1-NOTAS INTRODUTORIAS.

Cogitar a ciência geográfica torna-se difícil, se pensarmos no mecanismo de tradução de realidade usada pela ciência em questão: o espaço geográfico. Esta categoria de analise possui enumeras definições, deste a institucionalização da geografia enquanto ciência no século 19, até o presente século; devido a varias escolas geográficas que surgiram ao longo dos tempos, com intuito de explicar a realidade construída pelo homem sobre no meio ambiente.

A presente reflexão sobre as inúmeras concepções de espaço está associada as suas escolas que surgiram em tempos distintos da historia humana para explicar a realidade vivida. Iniciaremos com a explicação de espaço do dicionário LUFT, que diz: Extensão de superfície; é assim que o espaço, ou seja, é determinado como: Área superficial do planeta Terra.

Notamos que o significado da palavra espaço no dicionário  está em consonância com a definição da Escola tradicional da Geografia, que esboça-o como receptáculo de objetos e pessoas;este fato visivelmente pode ser comprovado pelas palavras de HARTSHORNE:

 

“...Somente um quadro intelectual do fenômeno,um conceito abstrato que não existe em realidade(...) a área,em si própria,está relacionada os fenômenos dentro dela,somente naquilo que ela os contem em tais e tais localizações” (HARTSHORNE,1939,p.395).

 

O espaço para Hartshorne aparece como um recipiente que apenas contém  as coisas. O termo espaço é empregado no sentido de Superfície.

Nesta escola a categoria espaço está margem nos estudos geográficos; somente na escola da geografia teorética-quantitativa que passa assumir o primeiro lugar nos estudos. Contudo,segundo CORRÊA,no âmbito da corrente geográfica em questão o espaço é:

 

“... considerado sob as duas formas que não são mutuamente excludentes. De um lado através da noção de planície isotrópica e,de outro,de sua representação matricial”.(CORRÊA,1995,P.20)

 

Neste contexto é conveniente definir o espaço na geografia teorética-quantitativa como resultado do racionalismo hipotético-dedutivo que modela matematicamente e representa geometricamente a realidade.

Na década 1970, surgi uma nova corrente da geografia fundamentada do materialismo histórico e dialética de Marx com objetivo de romper com a geografia tradicional e teorética-quantitativa. Em  meio aos debates a categoria espaço surgiu como conceito-chave. Para melhor explicar esta mudança faremos referencia as palavras de LEFEBVRE (1976), em seu livro Espacio y Política que define o como sendo local das reproduções das relações (sociais) produção. Segundo CORRÊA:

 

“ Esta concepção de espaço marca profundamente os geógrafos que,a partir da década de 1970 ,adotam o materialismo histórico e dialético como paradigma.O espaço e concebido como lócus da reprodução das relações sociais de reprodução,isto é,reprodução de sociedade.”(CORRÊA,1995,.P.26).

 

Pelas afirmações de Corrêa  podemos concluir que a Geografia Crítica analisa o espaço geográfico como sendo fruto das relações sociais sobre da superfície terrestre (re)produzindo realidades diversas de acordo com a necessidade humana.

Já na Escola Humanística e cultural a sua base epistemológica está calcada fenomenologia e no existencialismo sendo uma crítica à geografia teorética-quantitativa. Neste contexto o espaço geográfico se apresenta como espaço vivido local marcado pela afetividade das pessoas com seu lugar, ou seja, um espaço marcado pelo amor do individuo pelo território de convivência.

Para concluir usaremos as palavras de Corrêa:

 

Eis o espaço geográfico, a morada do homem. Absoluto, relativo, concebido como planície isotrópica, representado através de matrizes e grafos, descrito através de diversas metáforas, reflexo e condição social, experienciado de diversos modos, rico em simbolismo e campo de lutas, o espaço geográfico é multidimensional. Aceitar esta multidimensionalidade é aceitar por praticas sociais distintas que,como HARVEY (1973) se refere,permitem construir diferentes conceitos de espaço. (CORRÊA, 1995, p.44).

 

Em resumo é conveniente falar que o espaço geográfico assume inúmeros significados e funções de acordo com a escola,  independentemente do assunto analisando. E quando falamos do espaço e seus estudos nas Universidades em nossos pais no século XXI, notam-se que analise espacial é sempre na perspectiva da geografia critica que melhor traduz a realidade  vivida pela sociedade atual. Mas se falamos do ensino de geografia na Educação Básica, olhamos que a ciência está andando na contra-mão do processo de ensino-aprendizagem idealizado,pois ainda  o conceito-chave é representado como recipiente de objetos  e pessoas ,conceito este da escola tradicional.

2-DESENVOLVIMENTO.

