ESCATOLOGIA DE PAULO

Prof. Dr. Odalberto Domingos Casonatto


Esta pesquisa bíblica sobre escatologia de Paulo foi realizada como preparação a tese de doutorado que versou sobre escatologia na Carta aos Gálatas. O intuito foi abrir a visão iniciando a pesquisa com a Escatologia Bíblica para atingir uma compreensão maior do pensamento escatológico Paulino na Carta aos Gálatas. O presente artigo tem uma roupagem acadêmica e não tem pretensões de querer ser a ultima palavra sobre o assunto, mas simplesmente colocar a disposição dos interessados do tema Escatologia na Bíblia, as indicações de consulta que possam iluminá-los em suas pesquisas sobre Escatologia Bíblica.

A - A Escatologia do Antigo Testamento

O leitor do Antigo Testamento percebe desde as primeiras páginas que o Povo de Deus vive em expectativa, uma etapa conduz a outra. Deus constantemente intervém na História, age em favor do seu povo, forma-o, liberta-o, e projeta-o ao futuro. Todos estes acontecimentos marcantes, os interventos de Deus, a expectativa do Povo, a maneira de reagir, as expressões, formam a Escatologia do Antigo Testamento (1).
Não é tarefa fácil em poucas páginas expor de modo claro a Escatologia do Antigo Testamento. Os problemas que se apresentam são muitos começando pela definição até os Sistemas Escatológicos defendidos pelos autores (2). Primeiro de tudo poder-se-ia perguntar quando teve origem a expectativa do Povo de Deus a Escatologia? Os povos do Oriente Médio tiveram influência na maneira de pensar dos Hebreus, ou estes tiveram uma Escatologia própria? (3). De que modo esta expectativa se manteve viva e acessa na história do Povo de Deus, ou seja, que pessoas, fatos importantes e interventos divinos aconteceram para manter viva a chama da expectativa Escatológica a esperança.
A religião do Povo de Deus tem uma perspectiva histórica com uma orientação ao futuro, que vai se clareando com a revelação de Deus e que pouco a pouco toma uma coloração transcendente final. A religião do Povo de Deus tem um Deus que intervém na história da humanidade, escolhe para si um povo e o conduz através de diferentes etapas a um termo final. Entre os três grandes acontecimentos que marcam a história do Povo de Deus está o Êxodo, a Aliança e a Monarquia. Estes fatos e instituições conservaram a esperança escatológica do Povo de Deus e mantiveram a expectativa futura. De etapa em etapa em direção a fase definitiva (4). Estes fatos e instituições do povo de Deus foram aprofundando a expectativa e a Escatologia do Antigo Testamento e deram origem a temas escatológicos, dos quais destacamos três como principais: a1- Aliança e Promessa; a2 - Descendência e Messianismo; a3 - O Espírito e a Nova Criação.

a1 - A Aliança e a Promessa (5).

Quando aconteceram as primeiras manifestações de expectativa escatológica em Israel? A expectativa do Povo de Deus por um futuro melhor é muito antiga e nos leva aos primórdios e a origem do Povo de Deus, a época dos Patriarcas. A antiguidade da expectativa escatológica do Povo de Deus já foi atribuída pela carta aos Hebreus aos Patriarcas. A carta aos Hebreus assim diz: "Foi pela fé que Abraão respondendo o chamado, obedeceu e partiu para uma terra que deveria receber como herança e partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó os co-herdeiros da mesma promessa" (Hb 11,8; 13-16). A esperança escatológica tem como garantia a promessa de Abraão no início da História do Povo de Deus. Esta "promessa" da parte de Deus a Abraão nos primórdios da História da Salvação tem perspectiva e direcionamento ao futuro (6).
O livro do Gênesis narra a Aliança de Deus com Abraão nos capítulos 15 e 17. A narrativa da Aliança no capítulo 15 é atribuída à tradição Javista por muitos autores, narra um rito muito estranho. Abraão em profundo sono recebe a revelação divina, a visão dos animais divididos pela metade, e pelos quais passava uma chama de fogo, símbolo de Deus (v.17). A explicação deste rito misterioso encontramos em Gn 15,18: "Naquele dia Iahweh estabeleceu uma aliança com Abraão nestes termos. A tua posteridade darei esta terra, do rio do Egito até o grande rio Eufrates". Esta promessa que Deus faz a Abraão inclui um Juramento. Isto é uma "promessa jurada" da parte de Deus. Sabemos que um juramento tem sentido futuro, logo escatológico (7). A promessa divina, que aparece no "pacto", compromete a Abraão e sua descendência a fidelidade ao "pacto", estabelece uma obrigação. No capítulo 17 do Gênesis a Aliança de Abraão é mencionada no texto da literatura Sacerdotal. A aliança é apresentada como iniciativa divina e compreende três compromissos de Deus a Abraão: 1) Te renderei; fecundo; 2) Te darei a terra; 3) Serei vosso Deus. Por sua vez Abraão também tem obrigações: 1) O Patriarca deve realizar uma perfeição moral, "anda na minha presença e sê perfeito" (Gn 17,1); 2) Deve conservar uma constante ligação religiosa com a divindade (Gn 17,7-19); 3) Recorda o sinal da circuncisão (Gn 17,10-14) (8). A esperança escatológica da realização futura da promessa é um elemento essencial da fé do Povo de Deus. A história da Salvação é caracterizada por Deus segundo esta promessa. A promessa aparece mais vezes ao longo do livro do Gênesis: a chegada de Abraão em Sichem 12,7, mais tarde na região do mar Morto (Gn 13,14-17) e finalmente vem revelada com maiores particulares e transforma-se em uma aliança verdadeira, na Aliança Sinaítica.
A Aliança Sinaítica (Ex. 19-24). Não podemos falar em Aliança Sinaítica sem citar primeiro o fato do Êxodo, um dos grandes acontecimentos da História de Israel, onde tribos nômades se constituem no Povo de Deus. Este grande fato é recordado ao longo dos livros da Bíblia, nos profetas Oséias, Isaías e, sobretudo na segunda parte de Isaías onde a volta dos Exilados é considerada um novo Êxodo: "Haverá um caminho para o resto do seu povo, para quem restar da Assíria como houve um caminho para Israel no dia em que subiu da terra do Egito" (Is 11,16). Pode-se dizer que o Êxodo retoma a Escatologia Bíblica, ligando as promessas divinas a Abraão e a obra da Criação.
Os planos de Deus para com o seu povo se direcionam a uma nova etapa da Escatologia Bíblica do Povo de Deus. Cumpre-se a promessa da "terra onde corre o leite e o mel", terra prometida aos patriarcas (Gen 15-18) Em Êxodo 3,8: "Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra boa e vasta, terra que mana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus". Pela primeira vez a figura de Moisés é citada, e se torna assim aquele que conduz através do Êxodo às tribos de Israel. A conquista desta terra não é apenas o desejo humano de algumas tribos nômades, mas faz parte do plano de Deus com respeito a seu povo. O gesto da libertação do Egito, continuamente é recordado por Deus, como o grande gesto (Cf. Ex 3,17; l.v 20,24; Nm 13,17; Dt 6,3 etc.)
O pensamento escatológico do Povo de Deus se forma: quando este espera um futuro de verdadeira prosperidade, um tempo no qual possuirá uma terra, se poderá trabalhar nela tirar o sustento, haverá criações de gado e ovelhas em abundância e os inimigos serão derrotados. Espera-se ainda que Iahweh, o Senhor venha até o seu povo e fará nele morada. Em Nm 23,21: "Eu não encontrei iniqüidade em Jacó, nem vi tribulação em Israel. Iahweh, seu Deus, está com ele, no meio dele ressoa a aclamação real".
É no caminho do deserto (lugar da purificação), aos pés do Monte Sinai, que tomam lugar os acontecimentos mais antigos com respeito à Aliança. Nos capítulos 19 a 24 do Êxodo são narrados estes fatos. A análise exegética destes é demasiadamente complexa quanto ao aspecto literário e teológico para serem tratados aqui, os textos são compostos de diversas tradições com respeito ao tempo e a lugares diferentes (9). Fixar-nos-emos a alguns aspectos principais e do seu relacionamento com a Escatologia Bíblica. É na Aliança do Sinai, que as tribos hebraicas se tornam um povo, mediante a aliança que é amplamente descrita nos capítulos 19-24 do livro do Êxodo. Estes capítulos tornaram-se centrais na História da Salvação e são os mais importantes de toda a Bíblia.
Em poucas palavras poderíamos dizer que esta grande seção do livro (Ex. 19-24) tem como base a redação sacerdotal (Assim Ex 19,1-2a; 24,15b; 31; 18a). Ao lado deste texto está o código da Aliança que foi anexado posteriormente (20,22-23,33). A Aliança Mosaica em sua composição final ratifica:
1) Eleição do Povo e as promessas feitas em Êx 6,6-8.
2) A Aliança de Abraão.
A Aliança Sinaítica se diferencia enormemente daquela feita a Abraão há alguns séculos, pois agora não se trata de um pacto bilateral Deus-Abraão, (com uma prescrição, a circuncisão) mas um contrato no qual Deus e o povo se empenham reciprocamente, e o povo recebe uma Lei: o decálogo e o Código da Aliança. Posteriormente, esta Lei torna-se para o Judaísmo a Carta Magna. Por outro lado, o decálogo, a lei "tornam-se um testemunho contra o povo" (Dt 31,26), porque a transgressão da Lei torna inválidas as promessas e suscita a ira de Deus.
A literatura profética mais adiante lembrará constantemente a Aliança, citamos Jr 31,31-33, que fala de uma nova e eterna Aliança: "Eis que dias virão oráculo de Iahweh em que selarei com a casa de Israel com a casa de Judá uma nova Aliança. Não como a Aliança que selei com seus pais, no dia em que os tomei pela mão para fazê-los sair da terra do Egito - minha Aliança que eles mesmos romperam, embora eu fosse o seu Senhor, oráculo de Iahweh! Eu porei minha lei no seu seio e escreverei em seu coração. Então eu serei seu Deus e eles serão meu povo".
A aliança de Deus com o Povo eleito não é estática, mas se aperfeiçoa e a sua realização e lenta e jamais terá fim. O Povo de Deus caminha em direção ao futuro.

