ESTÁGIO DE REGÊNCIA: DO PLANEJAMENTO À APLICAÇÃO, UM DESAFIO A SUPERAR

 EIXO: Sociedade/Natureza

 MODALIDADE: COMUNICAÇÃO ORAL, com publicação de artigo.

 

ESTÁGIO DE REGÊNCIA: DO PLANEJAMENTO À APLICAÇÃO, UM DESAFIO A SUPERAR[1]

 

Juliano Lopes da Silva – Universidade Estadual de Londrina

[email protected]

 

Osmar Dubas – Universidade Estadual de Londrina

[email protected]

 

 

RESUMO

O presente artigo visa discutir, criticamente, os resultados obtidos nas atividades realizadas no Estágio Supervisionado, requisito essencial na formação do licenciando em Geografia. O estágio ocorreu no segundo ano do ensino médio, tendo na mesma sala indivíduos de classe média baixa e média e, alunos vindos de outras cidades, estados e um marcante aluno que estudou o ensino fundamental no Japão; o que não foge a regra do colégio, que abriga alunos dessa faixa de renda e muitos alunos filhos de migrantes nordestinos e paulistas (PPP, 2009). O conteúdo de população e seus subtemas abordados serviram também para aproximar os alunos para pensar o espaço em que vivem, bem como de onde alguns partiram para chegar à cidade, o Brasil e o mundo como uma esfera de vida possível para todos. Analisamos as diversas linguagens aplicadas em sala de aula e, principalmente, o uso do livro didático como o principal instrumento de ensino dos professores. Percebemos que tanto o livro didático, quanto as linguagens abordadas no estágio, quando bem aplicadas, são muito eficazes para a regência, mas também podem trazer dificuldades e desafios profundos quando usadas no coletivo, principalmente, em uma classe de numerosos alunos.

 

Palavras-chave: Ensino. Geografia. Estágio. Livro didático.

 

 

 

 

1 introdução

 

No presente artigo analisamos os resultados obtidos com a realização do estágio de regência da disciplina de Didática da Geografia da Universidade Estadual de Londrina, em um colégio no município de Cambé/PR, em duas turmas de segundo ano do ensino médio, totalizando uma carga horária de 30 horas/aulas, no período de 08 de junho a 10 de agosto de 2011.

O estágio tem como objetivo propiciar condições e oportunidades para que, como estagiários, possamos construir a nossa autonomia profissional no campo educativo. Assim, tivemos uma real experiência no processo de ensino e aprendizagem, por meio de atividades que possibilitaram um contato direto com o campo de atuação profissional, subsidiando o nosso trabalho em sala de aula, dando-nos a oportunidade de investigar a realidade, com vistas a (re)construção crítica do conhecimento.

A disciplina de Geografia é importante para a formação do aluno, por favorecer sua familiarização com as questões geográficas, identificando as ações pelas quais o homem modifica o espaço natural e transforma-o em espaço geográfico. Cabe ao professor transformar essa importância da Geografia em motivação para os alunos estudarem, pois, a mobilização do pensamento é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções.

Nesse sentido, apresentamos, a seguir, reflexões sobre o trabalho que realizamos em sala, a começar do planejamento e do esforço em transformar os conteúdos da Geografia em motivação para ajudar os alunos a darem um significado  aos conceitos e processos geográficos estudados.

Utilizando do conteúdo de população conforme o programa do Projeto Político Pedagógico da escola e da disciplina, colocamos no papel do ensino de Geografia, não ajustar o indivíduo ao meio em que vive, mas sim, instrumentalizá-lo para desenvolver o senso crítico, permitindo a ligação da vida real concreta com as análises e informações aprendidas em sala de aula e com isso interagir com a sociedade a qual pertence (CALLAI, 2001). Transformando conteúdos básicos e aprofundados em temas cotidianos, mas sem deixar fugir as bases teóricas, fundamentais para o entendimento do  foco central da discussão. Utilizar de atividades dinâmicas e autoinstrutivas e de reportagens e mídias não manipuladoras é essencial para trazer o conteúdo e o aluno ao mesmo universo de estudo.

Assim, esperamos promover um debate sobre a importância da prática do estágio em todas as fases de construção e transformação do aluno universitário em professor, desde seu projeto de ensino, planejamento, aplicação, replanejamento e concretização no campo de estágio e, posteriormente, refletir sobre os resultados.

