Escola e aluno: dois lados de uma mesma moeda.

Sebastião Maciel Costa (*)

Apresentação

            Alunos de Cursos de Especialização e Mestrados em Ciências de Educação, professores da Educação Básica das mais variadas Redes de Ensino enfrentam um sério desafio: buscar e encontrar explicações para a real causa do baixo aprendizado do aluno na escola de hoje, independente Rede a que o indivíduo pertença. Trata-se de uma questão que se arrasta por muito tempo envolvendo motivações para se crer que o problema esta na distância que há entre o que se ensina e o que o aluno aprende. A escola não está cumprindo, de fato, o seu papel, ou o aluno “não pediu para aprender o que se pretende ensinar”? O que precisa ser revista é a estrutura do sistema ou a “educação doméstica” que não está sendo desenvolvida antes de o indivíduo tornar-se “estudante-aprendente”?

Responsabilidades

            Se o cerne da questão estiver na  estrutura “imposta” pelo sistema, vale valer-se  do posicionamento de Viviane Mosé: “...a velocidade da informação dita as regras do hoje. O que escola está ensinando, que a internet não possa fazê-lo... O que o aluno precisa saber é o que o professor ensina? Ela compara a escola com algo se não jurássico, impositivo. Vejamos, diz ela: “O ensino em série, faz-se cumprir, sem discutir, uma grade curricular,  que exige, acima de tudo, uma disciplina, não. Várias disciplinas,  o que exige passividade e que não permite que o aluno pense em “pensar” já que estão  em prisões vigiadas, pátios limitados, sem arejamento entre os processos, a repetição, isolamento, afastado das ruas, das drogas, da violência, quanto mais tempo na escola, menos tempo para viver e aprender cidadania. Viver cidadania é conviver com os problemas da cidade, da vida... para finalizar, diz ela: para o “prisioneiro” ser liberado, ele precisa  provar que aprendeu direitinho o que lhe foi passado. Ele, pela prova, prova que pode vir à rua, à vida, ao mundo real...Estará ele, o aluno, “preparado” para a isso?

           Se o eixo da questão estiver no aluno, suas raízes estão em casa, na estrutura familiar, nas condições em que vive, se come, se  veste, se há família, se há valores, se há perspectivas, esperança, futuro. Cada indivíduo traz em si, e em todos os tempos, marcas de sua formação, de suas histórias, do seu passado. Isso não é descartado a cada fase da vida, é cumulativo, é somatório. O indivíduo pode ser produto de famílias modernas, pais do mesmo sexo, mães do mesmo sexo, pais presidiários, traficantes ou viciados, mães profissionais do sexo, irmãos, se os tem, nos  morros, becos, vielas, invasões, barracos... A escola, a que foi “programada” para forjar cidadãos, vive ou viveu esse “mapeamento”? Houve, em algum momento, essa caracterização de área, para se obter o perfil mínimo do universo de experiências que será abrigado na “catedral” do saber?            

            Admitindo-se, por hipótese, que tanto a escola, numa concessão especial, não seja “a prisão de sonhos” e que o indivíduo-aluno seja a exceção do perfil de portador de tantos ranços e problemas, ainda surge uma nova teia de complexidade: histórias do submundo do crime, da vida fácil, de “levar-vantagens”, do tráfico e da vilania; enredos da banalização da violência, da exaltação de mediocridades, da inversão de valores, a superficialidades de compromissos e irresponsabilidade social e a intolerância estão muito mais presentes no imaginário do indivíduo do que as vãs expectativas que qualquer professor, em sua “vã filosofia” possa imaginar e professar. É a escola contra o resto do mundo, incluindo o professor, figura carimbada como o coitado que pensa em mudar o mundo.

            À medida que envolvermos os alunos em aprendizagens e em seus trabalhos, iremos despertar neles o desejo de aprender, por que explicar a relação entre o saber, o sentindo do trabalho escolar, desenvolveremos na criança a capacidade de auto – avaliação, além de fazermos funcionar o conselho de alunos  negociando com eles diversos tipos de regras e de contratos. No papel de docente ainda poderemos oferecer atividades opcionais de formação e favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno. (Perrenoud, Cap. 04 e 05/p.78).