a 2- Descendência e Messianismo

Os grandes fatos da História do Povo de Deus parecem que se repetem de novo, mas na repetição dos feitos eles se aprofundam e realizam-se sempre mais, na essência salvífica. A razão de dizer-mos que o primeiro fato já possuía uma virtude salvífica, isto é Deus estava intervindo e em conseqüência uma promessa de salvação definitiva, passava existir. A promessa vai se realizando gradualmente e a cada realização surge uma nova promessa. O plano de salvação de Deus com o seu povo, não é realizado em um só ato, mas é lento e gradual em direção ao futuro. Isto é o Povo de Deus vive em expectativa escatológica. Uma etapa prepara a outra, até a vinda de Jesus, quando se inaugura os tempos escatológicos por excelência. Descendência e Messianismo são elementos de expectativa escatológica, que atuam em todas as etapas da História da Salvação, impulsiona esta História ao futuro a chegada do Messias. Para facilitar a globalidade da compreensão destes dois temas que estão intimamente ligados, os trataremos simultaneamente, seguindo uma linha da História da Salvação.
O livro do Gênesis o chamado Proto-evangelho (Gn 3,15) (10), nos fala do combate entre a Mulher e a serpente: "Porei hostilidade entre ti e a mulher entre tua linhagem (descendência) e linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar". Coloquemo-nos no ponto de vista do autor, que encontrando este texto o insere na História da Salvação do Povo de Deus. É um texto otimista, messiânico e escatológico, pois é orientado a um futuro melhor e que mais adiante narra às promessas divinas e as primeiras realizações. O texto anuncia uma hostilidade entre a mulher e a serpente. O diabo é colocado em oposição ao homem e a sua descendência, e o texto intui a vitória futura do homem. Neste texto temos uma primeira visão e amostra da Salvação divina, é o chamado Proto-evangelho. No Proto-evangelho existe um Messianismo Universal, a humanidade toda não se realiza sem a superação do estágio atual. O Messianismo que aparece no texto, sempre foi interpretado pela Igreja desde a origem, de senso individual e se identifica o "sêmen" descendência da mulher com a pessoa do Messias. O Proto-evangelho já implicitamente fala do redentor Jesus Cristo. São Paulo na carta aos Romanos se refere claramente ao Proto-evangelho. "Pois o Deus da Paz não tardará em esmagar satanás debaixo de vossos pés" (Rm 16,20).
A promessa de Deus a Abraão e a sua descendência, que aparece em Gn 12,1-3, mostra uma descendência com substrato nacional, mas também universal, e ainda um caráter messiânico. Iahweh disse a Abraão: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, em ti abençoarei engrandecerei teu nome; seja uma benção. Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditos todos as clãs da terra". Abraão é abençoado, e em conseqüência desta benção todos os povos. Poder-se-ia dizer que Abraão seria o Messias, antes, porém o grande patriarca deveria tornar-se uma grande nação. Como conseqüência disto a descendência de Abraão é um instrumento de benção Universal. A tradição católica sempre viu nesta descendência "sêmen" de Abraão, instrumento de benção universal, a pessoa do Messias. No Evangelho de João lemos a palavra de Jesus: "Abraão vosso Pai exultou por ver o meu dia. Ele o viu e encheu-se de alegria" (11). Os descendentes de Abraão, hereditários da promessa messiânica, já formavam um grupo de 70 pessoas, agrupados em 12 famílias. E qual destas 12 famílias receberiam e exerceria o primado? A benção messiânica recai sobre a família de Judá. Gn 49,10-11: "O cetro não se afastará de Judá nem o bastão de chefe de entre seus pés, até que o tributo lhe seja trazido e que lhe obedeçam os povos, Ele ata à videira o jumentinho à cepa o filhote de sua jumenta, lava sua roupa no vinho, seu manto no sangue das uvas". Neste texto aparece pela primeira vez uma alusão a pessoa do Messias. O Messias será o herdeiro o continuador da dignidade real davídica da tribo de Judá. Os reis do Reino de Judá se chamam "Messias" _ungido, consagrado, e a Bíblia latina a traduz com "o Cristo" (2 Sm 1,14 19,21; 22-51; Sl 7,49; 19,6 etc.) e a espera escatológica agora se fixa sobre o Messias-Rei da estirpe de David. Em 2Sm 7,12-16, aparece a primeira expressão do messianismo real, cada rei da descendência de Davi será uma imagem do rei ideal do futuro: "a tua casa e a tua realeza subsistirão para sempre diante de mim e o teu trono se estabelecerá para sempre" (2Sm 7,16) (12). Esta orientação ao futuro que emprende a Monarquia é devido estar ligada a Aliança (Deus-Povo de Deus), e aos patriarcas que comandam todo o desenvolvimento da espera messiânica (13). Desta forma a esperança escatológica messiânica do Povo de Deus se fixa na dinastia de Davi (2 Sm 7), desta sairá o rei da salvação. O Rei Messias deverá levar a complemento a Aliança. O Rei neste momento da História de Povo de Deus é o Mediador entre o Povo e o Deus da Aliança torna-se assim a Monarquia uma instituição de Salvação e objeto de esperança (14). No período dos profetas, as expectativas messiânicas com respeito do Rei Messias se desenvolveram em 3 momentos distintos, segundo a época e a perspectiva de cada Projeto. Em um primeiro momento (o Povo de Deus diviso em Reino do norte e do sul) os profetas denunciam com uma linguagem dura e dramática o afastamento do povo de Deus da observância da Aliança. Deus não é mais um personagem vivo e presente na história. O povo começa ter uma falsa concepção de esperança no futuro, e as experiências do passado não mais se repetem, Deus não intervém nos momentos decisivos. Nasce a idéia do "Dia de Iahweh", no qual Deus novamente interviria, julgaria os inimigos e de um modo "quase mágico" asseguraria a grandeza do Povo de Deus frente aos outros povos.
Amós é o profeta que desmistifica sem nenhuma piedade esta concepção de futuro. Am 5,18ss: "Aí daqueles que desejam o dia de Iahweh! Para que vos servirá o dia de Iahweh?". Amós proclama não uma expectativa intra mundana de esquemas nacionalistas (vitória contra os inimigos), mas uma esperança em direção a Deus, a observância de sua aliança e do futuro reservado a Israel em uma visão Universal. Este tema do "dia de Iahweh", em Amós e outros profetas se apresentam em dimensões cósmicas, pode ser considerado como escatológicas e que fornecem elementos para demonstrar o desenvolvimento da Escatologia Bíblica. Com esta abordagem nova do "dia de Iahweh", Amós coloca de lado os esquemas nacionalistas do Povo de Deus (pensamento da Monarquia) e alarga a visão Universal do Povo de Deus. Amós esta dando um passo as idéias escatológicas de Israel verso ao próximo período chamado por muitos autores de proto-escatologia (15).
Num segundo momento o anúncio profético é de um povo ideal, que caracteriza não pela felicidade material, mas pela atitude religiosa e moral. Esta pregação escatológica encontramos em Oséias, Miquéias, Sofonias, Jeremias. Estes profetas fazem depender a salvação da conversão. Este é um tema genuinamente escatológico. Oséias é o primeiro profeta que dá um novo início a História do Povo de Deus introduzindo uma nova atitude ¬salvífica de Deus. Isto é, Oséias anuncia uma nova Aliança. Este tema escatológico da Aliança é retomado por Jeremias, que demonstra uma afinidade muito grande a Oséias e concretiza a espera do futuro em uma "aliança nova e eterna" (Jm 31-32). A projeção que Jeremias faz do futuro em termos escatológicos é que se estabelecerá com Deus, uma plena comunhão, muito mais profunda e intensa daquela do passado. Esta Aliança se fundamenta: a) reconhecer a Iahweh; b) praticar a sua Lei; c) é universal.
Neste momento da História da Salvação a figura tradicional do Messias é transformada. No lugar da imagem tradicional do Messias refigurada no Rei Daví, aparece à imagem de II Is a personagem do "Servo de Iahweh". O Messias Profeta, Servo do Senhor e Sacerdote. O intervento do "Servo de Iahweh" tem a tarefa de preparar um novo futuro de salvação. Este Reino se estabelecerá com a ausência do poder e da força militar, mas no trabalho silencioso e contínuo do Servo. Seu serviço é de pregar não só uma nova aliança, mas a verdadeira revelação de Deus (Is 42,6-49,6) a todos os povos. O núcleo da mensagem de salvação é de conversão e não a grandeza de uma organização política. O pecado é o maior obstáculo a conversão.
Uma coloração transcendental recebe a Escatologia Bíblica neste período. Um messianismo transcendente faz a passagem a Apocalíptica que trataremos mais adiante. O reino escatológico messiânico não será um reino material com conotações políticas, mas será um reino transcendente, o Reino de Iahweh, conforme os salmos do reino (Sl 47; 93; 96-99). O Salmo 47 assim inicia v.2 e 3: "Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com gritos alegres! Pois Iahweh altíssimo é terrível é o grande rei sobre a terra inteira". Este primeiro salmo do Reino (ver também Sl 93; 96-99), é considerado um Hino escatológico, e aclama Iahweh como Rei e seu reinado se estende a todos os povos e a terra inteira (16). No livro de Daniel encontramos o último conceito escatológico para entender o desenvolvimento da Escatologia Bíblica do Povo de Israel. No livro de Daniel espera escatológica e a realização do Reino de Deus é representada na esfera transcendental. Os quatro reinos terrestres, convertidos em corrupção, violência morte serão destruídos e Daniel faz o anúncio escatológico de um Reino que vem do céu. (Dn 7,14 e 7,28) um Império eterno, universal e seu reino jamais serão destruídos. Esta espera escatológica transcendental do Antigo Testamento atinge um ponto em que a espera final dos tempos passa a ser descrita com o gênero literário apocalíptico. É o livro de Daniel que utiliza de forma excepcional. Também outros profetas fazem uso deste gênero literário: Isaías, alguns capítulos de Zacarias, Joel e Ezequiel (A grande batalha de Gog e Magog Ez 38).

a 3 ? O Espírito e a Novo Criação

Com o falimento político do Reino do Sul (Judá) e do Reino do Norte (Israel), e o exílio a Assíria e Babilônia nos anos de 722 e 536, a questão das promessas escatológicas são repensadas novamente. Nesta situação de sofrimento destruição, exílio, não seria um sinal do fim destas promessas? Segundo (G. von Rad) o tempo do exílio Babilonese foi um tempo sem História da Salvação. De fato no exílio os profetas produziram uma obra única e fazem com que o Povo de Deus repense suas origens, a revelação a sua fé, e passe a não confiar em demasia nas estruturas políticas ou nas alianças humanas. São anunciadas as promessas da vinda do Espírito que tudo renovará e uma nova criação surgirá. Não é tarefa nossa em analisar todos os textos da literatura profética que abordam este ressurgimento, mas alguns textos que mostram o poder de Deus e de seu espírito em renovar o antigo esplendor e libertar o povo da opressão.
Apesar do Exílio e do sofrimento, uma nova etapa da História da Salvação tem início. O Espírito do Senhor renovará tudo, uma nova Aliança será feita, há expectativa de um futuro salvífico, com uma transformação global dos homens e das coisas (17). A promessa do Espírito Escatológico é concepção típica do Povo de Deus, o Espírito de Iahweh, esteve presente no ato da Criação, que age ao longo da História da Salvação, presente na figura do Messias esperado Jesus, e renovará os homens e o cosmos na nova criação finalizando com a visão da Jerusalém Celeste do Apocalipse 21. Na figura do Messias estará o Espírito de Iahweh, que atuará e renovará a vivência entre os homens e o cosmos, e despontará uma criação nova. "Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito de Iahweh, Espírito de sabedoria e de inteligência espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Iahweh: ...julgará os fracos com justiça, ...ferirá o violento com o bastão de sua boca e com o sopro do seu lábio matará o ímpio". (Is 11,1-4) Os traços essenciais do Messias em Isaías mostram que ele é o segundo Davi, (v.l), e que o espírito de Iahweh, faz nele morada. O Espírito de Iahweh lhe concederá as qualidades necessárias para governar com as quais renovará os homens e o mundo em uma nova criação. Assim o Messias estará cheio do espírito profético (v.2), fará reinar entre os homens a justiça (v.v.3s.s.) e restabelecerá a paz paradisíaca. A paz paradisíaca é o fruto da nova ordem estabelecida na terra pela atuação do Messias, uma criação nova surge, a paz paradisíaca perdida é recuperada: "Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o novilho gordo andarão juntos e um menino pequeno porá a mão na cova da víbora." (Is 11,6-9) O Reino Messiânico é de paz, renovado pelo espírito onde uma nova criação surge, com a fertilidade do solo, o desarmamento geral, paz perpétua. Ainda o mesmo Isaías no Cap. 61,1-2 (Trito Isaías) depois do Exílio repreende o tema: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Iahweh me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos cativos, a libertação aos que, são presos, a proclamar um ano aceitável a Iahweh e um dia de vingança do nosso Deus a fim de consolar todos os enlutados". No Evangelho de Lc 4,18-19 temos o famoso discurso de Jesus na Sinagoga de Nazaré, onde Jesus no início de seu ministério diz claramente qual é sua missão, e coloca na sua boca o texto de Isaías. O texto de Isaías tem sentido escatológico, pois anuncia o ano da graça do Senhor, o renova mento pelo Espírito, Deus esta agindo na História é presente e a conduz a um fim. Junto com o Espírito de Iahweh que é presente no Messias, uma nova ordem inaugura. Este espírito, nos últimos tempos atuará nas comunidades do Povo de Deus.
Este tema escatológico do Espírito e da nova criação se torna característico nos profetas do Exílio e do Pré-Exílio. O profeta Ezequiel fazendo um comentário do profeta Jeremias sobre a nova aliança e a lei que será escrita nos corações (conf. Jr. 31,31-34) (18) assim se refere: "Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei de vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei no vosso íntimo 0 meu espírito e farei com que andeis de acordo com os meus estatutos e guardeis as minhas normas e as pratiqueis" (Ez 36,26-27). Esta efusão extraordinária do Espírito é uma característica dos tempos messiânica escatológicos, atinge a todos os homens, e desenvolve dons e carismas especiais. O interior do homem será mudado e o tornará apto para observar a lei divina. O Espírito será o princípio de uma nova Aliança nos corações dos homens, tendo como garantia a proteção divina. O Messias será o primeiro a ser este beneficiário em vista do cumprimento da obra de salvação, depois o homem junto com a. criação serão renovados. E surgirá uma nova criação onde homem e cosmos terão a semelhança de Deus. Este renovamento do homem e da criação está conexo com a ressurreição dos mortos (Ez 37) visão dos ossos secos (5-6.9-10.14). Na visão dos ossos secos de Ezequiel, percebemos uma clara entonação escatológica onde o homem será renovado tanto moralmente como fisicamente, espiritualmente e materialmente. Junto com este homem novo a natureza também será renovada. Este tema messiânico escatológico do espírito e da nova criação é retomado no Novo Testamento em um grande número de textos. (G1 6,15; 2Cor 5,17; 1Cor 15,20-28; Rm 6,3-11; C1 3,5-15; Ef 2,15; Rm 8,17-25.etc.).

B - Escatologia e Apocalíptica.

A história da Salvação de Israel não apenas nos legou acesso a esperança escatológica do Povo de Deus, mas também mantiveram através do desenvolvimento da escatologia do Povo de Deus os temas, imagens, símbolos para descrever o grande acontecimento do final dos tempos. A realização da promessa e da Aliança de Deus é gradual, e a cada realização surge uma nova promessa. O Plano de Deus vai se realizando passo a passo. A cada momento uma nova tensão escatológica, em direção ao futuro. A escatologia no Antigo Testamento está em função da lei fundamental da História da Salvação. De tal forma que se pode dizer que em cada etapa da história do Povo de Israel se encontra uma "escatologia realizada", pois em cada etapa a promessa de Deus se realiza (19).
Nos últimos séculos que antecederam a vinda de Cristo, a esperança escatológica do Povo de Deus adquire nova forma. A literatura apocalíptica. No livro de Daniel, nas narrações do Reino Celeste e do Filho do Homem, encontramos a forma mais perfeita da literatura apocalíptica. Estes conceitos de Daniel perpassaram seu tempo e se encontram no Apocalipse de São João. Poderíamos fazer aqui uma pergunta?
Qual seria a diferença entre Escatologia e Apocalíptica.
A Escatologia tem um ponto de partida na história do Povo de Deus e se direciona ao futuro da salvação. A vida da pessoa é relacionada ao futuro e presente e sempre impulsionando a um fim último que se localiza além do horizonte da história que esta acontecendo. A apocalíptica ao contrário tem em vista somente ao fim último com uma forma narrativa farta de simbolismos, visões, números, sinais etc., Este gênero literário é utilizado na literatura Bíblica de modo sóbrio. As revelações acontecem em visões, sonhos, anjos etc. Na literatura apocalíptica apócrifa (Jubileus, Testamentos dos 12 patriarcas, Henoch Etíope, Os salmos de Salomão etc), ao contrário as formas imagens, sinais, visões se sucedem em um realismo exagerado, determinando assim este gênero. Sem dúvida, não podemos deixar de lado este gênero literário Apocalíptico se quisermos entender a Escatologia Bíblica que antecedeu nos últimos séculos a vinda de Jesus Cristo. Daniel abre esta porta rumo a uma Escatologia transcendente, os escritores passaram a narrar com uma abundância de visões, símbolos a figura do Reino de Deus, Reino eterno, universal e dos últimos tempos.
Dentre os muitos elementos teológicos que a literatura apocalíptica nos fornece colocamos em destaque três:

bl) O tempo e o fim do tempo;
b2) A vida depois da morte e
b3) O Messianismo e o triunfo do Reino de Deus.

b1 O Tempo e o Fim do Tempo.

