Por força da profissão, passo, diariamente, praticamente um terço do dia conectado em notícias da Internet ou vendo transmissões jornalísticas das TVs. Não sei se o amigo leitor concorda, mas são tantas imagens de maus tratos contra crianças e animais indefesos, que, acredito eu, o avanço tecnológico formou, ou contribuiu para que se formasse, a geração dos que não fazem a hora e sim esperam acontecer.

Para o leitor mais novo ou que teve a informação censurada nos “Anos de Chumbo” da Ditadura Militar, a expressão “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” surgiu no fim dos anos 60, com o poeta Geraldo Vandré, na música “Pra não dizer que não falei das flores” (Caminhando). Nossa analogia é a seguinte: parece que as pessoas têm mais prazer (ou seria egoísmo?) em filmar e divulgar maus tratos do que impedi-los e evitar, por exemplo, a morte de uma vítima.

Obviamente, o grau de crueldade de algumas imagens causa revolta, chega instigar instinto (a qual está sujeito qualquer ser humano) de fazer “justiça com as próprias mãos”, contrariando ensinamentos cristãos. Mas, quase sempre, depois tudo cai em esquecimento, pelo menos até um próximo vídeo, que não é raro ter motivado a criação de outro agressor, quem sabe atraído pelo holofote da fama instantânea, mesmo que negativa? Penso que fazer a hora, evitando uma agressão ou impedindo que algo ruim aconteça, seja a forma correta de melhorar a sociedade.

Utilizar recursos tecnológicos para buscar provas para uma coisa em que havia apenas suspeita é louvável. Mas, testemunhar constantes espancamentos de crianças ou agressões a animais até conseguir registrar em vídeo, invés de ter impedido já a primeira agressão, é esperar acontecer e beira omissão e pode ser comparado ao lavar as mãos de Pilatos. Concordam?!