Espaço geográfico o conceito-chave da geografia, instrumento de analise da realidade que (re)produz o homem; mesmo assim este conceito não está sendo ensinado seguindo os fundamentos da escola critica da geografia, nas escolas publicas do estado do Pará, principalmente na microrregião de Marabá, no município de São João do Araguaia, talvez pelo fato de má formação inicial dos docentes, falta de formação continuada, péssimos salários e infra-estrutura.Contudo este fato não é a primazia deste trabalho;pois a pesquisa está voltada para noção de espaço geográfico ensinado na disciplina de geografia.

Neste contexto foi aplicada nas turmas de 1º ano, do turno vespertino de Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Abel Figueiredo no Município de São João do Araguaia-Pa, uma avaliação diagnostica sobre o conhecimento que os alunos tinham da categoria  espaço, foi verificado que  tinham um conhecimento superficial.

Ao analisamos as respostas dos descentes e concluímos que as palavras são um verdadeiro relato corológico da realidade, ou seja, um almanaque  da geografia tradicional, por que mostra o espaço como receptáculo que contem objetos e pessoas, sem preocupar com os as formas, funções, processo e estrutura que formam o espaço geográfico segundo afirma Milton Santos (1985).

Essa avaliação diagnostica nas turmas do 1º ano, deu oportunidade ao professor de geografia de conhecer as fragilidades dos discentes com relação ao estudo do espaço geográfico, que  traziam da 1º, 2º fase da educação básica (ensino fundamental). E nos leva a especular quais são as reias situações que estes  vivenciaram para chegarem ao Ensino Médio com essas falhas que são relevantes para o ensino de geografia.

Contudo os educandos estão no Ensino Médio, este fato leva o professor propor aulas que venham amenizar esta situação que está em evidencia. Cabe ao docente elaborar um projeto de intervenção para amenizar esse problema.

 Já ciente da situação das turmas analisadas através da avaliação diagnostica, foi proposta para os alunos uma pesquisa em fontes bibliográficas, onde os mesmos estariam buscando o significado cientifico da categoria maior da geografia.

Logo em seguida, em outra aula foi proposta aos alunos que confrontassem os resultados de sua avaliação diagnostica com a pesquisa do conceito de espaço geográfico. Essa metodologia tem como objetivo levar o aluno compreender espaço geográfico na perspectiva da geografia Critica fundamentada no Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx, com isso verificar se o seu conhecimento prévio está de acordo com o significado cientifico ensinado e se ainda está fundamentada na geografia tradicional que leva os educandos a ver a geografia como a ciência mnemônica e não uma ciência  critica.

O relatório comparativo foi observado que os discentes fizeram um analise da avaliação diagnostica aplicada pelo professor, com a pesquisa feita em livros e na internet. O resultado desta analise foi satisfatória pelo fato que  concluíram que os seus conhecimentos sobre o conceito não está em consonância com a noção adotada de espaço geográfico. Por mais que errassem, contudo através desta analise compreenderam o real significado do conceito dentro do contexto da geografia Marxista e puderam mudar a suas opiniões.

Para testificar este fato será transcrito a analise comparativa de um dos grupos formado por alunos do 1º ano “A” do período matutino da Escola supracitada:

 

Espaço geográfico: pensamos que o espaço geográfico era o meio em que vivíamos e a localidade é nossa cidade etc. Contudo não erra bem assim, mais segundo a pesquisa o espaço geográfico é produto da ação do homem sobre o meio natural através do trabalho, empregando a mão- de -obra, as técnicas e as tecnologias para transformar a realidade(....)”Trecho da analise comparativa do grupo de alunos da 1º serie “A” do turno matutino.

 

Com base na pesquisa feita com os alunos percebemos que o conhecimento  prévio  de espaço geográfico  que estes trazem do ensino fundamental não está completamente distorcido, pois o que há forte influência nas suas palavras da escola tradicional da geografia, pois  o espaço geográfico é caracterizado como área, ou seja, parte da superfície terrestre;com certeza fato que pode refletir o processo de ensino-apredizagem nas serie iniciais.

Mas o fato de os mesmo pesquisarem o espaço local que estão inseridos,pode ser um forte ferramenta para construir a noção de espaço. Por que através do lugar o aluno constrói a noção de Espaço geográfico, quem afirma  CASTROGIOVANNI, no seu texto APREENSÃO E COMPREENSÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO:

 

Por alfabetização espacial deve ser entendida a construção de noções básicas de localização, organização, representação e compreensão da estrutura do espaço elaborada dinamicamente pelas sociedades. A representação dos segmentos espaciais e fundamental no processo de descentração do aluno facilitando a leitura do todo espacial [....]”(CASTROGIOVANNI,pag.14)

 

Portando podemos perceber pelas declarações de CASTROGIOVANNI, que a maioria dos educando são analfabetas geográficos, ou seja, não tem noção de espaço geográfico na sua plenitude, o que sabem é uma leve noção de espaço da escola tradicional; isto pode ser facilmente notado na pratica diária dos professores de geografia do ensino fundamental e médio.