 

 

2 A IMPORTÂNCIA Do ensino dA GEOGRAFIA PARA A SOCIEDADE

 

O mundo e a sociedade têm mudado rapidamente e com estes, as formas de ensinar a Geografia - uma disciplina que leva o aluno cidadão a pensar, compreender e criticar o espaço produzido pela sociedade, tanto no modo social como espacial; o que a torna uma disciplina de grande importância na grade curricular. Segundo Oliveira (2003, p.143)

 

É nesses termos que a geografia hoje se coloca. É nesses termos que seu ensino adquire a dimensão fundamental no currículo: um ensino que busque incutir nos alunos uma postura crítica diante da realidade, comprometida com o homem concreto, com a sociedade dividida em classes com conflitos e contradições.

 

O ensino da Geografia não está focado somente em fazer uma descrição da paisagem para o aluno como era antes do movimento de reformulação da ciência geográfica, mas, estudar as relações políticas, econômicas, sociais e culturais que dão formas às paisagens. São essas relações que permitem compreender o espaço geográfico que é continuamente produzido e modificado pelo homem; um dos grandes desafios do atual ensino é a aprendizagem de futuros cidadãos, pois segundo Callai (2001, p. 136) “A educação para a cidadania é um desafio o ensino da geografia é uma das disciplinas fundamentais para tanto”.

Mas a geografia não pode ser considerada a disciplina transformadora da sociedade, pois, assim estaríamos fragmentando o conhecimento; o conjunto de disciplinas deve estar ligado (STRAFORINI, 2008).

A Geografia torna-se a vítima de um duplo processo de crise ligada ao seu conteúdo e ao seu lugar na instituição escolar tendo como dever uma reestruturação.

A ênfase na utilização do livro didático fortaleceu o apoio ao professor, e a busca por linguagens de ensino que auxiliasse o docente no processo de ensino.

O livro didático tem uma grande importância no processo de ensino e aprendizagem no Brasil, visto que é utilizado em, praticamente, todos os níveis de ensino e faz parte do cotidiano da sala de aula, onde, muitas vezes, configura-se como a única fonte de pesquisa e informação.

Segundo Megid Neto e Fracalanza (2003) o livro didático surgiu para complementar os livros clássicos, reproduzia, divulgava, reforçava a aprendizagem no ambiente escolar centrada na memorização. Passando a ser instrumento pedagógico no processo para formação social e política do indivíduo.

O livro didático vem a ser para Pontuschka (2007) um recurso com aspectos culturais, que tem como referência o nome de um ou mais autores, mas que também é uma mercadoria, que atende uma parcela do mercado, e tem como grande comprador o governo federal.

Para Freitag (1997) esse recurso funciona como instrumento de ensino em sala de aula, como fonte de lucro para editores além de propiciar que a máquina governamental se alimente desse processo de aquisição e distribuição dos livros didáticos como um todo.

No processo de aprendizagem, muitas teorias estão cheias de conjecturas políticas e ideológicas, relacionadas com uma visão de homem, sociedade e saber. O que acontece em sala de aula é um comodismo por parte de alguns professores e a falta de concepção em adquirir e aplicar outras linguagens didáticas e paradidáticas no propósito de dinamizar e enriquecer a sala de aula. Com isso as aulas se tornam monótonas, seguindo o que o livro didático, adotado no momento, traz de relevante e de “verdade absoluta” tanto para o aluno quanto para o professor, e o comodismo também paira nos dois lados, tendo o professor a facilidade de apenas indicar a página para o aluno ler (algumas vezes certos professores nem sabem em que página parou a aula passada) e, ao aluno, cabe apenas resumir o texto, ou resolver as atividades propostas no final de cada conteúdo do livro.

Em certas situações os alunos não possuem livros didáticos, Pontuschka completa esse problema quando aponta o que acontece em sala de aula:

 

Por outro lado, existe outro grupo, com alunos sem acesso ao livro didático, em que somente o professor possui o livro, utilizando-o como sua principal bibliografia; o livro é do professor e não do aluno. O texto inteiro ou um resumo do texto é escrito na lousa e os alunos passam o tempo da aula copiando a “lição”, com explicações rápidas ou, às vezes, sem explicações. (PONTUSCHKA, 2007, p.341).