Foi durante o período profético que se reacendeu a esperança messiânica do Povo de Deus, eles anunciaram um novo tempo e redimensionaram a concepção nacionalista do "dia de Iahweh". Passaram a anunciar que o que vale, para ter a garantia da intervenção de Deus é a observância da sua Aliança, e que a sua intervenção não é algo de "Mágico" em que Deus fulminantemente destruiria todos os inimigos de Israel.
O profeta Daniel em seu anúncio traz a tona temas que vão iluminar a expectativa messiânica escatológica do Povo de Deus, bem como a literatura apocalíptica. Um destes temas é a do "dia", "hora", "do tempo" que esta para chegar. O fim é iminente, instantâneo. Esta característica se relaciona aos Juízos de Deus e ao "Dia de Iahweh". Nesta época existia uma expectativa em que o Reino de Deus iria ter início com o Messias, e uma nova ordem de direito e justiça entre os homens iria se estabelecer. Esta mesma expectativa e esperança do surgimento do Messias existiam no messianismo popular da época do Novo Testamento. O ministério de João se caracteriza pelo anúncio: "Arrependei-¬vos porque o Reino dos Céus está próximo" (Mt 3,2). Em Mc 1,15, a idéia do "dia", "hora" e do "tempo" é presente "Cumpriu o tempo e o Reino de Deus está próximo" e no testemunho da Igreja primitiva porque vos sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor virá como um ladrão. Daniel é o pioneiro em descrever este caráter de iminência, de instantaneidade do tempo final: "Quanto a ti, vai tomar o teu repouso. Depois te levantarás para receber a tua parte, no fim dos dias". (Dn 12,13 = 7,15) (20). O livro de Daniel foi escrito durante e para o tempo do fim, "Filho do homem fica sabendo que a visão se refere ao tempo do fim. E disse-me: Vou dar-te a conhecer o que acontecerá no termino da ira, porque isto diz respeito á época fixada para o fim". (Dan 18,17-19). Em resumo: "a hora está na mão". Esta é a mensagem que o livro de Daniel nos apresenta não é um cálculo ou um prognóstico.
Outro elemento escatológico "do dia", "da hora" e do "fim do tempo" é os sinais do fim. A literatura apócrifa apresenta muitos textos com formas literárias que falam do fim. Veremos alguns: O tempo do fim será de sofrimento e angústia e Deus na sua misericórdia, encurtou estes dias "E se o Senhor não abrevia esses dias, nenhuma vida se salvaria, mas por causa dos eleitos que escolheu, ele abreviou os dias". (Mt 13,20 = I Bar 83,1; Ep Barnabás 4,3). Neste tempo acontecerá o grande conflito entre o Reino de Deus e o Reino de Satanás.
A maneira de descrever o julgamento a angústia deste tempo é acompanhada de expressões de esperança no triunfo final de Deus, e nos coloca em contato com a imagem do "Dia de Iahweh" (21), quando Iahweh e o seu reino serão reconhecidos por todos. Comumente o "Dia de Iahweh", também é chamado por "O Dia do Messias". Neste dia ele se manifestará, vencerá todos os seus inimigos e a era escatológica messiânica se estabelecerá. Daniel é o profeta que da coragem aos "santos" com as visões do Reino que Deus estabelecerá depois de haver vencido e destruído os reinos terrestres. Ele anuncia em chave escatológica-Apocalíptica o tempo final, a Ressurreição e o Reino Celeste. Junto com a descrição do "Dia do Messias" algumas imagens aparecem. A compreensão da escatologia do Antigo Testamento depende do justo valor que nós damos a estas imagens e da mensagem profética que a revestem. Uma imagem que recorre com freqüência é a do fogo. As teofanias Divinas, sempre se revestiram desta simbologia. Deus se manifesta a Moisés na forma de chama de fogo no meio da sarça ardente (Êx 3,2). Do mesmo modo no Sinai, ou nas visões de Ezequiel (1,27-28), ou em Daniel etc. O fogo passa mais tarde a ser visto como expressão simbólica da cólera de Deus, nos interventos punitivos de Deus e da ira de Deus contra os inimigos. O Dia de Iahweh, o final dos tempos se revestem destas características: fogo, chamas, destruição pelo fogo etc. Na literatura Bíblica encontramos em muitas passagens (Ez 36,25-27; Jr 7,20; Is 66.14-16.24; Mt 13; II Bar 27,6; 70,8; Esd 58).
O Antigo Testamento para descrever o final dos tempos e a consumação escatológica usa com freqüência as imagens cósmicas: a imagem de terremotos o obscurecimento do sol e o descontrole da natureza.

b2 A Vida depois da Morte(22)

A fé do Povo de Deus tem suas origens na Aliança de Deus com Abraão e sua descendência (Gn 12,1ss), na caminhada do Êxodo foi renovada aos pés do monte Sinai (Ex 19ss). A fé para o Povo de Deus não é propriedade individual, mas é antes de tudo comunitária e nacional. Desta maneira o povo de Deus pode contar sempre com esta Aliança, a morte e o desaparecimento para o Povo de Deus não era problema angustiante. A descendência e a perpetuidade do povo eram mantidas pela Aliança, embora cada um dos membros do Povo de Deus devesse morrer. No livro do Gênesis, observa-se a preocupação de Abraão porque não tinha descendência, e Abraão esta inquieto frente à morte. Abraão respondeu meu Senhor Iahweh, que me darás? Continuo sem filho... uma vez que Deus garantiu sua descendência ele morre tranqüilo e satisfeito pelo número de seu dias. "Depois Abraão expirou; morreu numa velhice feliz idoso e foi reunido a sua parentela" (Gen 25,8).
A primeira preocupação que teve Abraão ao chegar a terra foi de adquirir um sepulcro (Gn 23,1-20; 29,5; 50,13). Para os antigos sepultar os mortos era um dever absoluto de piedade e reverência (2Sm 21,7-14). Ao longo da literatura do Antigo Testamento encontramos uma infinidade de textos que abordam este tema.
Entre as indagações do Povo de Deus uma era essa. Para onde vão os mortos uma vez sepultados? Uma das respostas era dada com a expressão "andar junto aos pais", ao lugar onde estes moram: "Quanto a ti, em paz, irás para os teus pais, serás sepultado numa velhice feliz" (Gn 15,15) (23). No Antigo Testamento encontramos com freqüência a palavra Xeol que vem provar o ensinamento deste sobre a sobrevivência e a imortalidade. No livro do Gênesis aparece a palavra Xeol pela primeira vez nesta passagem: "Não, é em luto que descerei ao Xeol para junto do meu filho" (Gn 37,35). É claro que aqui a expressão Xeol tem o significado de imortalidade. O Xeol se localiza na profundidade da terra, se fala em descer ao Xeol. O profeta Isaías assim se refere em 38,10: "No meio dos meus dias eu me vou. Para o resto dos meus anos ficarei postado às portas do Xeol". Pouco a pouco os textos bíblicos começam a dar a idéia de que no Xeol se esta longe de Deus, não se pode louvar a Deus, se tem uma vida triste, inerte e insípida reservada aos defuntos. (Is 38,10ss; Sl 6,6; 30,10; 88,11-13).
A literatura apocalíptica, apresenta-nos a idéia de Xeol com algumas distinções em relação a literatura bíblica, que passamos a elencar: a) Na literatura apocalíptica extra bíblica, a morte não é descrita como "sombra" , mas como "alma" ou "espírito". Em Isaías 26,19 o texto bíblico nos fala em "sombra". "Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós os que habitais o pó porque o teu orvalho será um orvalho luminoso, e a terra dará à luz sombras". Na literatura apocalíptica a morte é tratada como Espírito em I Henoch 22,3 "Então Rafael um dos anjos que estava comigo, falou-me e disse-me: Estas belas localidades existem, para que, nessas, se reúnam os espíritos e as almas dos mortos". b) Uma segunda distinção entre o Antigo Testamento e literatura apocalíptica quanto ao Xeol é que: segundo a 1iteratura apocalíptica a separação dos justos e dos pecadores acontece já na ida ao Xeol. Assim como a pessoa viveu, existirá depois da morte no Xeol. Irá para o Xeol o bom como o mau, terão no Xeol o mesmo lugar que ocupavam na vida (Conf. II Br 21.23; 23,5; 52,2; 83,17). O homem determina o seu destino no Xeol , conforme a escolha que fez na vida. "Se, de fato Adão primeiro de mim pecou e veio a morte sobre tudo que no tempo não (era), mesmo aqueles que foram gerados dele, cada um deles predispôs para a sua alma o tormento futuro e, ainda, cada um escolheu a si a glória futura" (II Bar 54,15). No Antigo Testamento, a orientação dos escritos é a ida ao Xeol após a morte, e no final dos tempos haverá a ressurreição e o julgamento entre o os bons e maus. O livro de Daniel é claro quando diz "E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão uns para a vida eterna e outros para o opróbrio para o horror eterno".
Outra diferença entre o Antigo Testamento. e a 1iteratura apocalíptica com respeito ao Xeol é que nestes livros apócrifos o Xeol é um estado intermediário aonde as almas dos homens aguardam a ressurreição e o julgamento final e que são tratados de acordo com seus merecimentos. O quarto livro de Esra 7,18 dá o melhor exemplo "Tu tens ordenado na tua lei que os justos herdarão o outro mundo e os ímpios morrerão", e em 4 Esra 7,75 "Respondeu Esra ao Senhor e disse: "Se encontrei favor diante de ti, e o Senhor, mostra também isto a teu servo: se depois da morte, isto é quanto cada um de nós rende a alma, veremos bem conservados em descanso alí naquele tempo em que renovares as criaturas, o mesmo se logo seremos tormentados". Uma última distinção do Xeol na 1iteratura apocalíptica é que nesta o Xeol é dividido em 2, 3 ou 4 compartimentos de acordo com as condições morais e espirituais das almas. estes compartimentos, com freqüência recebem nomes. Em I Henoch 22,1ss temos a descrição do Xeol em 4 compartimentos: "e nas quatro cavidades e no interior, era profundo, vasto, plano o suficiente ao ponto de ser escorregadio e ao olhá-lo era profundo e escuro. Estas localidades é para recolher os espíritos das almas dos mortos". E também em I Henoch 22,: "Eles têm sido feitos para separar os espíritos. E em igual modo são separadas as almas dos justos. E se têm separadas as suas almas neste grande tormento, até o grande dia do Juízo, da punição do tormento, da punição da sua alma e, aqui, Ele as ligará em eterno". A fé na ressurreição dos mortos, jamais foi um componente da ortodoxia Judaica. Basta dizer que se poderia ser membro do Povo de Deus sem ter esta fé. No Novo Testamento. existe casos que mostram claramente esta posição (em At 23,6ss) onde os Fariseus acusam os Saduceus pela descrença na ressurreição. Nos livros do Antigo Testamento encontramos alguns textos sobre a ressurreição dos mortos. No livro dos Salmos, ainda não se tinha chegado a um desenvolvimento da doutrina escatológica do Antigo Testamento sobre a ressurreição. Só mais adiante nos livros de Daniel e dos Macabeus que se atinge uma compreensão mais genuína da ressurreição. E em 2 Mc 7,9: "Chegado já ao último alento disse: Tu, celerado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis". A visão de Ezequiel dos "ossos secos" (Ez 37), embora seja considerada por muitos como uma profecia da restauração de Israel, da lugar ao problema da nova vida aos mortos e aparece no texto a idéia da ressurreição individual da carne. E em 2 Mc 7,9 "Chegado já ao último alento disse: Tu, celerado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis". A ressurreição da carne, invoca da linha das promessas de Deus para a restauração do seu Povo. Este aspecto da escatologia individual no Povo de Deus, coloca em relevo a purificação de cada um em preparar-se a chegada da revelação no Novo Testamento, Jesus Cristo.

b 3 O messianismo e o triunfo do Reino de Deus.

