ESCOLA PÚBLICA E MATEMÁTICA, CAMINHOS E DESCAMINHOS NA REALIDADE CEARENSE
Publicado em 12 de novembro de 2013 por MARA PAULA SANTOS SILVA
Paulo Meireles Barguil – Prof. Dr. UFC
Mara Paula Santos Silva – Pedagogia UFC
Ana Caroline Santos Cruz– Pedagogia UFC
Ana Caroline Costa Bessa– Pedagogia UFC
Ana Paula Moura da Silva– Pedagogia UFC
Juliana Jacaúna Carlota– Pedagogia UFC
Mônica Barbosa dos Santos– Pedagogia UFC
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada como pré-requisito da disciplina Ensino de Matemática, tendo como objetivos principais assistir uma aula de matemática, perceber os recursos pedagógicos usados pelo docente e conhecer a realidade escolar e posterior a isso, propor novas perspectivas de ensino. Nesse contexto, a equipe usou como ferramenta metodológica, além da observação, a entrevista que foi realizada com um docente.
A pesquisa ocorreu em uma escola pública municipal, intitulada M. A. localizada em Fortaleza - CE, no dia 29 de janeiro de 2013 às 15h30min (horário do início da aula de matemática), em uma sala de 2º ano do Ensino Fundamental I. A professora de sexo feminino, de iniciais F. E. C, 45 anos, exerce sua profissão há 15 anos e possui formação na área de Pedagogia.
DESCRIÇÃO DA SALA DE AULA
A sala de aula media aproximadamente 7,59 x 5,52 m². As cadeiras eram velhas e desconfortáveis e estavam dispostas em fileiras em sentido horizontal da sala (dando a ideia de dois semicírculos). Havia três ventiladores: um sem funcionamento, o segundo ventilava “quase parando” e o terceiro funcionava, porém era bem enferrujado. Entretanto, a sala possuía três janelões que permitiam que a mesma fosse ventilada e arejada. O teto apresentava infiltrações e havia muitas luzes florescentes que somadas à luz que entrava pelos janelões, resultava em boa iluminação. O piso era velho, mas conservado. A mesa da professora estava próxima à lousa e ambas estavam em boas condições de uso. Existia um armário de ferro que a professora guarda o material didático.
Compareceram, neste dia, apenas 11 alunos de um total de 23 alunos matriculados nesta sala. As crianças tinham entre 7 a 9 anos. Segundo a professora, elas eram poucas nesta data devido às pessoas daquelas adjacências estarem em luto e assustadas pela morte de um conhecido deles.
DESCRIÇÃO DA AULA
A professora já havia sido avisada que um grupo de estudantes iria observar um pouco da sua aula a fim de pesquisar a cerca das práticas docentes. Ao chegarmos, notamos que ela ficou um pouco receosa. Informamos para a professora que gostaríamos de observar uma aula de matemática. Como chegamos no primeiro tempo de aula, ela nos permitiu entrar, mas informou que a aula de matemática seria no segundo tempo, e que o primeiro tempo era letramento com a utilização do livro do PAIC.
No momento da aula de matemática, a professora ministrava uma aula sobre agrupamento e se relacionou de forma amistosa com todos os alunos. Ela iniciou a aula dialogando com as crianças acerca do que já sabiam do assunto e, em seguida, fez a apresentação dos conceitos. De modo geral, percebemos que houve uma valorização dos conhecimentos discentes. Contudo, observamos que não relacionava o conteúdo de matemática com o cotidiano dos alunos, isso ficou bem perceptível, pois ela sempre apresentava exemplos do livro.
O livro didático utilizado é intitulado “Fazendo e Compreendendo Matemática”, e seus autores: Lucíola Bechara Sanchez e Marlúcia Peralberg Libermam, 2° ano, editora Saraiva 6ª edição reformulada 2008, componente curricular: Alfabetização Matemática. Vale ressaltar que nem todos os alunos tem o livro, pois o mesmo não veio para todos devido ao fato de alguns alunos serem matriculados após a data do pedido dos livros, assim, segundo a explicação da professora ficou inviável o pedido mínimo de livros. Então, ela sugere aos alunos que não tem livro formem dupla com outro colega.
Ao explicar aos alunos sobre a resolução dos problemas apresentados, a professora não representou a escrita na linguagem matemática, ou seja, não “armou as contas”.
Na 1ª questão da página 95, que pede para completar com algarismos, palavras e com uma adição, a professora inicia solicitando aos alunos que visualizem a imagem e depois identifique dezenas e unidades. Na questão, o registro na linguagem matemática não é feito, ou seja, a continha não é armada com números, sendo utilizada a forma escrita. Contudo, a questão pede o algarismo, a palavra e por último armar a continha (que a professora esquece-se de fazer em todos os itens). Ela pede apenas que digam as dezenas e unidades e coloca no quadro 20 + 6, não possibilitando que as crianças entendam a relação entre a representação matemática e a imagem apresentada.
Foram realizadas apenas atividades do livro didático, e como já mencionamos, não havia livro para todos os alunos. A forma de suprir a ausência do material para alguns é parcialmente resolvida, quando colocados em dupla. Percebemos que o aluno que fica sem livro pode passar despercebido pela professora quando avalia o aprendizado, pois notamos que enquanto a tarefa foi realizada, um estudante permaneceu aparentemente desmotivado e desenhando algo que nada tinha haver com a atividade. Quando o amigo não conseguia resolver as questões pedia a ajuda do outro que não podia ajudar-lhe muito já que não exercitava com atividades propostas no livro.