            Nesse emaranhado de vieses, evoca-se uma cena do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, em que a menina corre e percebe, com espanto, que todo o ambiente está correndo com ela. A Rainha Vermelha, então, explica: “Você precisa correr mais do que os outros”.

            Pelo ângulo que esse raciocínio nos conduz, a escola está ficando para trás em comparação com outros organismos sociais do desenvolvimento, como a Igreja e as comunicações que movidas pela agilidade da tecnologia, da automação e da modernidade, têm dado saltos qualitativos de fazer inveja a qualquer sistema que a humanidade já tenha instituído, usufruído e aperfeiçoado na corrida pela excelência de seus objetivos. Temos muito o que aprender,  fazer e avançar e só isso não é suficiente: precisamos evoluir mais do que os outros organismos.

             Mudanças são necessárias para adequar os currículos
às exigências do mundo atual. Os famosos PPP (Projeto Político Pedagógico) precisam sair do papel, Os PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) precisam sair das gavetas de gestores públicos  que os  têm na escola apenas como peça de um sem-número de documentos que os habilitam a terem acesso a mais programas, a mais recursos, a mais “projetos”, totalmente descaracterizados com a  realidade onde a escola está plantada.

            Na ornamentação do salão onde será entregues os boletins com os insólitos resultados do bimestre, do semestre ou do ano letivo, têm flores de papel laminado, mas não tem um galho de flores do campo que circunda a escola, na mesa há um jarro com flores artificiais mas não tem uma planta que a criança vê ladeando o seu caminho diário, na parede um belo cartaz que mostra uma fogueira de São João feita com paus-de-picolé, mas não se faz uma fogueira real, símbolo de um folclore que está vivo na alma do povo, no vídeo apresentado sobre as agressões do homem ao meio ambiente mostra o degelo das calotas polares, mas não documentam a poluição dos rios locais e os esgotos a céu-aberto que a criança vive em sua realidade...A escola é ficção.

            O Modelo de Ensino Brasileiro foi delineado há anos e entre os entraves para mudanças está o conservadorismo da sociedade e, por conseguinte, da comunidade acadêmica brasileira a quem cabe contabilizar os problemas e o prejuízo resultante da duvidosa qualidade da Educação Básica.

            Muitos educadores pressupõe que não precisam criar novos métodos de ensino, acreditam que inventar diversas maneiras de ensinar, é complicado e cansativo. Ainda outros se sentem desmotivados por conta da reação dos seus educandos (falta de interesse), pois, nem sempre é fácil suscitar no aluno o desejo de aprender, despertar seu interesse e motiva-lo a participar das aulas. Movidos por estas deficiências constatadas no cotidiano escolar, entendemos que o professor precisa se renovar. Por que o docente precisa criar novas competências para ensinar?  O docente pode criar seu planejamento de aula dentro do Projeto Político Pedagógico estabelecido pela escola, incluindo nele diversas competências, (Perrenoud.-2008).

            Motivação para a aprendizagem pode ser uma alavanca importante para, de início, neutralizar ou pelo menos inibir a ação que insiste em se interpor entre o que ensinar, para que ensinar, a quem ensinar, quando ensinar e, indiscutivelmente, como ensinar. Um educador motivado pela vocação, forma alunos motivados pelo senso de organização. Os professores estão sempre se perguntando sobre o que devem fazer para que os alunos realmente aprendam.

            No dicionário Silveira Bueno, motivação quer dizer exposição de motivos ou causas; animação; entusiasmo. Através dessas definições, pode-se constatar que estar motivado é estar animado, entusiasmado. Para isso, é necessário ter motivos para se chegar a esse estado. O que se faça na vida, exige primeiro a vontade de realizá-la, senão nada acontece. Isso também ocorre na educação. Educação requer Ação e como resultado dessa ação, há o aprendizado. Mas para que se realize a ação e esta resulte no aprendizado é necessário, inicialmente, que haja a vontade, nesse caso, a vontade de aprender.

