No tempo de Jesus havia muitos grupos político-religiosos, porém, os mais citados no Novo Testamento são os Escribas e os Fariseus. O Mestre usa essas duas categorias de pessoas quando quer ensinar o povo sobre os perigos de uma religião baseada apenas na prática de rituais e da Lei, sem a misericórdia e o amor, ou sobre atitudes revestidas de hipocrisias.

            Os Escribas eram também chamados de Doutores da Lei, por serem conhecedores profundos das Escrituras. Eles monopolizaram a interpretação da Palavra de Deus e se tornaram guias espirituais do povo, ditando, inclusive, as regras para direção do culto.

            Os Fariseus eram integrantes de um outro grupo. Eram aliados à elite sacerdotal e grandes proprietários de terras. Fariseu quer dizer separado. Assim viviam. Longe do povo simples. Os Fariseus eram cumpridores da Lei e criadores de tradições. Escribas e Fariseus eram simpatizantes entre si, a ponto de muitos Escribas serem também Fariseus.

         Mas, porque Jesus os criticava tanto? A resposta encontramos no próprio Evangelho. Refletindo sobre ele, podemos concluir que escribas e fariseus vivem ainda hoje. Nós podemos identificá-los através das atitudes de muitos cristãos, católicos ou evangélicos, que, embora freqüentadores assíduos de sua Igreja, ainda não entenderam o que é pertencer a Cristo, deixando transparecer uma grande incoerência entre o que se prega e o que se vive.

            Talvez se Jesus fosse proferir na linguagem de hoje o que disse em Mateus 23, 13-36, diria assim: Ai de vocês escribas e fariseus hipócritas! Vocês fecham o reino do Céu para os homens. Nem entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. Vocês são hipócritas. Exploram os fracos e oprimidos, os empregados da sua empresa ou da sua lavoura e, para disfarçar, fazem longas orações! Mas vocês não perdem por esperar, vão colher o que estão plantando. Vocês lutam para converter alguém, e quando conseguem, o torna ainda pior porque vocês são guias cegos! Ai de vocês escribas e fariseus. Vocês valorizam muito mais a riqueza das suas igrejas do que o povo, igreja viva. Hipócritas e cegos! Vocês pagam o dízimo rigorosamente, e deixam de lado os ensinamentos mais importantes das Escrituras, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês criam problemas por coisas insignificantes e fecham os olhos diante das injustiças. Ai de vocês, escribas e fariseus hipócritas! Vocês se preocupam em seguir a Lei e a tradição com rigor, mas por dentro estão cheios de desejos de cobiça e ganância. Vocês são como túmulos pintados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos e podridão! Assim são vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça. Raça de cobras venenosas! Vocês não podem escapar da condenação do inferno! Vocês perseguem e matam aqueles que são profetas, mas o sangue deles virá sobre vocês.     

            “Jesus critica e condena os líderes religiosos que sustentam um sistema formalista e hipócrita: eles não consideram o Reino de Deus como dom, nem a liberdade dos filhos de Deus. Tal sistema impede de entrar no Reino, pois não leva à conversão, mas á perversão, e destrói o verdadeiro espírito das Escrituras. A religião formalista e jurídica não é meio de salvação, mas produz prática escravizadora, o que é totalmente oposto àquela que deve ser vivida por qualquer comunidade cristã”. (Comentário dos versículos 13 a 36 do Capítulo 23 de Mateus - Rodapé da Bíblia da Edição Pastoral)   

                                    

João Vitor Mariano

Uraí - Paraná