava sobre a valorização dos idosos.

“Adoro dançar, sempre faço isso em casa, ligo o som as alturas, mas minha filha não gosta e me recrimina, diz que estou velha para isso, mas mesmo assim continuo a dançar, me sinto bem”. (Paola*)

“Adoro viajar, tenho o sonho de conhecer muitas cidades ainda” (Neide*)

“É bom vocês estarem aqui, vão aprender a ter mais paciência com as pessoas velhas”. (Maria*)

Dança de Salão

Descrição: Sala média, com espelhos na frente, ventiladores, composta por sua maioria mulheres.

Relação Professor/ Alunos: Professor demonstra ser exigente em questão de atenção e silêncio.

Jessica* diz que não gosta da música (reggae), e que não ia conseguir relaxar. Professor então pára a aula e fala sobre a letra da música: “Essa é uma das letras mais lindas que já escutei”. E diz que as pessoas deveriam escutar antes de criticar.

Mas apesar, demonstra ser atencioso e ajuda os alunos com os passos na dança. Quando os alunos se perdiam nos passos, o professor parava a música, começava novamente e pedia para que os mesmo tivessem calmos, e paciência, pois ele sabia que nenhum deles iria sair de lá “dançando” no mesmo dia e que estariam melhores na próxima aula. O professor juntamente com os alunos combina sobre um local que eles possam ir, no final de semana para dança, aceitando sugestões de todos e votando nos lugares sugestionados. As alunas tratam-no com muito carinho, abraçando-o, e demonstrando afeto.

Bela* leva duas caixas de chocolate para o professor. O mesmo agradece com um abraço e distribui para a sala. E outra aluna lhe dá um perfume.

Relação entre os Alunos: Os alunos demonstram entre si proximidade, respeito, e até mesmo alguns deles começaram a namorar através da aula, e outros já têm um par preferido. As alunas reclamam bastante da quantidade de homens que ainda é relativamente pouca, pelo fato de terem de ficar revezando.

“É muita mulher para dar conta”. (Joana*)

“Ele dança muito bem, mas sacode muito a gente”. Em relação ao outro: “Eu gosto de dançar com ele, ele é cheiroso”. (Patricia*)

Por outro lado, puderam-se observar também algumas situações de discriminação, na qual os alunos escolhiam seus pares, excluindo aqueles que não eram do seu “gosto”.

Professor pede para que as alunas que ainda não haviam dançado levantassem a mão para revezarem, Telma* levanta o dedo, mais ninguém a tira para dança e os homens puxam novamente as alunas com quem já haviam dançado.

Telma* olha “feio” para um aluno, com quem ela não queria dançar, e professor para a aula para falar sobre a discriminação e como é se sentir discriminado já que todos ali estavam para dançar, e faz uma reflexão para que se coloquem no lugar do outro.

Concepção de ser idoso (Saúde Física e Mental): O que pôde ser observado são algumas aparências físicas, alguns idosos (as) apresentaram problemas na coluna, na hora de fazer os passos. Um aluno apresentou pressão alta durante a aula e foi encaminhado a enfermaria, o mesmo disse que estava se sentindo bem e que não havia necessidade.

Dança do Ventre

Descrição: Sala ampla, com espelhos, ar-condicionado, composta somente por mulheres.

Relação Professora/ Alunos: Apresentou bastante interação, carinho, respeito. A professora demonstrou bastante preocupação com a saúde das alunas, simpatia, e as relações eram recíprocas.

Durante o alongamento, Matilda* chega atrasada e a professora diz: “Boa noite”. E diz que vai fazer uma observação na folha de presença. A aluna então relata gostar muito dela e pede para que a mesma não faça isso com ela. Ambas se abraçam e riem juntas com a situação

A professora fica em frente ao espelho com as alunas atrás dela a imitando, e ao ver que estão seguindo corretamente seus passos, diz: “Que bonitinho”.

Relação entre os Alunos: As alunas estavam sempre sorrindo, compartilhando objetos que levaram para a aula, e ensinando os passos quando alguma se “perdia”. Apresentaram uma relação mútua de simpatia e disponibilizavam de ajuda.

Quando a professora manda as alunas se encurvarem para o lado direito, algumas se atrapalham na direção e uma delas brinca com as demais dizendo que elas não sabem o que é direita e esquerda.

As alunas fizeram um círculo, abraçaram-se e dançaram juntas e após ainda abraçadas fizeram um relaxamento com técnicas de respiração, depois foi feito um círculo na quais ambas se massageavam. Em seguida abraçaram-se em forma de bolinho e andaram pela sala.

Concepção de ser idoso (Saúde Física e Mental): Uma aluna apresentava dores nos ombros assim que chegou a oficina.

Conclusão

A representação da velhice como um procedimento cheio de perdas onde os sujeitos permaneciam renegados a um estado de abandono, de desrespeito, e de carências de papeis sócias, Foi culpado por uma serie de estereótipos negativos em relação ao idoso, mas foi, também, um componente essencial para a legitimação de um conjugado de direitos sócias que levaram, por exemplo, a universalização da aposentadoria.

A inversão da reprodução da idade avançada como um procedimento de perdas e atribuições de novos significados aos estágios mais avançados da vida. Conhecimentos vividos, e as sabedorias acumuladas são ganhos que proporcionam aos idosos a chance de experimentar novas identidades, alcançar novos projetos que foram esquecidos em outra fase da vida, constituir relações mais proveitosas como o ambiente dos mais novos e dos idosos. São esses conceitos do envelhecimento que vem acompanhar a edificação da terceira idade.

        

Nos últimos anos vem crescendo no Brasil o numero de universidades e grupos de convívio da terceira idade que, com uma capacidade impressionante tem promovido de maneira muito evidente e gratificante a redefinição da importância das atitudes e comportamentos dos grupos da terceira idade.

Esses programas sociais direcionados para a terceira idade, que são voltados para o lazer, educação e socialização de iniciativa pública e privada, são espaços que, tem a intenção de colocar esses indivíduos em contato direto com a sociabilidade, convívio, participação e ocupação de seu tempo livre. Esses programas têm como objetivo gerar auto-estima, formas de convivência, aprendizagem voluntária e principalmente inserir esse idoso no meio social onde ele possa perceber sua nova condição como algo bom, e não com pesar.

Durante o processo de observação realizado com os alunos da UATI, podemos confirmar a influencia positiva da universidade nos idosos que participam deste projeto, trazendo mudanças no sue bem estar, por vários motivos. Como estar mais ativos nas atividades que participam no dia a dia e nas relações que eles estabelecem dentro e fora da UATI.