           O professor deve descobrir estratégias, recursos para fazer com que o aluno queira aprender, em outras palavras, deve fornecer estímulos para que o aluno se sinta motivado a aprender. Mas esse fenômeno só irá se concretizar se houver, em princípio, parceria, conspiração positiva, interação entre o ensinar e o aprender; o mostrar como se faz e o constatar de que fazendo-se aprende Há muitos caminhos que conduzem ao sucesso, muitos, às vezes impõe limites e barreiras. É preciso vivenciar, para conhecer; experienciar, para discernir; sentir, para assenhorar-se; apropriar-se, ter sob seu domínio, saber manusear, fazer acontecer...porque aprendeu a fazer. E esses muitos caminhos podem ser trilhados a partir de atitudes como tratar todos os alunos da mesma forma enquanto pessoas, mas de forma personalizada, quando quem entra em jogo é a sua capacidade de respostas.  Aproveitar as vivências que o aluno já tem e traz para a escola incluindo temas e abordando questões que estejam ligados à realidade do aluno, a sua história de vida, respeitando a sua vida social, familiar. É um dos caminhos que poderá nortear muitos outros.

            A escola, por meio dos trabalhadores em educação, deve ensinar o aluno a ser ético e crítico, mostrando a ele que a crítica é boa, desde que feita de maneira adequada e que a ética é fundamental em qualquer relacionamento humano, em qualquer ambiente: Familiar, Social, Escolar, entre outros.

            .A questão parece que volta como o  efeito “ bumerang” pondo a escola no olho do furacão como a única sob quem recai toda a responsabilidade pelo  insucesso das atuais sociedades. Assim seria, se todos os organismos responsáveis pela formação plena do ser humano, trabalhassem de forma pelo menos harmoniosa considerando que a vida é uma escola e que a melhor escola é aquela que não nos mostra nem dá exemplo, mas aquela que conseguiu ser exemplo para a nossa vida

Considerações

            Retornando aos intermeios e recortes da imortal obra de Lewis Carroll (Alice no país das Maravilhas) “...poderia, gatinho de Ceshire, me dizer por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?”. Em hipótese, o aprendente pode emitir esse apelo de precisa sair da escola que o prende, o anula,o isola... – Isso depende bastante de onde você quer chegar. Disse o gato. “ O lugar não me importa muito....” disse Alice. O gato mais uma vez retrucou: - Então não importa muito  que caminho você vai tomar. – “Desde que eu chegue a algum lugar” acrescentou Alice em forma de explicação. – Oh certamente você chegará a algum lugar... reforçou o gato. Quem não sabe o caminho que deve percorrer para construir sua casa, não terá preocupação de saber que casa será esta.

            No trabalho de confecção de um sistema que atenda perfeitamente os dois aspectos do processo ensino-aprendizagem: ensinar e aprender, o aluno-aprendente precisa saber-se capaz de... apto para... disposto a... com a devida base oferecida pela escola por meio da interação escola-conteúdo-professor-aluno. É preciso se saber o que se sabe, para correr em busca do que escapou a esse nível de percepção. É o controle, é o monitoramento de ações, é um planejamento de estudo posto em prática, é autorregulação. O indivíduo precisa sentir-se membro do construto-aprender e para tanto é preciso que se identifiquem os graus de responsabilidades e comprometimento com as causas da busca de conhecimento. Se o indivíduo de apercebe envolvido no processo, ele evidencia a   cada dia novas possibilidades; se ele encontra parcerias proativas no seu caminho, ele não tem porque desistir; se a escola, professor, sistema e aluno se envolvem em uma ação cujos percalços são divididos, os dividendos ampliar-se-ão a cada etapa, a cada curva do sinuoso caminho do ensino-aprendizagem, em todos os tempos.

Referências

Chiraldelli jr., Paulo. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

Hadji, Charles. (2011). Ajudar os alunos a fazer a autorregulação de sua aprendizagem: por quê? Como? (Visando um ensino com orientação construtivista). Trad. Laura Pereira. Pinhais: Melo.

PCNs  -Ensino da Língua Portuguesa no ensino Fundamental I e II – 1998.

Perrenoud. Philippe. (1999). Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens – entre duas lógicas. Reimpressão 2008. Trad.: Patrícia Ramos. Porto Alegre: Artmed.

Romanelli, O . de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis: Vozes, 1987.

Silva, Francisco Carlos Teixeira da; MATTOS, Hebe Maria. Escritos sobre história e educação: homenagem a Maria Yeda Leite Linhares. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.

(*) Mestrando do Curso de Ciências da Educação