Para podermos entender o messianismo e o triunfo do Reino de Deus devemos partir do conceito Reino de Deus. Este conceito "Reino de Deus" não se encontra no Antigo Testamento, e é muito raro nos deutero-canônicos e apócrifos (24). Na boca de Jesus "Reino de Deus", se caracteriza como uma absoluta novidade. Na literatura intertestamentária a palavra Reino de Deus, aparece poucas vezes, o seu conteúdo é um tema insistente nos apócrifos e nas concepções populares acerca do Messianismo. O agente deste Reino de Deus é o Messias. O sujeito que se salva ou se condena são os homens, o lugar onde tudo acontecerá, será ou este mundo ou o outro mundo, o tempo tem característica de ser definitivo e limitado e o final de tudo acontecerá na ressurreição e no juízo. Em resumo: A apocalíptica trata do esperado triunfo de Deus sobre os contra valores e os que promovem o mal. Ela trata de uma salvação total que Deus dará em um futuro próximo aos que o temem.
O triunfo do Reino de Deus tem como objetivo final e último a vitória do Messias, contra os homens perversos, e os contra valores que neles estão encarnados. Um objetivo imediato é o triunfo e a salvação do Povo de Deus, e este é extensivo a todo o Povo de Deus isto é às 12 tribos de Israel - que se reunirão novamente em um a única nação Israel. A literatura apocalíptica identifica o povo de Deus e seus membros como os justos e os gentios como pecadores. A literatura Apocalíptica 1 Henoch 10,21, Or. Sibilinos e alguns outros alimentam aos gentios uma esperança de salvação, mas o contrário aparece em Ap. Bar (Sir.), que condena por completo os gentios. As concepções com respeito ao Reino de Deus não são uniformes. Elas abrangem o passado da História do Povo de Deus, mas também o presente e estão em relação ao futuro. Estão ligadas a casa de Davi, são escatológicas e apresentam o "Messias" como o Servo de Iahweh.
Com respeito ao Messias, Messianismo e Reino de Deus, foram dados alguns acenos no parágrafo Descendência e Messianismo. Daremos ênfase aos temas: Reino Messiânico neste mundo e Reino de Deus no mundo futuro. Estes dois temas nos ajudam a compreender o argumento que nos propomos (25).
A literatura apócrifa, nos fala de Reino de Deus, temporal neste mundo e outro definitivo transcendente. Este reino terrestre esta ligado aos profetas que preanunciaram o Messias. As literaturas judaicas e cristãs aceitam a temporalidade do Reino de Deus Messiânico, entretanto existe uma divergência teológica. Enquanto o Judaísmo lança o Reino de Deus Messiânico a um futuro extraterreno, a teologia cristã coloca seu início no presente. Os profetas forneceram dados, aos círculos judaicos a Jesus e aos redatores do Novo Testamento de uma realização extraterrestre do Reino, os homens, os espíritos teriam uma vida e consciência após a morte. Passou-se assim a se reinterpretar o Reino terrestre como espiritual e transcendente. A Igreja primitiva alimentou-se destas idéias da apocalíptica judaica.
No judaísmo popular a expectativa messiânica era em direção a um Reino terreno, e o Messias, da descendência de Davi teria um papel importante a realizar (26). Isto tem influência na consciência judaica e mesmo nos escritores apocalíptico, apesar de correntes espiritualistas e transcendentais que continuavam a rejeitar este mundo. Assim nestes escritos começam aparecer um lugar ao "Reino terrestre do Messias", conduzido pelo Messias e alimentado pelo Messianismo popular. Os escritores apocalípticos na apresentação de seus livros seguiram este itinerário: 1) o mundo ou a historia condenada; 2) Messias escatológico; 3) Reino temporal-Messiânico; 4) ressurreição dos mortos; 5) Juízo; 6) Reino Messiânico definitivo de Deus, dominando todas as criaturas, homens e cosmos.
A escatologia judaica dos últimos 200 anos antes de Cristo dá um lugar de destaque às expectativas do Messias. Seja ele o Messias Real esperado em alguns ambientes ou o Messias Sacerdotal em outros. Os textos do Antigo Testamento e da literatura apocalíptica não se ligam só ao tipo de messianismo que esperava um restauração do Estado de Israel. Com freqüência os textos nos mostram o triunfo do Reino Deus, não pela força dos exércitos mas através do servo de Iahweh, fraco, pobre o qual é o artífice da salvação. Daniel apresenta o Messias como o Filho do Homem. A literatura Judaica, entretanto apresenta dados com referência à expectativa messiânica e o Messias de forma desencontrada e obscura. Somente com a chegada de Jesus Cristo estes pontos de dúvida e incerteza, são esclarecidos, e a época messiânica escatológica tem início (27).

C ? Escatologia do Novo Testamento.
Promessa e Cumprimento na Escatologia da Comunidade Primitiva

É nos textos dos livros do Novo Testamento (Palavras de Jesus - Comunidade - Redatores) que vamos encontrar os elementos básicos da escatologia da comunidade primitiva. Seja na formulação do conteúdo, ou das idéias. (28) Na escatologia do Novo Testamento, existe um processo linear e progressivo, que retoma a escatologia do Antigo Testamento quando é anunciado a chegada dos últimos tempos, da vinda do Reino de Deus e do Messias. Não é tarefa fácil apresentar em poucas páginas, as idéias escatológicas essenciais da Escatologia neo-testamentária. Existem muitos autores, livros, artigos nos quais encontramos os mais diferentes esquemas, idéias e sistemas escatológicos. Em nosso ponto de vista duas idéias básicas sustentam a Escatologia da Comunidade primitiva nos escritos do Novo Testamento: c.l - Jesus revelador e artífice do Reino de Deus; c.2 - Reino de Deus e Igreja (29)

c 1 Jesus revelador e artífice do Reino de Deus.

Jesus vive no ambiente cultural e religioso da Palestina do tempo Romano. Nesta época de opressão vivida pelo povo Judaico, à expressão tradicional que corre de boca em boca é a do Reino de Deus e da vinda do Messias. Quando Jesus emprega a expressão Reino de Deus, faz conhecendo todo o contexto que a envolve. Sabe de antemão que é uma expressão bem conhecida dos seus ouvintes. O que vem a ser este Reino de Deus? Reino de Deus é o poder salvífico de Deus atuando na história dos homens, e sua realização acontecerá no final da história, com a vitória de Deus sobre todos os inimigos inclusive a morte. Domínio sem fim e extensivo a todos os homens. O valor escatológico se faz sentir no aspecto dinâmico onde presente e futuro se relaciona. Por um lado o presente que mostra a soberania de Deus e o futuro indicado pelo Reino de Deus em senso definitivo. Deus é Senhor da história e num gesto de sua soberania salva os homens (30). A expressão Reino de Deus percorre toda a história do Povo de Deus. Israel nasceu experimentando 0 braço poderoso de Iahweh. O liberta da escravidão do Egito o cântico de Moisés (Ex 15,1¬21) exalta o poder de Deus que faz Israel e seus inimigos o reconhecerem como Soberano. A aliança que Deus faz com seu povo se realiza sob os termos de Reino. "E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Êx.19,6.). Na experiência da Monarquia, o Reino de Iahweh continua presente, e Iahweh pela boca do profeta Natã garante ao Rei Davi um descendente. "Firmará sua realeza e manterá com êle relações de pai e filho" (Sm 7,1-17).
O Povo de Deus, posse exclusiva de Iahweh, permanece livre como povo, mas passa de mão em mão, império a império sofrendo às agruras da dominação. Nesta experiência tão amarga os discursos proféticos giram em dois eixos básicos: 1) Juízo e 2) uma nova ordem escatológica. "O Reino de Deus é mão de Iahweh que esmaga os inimigos" (Mq 5,8) contra as nações inimigas (Is 24,21-22). No anúncio dos profetas aparece a promessa da libertação (Is 27,12-13; 35,10) a promessa do Rei-Messias que virá.(Mq 5,1-5).
A compreensão do Reino de Deus no Judaísmo tardio conheceu diferentes tendências, inspirando-se na experiências do Povo de Deus, nos profetas de cunho messiânico¬ escatológico, e do impacto da situação de opressão vivida. Jesus, nasce, cresce, vive neste ambiente. Anuncia o Reino de Deus em meio a este turbilhão de expectativas e idéias. Schnackenburg fala em uma tríplice expectativa do Reino de Deus no Judaísmo tardio (31):
a) reino político-messiânico de um rebento da casa de Davi;
b) manifestação futura do Reino de Deus no cumprimento da Torah;
c) e a expectativa apocalíptica do Reino Cósmico e universal de Deus.
Uma expectativa de algo importante a acontecer escondia da parte de Deus em todos estes movimentos. A situação política e religiosa da Palestina era conturbada, com movimentos revolucionários radicais (zelotes), os grupos espiritualistas (Qumran), às escolas doutrinais (fariseus) e grupos dominantes (herodianos). É justamente neste ambiente de expectativas, messianismo e nacionalismo, que aparece no deserto de Judá um homem cheio do Espírito de Deus pregando: "Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1,15).
Jesus viveu em um ambiente de expectativa escatológica da manifestação iminente do Reino de Deus e do Messias. Os diferentes movimentos religiosos políticos de sua época, vivem esta expectativa messiânica da intervenção de Deus e da chegada do Messias em formas das mais diversas. Jesus perante todos estes movimentos se situa com clareza, na sua maneira de agir, pregar e anunciar o reino de Deus. É nele próprio que se manifesta o Reino. Esta é a grande diferença com respeito à Escatologia do Antigo Testamento (32).
Na pregação e na prática de Jesus, o Reino de Deus se torna presente no meio dos homens. (Mt 12,28; Mt 8,29; Mt 4,17; Lc 11,20; Lc 17,20-21). Não se encontra diferença entre Jesus (Mc 8,35-38) e o Reino (Mc 10,28-30). Esta identidade de Jesus se mantém em segredo é o segredo messiânico de Jesus (Mc 4,26-29) (33). Em Jesus mesmo a era escatológica é iniciada. A proximidade salvífica de Jesus é enunciada aos homens como um apelo de Conversão. Para acontecer o Reino de Deus deve haver uma "metanóia", penitência e conversão. Nota-se uma preferência ao Reino, pelos pequenos e marginalizados da época: criança, mulher, pecador, leproso, cego, paralítico, endemoniado, samaritano etc. "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores". (Mc 2,17). Reino de Deus é decisão radical do homem a Jesus e compromisso com um novo modo de ser e agir (34). Num ambiente carregado de informalismo e leis, Jesus apresenta um doutrina nova e interior. "Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois e preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado na Geena" (Mt 5,29-30). Não existe algo que seja mais importante que o Reino de Deus, "quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus. (Lc 9,62). O Reino de Deus abarca a tudo, o homem as estruturas sociais o mundo. A totalidade da realidade deve ser transformada com a chegada do Reino. Homem e Cosmos recebem a ação salvífica de Deus. O caráter oculto e misterioso do crescimento do Reino, Jesus explica em Parábolas, as Parábolas do Reino (Mc 4,1-34 = Mc 13,1-9 = Lc 8,4-8). O Reino de Deus se personifica na própria pessoa de Jesus que susbstitui todo o sistema religioso de Israel. Ele mesmo é o Templo (Mc 11,11 = Mt 21,12; Jo 2,13-22) é o Sábado (Mc 3,1-6 = Lc 14,1-6 = Jo 5,1-18) o perdão dos Pecados (Mc 2,1-12 = Mt 9,1-8 = Lc 5,17-26), substitui a Lei e a Sinagoga (Jo 6,22-66) (35). Esta expectativa imediata do Reino de Deus é o fio condutor de toda a predicação escatológica de Jesus e a encontramos em todos os escritos do Novo Testamento. As promessas da Antiga Aliança se complementam em Jesus de Nazaré, o novo mundo já é presente, na conversão, na fé no ressuscitado. O destino deste cosmos, esta em dependência também do homem, por isto o cosmos também é inserido neste processo escatológico: "Pois a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus. (Rm 8,19 e Ef 1-10, Cl 3,3-4, Ap 21,1-5; 2Pd 3,13) (36). A posição que se toma frente à pessoa de Jesus decide o destino da humanidade. Em Jesus o "Eschaton" teve já seu início e ainda o homem vive em expectativa verso a plenitude a completa consumação, quando Jesus aparecerá como Juiz Universal. (Mt 25,31ss). O tempo e o modo da consumação não são do conhecimento do homem. O próprio Jesus responde a esta indagação dos discípulos, só o meu Pai é que sabe o dia e a hora (Mc 13,4)
Em resumo, vimos que em Jesus chegou à salvação definitiva de Deus, e inicia o Reino e na sua pessoa os homens são julgados. Deus em Jesus intervém na história, e está tem caráter último, final, escatológico. Em Jesus se manifesta o intervento de Deus que conclui a história nos vários aspectos: salvação, reino e Juízo. Deus em Jesus estabelece no meio dos homens o Reino, funda uma comunidade escatológica que dura através dos tempos e resiste este (37).

c2 Reino de Deus e Igreja.