 Com descrição do espaço geográfico onde estão inseridos, para que o docente tivesse uma visão geral a que passo anda a interiorização do conhecimento proposto nas aulas. Segui abaixo uma das descrições feitas pelos alunos do espaço geográfico onde estão inseridos:

 

         “ Espaço geográfico do Distrito de Apinajes

O Distrito de Apinajes era uma antiga aldeia de índios denominados Apinajes, por este motivo o distrito chama-se Apinajes. No primeiro passo, começamos, a fotografar de forma panorâmica o Distrito Apinajes, inicialmente pelo posto de saúde local e andamos em direção à Igreja Católica e Igreja Evangélica Quadrangular.

O distrito de Apinajes pertence ao município de São João do Araguaia, é um lugar bom de viver, tem frutas típicas da região e frutas de outras regiões brasileiras, este fato torna-a bem arborizada.

Em Apinajes não vemos casos de violência como nas cidades grandes.Filmamos a rua principal de Apinajes, a Rua Exupero Seixas, nesta rua há bastante movimento de carros, motos e pessoas. É rua que concentra os comércios de alimentos, oficinas de bicicletas e motos, bares e lojas de roupas etc.. Nesta mesma rua à tarde ou aos finais de semana acontecem brincadeiras que é um momento de socialização entre os jovens.

No município de São João do Araguaia, no Distrito de Apinajes notamos problemas graves tais como: lixos domésticos e resíduos que são jogados nas ruas, poluição dos córregos e do rio Araguaia e muita água parada que pode gerar muitos focos de Dengue (...)”.

 

Notamos com base na descrição do espaço geográfico de Apinajes que os alunos não conseguiram definir de forma bem clara os elementos que compõem o espaço geográfico deste Distrito tais como: forma, funções, processo e estrutura, contudo é notório que de forma bem sutil os mesmos conseguiram interiorizar o conceito proposto na perspectiva da geografia crítica. Contudo podemos definir que eles já estão compreendendo a noção de espaço socialmente construído, para falar desta concepção de espaço, utilizaremos as palavras de Corrêa:

 

O espaço entendido como espaço social,vivido,em estreita correlação com a pratica social não deve ser visto como espaço absoluto,vazio e puro,lugar por excelência dos números e das proporções[...].O espaço não é nem o ponto de partida(espaço absoluto),nem o ponto de chegada(espaço como produto social).” (CORRÊA,pag.25)

 

Portando podemos perceber pelas palavras de Corrêa que o espaço é construído pelo homem de forma em que possa atender os seus desejos. Neste contexto podemos afirmar que os alunos pesquisados construíram de forma preliminar a noção de espaço geográfico partindo do lugar que estão inseridos no contexto epistemológico da geografia marxista.

 

3-conclusão

Para o desfecho do trabalho foi exigido do aluno que montassem uma apresentação slides expondo o espaço geográfico e os elementos que formam. Logo em seguida foram analisados os trabalhos finais dos alunos, que estavam formatados em Power Point, concedêramos os trabalhos hábitos para apresentação. Através destas apresentações pode-se concluir pelas falas, que agora olham o espaço como produto das relações sociais.

Em suas palavras nota-se claramente a evolução concernente ao conceito de espaço geográfico, pois no principio da pesquisa é notório em suas explicações que o espaço para eles era simplesmente um receptáculo de objetos e pessoas, tinha como objetivo conter as coisas. Isso torna-se evidente que o seu conhecimento está alicerçada na escola tradicional da geografia que perdeu forças em meados da década de 1950.Contudo ainda hoje observamos resquícios de sua presença na escolas publicas paraense  da microrregião de Marabá.

Mas com este trabalho de pesquisa e estudo com os alunos das turmas de 1º ano da E.E.E.M Dr. ABEL FIGUEIREDO;foi percebido que a concepção dos educandos mudaram,passaram a ver o espaço geográfico como produto das relações sociais do homem através do trabalho de cada sociedade que tendem a modelar ou seja (re) reproduzir o espaço geográfico a sua volta.Com base neste prerrogativa podemos afirmar que os alunos cresceram e amadurecem a sua concepção espacial no contexto da geografia escolar.

 

4-REFERENCIAS.

CASTROGIOVANNI, Antonio C.et ali(Org.).Ensino de Geografia:práticas e textualizações no cotidiano.Porto Alegre:Editora Mediação,2008.

CÔRREA, Roberto Lobato.et ali(Org.).Geografia:Conceitos e Temas.Rio de Janeiro:Editora Bertrand Brasil,2003.