Durante a explicação do conteúdo a docente utilizou, além do livro, o material dourado, onde foi possível representar as unidades e as dezenas. Os alunos participaram da aula ao resolver as questões na lousa e ao responder os questionamentos da professora. Quando chamados a utilizar o material dourado, todos mostraram interesse em fazer a representação, aguardando ansiosos a sua participação. A aula foi iniciada às 15h30min e durou 30 minutos.
AVALIAÇÃO DA AULA
Diante da perspectiva atual se vê a necessidade em dinamizar as aulas com novos recursos que incitem a participação ativa e criatividade de alunos e docentes. Assim, em uma aula onde só há uso do livro como recurso e somente um tipo de material concreto, principalmente nessa faixa etária em que a dispersão é algo quase inevitável, não se consegue administrar por muito tempo a realização do aprendizado, sem que uma parte dos alunos não esteja em déficit. Assim pode-se afirmar que o tempo de aula não foi bem aproveitado pela ausência de criatividade, embora existisse uma tentativa de entrosamento da professora com os alunos, e esse foi um aspecto positivo, além do uso do livro, mas é importante ressaltar que nem todos os alunos tinham.
É perceptível, portanto, que esse modelo de aula contribui para a formação de um aluno sem criatividade e ainda incapaz de contextualizar os conteúdos que vivencia na escola à sua vida cotidiana, justamente pela ausência dessa relação no discurso e ações da docente, sendo assim, esses alunos serão reprodutores do que aprenderam, sem compreender epistemologias e interpretações tão necessários nesse processo de ensino e de aprendizagem. Esse tradicionalismo continua formando cidadãos que não acreditam em seu potencial, pois aprenderam que existe sempre um modelo a ser seguido, não vendo necessidade em exercer sua criatividade. Para que essa aula seja mais criativa sugere-se a presença de diferentes materiais concretos em todas as aulas, além da linguagem matemática correta e sua representação na lousa.
PLANEJANDO UMA NOVA AULA
Pode-se citar aqui alguns dos recursos que a professora poderia usar para dinamizar as aulas no sentido de explorar a criatividade docente e discente.
Ao iniciar a aula, a professora poderia apresentar alguns materiais como folhas coloridas, canetinhas, lápis, cola e tesoura sem ponta, para a confecção de objetos (material concreto) para se trabalhar na aula, mas somente após indagar dos alunos alguma situação que eles tenham vivenciado que se relacione ao que será estudado e se imaginam que conteúdos irão estudar.
Depois pedir que os alunos se dividissem em grupos de, no máximo 5 (aqui vai depender da quantidade de alunos presente na sala).
Durante essa fase de confecção perguntar aos alunos como eles acham que os povos antigos faziam para realizar o mesmo percurso que estão percorrendo. Até aqui já estaria sendo trabalhada, além da coordenação motora, a importância do trabalho em equipe, noções de medida, a história e consequentemente os “por quês” de se estudar tais conteúdos, dentre outra diversidade de coisas, e isso tudo relacionando as atividades que o livro apresenta e que serão realizadas em casa, caso não haja tempo para o fazê-las em sala. O embasamento teórico poderia continuar a ser o livro, porém da forma mais lúdica possível.
Após a confecção dos objetos, que levaria 15 minutos para a conclusão, a professora poderia indagar aos alunos como eles agrupariam esses objetos, como classificariam (por cor, tamanho, etc.) e pedir também que fizessem (aqui também depende da quantidade de alunos presente na sala, por exemplo: 30 alunos poderiam formar 6 grupos de 5) grupos diferentes e representassem na lousa, essa parte da aula levaria 20 minutos. Após essa fase dentro do tempo estabelecido, os alunos deveriam se reunir em um grande círculo juntamente com a professora e apresentar as dificuldades que tiveram ao realizar a atividade.
E por fim, em aproximadamente 10 minutos, a professora daria as explicações necessárias, relacionando tudo o que foi visto com os conceitos científicos.
CONCLUSÃO
É perceptível, portanto que a escola pública ainda não obteve avanços capazes de transformar uma realidade onde a Pedagogia Tecnicista e Tradicional, são modelos fáceis de copiar e disseminar na práxis cotidiana dos docentes, onde quem aprende e quem ensina está fadado a se manter nesse patamar de atuação mínima, onde o aluno por falta de motivação, oportunidade e conhecimento do professor, se vê sem perspectiva de futuro e não é capaz de compreender a epistemologia dos conhecimentos adquiridos, que são de fato necessários para toda a sua vida escolar e social.
Outrossim, é indiscutível a necessidade da escola retomar o seu papel de formar opiniões com conhecimento histórico, onde o sujeito em situação de aprendizagem se perceba como ator que participa e faz parte da construção do conhecimento físico, social e científico.
REFERÊNCIAS
BARGUIL, Paulo Meireles. Matematização: uma longa e prazerosa caminhada. Fortaleza. 2012. 12 f. Notas de aula. Digitado.
________. Sentido numérico: usos, registros, propriedades e operações. Fortaleza. 2012. 8f. Notas de aula. Digitado.
________. Sistema de numeração decimal: histórico e características. Fortaleza. 2012. 11 f. Notas de aula. Digitado.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
APÊNDICE
QUADRO – REGISTRO DE EVENTOS OBSERVADOS
DURAÇÃO MINUTOS |
EVENTO |
ATITUDE DO (A) PROFESSOR (A) |
ATITUDE DO (A)S ESTUDANTES |
COMENTÁRIO DA EQUIPE |
5 min |
Explicação do conteúdo |
A professora demonstra, com o uso do material dourado, a representação de dezenas e unidades |
Participam da aula com interesse em usar o material apresentado. |
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25 min |
Resolução de questões |
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