RESUMO
Análise textual sobre o livro O Diamante do Tamanho do Ritz (The Diamond as Big as the Ritz), escrito por Francis Scott Key Fitzgerald, elaborado por alunos da graduação em letras-inglês pela UNIT.


FITZGERALD, Francis Scott Key. The Diamond as Big as the Ritz. USA: The Smart Set, 1922.


SOBRE O AUTOR
Francis Scott Key Fitzgerald nasceu no dia 24 de setembro de 1896 em Minnesota nos EUA, tendo falecido no ano de 1940. Cursou a Universidade de Princeton, porém não chegou a se graduar. Foi considerado um dos maiores escritores americanos do século XX e fez parte da corrente literária chamada "Geração Perdida", influenciando a literatura europeia com sua temática crítica.
- Personagens
No conto há uma variedade de personagens, uma vez que há tanto individuais quanto coletivas, como é o caso dos homens de Fish, dos fuzileiros aprisionados e dos negros serviçais, cuja representatividade aparece de maneira generalizada, salvo apenas pelo serviçal Gygsum, a quem é dada certa individualidade.
O autor não costuma traçar descrições físicas de suas personagens. Normalmente utiliza-se de adjetivação constante como forma de caracterização da personalidade de cada uma delas, neste sentido, apresenta-as de imediato no primeiro contato. Há uma análise psicológica rápida e superficial, entretanto o autor faz uso da narração de fatos necessários para a formação psicológica das personagens. Estas, não são fieis à realidade, embora apresentem alguns traços verossímeis. Por ser um conto rico em detalhes, torna-se impossível que todas as personagens despertem-nos as mesmas sensações no decorrer de toda a narrativa, sendo assim, alguns provocam um misto de surpresa e espanto, outros instigam curiosidade e também excitação, especialmente no momento do clímax.
- Enredo
Há uma unidade de ação na apresentação da narrativa. Ela acontece acompanhando o trajeto da personagem principal e termina no final do capítulo VI, quando John já conheceu todas as outras personagens envolvidas na estória. A complicação que segue acontece numa conversa entre o casal John e Kismine, quando ela revela o destino de cada convidado/visitante. A partir daí a trama ganha um ritmo acelerado o qual torna os acontecimentos sucessivos, sem intervalos, prendendo a atenção do leitor, e esta largada é dada no capítulo IX. A seguir, os capítulos X e XI são marcados pelo declínio e pela solução, respectivamente. O desfecho não é protelado para manter a atenção, ele acontece de forma linear, sequencial e veloz.
O autor utiliza uma exposição direta de uma sociedade da qual fez parte, com uma valorização excessiva do glamour e do dinheiro. A intriga é complexa, apresentando diversos episódios interligados pela relação que desenvolve com o protagonista.
- Ambiente
A estória inicia na cidade de Hades, Mississipi, com uma breve narrativa em Boston, no colégio St. Midas e o rápido trajeto perpassando o vilarejo de Fish. Desenrola-se de fato na área residencial da família Washington: "Meu pai diz que aqui é onde os Estados Unidos terminam" como se refere o próprio Percy Washington em conversa com John T. Unger. É um ambiente físico, uma espécie de cidade particular com todas as instalações da família. Há uma predominância de cor local já que o autor alonga-se em descrições detalhadas de cada ambiente pelo qual sua estória perpassa, sendo estas descrições responsáveis por uma caracterização mais completa das personagens, trazendo uma originalidade que torna a leitura imprescindível.
- Tema
O Diamante do Tamanho do Ritz (The Diamond as Big as the Ritz), escrito em 1922, publicado anteriormente na revista americana The Smart Set, e posteriormente na compilação de contos Tales of the Jazz Age, traduzido por Cássia Zanon e William Lagos, publicado pela editora L&PM no ano de 2006, é um conto aventureiro e fantasioso que conta a história de um adolescente chamado John T. Unger, que, nas férias de verão, foi convidado a visitar a família Washington e lá se depara com mistérios e descobertas comprometedoras para a história da família.
- Tempo