Os primeiros acenos da formação da Igreja nos leva aos primórdios da História da Salvação, quando Deus escolheu Abraão para ser chefe de seu Povo, tendo início a formação do novo Povo de Deus (Gn 15-18). Do povo escolhido e abençoado, cujo fundamento é Iahweh, sairá o Messias esperado o "Cristo" e nele todas as promessas antigas testamentárias serão cumpridas. (Gl 3,16). E Ele formará o novo Povo, definitivo e escatológico, a Igreja tendo como posteridade espiritual as promessas Abraâmicas. A esta Igreja povo de Deus, poderão pertencer (por meio da fé e do batismo) todos os povos da terra.
A Igreja em relação ao Antigo Testamento tem a posteridade carnal de Abraão. É ao mesmo tempo continuidade e ruptura. No Novo Testamento a palavra Igreja significa o "Corpo de Cristo". "Tudo ele pôs debaixo dos seus pés, e o pôs acima de tudo, como Cabeça da Igreja, que é o seu corpo: a plenitude daquele que plenifica tudo em tudo" (Ef 1,22-23=Ef 5,23=C1 1,18=C1 1,24). A Igreja é herdeira da promessa do Israel de Deus, "E a todos os que pautam sua conduta por esta norma, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus" (G1 6,16); ela é espiritual e não carnal; é o verdadeiro Israel, "Considerai o Israel segundo a carne. Aqueles que comem as vítimas sacrificadas não estão em comunhão com o altar?"; é um povo que pelo "sangue de Jesus foi adquirido". "Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho; nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho". (At 20,28 = 1Cr 1 ,2 = Jo 21,15-17 = 1Pd 5,1-3 = 1Tm 4,16). Imagens do Antigo Testamento em relação a Igreja foram reinterpretadas e dadas a Igreja tais como: É a esposa não mais adúltera mas imaculada (Ef 5,27); não mais estéril mas fecunda (Jo 15,1-8); é o rebanho definitivo guiado pelo Bom Pastor morto mas ressuscitado (Jo 10,10); é a Jerusalém celeste livre (G1 2,4); é o povo formado por uma nova aliança, selada pelo sangue de Jesus Cristo, (Mt 26,28) etc.
O Antigo Testamento é aquele que prepara o nascimento da Igreja. Os profetas a anunciam e Cristo é aquele que revela aos discípulos e aos homens. A Igreja se desenvolverá no meio dos homens em etapas. Jesus em sua atividade missionária proclama que o Reino de Deus definitivo será precedido de uma fase terrestre (escatologia realizada), lento e longo: Jesus no discurso das Parábolas (Mc 4 = Mt 13), deixa claro o seu pensamento com respeito a fase da Igreja "O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore a tal ponto que às aves do céu se abrigam nos seus ramos" (Mc 4,30 = Lc 13,18-19 = Mt 13,31-32).
A fase terrena do Reino de Deus será um tempo lento e longo e que se estenderá até o final dos tempos. Esta fase compreende duas etapas distintas: Primeira etapa é caracterizada pelo reino de Deus, já presente no meio dos homens. O Reino de Deus é presente com a vida mortal de Jesus, o seu anúncio missionário, seus milagres, expulsões de demônios, formação da primeira comunidade messiânica dos discípulos. (ver c1 Jesus revelador e artífice do Reino de Deus.) "Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28 = Mt 3,16 = Mt 8,29). A segunda etapa, um tempo lento e longo é o tempo da Igreja "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela" Mt 16,18. Este texto de Mateus, único nos evangelhos, "indica que a Igreja comunidade escatológica deve começar já na terra, por uma sociedade organizada cujo chefe institui (At 5,11)" (38). Esta etapa da Igreja terá três acontecimentos: 1) O sacrifício da Cruz, que com o sangue da vitima perfeita Jesus, nasce a "Comunidade da nova Aliança" (Mt 26,28). Esta idéia da nova Aliança é utilizada largamente por Paulo (1 Cor 11,25; 2 Cor 3,4-6); 2) A ressurreição de Jesus; 3) A destruição de Jerusalém, ressaltando o surgimento e a presença da Igreja.
A Igreja esta submetida ao Reino de Deus. Ela confessa pela fé dos batizados a presença do Reino, proclama a soberania do Reino, mas não constitui ela mesma o Reino de Deus. A tarefa única e exclusiva da Igreja até o fim é anunciar o Reino de Deus, como esperança, ser sinal no meio dos homens do Reino de Deus. Jesus constantemente age na Igreja pelo Espírito Santo e assim os batizados são os anunciadores e construtores do mundo novo. O Reino atual de Jesus Cristo só se pode conhecer pela fé e na expectativa do dia em que Jesus Cristo, remeterá a seu Pai o Reino, vencendo o último inimigo a morte. Durante este tempo, de expectativa, que separa o hoje a vinda definitiva do Reino, a Igreja cabe pregar insistentemente "Vem Senhor Jesus".
O Cristão vive hoje em expectativa na Igreja, anuncia o Reino de Deus, participa nos sacramentos e pela graça e o Espírito de Jesus e levado ao comprimento na fé, esperança e caridade (39).

D - Os elementos básicos da Escatologia Paulina.

Um dos elementos básicos da Escatologia Paulina encontramos na profissão de fé da Comunidade Primitiva: Jesus de Nazaré, o crucificado é ressuscitado. Este é o dado inicial, ponto de partida, de tudo. Sem a profissão de fé, não existiria o Cristão, a Comunidade a Igreja: O Cristo Jesus morto e ressuscitado é algo novo e revelador, que difere de tantos outros mortos da história.

d 1 A fé na pessoa de Jesus morto e ressuscitado como ponto de partida.

A pregação do evangelho na Comunidade Primitiva como temos visto no anteriormente tem uma clara e determinada orientação escatológica. Muitos elementos da linguagem utilizada pelos primeiros cristãos era aquela da Escatologia tradicional dos hebreus da época. Entretanto na Comunidade Primitiva encontramos um elemento novo, que a diferenciava das antigas profecias e apocalipses: a profissão de fé da Comunidade Primitiva na Morte e Ressurreição de Jesus.
O Reino de Deus é presente no meio dos homens com a vinda do Messias, Jesus o filho de Deus, anunciado pelos profetas e esperado pelos povos. Deus no ato da encarnação fez a sua morada no meio dos homens. Os prodígios de Jesus, nos milagres e o poder de sua palavra ofereceram provas desta presença de Deus no meio dos homens. A morte de Jesus, segundo a vontade de Deus, era o Sinal do término da velha ordem, a ressurreição definiu a nova era escatológica, caracterizada pela ação do Espírito Santo. Tudo já era do conhecimento divino e por êle dirigido, passado, presente e futuro. O passado recente para os cristãos das primeiras Comunidades era o ministério e a pregação de Jesus a Morte a Ressurreição de Jesus Cristo, "O eschaton" que inaugura o Reino de Deus. O presente escatológico guiado pelo Espírito Santo, na transformação do mundo, impulsionando os homens verso a revelação final.
Para uma melhor compreensão da importância da fé na pessoa de Jesus morto e ressuscitado destacamos o fato acontecido na Páscoa, Morte e Ressurreição de Jesus. Neste acontecimento encontramos elementos importantes e determinantes na formulação escatológica da Comunidade Primitiva. Jesus apareceu a seus discípulos (Maria Madalena (Jo 20,14-17); discípulos de Emaús (Lc 24,13-32), Simão (Lc 24,34); Tomé (Jo 20,26); aos apóstolos (Mt 28,16-20), dando certeza de estar ressuscitado e ser o Senhor da Comunidade. Encontramos dificuldades em precisar o momento exato em que a Comunidade começa expressar esta fé com uma linguagem precisa. Da história da Comunidade, temos ainda hoje pouco conhecimento devido a pobreza dos dados.
Antes de falarmos da fé da Comunidade Primitiva na Morte e Ressurreição, um dado preliminar, porém importante citamos. A Comunidade Primitiva se considerava o Novo Israel e se estabeleceu em Jerusalém. A Comunidade Primitiva, nos seus primeiros passos se organiza em torno do quadro nacional de Israel, assume a cultura Judaica, reconhece o Sacerdócio do Templo, o culto sacrifical o serviço da sinagoga e a Lei. Vários textos do Novo Testamento atestam esta situação da Comunidade Primitiva em Jerusalém: At 2,46 = Lc 24,53 = At 5,12, "mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas e gozavam simpatia de todo o Povo" (40).
A Comunidade Primitiva fixa residência em Jerusalém. Este é um fato surpreendente, pois se os discípulos retornassem a Galiléia, o grupo seria considerado como uma seita retornaria às suas casas e ao trabalho. Deste fato, se pode afirmar que a Comunidade Primitiva e o grupo dos discípulos de Jesus querem ser o Israel, não pensam em outra possibilidade. Não querem, sofrer as conseqüências de uma perseguição e extermínio por ser uma seita oriunda da Galiléia (considerada pelos dignatários, como terra pagã). A Comunidade se considera o Israel, Jerusalém é a capital e o templo é o lugar de oração. E mais ainda que o Deus de Israel interviesse em favor do Povo.
O fato de freqüentarem ao Templo e a Sinagoga para a oração confirmam que a Comunidade Primitiva não é um partido revolucionário, mas se considerava o verdadeiro Israel, do final dos Tempos o Israel escatológico.
Depois da Morte e da Ressurreição de Jesus a Comunidade Primitiva pouco a pouco sofre alterações na sua maneira de pensar e no ato de fé em Jesus de Nazaré. Israel tomou uma posição clara e definida quanto a Jesus dizendo "não". Muitos da Comunidade também disseram não e fugiram. Os discípulos de Emaús mostram claramente os acontecimentos após a morte de Jesus (Lc 24,13-35): "Nos esperávamos que fosse ele quem redimiria Israel: mas com tudo isso, faz 3 dias que todas essas coisas aconteceram!".
Se pode dizer que a escatologia separa a Comumidade Primitiva do Judaísmo. O dado da fé, que pressupõe o crer em Jesus como Ressuscitado dos Mortos e como Messias esperado é de caráter decisório e cria em cada cristão uma Identidade. A profissão de fé no Senhor Morto e Ressuscitado supõe comprometimento com o Ressuscitado, supõe anunciá-lo com a vida, ser testemunho. Nos Atos dos Apóstolos vamos encontrar a pregação de Estevão, Pedro e Paulo, que nos fornecem elementos para entender este dado fundamental da Comunidade primitiva (41). A pregação é um dos dados mais importantes na Comunidade Primitiva. Impõe-se aqui uma pergunta: O que os primeiros cristãos pregavam? Qual o conteúdo e a mensagem? Se fizermos um paralelo entre os discursos de Pedro e Paulo nos Atos dos Apóstolos, encontramos uma mesma estrutura e conteúdo (42). Os mesmos temas se repetem. A estrutura dos discursos é tripartida:
1) partem da situação concreta;
2) anunciam as grandes linhas do Mistério de Cristo, com especial ênfase a Paixão, Morte e Ressurreição. Assim em At 3,13-15: "Jesus que vós entregastes..., Deus o ressuscitou dentre os mortos, e disto somos testemunho";
3) procuram envolver o ouvinte com a intenção de converte-lo. O tema central que aparece em todos os discursos é o da Morte e Ressurreição de Jesus, seu significado escatológico e salvífico. Ainda outros temas aparecem: 1) a presença do Espírito (também escatológico); 2) as citações e comentários do Antigo Testamento: 3) a realidade da Igreja. Estes temas nos ajudam a entender qual a maneira de pensar da Comunidade Primitiva e em quais valores se baseava a fé.
A Comunidade primitiva coloca no evento Jesus, Morto e Ressuscitado o centro da própria fé (43). Este evento é escatológico, pois esta assinalando o término de um período da História da Salvação e o início da fase final. O próprio Cristo é o princípio e o fim.
A atenção da Comunidade é concentrada no evento fundamental: Jesus de Nazaré, Morto e Ressuscitado, que inaugura a fase final da História e a salvação a todos nós. Para os primeiros cristãos a pregação, tem como fundamento anunciar a Jesus nossa salvação, dando sempre importância a Morte e a Ressurreição.
Deixando de lado a Comunidade de Jerusalém percebe-se que as cartas paulinas fornecem também elementos da constituição da fé das primeiras Comunidades. A Igreja que vai em direção aos gentios se situa na terceira fase da caminhada da Igreja: 1) De Jerusalém para Judeia-Samaria; 2) da Samaria para Antioquia; 3) aos confins da terra isto é até Roma (o mundo não Judaico, os gentios). Toda a vida desenvolvida por estas comunidades, o conteúdo da fé, (Cristo Morto e Ressuscitado) o anúncio missionário, foi posteriormente documentado e recolhido no Novo Testamento, pelos evangelistas (44).
Na primeira carta aos Coríntios encontramos um texto sobre a Ressurreição de Jesus (1Cor 15,1-10). Este texto tem um caráter excepcional não só porque é um resumo da Teologia de Paulo, mas também porque é um texto escatológico, dando uma resposta aos cristãos de Corinto que embora acreditassem na Ressurreição de Jesus não acreditavam na Ressurreição dos mortos. O núcleo central da perícope se encontra nos versículos 3-8 (45), que narram o fato, que na Igreja de Corínto, começou a perceber inquietudes acerca da ressurreição dos mortos. São Paulo mesmo diz: "como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? (1Cor 15,12). e ainda "Mas dirá alguém, como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam?" (1Cor 15,35). A resposta de Paulo é dura e enfática: "Insensatos"!. E parte da argumentação de que os próprios fiéis já tem aceito a Ressurreição de Cristo (46). Este pressuposto da Ressurreição é princípio básico e constitui o "Credo" da fé das Comunidade Primitivas.
Toda a pregação apostólica missionária, como já foi exposta se baseia no mistério Pascal - de Cristo Morto e Ressuscitado. Paulo assim se expressa: "Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia segundo as escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos doze" (1Cor 15,3-4 = Rm 1,4; G1 1,2-4; 1Ts 1,10 etc).
Encontramos outros textos das cartas paulinas que nos ajudam a entender esta característica básica das primeiras Comunidades a fé no Cristo Morto e Ressuscitado: 1Ts 1,9-10; 5,2; 1Cor 11,23-25; 16,22; Rm 10,9; F1 2,6-11; Ef 5,14; 1Tm 3,16.
Em resumo: Um dos elementos básicos da Escatologia Paulina está na profissão de fé da Comunidade Primitiva: Morte e Ressurreição de Jesus. Num primeiro momento encontramos a Comunidade que se fixa em Jerusalém, se considera o Israel Escatológico do final dos tempos. A Escatologia é que vai determinar a caminhada da Comunidade Primitiva. A decisão do "Ato de Fé em Jesus Morto e Ressuscitado", separa os cristãos dos Judeus. Um segundo momento surge na vida da Comunidade, ela acredita nos acontecimentos Pascais, em Jesus como Messias, e que a era escatológica iniciou em Jesus, e a Comunidade abre-se para o mundo tornando-se missionária e anunciadora do Cristo Morto e Ressuscitado. Este elemento fundamental da escatologia da Comunidade Primitiva é assumido por Paulo em especial na sua pregação e anúncio. O epistolário paulino muito bem atesta. A análise de 1Cor 15,3-8, mostra como Paulo se utiliza dos elementos de fé da primeira Comunidade. para responder as dúvidas dos Coríntios acerca da Ressurreição:
Outros textos das cartas paulinas mostram que a base da pregação de Paulo é o anúncio da Morte e Ressurreição de Jesus (muito semelhante a Pedro) e que foi vivido e anunciado pela comunidade dos apóstolos e discípulos de Jerusalém num ambiente escatológico Judaico. Com o advento de Cristo a escatologia toma novo significado, Êle é o "Eschaton", em Cristo a era escatológica é inaugurada e com sua Ressurreição nos projeta ao futuro ao "ainda não", a Ressurreição do final dos tempos a sua segunda vinda gloriosa.

d 2 Em Cristo Jesus, o Cristão é nova criatura.