Assim como Pontuschka comenta sobre aquele professor que não larga o livro didático, mesmo sabendo que o aluno não tem um para acompanhá-lo na aula, e não busca alternativas para sanar a deficiência, Freitag traz justificativas desse descompromisso do professor em melhorar o aproveitamento do tempo do aluno enquanto sentado em sua carteira escolar:

 

Vimos que a maior parte dos estudos feitos sobre o livro mostrou que ele satisfaz os professores. O professor não somente se contenta com o que tem como ainda o idealiza, fazendo do livro didático não um entre outros, mas o único instrumento de trabalho. Este serve como a última palavra do conhecimento na área, sendo tratado em aula como verdade absoluta. (FREITAG, 1997, p. 131)

 

Freitag (1997), assim como outros autores, mostra que o livro didático e o seu uso em sala de aula depende da habilidade e do nível de formação do professor. Com isso deduz-se que na educação não basta acontecer à evolução do livro, mas é preciso que o professor renove o conhecimento, tenha formação continuada, esforce-se, dedique-se e seja um professor pesquisador. Portanto, o livro didático é um instrumento de apoio para o professor, não sendo assim, material único e norteador do trabalho com os conteúdos programáticos.

Nem a proposta de um livro nem as ideias do professor são infalíveis; portanto, a relatividade do conhecimento precisa estar sempre presente na análise de qualquer produção didática.

Ainda citando Pontuschka, que muito contribui para explorar o ensino além-livro didático, a autora traz que professores de boa formação e compromisso com os alunos conseguem realizar projetos interdisciplinares fazendo recortes de variados livros, didáticos ou não, além de explorar as mídias e aulas extrasala. (PONTUSCHKA, 2007).

Se o aluno tiver diante de si uma linguagem inadequada a sua idade, do ponto de vista de sua compreensão, ou distante de sua realidade, certamente não será auxiliar nem para ele, nem para o professor na construção do conhecimento.

O professor deve ser criativo dentro do planejamento de uma atividade. Por isso, fazer uso de diversos recursos didáticos é uma forma de enriquecer tais atividades e ainda, dentro dos conteúdos geográficos, os recursos como: mapa, computador, fotografia aérea, imagens satélites; permitem ao educando relacionar a realidade ao conteúdo teórico (PANDIM, 2006).

Assim como Pandim (2006), vários outros pesquisadores dedicados a contribuir para o ensino, em especial o de Geografia, percebem que o “trunfo” não está no livro em si, nem nas linguagens diversas que podem ser utilizadas, mas focado nos professores, detentores de todas possibilidades plausíveis de ensino, e como Andrade (1989, p.57) reafirma “é indispensável que o professor tenha uma posição independente e crítica, não se limitando ao/ou a um livro, é preciso que ele adapte e complemente para os seus alunos as informações e as explicações que o mesmo contém.” Com isso percebe-se a importância dos saberes da experiência, da vivência que um professor pode ter e adquirir ao longo dos anos e transmitir durante sua pedagogia.

 

3 O ENSINO DA GEOGRAFIA E O TEMA POPULAÇAO

 

A metodologia utilizada para a realização do estágio envolveu a pesquisa bibliográfica e documental como a análise do Projeto Político Pedagógico da instituição, bem como, o embasamento nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná e nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

A pesquisa bibliográfica foi realizada através da seleção de materiais, como artigos científicos, livros, periódicos, que abordassem os conteúdos que se pretendia investigar; em seguida através de leituras foi realizada a seleção das informações por intermédio de resumos, registros e fichamentos para elaboração textual.

O planejamento foi crucial para a realização do estágio, principalmente, porque não tínhamos experiência no manejo da sala de aula. Mas, é importante frisar que o planejamento é fundamental em todos os momentos da carreira docente, até mesmo para os professores mais experientes, pois estes devem possuir seus planos de aula para que no ato de ministrá-la esteja com a aula estruturada, com uma linha de pensamento que contribua para o aluno desenvolver a sua capacidade reflexiva.

O plano de aula é um dos maiores desafios na produção do estágio, tanto antes quanto depois da regência. Durante a regência, nos deparamos com a necessidade de readequar o que havíamos planejado para a realidade dos alunos, pois particularidades surgiram e alguns itens nos planos de aula sofreram alterações e ajustes para melhorar a interação professor/aluno.