Parte da narrativa é morosa, descritiva e morna: o início. A partir do capítulo IX toma velocidade. O enredo segue sempre uma forma sequencial, todavia é cortado por flashbacks em alguns pontos como nos momentos em que Percy conta a John histórias do passado da família. Isto pode ser percebido claramente no capítulo IV que é dedicado à narração da história da família Washington feita pelo garoto durante o primeiro café da manhã com seu visitante. Desdobra-se na década de vinte, pós-guerra (era do Jazz), e dura aproximadamente um semestre, já que inicia com a entrada de John no colégio e se estende até as suas férias de verão.
- Ponto de vista
A narração é feita pelo próprio escritor, que se utiliza do ponto de vista do protagonista, constituindo assim uma visão limitada dos acontecimentos, sendo feita na terceira pessoa gramatical. Este narrador não possui onisciência dos acontecimentos, portanto acompanha as personagens como simples espectador, cabendo a ele apenas mostrar sem intervir, julgar ou comentar o comportamento de cada personagem.
- Linguagem e Estilo
Quanto ao estilo, Fitzgerald apresenta-se de forma correta, viva e espontânea. Faz uso da linguagem não figurada e formal, contando à estória de forma natural, sempre apresentando os elementos acompanhados de suas ações e reações. Não há distinção de estilos, mesmo com a presença de poucas falas. O autor não usa discurso indireto, focando apenas na descrição detalhada dos fatos expostos. O que nota-se é uma diferenciação dialetal, não muito relevante, presente no grupo dos serviçais; eles possuem uma língua própria "que parecia ser uma forma extrema do dialeto negro sulista" (FITZGERALD, 1922, p.14), não havendo de fato a presença de modismos estilísticos.
- Ideias e Concepções
Fitzgerald não explicita, mas deixa no ar material para reflexão. Como vimos, as personalidades das personagens são bem diferenciadas e seus traços marcantes alcançam verossimilhança suficiente para liga-las a seres humanos. Há um sentimento muito forte enraizado na trama: ambição. Ele se traduz visivelmente na personagem de Braddock Washington, o herdeiro da maior fortuna existente no mundo: uma montanha formada completamente por diamantes brutos. No fim da estória, como uma tentativa insana de salvar o seu patrimônio e garantir a sobrevivência da família, tenta firmar com Deus um acordo, uma barganha, e naquele momento percebemos que há certa fragilidade dentro daquele cujo espírito fora sempre robusto e forte, na intenção de esconder de forma impecável o seu maior segredo.
A obra de Fitzgerald é marcada também por uma segregação social que ocorre pela posse (ou não) de bens materiais. As personagens centrais do conto são ricas e isto caracteriza uma visão excludente, que põe os homens pobres como "figurantes" na trama e os negros como empregados da família abastada. No tocante às relações afetivas, há um romance entre John e Kismine, irmã mais nova de Percy Washington, um amor juvenil que acontece ao acaso e que dura até as últimas linhas do conto e, talvez, até depois disso já que os últimos diálogos entre John, Kismine e Jasmine contem visões e projetos de um futuro juntos.
O autor se abstém de opiniões políticas e sociais mostrando, no entanto, em algumas passagens, um perfil alienado, caracterizado pela forma de agir de Braddock Washington, que opta por uma política interna com ares de escravidão para lidar com seus serviçais. Com isso, o escritor ilustra algo não mais presente na época, também não podendo ser censurado, caso houvesse uma tentativa, pois os empregados tinham um padrão de vida consideravelmente bom para escravos, conforme vemos no parágrafo que segue: "[...] Nessa época, eles viveram com luxo. Por exemplo, equipei cada um dos quartos com uma banheira de ladrilhos [...]" (Fitzgerald, 1922, p.32).
A história é excelente, bem narrada, envolvente, com os fatos e acontecimentos entrelaçados de uma maneira que faz borbulhar nossos instintos sensoriais. Cada descrição traz um êxtase de imagens e cores vivas, envolvidas numa aura charmosa e repleta de brilho e glamour, ponto elevado pelo autor também em outras obras ficcionais como The Great Gatsby, filme baseado num romance de mesmo nome. O fatalismo incitado por Fitzgerald também está presente em ambas as narrativas e, de formas diferentes, também está o amor.

Daniel David Alves da Silva e Vinícius Sampaio Silva são graduandos em Letras/Inglês pela UNIT - Universidade Tiradentes/SE e são componentes do GEPISTAE.