Abordaremos agora outro elemento da escatologia paulina. Faz-se mister, uma pequena introdução lembrando que alguns pontos já foram abordados na Escatologia Bíblica do Antigo Testamento e Apocalíptica. Bem como a situação concreta de Paula, isto é, o ambiente, pessoa e doutrina de São Paulo. O que representou o seu encontro com Jesus Cristo, a caminho de Damasco no seu pensamento, na elaboração das epístolas e de sua escatologia.
Devido à culpa e o pecado de Adão, o mundo separou-se de Deus e foi destinado a corrupção. Entretanto Deus para salvar este mundo; que era escravo do pecado e da corrupção, teve um plano de amor verso a humanidade. Escolheu para si um povo; o Povo de Deus. Fez com este povo diversas Alianças. A Aliança Sinaítica, feita com Moisés, abriu um caminho novo para a humanidade. Deus se insere na História Humana, e por meio de um povo, salva a humanidade da perdição do pecado e da corrupção.
O problema fundamental para o povo Judeu, como para Paulo antes da sua conversão era a Salvação. Era necessário passar da prática do mal (afastamento de Deus) a amizade com Deus. Na vida do Judeu a lei tinha um rolo decisivo. A prática da lei passa o homem do pecado à justiça, e dá acesso ao homem aos bens que tinham sido perdidos. A nova Aliança engloba o renovamento moral da pessoa e uma nova criação, que completará a obra do Criador.
Esta concepção de salvação judaica, que Paulo possuía, sofre o impacto da conversão a pessoa de Jesus. Jesus para Paulo é o Cristo o Messias, e anuncia este fato novo às Comunidades. A escatologia paulina é construída com base na antiga experiência de salvação e acrescida da nova experiência em que reconhece em Jesus Cristo o Messias. Em Jesus a era messiânica escatológica se inaugura. O Cristo crucificado e ressuscitado é ponto central. Os discursos de Paulo e todo o seu sistema de pensamento teológico têm raízes no fato da Morte e Ressurreição de Jesus. Paulo descobre na passagem da morte a vida que se operou na Ressurreição de Cristo, a recuperação do plano divino, a passagem definitiva da morte a era escatológica de vida. Para Paulo a ressurreição realiza no corpo de Cristo a nova criação já anunciada pelos profetas, e esperada pelo Povo de Deus. A nova criação, que tem origem na ressurreição de Cristo, se estenderá a todos os homens e ao cosmos, desde que se unirem a Cristo, buscando a salvação na esperança e na expectativa da manifestação de Cristo no final dos tempos.

d 3 Pelo Batismo o Cristão Participa da Morte e Ressurreição de Cristo

A Morte de Jesus e sua Ressurreição pela força do Espírito puseram fim ao mundo antigo. Um novo mundo se instaura, a era escatológica tem seu início. Os homens também têm acesso a esta nova era escatológica, e a essas realidades. O Batismo faz com que o ser humano morra e ressuscite em Cristo, se revista de um homem novo animado do Espírito de Cristo. Uma subdivisão em dois pontos com respeito este tema poderá nos ajudar na compreensão das idéias que aparecem: 1) Principais textos que abordam a temática da Ressurreição nas cartas paulinas, 2) como o Cristão participa da Morte e Ressurreição.
O fato da Ressurreição de Jesus, aparece nos escritos paulinos desde as suas primeiras cartas. Na primeira carta aos Tessalonicenses (escrita no ano 51 d.C.), Paulo respondendo a preocupação de alguns convertidos da Comunidade de Tessalonica que acreditavam que os defuntos estavam em desvantagem, pois estariam ausentes na vinda do Senhor, Paulo reafirma o ensinamento da Ressurreição dos Mortos. Os mortos Deus os levará junto: "Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus Deus há de levá-los em sua companhia". Nesta resposta de Paulo encontramos três fatos que ocorrerão na Parusia: 1) Ressurreição, 2) O encontro com Jesus, 3) A vida eterna com ele.
A preocupação pastoral de Paulo transparece no texto quando ele afirma que a participação da Ressurreição futura gloriosa, nesta vida é estar ligado a pessoa de Jesus e morrer em união com Cristo. A expressão de Ts 4,14 afirma: "assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia", em outras palavras os que morrerem "por Jesus", os mortos "em Cristo" (47), supõe para participar a ressurreição de Jesus estas condições: 1) Estar durante a vida unido com Cristo, 2) não ter interrompido no estágio intermediário de vida a comunhão com aquele que começou a vida divina, 3) ter deixado livre a ação do Espírito Santo. O texto de Rm 8,11 resume esta idéia: "E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós.
Em conclusão: Os mortos que viveram em comunhão com Cristo ressuscitarão, e em seguida os que permanecerem juntos com os ressuscitados, se reunirão todos em Cristo. No ano 56 d.C., Paulo se defronta na Comunidade de Corinto com aqueles que não acreditam na Ressurreição dos Mortos, e que com esta atitude negativa frente ao fato da Ressurreição de Cristo, ameaçam a vida religiosa de toda a comunidade. Paulo em 1Cr 15,12 dá uma resposta pastoral prática uma orientação a vida da Comunidade de Corinto. O cristão pelo batismo participa da Morte e da Ressurreição de Cristo, este fato é irrefutável. Se negarmos a ressurreição dos mortos, negamos também a vida de ressuscitados dos batizados. Um fato é conseqüência do outro.
A estes negadores da Ressurreição dos mortos, Paulo dá uma resposta e começa com o próprio fato da ressurreição de Cristo, de suas aparições depois da Morte e Ressurreição. Isto que ele prega a "Ressurreição", ele recebeu da tradição, e é em comum acordo com os Apóstolos (1 Cor 15,1-11), e afirma "se Cristo ressuscitou dos mortos, sem dúvida a ressurreição dos mortos deverá acontecer. Caso contrário, aquilo que cremos, é sem consistência. Outro argumento decisivo e central para a Ressurreição dos mortos nos mostra Paulo em 1Cor 15,20-23: 1) Cristo ressuscitou como primícia, 2) ressuscitarão os que morreram em união com ele, 3) os que pertencem a Cristo por ocasião da sua vinda (48).
No Novo Testamento ainda outros textos vem ao encontro da participação do cristão na Morte e Ressurreição de Jesus (2Cor 1,9; 2Cor 4,14; Rm 6,1-11; Rm 8,11-23; Ex 2,6; 2Tm 2,11).
Com estes textos, de Ts e Cor, se tem uma idéia do como o Apóstolo Paulo relaciona o fato da Ressurreição de Cristo com a Ressurreição dos Mortos. Um segundo ponto se faz necessário abordar: Paulo vê como dado de fé a ressurreição de Cristo na vida do cristão. Ele é participante da Morte e Ressurreição pelo Batismo e impulsionado pela ação do Espírito Santo.
A vida religiosa do batizado é estar em contínua comunhão com Cristo, e viver o presente escatológico que se direciona ao futuro da revelação gloriosa de Jesus Cristo no final dos tempos (49). Este participar da Ressurreição de Cristo da direito ao primeiro passo, a primeira realização daquela que será a realização última, completa e perfeita a ressurreição de Cristo, a ressurreição de nosso corpo. "Aqueles que pertencem a Cristo" (1Cor 15,23), porque estão em comunhão com ele ressuscitarão. Outro texto da carta aos Romanos 6,1-11, reforça a mesma idéia, "aqueles que participam na vida de Cristo, tem em si o germe da futura ressurreição," Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por uma morte semelhante à sua seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante a sua.
Tudo é devido a ação do Espírito Santo: a Ressurreição, a vida que esta trouxe aos homens, a redenção, os dons do Espírito Santo, dos quais os cristãos já possuem as primícias. Os textos das cartas paulinas abordam todos estes aspectos da participação e da ação do Espírito Santo. Assim Rom 8,11: "E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós" Se "nos sofremos e gememos interiormente" é porque já em nós existe "as primícias do Espírito".
Em conclusão podemos dizer que a Ressurreição acontecerá em 4 etapas sucessivas: 1) a Ressurreição de Jesus; 2) a Ressurreição dos cristãos no Batismo; 3) a Ressurreição moral, isto é a vida e a conduta dos cristãos; 4) a Ressurreição gloriosa.

d 4 Recebe a Liberdade

A mensagem paulina sobre a liberdade (50) poderia ser resumida na afirmação de Gl 5,1: "É para a liberdade que Cristo nos libertou". Porem, em todas as cartas paulinas encontramos o tema da liberdade: Rm 6,15; 6,18-22; 7,lss; 8,2; Gl 2,4; 3,3; 3,13; 4,5; 5,13; 1 Cor 6,20; 7,23; 9,1; Cl 2,20-22). Paulo, coloca em evidência o carácter escatológico da libertação: Deus salva mediante a morte e ressurreição de Jesus (Rm 5,10).
A libertação de Jesus atua nos homens e na humanidade através do dom do Espírito, que é o Espírito de Cristo: "Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A lei do Espírito te libertou da lei do pecado e da morte" Ora o Espírito Santo é um dom escatológico por excelência, prometido pelos profetas (Jl 3,1-5), para o tempo definitivo. São Paulo fala do "Espírito Santo da promessa" (Ef 1,13) (51). A presença do dom do Espírito Santo na vida dos cristãos é sinônimo de liberdade, "Pois o Senhor é o Espírito, e onde se acha o Espírito do Senhor aí está a liberdade" (2Cor 3,17).
A liberdade é um dom e uma graça dado ao cristão por ato divino de libertação: "a criação é libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8,21), e também por obra de Deus fomos libertados do pecado, "e assim livres do pecado (por obra de Deus)" (Rm 6,18.22) para viver a liberdade na nova lei do amor vós fostes chamados a liberdade. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para carne, mas pela caridade, colocai-vós a serviço uns dos outros. Deus nos liberta da corrupção do pecado, da escravidão da Lei e em conseqüência da morte (52). A libertação que Deus opera tem uma dimensão cósmica. homem, natureza e cosmos juntos se salvarão (Rm 8,17-25).
Paulo fala em Libertação com uma prospectiva individual. Todavia, o ser cristão, não vive isoladamente. Ser cristão é pertencer, antes de tudo ao corpo de Cristo, que é a Igreja. O Cristão mediante o batismo é "livre do mundo presente mau, segundo a vontade do nosso Pai" (Gl 1,4). Este mundo presente esta em oposição ao mundo "messiânico" que esperamos. Bem como mundo presente, quer dizer "Reino de Satanás", considerando "deus deste mundo" (Ef 2,2; 6,12; 2Cor 4,4), e também reino do pecado e da Lei. O Cristão, por meio de Jesus Cristo, em sua morte e ressurreição, é liberto de todos os tiranos deste mundo, e passa a participar no seu Reino e no Reino de Deus, na espera de uma libertação total na Ressurreição corporal no final dos Tempos (Rm 5-8).

De que escravidão o cristão é libertado?
O cristão é libertado fundamentalmente da idolatria: "Outrora, é verdade, não conhecendo a Deus, servistes a deuses, que na realidade não o são" (G1 4,8). O mundo dos ídolos falsos abrange a ganância de ter, a luxúria, o egoísmo etc.(53). Jesus nos libertou de todas as formas de dominações, de todas às formas de "estruturas de domínio", e nos inserio no Reino de Deus, Reino de liberdade, que vem do seu Espírito.
Na carta aos Efésios no capítulo 2,1-3, Paulo descreve a escravidão do homem pecador: "Vós estáveis mortos em vossos delitos e pecados. Nele vivíeis outrora, conforme a índole deste mundo, conforme o príncipe do poder do ar, o espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Com eles, nós também andávamos outrora nos desejos de nossa carne, satisfazendo às vontades da carne e os seus impulsos, e éramos por natureza como os demais, filhos da ira". Jesus nos liberta de todas estas potências opressoras existentes na sociedade pagã, e nos introduz na Igreja em um novo espaço de vivência da liberdade e da reconciliação. A Igreja é o lugar aonde Deus quer criar uma sociedade reconciliada e humana: "Se alguém está em Cristo é nova criatura". Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova. Tudo isto vem de Deus que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou um ministério da reconciliação.
Paulo em seus escritos deixa claro, que a fonte autêntica da libertação do homem, é o espírito de Jesus. Este Espírito renova a vida dos homens passando-o de um mundo de pecado, ídolos e corrupção a homens novos e livres, que por sua vez construirão uma sociedade livre segundo o Cristo e libertadora.