É, nesse momento, que descobrimos que apenas o uso de um recurso didático não seria eficaz, nesse caso em particular o livro didático, pois nem todos os alunos o levavam para a sala de aula, para a produção das atividades. Assim, verificamos que aulas expositivas dialogadas, intercaladas com a escrita no quadro de giz, foram um bom meio de inibir as conversas e chamar a atenção dos alunos para o conjunto de ideias que estava sendo formado. Percebemos a importância de escapar da dependência do livro didático nas primeiras aulas, quando os alunos não traziam consigo o mesmo. Na análise do livro didático adotado na escola em que realizamos o estágio, verificamos que ele é um pouco confuso, abrange os três anos do ensino colegial e a professora regente da turma não o utiliza. Por isso, foi preciso selecionar apenas os textos e as atividades pertinentes às aulas que estavam no livro didático e tirar cópias para todos os alunos ou recomendar a leitura em casa como complemento à aula ministrada no dia, mas ainda assim utilizando o livro didático como instrumento de pesquisa, elaboração e aprofundamento dos planos de aula, bem como suas atividades auto instrutivas indicadas como atividades para os alunos desenvolverem em casa, em resposta a avaliação dos conteúdos abordados em cada aula.

Superado o desafio do livro didático, o uso de diversos outros recursos nas aulas de Geografia contribuiu para o entendimento de formulações abstratas de informações que, visualizando, se tornam concretas facilmente.

O uso de mapas, tabelas, pequenos vídeos e imagens já eram corriqueiros para as turmas, pois a professora regente sempre deu importância aos diversificados instrumentos e recursos de ensino disponíveis. Recursos esses a disposição no acervo do colégio e também da professora, que como pesquisadora esteve sempre atualizada com as informações disponíveis e de fácil acesso, sobretudo com o advento da internet.

No estágio trabalhamos com o conteúdo de população, conforme está especificado no Projeto Político Pedagógico do colégio e conforme orientações da professora regente. A partir deste conteúdo, elaboramos um fluxograma para representar, na totalidade, os conceitos que trabalhamos no período de estágio.

É necessário que o estudo da Geografia sobre o conceito de sociedade esteja atrelado aos estudos demográficos dos mais diferentes tipos para os estudos, discussões e planejamentos políticos, ambiental, rural, industrial e urbano. Quanto a sua relevância na disciplina escolar é fundamental que ela desenvolva o raciocínio do cidadão no espaço geográfico e que desperte a sua consciência espacial.

 

Segundo Damiani (2002, p. 8)

 

A população constitui a base e o sujeito de toda a atividade humana. Exatamente por isso a população tem tal complexidade. Se partir do estudo da população, teríamos que percorrer todos os aspectos, elementos, resultados e consequências de sua atividade para conhecê-la, do âmbito não só dos seus resultados materiais, como a constituição dos sujeitos sociais.

 

Em meio a toda essa dinâmica populacional, é importante ressaltar que existe a cultura própria e coletiva de cada povo em meio desta circulação e o estudo destas diferentes culturas e sua demografia deve-se levar em consideração todo o conjunto para o conteúdo específico para se tratar em sala de aula.

 

Figura 1: Fluxograma de conteúdos

 

Org. Osmar Dubas

 

Este fluxograma pode ser utilizado em diversas situações e finalidades de ensino, a exemplo da compreensão de um texto, da visualização de uma disciplina, da análise do currículo, da técnica didática, dos recursos de aprendizagem, dos meios de avaliação, dentre outros. É uma possibilidade para a produção de conhecimento, apresentando seus conceitos como resultados da reflexão da sua própria experiência e maneira de ver, sentir e agir (TOMITA, 2009).

O estudo da dinâmica da população seria, em linhas gerais, os dados referentes da natalidade, a mortalidade, migração, expectativa de vida, crescimento vegetativo, densidade demográfica, ocupação desta população no espaço geográfico, enfim população compõe a base de todas as ações humana. Os procedimentos metodológicos para fazer análise da dinâmica populacional mudam substancialmente, mesmo considerando seus elementos no interior de um mundo social de análise. Segundo Damiani (1991, p. 8)

 

A população constitui base e o sujeito de toda a atividade humana. Exatamente por isso a população tem tal complexidade, nesse momento histórico. Se partir do estudo da população, teríamos que percorrer todos os aspectos, elementos, resultados e consequências de sua atividade para conhecê-la, do âmbito não só dos seus resultados materiais, como na constituição dos sujeitos sociais.

