Uma das coisas mais patéticas, tristes, melancólicas, solidariamente constrangedoras, é a espera de alguém que não veio.

Todas aquelas expectativas, todo aquele aparato, todo aquele preparo, toda aquela dedicação, nunca antes feita, nem para nós mesmos, ficam ali a nos olhar como que mostrando o quanto somos extremamente dedicados e detalhistas para construir nossas próprias decepções.

Quando ficamos esperando somente um telefonema ou um encontro em algum lugar da cidade, ainda é um trauma um pouco menor do que quando preparamos um jantar especial, cheio de detalhes, chegando às minúcias de colocar até perfume na maçaneta da porta.

Aí, o prejuízo sentimental é bem maior.

Ficamos com a sensação de que não somos importantes, de que estamos sempre disponíveis e, por isso mesmo, somos descartáveis.

Aquela mesa de jantar maravilhosa vai desbotando à nossa frente, as flores murchando aceleradamente, parecendo uma mesa de jantar de um navio naufragado, no fundo do oceano, misturada com lama, ferrugem e tristezas.

A gente só lembra de um momento desses quando nós somos as vítimas desse abandono, dessa descortesia, dessa desconsideração.

Muitas vezes, talvez, tenhamos feito para alguém, essa mesma coisa que tanto detestamos, tido essa mesma postura, marcando alguma pessoa, um dia, com o ferro quente do descaso e do esquecimento.

Seja sem intenção, apenas porque surgiu um imprevisto, seja por deliberada vontade de fazer alguém não se sentir bem.

O sentimento de quem fica a esperar é muito duro.

Muitos tiram isso de letra e se sentam à mesa e jantam sozinhos, mais felizes ainda, por não ter que repartir a sobremesa.

Eu considero a melhor forma de encarar uma situação dessas para não se deixar afetar muito por comportamentos das outras pessoas e manter sempre, a auto-estima elevada.

Se alguém, um dia te der um "bolo", enfie uma vela nele (no bolo) e comemore mais uma oportunidade de ficar consigo mesmo e, quando for cortar a primeira fatia, não se esqueça de fazer um pedido: que cada "bolo" que levar nessa vida sirva para comemorar a mais perfeita sintonia de amor e dedicação que conhecemos, que é a que temos por nós mesmos.

Sérgio Lisboa.