ESPERANÇA PERDIDA


O peito estava partido dentro.

Alguma coisa apertava-lhe o coração, como se fosse sufocar-lhe a alma.

A desilusão era grande, havia um vazio imenso.

Tudo começara há bem pouco. Ontem, hoje, pela manhã talvez...

A culpa era da sensibilidade e do coração grande. É, era isso. Valorizara demais a amizade, agora estava sofrendo...

Padrões dinheiristas. Amores desiludidos. Posturas falsas. Cochichos, recochichos. Política retaliatória. Progresso discriminado. Decepção. Sufoco. Uma desgraça arrastando à outra... Estava cansado disso!

Resolvera...

Iria descer e subir à avenida, fazendo uma análise completa.

 As pessoas passavam: pretas, brancas, gordas, magras, altas, baixas, um gato, um cachorro, duas carroças e muitos carros...

O quadro era acabado: o boi espumava cansado, a carroça rangia sem óleo; o gato miava com fome, o cachorro gania com pira; os carros, buzinando, freando e até batendo, passavam, num burburinho medonho.

As pessoas, exatamente as pessoas, passavam rápidas, quase se roçando, mas, sequer se olhavam. Simplesmente passavam. Cabisbaixas, taciturnas, cumprindo um patético ritual de vida...

É... A crença estava perdida.

Quem sabe, amanhã, a esperança seja reconquistada...