d 5 Participa da Benção Abraâmica

Abraão Pai da fé rompeu com todos os seus vínculos terrestres, deixa sua terra sua gente e parte para o desconhecido. A terra para onde se dirige é estranha, leva consigo uma mulher que é estéril (Gn 11,30), entretanto Deus o prometeu posteridade. Este primeiro ato de fé de Abraão será novamente exigido por Deus quando ele renova às promessas: "Ergue os olhos para o céu conta as estrelas se as pode contar", e acrescentou: "Assim será a tua posteridade". "Abraão creu em Iahweh", em seguida Deus o submeteu a prova e exige o filho (Gn 22). Este primeiro acontecimento na história da Salvação, a Benção Abraâmica tem valor escatológico, pois inicia um caminho para o Povo de Deus que vai se realizando de etapa em etapa, de promessa em promessa.
A descendência, que Deus promete a Abraão não é carnal, limitada, mas é para todos os que a fé fará filhos de Abraão, como tão bem mostra o apóstolo Paulo na carta aos Romanos 4 e Gálatas 3,7. Na Carta aos Romanos e na Carta aos Gálatas Paulo, utiliza o exemplo da fé abraâmica para provar que Abraão, o patriarca, obtém a justificação não por suas obras, mas através da fé.
a) Na Carta aos Romanos em 4,1-25, o apóstolo Paulo, faz uma releitura da história de Abraão, a luz da pessoa de Jesus Cristo. Aquilo que a tradição judaica fez da pessoa de Abraão colocando-o como tipo da justificação pelas obras, Paulo afirma o contrário dizendo: Abraão foi justificado primeiro de ser circuncidado, portanto a relação entre Deus e Abraão não depende das suas obras. E pela fé que se torna depositário das promessas divinas. Esta fé de Abraão, professada, é uma prefiguração da fé dos cristãos em Cristo morto e ressuscitado dos mortos.
Nesta figura Antigo Testamentária de Abraão o apóstolo Paulo encontra os argumentos para sua teologia da justificação, a qual se cumpre sem a necessidade das obras da Lei ou circuncisão, unicamente mediante a fé e sem descriminação entre Judeu-Grego-Romano. Tudo é um dom da graça divina. A figura do Patriarca Abraão se torna desta maneira o protótipo desta nova maneira teológica de ver a salvação: pela fé dom da graça divina.
b) Na Carta aos Gálatas - Paulo utiliza de seu método rabínico como chave de interpretação do Antigo Testamento e expõe em G1 3,6-18, Abraão se justifica pela fé como esta escrito em Gn 15,6. Portanto poderão chamar-se filhos de Abraão aqueles que imitam a fé de Abraão. Chamando Abraão o Pai dos "crentes", nos podemos participar de sua benção, por um único caminho, o da fé. Deus abençoou a Abraão e a sua descendência (sêmen) como narra o livro do Gn 12,7; a palavra descendência esta ao singular e se refere à pessoa de Jesus Cristo (Gl 3,16). Logo, a participação dos bens escatológicos da promessa é à aqueles que professarem a fé na pessoa de Jesus Cristo (54).

d 6 - Participa da Herança de Filho.

Outro tema, que surge dos escritos teológicos de Paulo, em particular nas cartas aos Gálatas e aos Romanos é o da herança este tema esta estreitamente ligado ao da benção, em que concluímos que a participação às bênçãos abraâmicas depende ao dado da fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado, o mesmo podemos dizer da herança, somos herdeiros das promessas abraâmicas pela fé. O valor escatológico desta noção, a qual aparece ao longo da História da Salvação, assume nas cartas de Paulo um significado todo particular.
De fato os últimos tempos chegaram, pois os gentios são os herdeiros (Ef 3,6): "os gentios são co-herdeiros, membros ao mesmo corpo e co-participantes da Promessa em Cristo Jesus, por meio do evangelho". É colocado em evidência o início do "Cumprimento" em Jesus Cristo a benção de Abraão é chegada aos pagãos (55).
Por começar Jesus Cristo é o herdeiro: "Quando, porém chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu filho nascido de uma mulher..." (Gl 4,4ss = Hb 1,2). Os que crêem em Cristo são também filhos e em conseqüência herdeiros (G1 4,7 = Rm 8,17) (56), é claro em caráter conseqüente. A qualidade que recebem de serem "co-herdeiros" é dada pelo próprio Cristo, é graça, e supõe a fé (Rm 8,17). De um regime de escravidão sob o jugo da lei são transformados em filhos e herdeiros (Gl 3,26-29; 4,1-7). A morte de Cristo na Cruz tornou possível a participação desta hereditariedade divina.
Os capítulos 3 e 4 da carta aos Gálatas são os que desenvolvem os aspectos teológicos de Paulo com resguardo a herança. A situação nova em que o Cristão é levado a de "herdeiro" é colocada em ligação com a da promessa feita a Abraão. Os problemas surgidos na Comunidade com a presença dos judaizantes (57), Paulo afirma a eles (usando um tom alterado de voz) que pertencer a descendência de Abraão, e ser herdeiro das promessas (Gn 13,15) não depende da Lei (Gl 3,10-18 = Rm 4,13) mas unicamente da fé (Gl 3,7¬5 = Rm4,13-16) e mais ainda na fé em Jesus Cristo (G1 3,14,22ss). Em conclusão: Pela fé em Jesus Cristo se é herdeiro das promessas abraâmicas, "Se vós sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa" (Gl 3,29).
A carta de Paulo aos Coríntios se volta a este problema da herança, em outros termos. A descendência verdadeira de Abraão herdamos da fé em Jesus Cristo, e não mais segundo a carne a lei ou a circuncisão: "a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade"(1Cor 15,50). Esta passagem de Coríntios, tem um mérito particular, porque abre a possibilidade do Universalismo atual, não futuro como os profetas do Antigo Testamento anunciavam. O ser herdeiro da promessa exclusividade do povo eleito em Jesus se torna possível a cada homem e mulher. Basta que acredite pela fé, na sua pessoa, na Morte e Ressurreição de Jesus: "Não há Judeu nem Grego não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa" (G1 3,28-2).

E - O Tempo Presente é Vivido no Espírito.

No tempo presente se desenvolve a nova criação, e a razão desta Paulo assinala com a Ressurreição de Cristo, a qual é ponto de passagem entre a era antiga, de pecado e de morte a era da ação do Espírito Santo.
Cristo é o homem novo, que com a sua ressurreição se torna cabeça da nova humanidade, o novo Adão. Ao homem deixou o Espírito Santo, que através da escuta da Palavra de Deus e a conversão a esta, este passe a agir nele, fazendo-o participante da Igreja. Pelo batismo o cristão passa do mundo antigo do pecado e da morte ao mundo novo de Cristo, e passo a passo prepara a era escatológica futura, a qual entrará (por meio da ação do Espírito Santo) na ressurreição.

e 1 A Vivência do Batismo Tem a Garantia da Ação do Espírito.

O dinamismo da nova vida, no Espírito, encontramos na prática das exigências do Batismo. São Paulo preocupado com a comunidade de Corinto afirma já somos santificados: "aqueles que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos" (1Cor 1,2), mas a santificação é uma tarefa de cada dia para o cristão, "Por quanto, é esta a vontade de Deus: a vossa santificação, ...Pois Deus não nos chamou para impureza, mas para a santidade" (Ts 4,3-4.7 e em Rom 6,22: "Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. O homem interior não é pronto mas renova-se a cada dia. Por isto não vos deixeis abater. Pelo contrário, embora em nós o homem exterior vá caminhando para sua ruína o homem interior se renova dia a dia".
O velho homem já está morto, crucificado com o Cristo, isto não significa que tudo já está pronto e que o homem não tenha mais nada que fazer é necessário ainda: 1) Renovar o homem velho "o vosso modo de vida anterior - o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas" (Ef 4,22); 2) Renovar-se "pela transformação espiritual da vossa mente" (Ef 4,23); 3) Revestir-se "do Homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade"; 4) Purificar-se "do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento" (1 Cor 5,7); é necessário "viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade" (Tt 2,12). Assim estaremos nos preparando para o século futuro, vivendo o mundo de Deus, onde já estamos inseridos "a nossa cidade está nos céus de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo" (Fl 3,20).

e 2 O cristão Vive em Esperança e é Guiado pelo Espírito.

Esperança e Espírito são dois elementos que fazem parte da Escatologia Paulina. Ambos nos lançam para o futuro nos fazem caminhar em um "agora" para o "ainda não". O cristão é chamado, (porque crê) "homem de esperança", e de fato o é, vive o presente, mas sua meta é o futuro do Reino, a realização plena do reino de Deus.
O apóstolo Paulo fala com muita freqüência e com uma riqueza incomparável acerca do termo esperança em suas cartas. As idéias escatológicas e teológicas que aparecem nas cartas assim se apresentam: O cristão através da obra redentora de Cristo e de seu batismo foi perdoado de seus pecados, tornando-se membro do Corpo de Cristo, é possuidor do Espírito Santo que o sustenta e o impele de viver seu cristianismo, mas isto não quer dizer que a obra salvífica iniciada por Cristo já está terminada em sua vida. É necessário, ainda sofrer, tribulações viver intensamente o cristianismo, para que a obra redentora iniciada por Cristo nele se complete, em Fl 2,12: "Portanto meus amados, como sempre tendes obedecido, não na minha presença, mas também particularmente agora na minha ausência, operai vossa salvação com temor e tremor". Num mesmo sentido podemos interpretar também os textos de Cor 4,17 e Rm 8,18-25. Para Paulo a virtude da esperança esta inserida fortemente na vivência da fé recebida no Batismo com a participação do Espírito em Rm 12,12: "alegrando-vos na esperança perseverando na tribulação assíduos na oração, de fato o cristão é no mundo portador de esperança, por este motivo transmite alegria, paz, sentido para a vida mesmo nas tribulações que o acompanham. o cristão tem como meta de sua existência a glória de Deus (para a esperança)" (58), que como filhos que somos de Deus participaremos de sua glória, como nos diz Rm 8,17: "E se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados", e isto terá seu acabamento no final dos tempos onde acontecerá a libertação, de nossos corpos, e não somente a nós, mas também de toda a criação, que a maneira do homem está em espera impaciente (8,18-25).
Outro aspecto relativo à esperança é a transposição da esperança do Antigo Testamento ao Novo Testamento. No Antigo Testamento a esperança do Povo de Deus era dirigida a Iahweh, agora no Novo Testamento é dirigida a Jesus. Assim a fórmula "Cristo esperança" sustenta plenamente aquela do Antigo Testamento "Iahweh-esperança" (59). Além disto, junto à fórmula tradicional "espera em Iahweh" (60), aparece "espera em Cristo" (61). Portanto: se no Antigo Testamento, Iahweh era a esperança do Povo de Deus, agora no Novo Testamento Jesus e a esperança para os cristãos. Este Cristo que foi enviado pelo Pai e cumpriu a redenção (62) mantendo as promessas, é agora a esperança dos cristãos, pois neste Cristo que possui esta a esperança na glória futura, escatológica. Este Cristo é o conteúdo que em C1 1,26 fala: "o mistério escondido desde os séculos e desde as gerações, mas agora manifestado em seus santos". Assim os dois motivos da esperança em Cristo são: Cristo que doou seu sangue por nós (Rm 8,31-39), ressuscitou e intercede por nós. O Espírito Santo, o qual recebemos no batismo, iniciando a nossa salvação nos acompanhando até a complementação no final dos tempos. Outro elemento aparece com freqüência na Teologia da Esperança de Paulo, o relacionamento entre fé-esperança de Rm 5,2: "por quem tivemos acesso, pela fé a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus".
Em Rm 5,2 encontramos um versículo com clara orientação escatológica futura: "Nossa vida é um crescer para a esperança da glória" Paulo neste capítulo inicia a uma nova argumentação (conf. oûn metabático) a partir do conceito da justificação em virtude da fé tratado já nos capítulos precedentes. A justificação torna-se assim um ponto de partida da vida do cristão, mas, sobretudo daquela "paz" íntima que é fruto da reconciliação com Deus e da remissão de nossas culpas, através da justificação operada mediante a obra redentora do Cristo Senhor. Através dele não só somos justificados de nossas culpas, mas nos é aberta uma dimensão nova da existência. A da fé, confirmada mediante o seu sacrifício redentor (Rm 5,9-10) e do qual somos testemunhos e mensageiros, não apenas para vivermos em nossa realidade já presente, mas também orienta-la escatologicamente verso (eîV) ao possesso definitivo daquela graça que na manifestação da "glória de Deus". Nisto a esperança joga um rolo importante: essa é o fundamento, portanto (conf epi) junto com a fé, de toda a vida cristã especialmente no tempo final.
É propriamente a esperança que sustenta a vida da fé não somente fazendo-nos, esperar impacientemente a "glória" futura, mas doando-nos a força de superar as tribulações do momento presente. Antes, a própria causa de tal esperança, também o sofrimento torna-se um motivo de "Glória" que antecipa em união de sofrimento de Cristo a glória de Deus.

F - Orientação final do Reino de Deus.

A nossa reflexão sobre a orientação final do Reino de Deus, terá como base a literatura paulina. Não é intenção nossa fazer aqui uma longa exposição exegética, mas identificar e colocar em destaque elementos que contribuem para a formulação da Escatologia Paulina. Para uma melhor apresentação e compreensão abordaremos três temas desta realidade: d1 - O Juízo; d2 - O inferno; d3 - O Paraíso (63).

f1 - O Juízo.

