Odeio economia. Não exatamente o que ela significa, mas o modo como é conduzida. A economia é como uma criança brincando na rua que a qualquer momento pode ser levada pelo "homem do saco". Se o presidente americano tem diarréia, o dólar sobe. Se o ministro toma um whisky, o dólar desce. Se a chave da porta principal da Casa Branca quebra dentro da fechadura, o dólar dispara. São coisas que não lembro ter presenciado há uns 20 anos atrás, quando o mundo ainda era disputado entre russos e americanos. A globalização parece ter globalizado apenas os problemas.

Lembro, que quando criança, quando nosso presidente ia à TV anunciar um novo pacote econômico e, nossa moeda passava a ter o mesmo valor que o dólar, era uma alegria tremenda. Finalmente nossa moeda valia algo. Hoje vejo acontecer exatamente o inverso. Nesse exato momento que estou escrevendo isso, um dólar está valendo R$ 1,57. O mercado está apavorado. O dólar caí cada vez mais. O que antes era uma alegria, hoje se tornou um pesadelo. Parei para analisar o porquê desse pavor e, concluí que estamos reféns do capital.

Nos últimos 15 anos centenas de corporações se instalaram em nosso país. A palavra de ordem é MAXIMIZAR. Afinal, não há país no mundo melhor para isso do que o Brasil. Aliás, uma boa sugestão para entender como um país pode ser auto-suficiente é o livro "Japão: o capital que se cria em casa"

Quando estava na faculdade, um professor certa vez disse que a economia de um país deveria estar voltada para a informação. Produzir bens, serviços, investir na agricultura, isso não leva a nada. Vendo o que anda acontecendo, devo admitir que ele estava certo. As informações certas ou erradas, é que possuem resultados imediatos. O Estado perdeu totalmente o controle sobre a economia. Agora ela está concentrada nas mãos de meia dúzia de especuladores que têm também em suas mãos o futuro de milhões de pessoas. Decidem quando o dólar deve subir, quando deve descer ou que presidente deve ser eleito para que seus interesses continuem prevalecendo.

Há algum tempo atrás houve a crise do álcool. Os produtores aumentaram os preços devido a entressafra. Bom, isso foi o que disseram. Mas, alguns dias antes de ouvir essa besteira, fiquei sabendo que a frota de carros flex havia aumentado consideravelmente, ocasionando uma maior procura pelo álcool. Entressafra realmente é uma palavra mais bonita para ser usada no lugar de ganância ou oportunismo. E o consumidor vai tirando seus mirrados reais do bolso sem questionar tanto.

Mas, eu questiono. Gostaria de saber para que está servindo o Estado. Ou melhor, à quem está servindo o Estado? Ele é incapaz de cuidar da saúde e, quando tenta, cria a CPMF que foi mudando de nome ao longo do tempo e que durante muitos anos cuidou da saúde financeira de alguns. É incapaz de cuidar da educação, então decide que não haverá mais repetência, achando que isso trará mais alunos às escolas. É incapaz de cuidar da segurança e diminuir a violência, sendo que ele mesmo se torna violento devido sua incapacidade.

Enquanto o Estado e muitos cidadãos "dormem", alguns outros vão se organizando, cada um a seu modo. De um lado grandes corporações, especuladores, empresas fantasmas. Do outro lado, o crime organizado, políticos corruptos, Estado ausente. E quem não está nem de um lado, nem do outro, vai levando as surras da vida. Afinal, na briga entre dois elefantes o maior prejudicado é o capim.