 

Na pesquisa geográfica da população, a demografia, além de contribuir nos processos de qualificação dos números brutos de população, determinou material estatístico de cunho mais qualitativo, que teria ajudado a geografia na distinção econômica e no esclarecimento de conflitos decorrentes dos assuntos econômicos, no interior de limites específicos.

Depois de selecionar e realizar a abordagem teórica dos conteúdos de ensino foi possível escolher os caminhos metodológicos para desenvolver habilidades de leitura geográfica do mundo. Esses caminhos metodológicos na Geografia são as linguagens, cada vez mais modernas e renovadas, possíveis para incrementar o ensino e ajudar o professor na prática dentro e fora da sala de aula.

 

O mundo dominado pela imagem precisou revalidar a sua linguagem, pois foi acrescida de significados e de símbolos obrigando os comunicadores e, principalmente, os professores a reaprenderem a arte de se comunicar e de dar aula, apropriando-se de uma linguagem nova e rica em elementos específicos a época – como computador, DVD, CD, Softwares – para que pudessem comunicar-se captando a atenção e curiosidade do receptor da mensagem. A “velha” linguagem passou a ser ocupada por uma nova linguagem, onde palavras de ordem como interdisciplinaridade, projetos, linguagem contextualizada e reflexiva passaram a ordem do dia, porém, com processos metodológicos da educação tradicional que continuavam a priorizar metodologia de conteúdos fragmentados em sala de aula. (NUNES; RIVAS, 2009, p. 1).

 

Como citado, a dinâmica das informações são aceleradas e chegam aos alunos de forma mais clara e contundente do que o que está nos livros didáticos, com isso como acrescenta Pontuschka (2007, p. 343) o livro didático “Além de não ter a linguagem atraente da televisão ou dos sites visualizados na internet [...] ele pode não contribuir para a produção de um conhecimento que ajude o aluno a enriquecer sua visão de mundo mediante estudos geográficos”. É nessa hora que os professores devem buscar outras linguagens de ensino que superem a deficiência ou até mesmo que melhoram a sua atuação em sala. Katuta afirma que

 

Verifica-se a necessidade da interação dialética entre as representações e linguagens utilizadas cotidianamente pelos alunos com aquelas disseminadas pela escola. É por meio desta iteração que ocorre a (re) construção de conhecimentos, representações e linguagens do sujeito. (KATUTA, 2007, p. 227).

 

Conforme defende Lefebvre (apud KATUTA, 2007, p. 227) “[...] Antes de elevar-se ao nível teórico, todo conhecimento começa pela experiência, pela prática”; concordamos que aprender por meio de representações e linguagens se torna mais vantajoso, no decorrer do processo de aprendizagem.

A importância das diversas linguagens nos estudos de ciências e, sobretudo de Geografia, é substancial para desenvolver no aluno a percepção da realidade e observar com outros olhos o seu espaço geográfico. Ao buscar desenvolver a autonomia dos alunos, o professor de Geografia tem que instrumentá-los a refletirem, serem criativos e pesquisarem informações sobre o mundo e, também, a tomada de decisões. O aluno tem que se tornar capaz de recriar o que foi aprendido tornando-se apto a construir um discurso que conduza a ações de intervenção na sociedade; assim, poderá se tornar um ser ético, que está no mundo com os outros, um ser de opção, de decisão.                                                                                                                         

 

 

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para lecionar o conteúdo de população durante o período de regência, foi necessário a mudança de planos de aulas já elaborados. Não foi possível contar sempre com o livro como recurso didático, o qual recebe algumas críticas por tirar a autonomia dos professores que o seguem e por dificultar a possibilidade de se trabalhar novas linguagens para o ensino.

Para trabalhar o conteúdo de população, o qual está em constante mudança, foi necessário buscar e criar outros recursos didáticos para representar dados mais atuais, como o uso da TV pendrive para a exibição de curtos vídeos, exibição de imagens, gráficos e tabelas. Segundo Andrade (1989, p. 57)

 

O livro didático não deve ser encarado de forma exclusiva, ele necessita de uma complementação tanto de material escolar – mapas, atlas, tabelas, fotografias, diagramas etc. – como de material não escolar, informações de revistas e de jornais, sobretudo.

 

Através destes recursos relacionados à ilustração e a exposição foi possível notar como o processo de ensino e aprendizagem se torna eficaz porque possibilita, ao aluno, uma visão concreta desenvolvendo a sua capacidade de concentração e de observação dos assuntos discutidos em sala de aula, relacionados a diversos aspectos populacionais. Notamos, também, como é de fundamental importância o conhecimento relacionando com a realidade do seu dia a dia desenvolvendo uma visão crítica e de cidadania. Segundo Callai (2001, p. 143)

 

O grande desafio é tornar as coisas mais concretas e reais. Um ensino conseqüente deve estar ligado com a vida, ter presente a historicidade das vidas individuais e dos grupos sociais, com o sentido para buscar o conhecimento existente e conseguir produzir conhecimento próprio. Isto é educar para a cidadania.

 

Através do uso de diferentes linguagens, é possível mudar a concepção de que a Geografia é maçante e cansativa. Buscando melhorar a cada aula dada, acreditamos que os resultados foram alcançados em parte, vez que as diversas atividades propostas foram respondidas e tiveram bons resultados. Um exemplo foi a elaboração de uma atividade prática com relação à pirâmide etária em que ao invés de somente mostrar o seu significado, a mesma foi construída com os alunos durante a aula, momento em que obtivemos a participação e a compreensão de toda a classe do seu significado e sua importância.

 

 

 

 

 

Figura 2: A pirâmide menos elaborada

 

Fonte: Juliano Lopes da Silva

 

Figura 3 - A pirâmide mais bem elaborada

 

Fonte: Juliano Lopes da Silva

Por meio da pirâmide, é possível estabelecer informações para o potencial produtivo de uma sociedade - a população em idade ativa, isto é se ela é hábil ao cumprimento de uma atividade econômica e um planejamento estipulando metas para uma determinada parcela da população de idade que apresentariam uma carga como, por exemplo, crianças, jovens, velhos ou aqueles em idade para a concepção, etc.

Um fato interessante que está ocorrendo com a pirâmide etária brasileira é que o topo desta que representa a parcela da população idosa está aumentando, isto é, devido à expectativa de vida que corresponde à quantidade de anos que vivem em média a população.

Pensando nesses conceitos sobre pirâmides etárias foi feita uma aproximação das políticas públicas aplicadas em países como o Japão e a Nigéria, e depois comparadas ao Brasil. A construção das pirâmides do Japão e da Nigéria e não do Brasil foi provocativa para instigar o raciocínio dos alunos em como certas políticas de desenvolvimento estão modificando a estrutura etária brasileira.

 

Figura 4: Exemplo de uma atividade em sala de aula

 

Fonte: Juliano Lopes da Silva

 

Essa imagem na figura 4 ilustra uma observação lançada no contexto da interdisciplinaridade que não imaginaríamos ter que lidar; os erros ortográficos.

Problema grave entre alguns alunos de ambas as turmas que demandou certo grau de interferência e esforço para corrigir. Foi observado dificuldade entre esses alunos de se expressar na forma escrita, diferente da verbal que não demonstravam essa dificuldade, assim como não demonstravam dificuldade de conteúdo. O problema mesmo está focado na ortografia como falta de acentuação, abreviação de palavras ou erros ortográficos e de locuções verbais graves.

Foi feita correções em todas as atividades e observações no decorrer dos textos, bem como demandou uma pequena conversa sobre a importância de se escrever certo. Em pouco tempo observamos uma melhora na grafia de todos os alunos.

A avaliação dos conteúdos compreendeu questões discursivas e objetivas em complemento das atividades diversas intercaladas entre as aulas, e um estudo de caso como fechamento do assunto.

 

Figura 5 - Avaliação aplicada para a turma

 

Fonte: Juliano Lopes da Silva

 

A avaliação aplicada na metade do estágio teve o propósito de verificar a presença de habilidades e identificar as causas das dificuldades dos alunos, fornecer bases para o planejamento futuro, acompanhar a aprendizagem para melhorar o ensino. Constatar interesses, necessidades, dificuldades e utilizar a informação para corrigir insuficiências ou reforçar comportamentos bem sucedidos.

Na maioria das avaliações observou-se um bom domínio do conteúdo por parte das respostas dos alunos, nas questões objetivas, a boa interpretação dos alunos fez com que obtivessem êxito quase na totalidade da classe, e na questão aberta para expressar a opinião a respeito às expectativas futuras, os alunos souberam relacionar opiniões particulares com conteúdos estudados até o momento, justamente o que se esperava. Porém, nesta questão, muitos alunos não responderam, deixando em branco ou apenas dizendo o que pensavam do futuro sem correlacionar com o conteúdo estudado.

 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O conhecimento da população é essencial para o planejamento econômico e as realizações de políticas públicas de um país. A demografia é essencial para a delimitação da balança dos nascimentos e dos óbitos ou, em outras palavras, na trajetória natural da população. Mas também é a partir do estudo da população na escola que o aluno descobre características, traços, formação, entre outros de seu país, ajudando a identificar seu lugar no mundo e entendendo em parte o que é se tornar um cidadão de um país.

Esperamos que este artigo elaborado a partir da realidade vivenciada no estágio possa expressar as reflexões sobre o assunto, pois como futuros profissionais do magistério, compreendemos que, na perspectiva dos alunos, as aulas são cansativas, pois o que prevaleceu foi o desinteresse dos mesmos pelos conteúdos. Assim, esperamos contribuir, de alguma forma, para que tanto professores quanto alunos, possam refletir sobre diferentes maneiras de ensinar e aprender os conteúdos geográficos. Nesse caso a melhor opção foi a diversidade de instrumentos didáticos para manter o interesse dos alunos focados, mas sem exageros para não transformar as aulas em meros shows, em que tudo é mostrado aos alunos, mas correndo o risco de deixar de lado o mais importante que é educar para o exercício pleno da cidadania.

 

 

6 REFERÊNCIAS

 

 

ANDRADE, Manuel C. de. O livro didático de geografia no contexto da prática de ensino. In: Caminhos e descaminhos da geografia. Campinas: Papirus, 1989.

 

CALLAI, Helena C. A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino? In: Terra Livre – Paradigmas da Geografia – Parte I, nº 16. São Paulo: AGB, 2001.

 

DAMIANI, Amélia. População e Geografia. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2002.

 

FREITAG, Bárbara. (Org.). O livro didático em seu contexto. In:______. O livro didático em questão. São Paulo: Cortez, 1997.

 

KATUTA, Ângela Massumi. A educação docente: (re)pensando as suas práticas e linguagens. REVISTA TERRA LIVRE.  Ano 23, v. 1, n. 28. Jan-Jun/2007. Presidente Prudente: AGB, 2007. p. 221-238

 

MEGID NETO, J. ; FRACALANZA, H. O livro didático de ciências: problemas e soluções.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v9n2/01.pdf> Acesso em: 17 ago. 2011.

 

MONTEIRO, Ana Maria Ferreira da Costa. Professores: entre saberes e práticas. Educação e Sociedade, Campinas, v.22, n. 74, 2001.

 

NUNES, Camila Xavier; RIVAS, Carmen Lúcia Figueredo Razoni. Novas linguagens e práticas interativas no ensino de geografia

Disponível em: <http://egal2009.easyplanners.info/area03/3107_Figueredo_Razoni_Rivas_Carmen_Lucia.pdf> Acesso em: 12 ago. 2011.

 

OLIVEIRA, A.U.(org).  Para Onde Vai o Ensino de Geografia?  São Paulo:

Contexto, 2003

 

PANDIM, Andréia Rodrigues. Oficina pedagógica de cartografia: uma proposta metodológica para o ensino de geografia. 2006. TCC (Bacharelado). UEL, Londrina.

 

PONTUSCHKA, Nídia N. et al. O livro didático de geografia. In:______.; PAGNELLI, Tomoko I.; CACETE, Núria H. Para ensinar e aprender geografia. São Paulo: Cortez, 2007.

 

PPP, Projeto Político Pedagógico. Colégio Estadual Maestro Andréa Nuzzi. 2009.

STRAFORINI, Rafael. A importância do ensino de geografia. In: Ensinar geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. São Paulo: Annablume, 2008.

 

TOMITA, L. M. S. Ensino de Geografia: Aprendizagem significativa por meio de mapas conceituais. 2009. Tese (Doutorado em Geografia Física) FFLCH/USP. São Paulo, 2009.



[1] Trabalho desenvolvido a partir do estágio de regência da disciplina Didática da Geografia e Estágio Supervisionado (6EST 302) ministrada pela professora Dra. Jeani Delgado Paschoal Moura, compondo a IX Mostra de Estágio do Curso de Licenciatura em Geografia da UEL.