Para Paulo o julgamento, já tem o seu início aqui em nossa vida terrena. A comunidade é envolvida diretamento no Juízo escatológico de Deus, o qual se atua com o seu filho Jesus. O texto da carta aos Coríntios mostra que Cristo é o Juiz, portanto todos nós teremos de comparecer manifestadamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal" (2Cor 5,10) Assim o Juízo Universal: é está situação onde cada um deverá render conta daquilo que fez ou deixou de fazer.
E claro que o juízo se trata de um julgamento segundo as obras. A vida do cristão batizado assume perante Deus responsabilidades e o seu corpo o capacita em agir de forma cristã. Pode-se falar aqui na chamada "Justiça retribuitiva", segundo o teu agir Deus te julgará e te concederá o prêmio. Esta idéia é presente nas Cartas Paulinas quando se apresenta a idéia escatológica do Juízo.
A segunda Carta aos Tessalonicenses 1,4-10 nos apresenta um significativo texto sobre a idéia do Juízo. Aos cristãos de Tessalônica desanimados e perseguidos, Paulo procura animá-los, fez brilhar diante dos olhos dos cristãos de Tessalônica, as imagens do grande intervento de Cristo no final dos tempos onde estes receberão o prêmio e os perseguidores a punição (64): "para quando se revelar o Senhor Jesus, vindo do céu, com os anjos do seu poder, no meio de uma chama ardente, para vingar-se daqueles que não conhecem a Deus, e que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus" (2Tim 1,7-9).
A realidade que aparece nos textos das Cartas de Paulo é que Deus julgará, por meio de Jesus segundo o meu evangelho (Rm 2,16). Cristo virá para julgar "os vivos e os mortos" (2Tm 4,1). Esta expressão quer dizer que Jesus será o Juiz de todos os homens, dos que estarão vivos no momento da Parusia e daqueles que estarão mortos e ressuscitarão (Mt 25,31; Jo 5,26-29; 1Ts 4,15-17). Esta expressão, certamente pertencia ao "querigma" da comunidade primitiva (At 10,42) e está no nosso credo na liturgia da Missa.
Qual é o modo pelo qual acontecerá o Juízo? O Juízo de Deus no final dos tempos virá "naquele dia" (Rm 2,16; 2Tm 4,8) (65). É descrito com as imagens do "dia de Iahweh" (65) e se completará com a ação do fogo. O fogo purificara as obras de cada um. As que resistirem o fogo receberão a recompensa e a salvação. Em 1Cor 3,13-15: "a obra de cada um será posta em evidência. No "dia de Iahweh" torna-la-á conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale da obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistirá, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa".
O cristão conhece Jesus como Juiz, já primeiro da Parusia. No ato de fé o cristão conheceu o amor de Deus, o colocou em prática, seguiu o exemplo de Cristo, e assim se afastou-se das obras do pecado e da morte. O Juízo não fará mais do que revelar as obras boas que o cristão praticou no tempo de sua vida.

f2 - O Inferno.

A preocupação de Paulo não foi a descrever pormenorizadamente o inferno. Em suas cartas encontramos a preocupação em corrigir os desvios da verdadeira doutrina e do Evangelho de Jesus Cristo. Só em um período posterior, vamos encontrar preocupações dos autores em descrever o mundo de além morte.
Na literatura paulina encontramos um bom número de textos que nos falam em condenação. Estes dizem que serão condenados todos aqueles que não acreditam na verdade e convivem com a pratica da injustiça. Em Paulo não existe meio termo e afirma: que a condenação é para aqueles que desprezam a luz e não crêem no evangelho de Jesus.
A linguagem de Paulo com respeito a condenação se caracteriza pela sua simplicidade, sem descrições que coloquem medo ou terror. A ira de Deus contra aqueles que o rejeitam é o da exclusão do Reino de Deus: "nenhum fornicador ou impuro ou avarento - que é um idólatra tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs, porque por essas coisas vem a ira de Deus sôbre os desobedientes" (Ef 5,5-6). Na carta aos Gálatas, Ele repreende a temática e enumera os "frutos da carne (G1 5,19-21a) e em 1Cor adverte os cristãos que cometem injustiças. "Então não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem os depravados, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus".
Enquanto Paulo acentua a perdição aos inimigos da cruz de Jesus Cristo, aos cristãos ao contrário que esperam Jesus Cristo como Salvador e Redentor, é outorgada a Salvação. Não tem dúvida, que os textos da literatura paulina ensinam a existência da morte de perdição e da ausência de salvação, para aqueles que rejeitam o Evangelho de Jesus.

f 3 Paraíso.

Paulo nas suas cartas usa da sobriedade para descrever a condição do Paraíso no final dos tempos. Nem mesmo se preocupa em representar como isto acontecerá. Os aspectos da vida futura já salientamos quando falamos da vida presente e da ação do Espírito Santo no Batizado. Colocamos em destaque alguns textos significativos, que nos ajudam a entender a perspectiva escatológica que o tema Paraíso contém: A vida futura que nos espera será de salvação perfeita, "Quanto mais, então agora, justificados por seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rom 5,9). A ira divina, contra aqueles, que o rejeitarem será a condenação eterna, mas aqueles que acreditam na pessoa de Jesus terão a certeza de receberem a salvação eterna.
Se a condenação é o ser excluído do Reino de Cristo, a salvação vinda pelo ato de fé é a de ser admitido no seu reino: "O Senhor me libertará de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celeste" (2Tm 4,18).
A participação neste reino tem início aí agora e no futuro será de modo pleno: reinaremos juntos com Cristo, "Deus Pai com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus". Deus em sua bondade, nos chama para junto com ele reinar, "a que vos chama ao seu Reino e à sua glória". Está glória que Deus chama os seus eleitos, é um dos aspectos da salvação divina. A glória se manifesta em Jesus Cristo, e de sobremaneira na Ressurreição: Jesus foi ressuscitado "pela glória do Pai, assim também nós vivemos vida nova" (Rm 6,4), tendo origem neste fato o mundo futuro.
O cristão batizado é participante desta glória, porque faz parte da nova e perene aliança. O corpo do Cristão, também será ressuscitado na glória (1Cor 15,43) e será semelhante ao corpo glorioso de Cristo. Ao cristão ressuscitado em Cristo, aquêle que sofreu com Cristo, será dado o prêmio, a herança e a recompensa de uma vida eterna. O próprio Paulo fala de si mesmo: "Combati o bom combate, guardei a fé, o Senhor me dará o prêmio a "coroa da justiça" (2Tm 4,8).
Uma última questão se faz presente aqui: Existe um lugar para a glória e a vida eterna? O céu, onde colocamos a glória e a vida eterna é um lugar determinado ou simplesmente uma condição de vida?
Os textos de Paulo falam que o céu é o lugar da habitação de Deus e de sua ação salvífica aos homens: "que faz operar em Cristo, ressuscitado entre os mortos e fazendo-o assentar à sua direita nos céus". O céu também é o lugar da habitação de Cristo Jesus e é o lugar dos cristãos "a nossa cidade esta nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como salvador o Senhor Jesus Cristo" (Fl 3,20).

Referências:

1 - Na vasta literatura sobre Escatologia Bíblica do Antigo Testamento citamos algumas obras e artigos que segundo nosso entendimento são importantes: S. Zedda, L'escatologia biblica, vol. I, Brescia 1975, 9-146; K. H. Shelkle, "Escatologia", Mysterium Salutis 11, Brescia 1978, 191-217; D. Mollat, "Jugeme NT, A.T.", em DBS IV, Paris 1960, 1321-1394; A. Feuillet, "Parousie", em DBS VI, Paris 1960, 1331-1419; P. Althaus; "Eschatologie" em R. G. G. II, Tübingen 1958, 650-689; J. Galot, "Eschatologie" em DSp IV, Paris 1960, 1020-1059; P. Dacquino, "Il messaggio escatologico dei profeti ebrei e i primi capitoli della Genesi" em Il Messianismo, Atti della XVIII settimana Biblica, Brescia 1966, 21-34; H. D. Preuss, "Eschatologie", em Alten Testament, Darmstadt, 1978; J. B. Libânio e M. C. L. Bingemer, Escatologia Cristã, Petrópolis 1984; H. Gross, "Eschatologie im Alten Bund" em Eschatologie im Alten Testament, Darmstadt 1978, 217-226; H. Gross, "Eschathologie II, A.T", em Lex. f. Theologie.u.k. III, Freiburg 1959, 1084-88.
2 - Para a definição sobre a Escatologia, e uma visão da problemática que envolve os autores na apresentação de seus sistemas, remetemos a obras específicas conforme nota 1.
3 - Não pretendemos afrontar tal problemática, enquanto nos levaria distante do tema, nos limitaremos a desenvolver as linhas essenciais da Escatologia do Antigo Testamento. Lendo algumas obras sobre esta problemática chegamos a uma conclusão: A escatologia Bíblica de Israel é original frente às Religiões do Oriente Médio, McCulloch, "Eschatology", Encyclopaedia of Religion und Ethics, Edinburgh 1974, 372-377; J. Galot, "Eschatologie" em DSp IV, Paris 1960, 1020-1021; F. Dingermann, "La speranza di Israele in Dio e nel suo Regno - Origine e sviluppo dell'escatologia veterotestamentaria", em Introduzione all'Antico Testamento, La Parola di Dio 22, Roma 1982, 514-516; Os autores procuraram encontrar elementos de escatologia nas antigas religiões e chegam a afirmar que os mitos mesopotâmicos teriam senso escatológico, que haveria uma expectativa de uma idade de ouro. Entretanto a explicação destes mitos foi abandonada: A. Gelin, "Messianisme", em DBS V, Paris 1960, 1168; H. Gross, "Lineamenti dell'escatologia dell'Antico e del N. Testamento" em Mysterium Salutis,vol. 11, Brescia 1978, 208-212. Nem mesmo a religião Egípcia conheceu uma verdadeira esperança escatológica. Outros acreditam que existe um possível influxo da Escatologia Magdea e que a Escatologia Bíblica seria uma cópia, isto é de negar (A. Gelin, 1169). Mesmo se quiséssemos levar em conta estes elementos, eles seriam em ordem secundária.
4 - Zedda, L'escatologia biblica, vol. I, Brescia 1972, 21.
5 - Seguimos a ordem estabelecida pela Bíblia, Promessa aos Pais - Êxodo - Aliança Sinaítica. Existem alguns autores que iniciam a História da Salvação com o Êxodo, conforme a datação dos livros do Antigo Testamento, por exemplo: J. V. Pixley, Êxodo - una lectura evangélica y popular, Mexico 1990; J. V. Pixley, A história de Israel a partir dos Pobres, S. Paulo 1990.
6 - São Paulo nas suas cartas utiliza o texto para provar que a justificação depende da fé não dos méritos das obras da lei. Pois Abraão, acreditando nas Promessas de Deus, pela fé, se tornou Pai de uma incontável descendência. E isto aconteceu antes da existência da lei. (Rm 4,3; Gl 3,6).
7 - H. Gross, "Eid, Biblisch", em Lex. f. Theol. u. k. III, Freiburg 1959, 727 (727-728).
8 - O autor comentando as fontes da Escatologia da Antiga Aliança, vê em Abraão, no Povo de Deus um dos primeiros passos da Escatologia Realizada. H. Gross, "Eschatologie im Alten Bund", em Eschatologie im Alten Testament, Darmstadt 1978, 217-226.
9 - A. Bonora, "Alleanza", em Nuovo Dizionario di Teologia Biblica, Torino 1988, 23 (21-35).
10 - Proto-evangelho é o nome que se dá ao anúncio enigmático de Gn 3,15, o qual narra o combate entre a mulher e a serpente.
11 - São Paulo na carta aos Gálatas faz uma interpretação Cristológica deste texto: Gl 3,16 "Ora as promessas foram asseguradas a Abraão e a sua descendência". Não diz "aos descendentes", como referindo-se a muitos mas como a um só: e à tua descendência, que é Cristo.
12 - H. Gross, "Eschatologie ira Alten Bund", em Eschatologie im Alten Testament, Darmstadt 1978,217-226; H Gross, "Eschatologie", em Lex. f. Theologie u. k. III, Freiburg 1959, 1085-1086.
13 - A. Gelin, "Messianisme", DBS, vol. V, Paris 1955, 1202.
14 - S. Zedda, "L'escatologia bíblica", vol. I, Brescia 1972, 32-33.
15 - H. Gross, "Eschatologie im Alten Bund" em Eschatologie im Alten Testament, Darmstadt 1978, 22.
16 - G. Klein, "Eschatologie IV (N. T.)", em Theologische Realenzyklopddie, Berlin 1982, 270-297; A. Feuillet, "Les psaumes eschatologiques du règne de Yahweh", NRT,t. 73(1951)244-260; A. Weiser, I salmi (1-60), Brescia 1984, 391-396; A. Weiser, I salmi (60-150), Brescia 1984, 679-684; 691-710.
17 - B. Rossi, La creazione tra Il gemito e La gloria. Studio esegeticvo e teológico di Rm 8,18-25, Edizioni Dehoniane, Roma, 1992, 175-191.
18 - V. Ravanelli, "Profeta Geremias cap. 31-32", polígrafo datilografado a uso interno do SBF, Jerusalém 1985; H. Gross, "Eschatologie", em Lex. f. Theolo, u. k. III, Freiburg 1959, 1085.
19 - U. Vanni, "Apocalittica" em Nuovo Dizionario di Teologia Biblica, Milano 1988, 104¬-106.
20 - Quanto a palavra tempo, entramos na simbologia dos números, próprio da literatura apocalítica. Tempo seria o período de 1 ano (segundo Dn 4,13). O mesmo da duração da perseguição de Antíoco, 3 anos e meio (em Dn 9,27). Isto equivaleria a 42 meses (de 30 dias) ou mil duzentos e sessenta dias. Esta mesma simbologia é retomada no Apocalipse (Ap 11,2-3; 12,14; 13, 5; Lc 4, 25 e Tg 5,17). Em resumo estes números querem dizer um período de calamidades, mas que não será eterna, a duração é limitada.
21 - Ver Descendência e Messianismo.
22 - As linhas básicas, é de D. S. Russel, The Method and Message of fewish Apocalyptic, London 1964, 263ss; J. J. von Almen, "Morte", em Vocabolario Biblico, Roma 1969, 294-299; X. Leon-Dufour, "Morte", Dizionario di Teologia Biblica, Milano 1984, 731¬746; J. B. Libânio - M. C. L. Bingemer, Escatologia Cristã, Petrópolis 1985, 146-172.
23 - Biblia de Jerusalém; "Ezequiel", São Paulo 1986, nota "t", 1965.
24 - D. S. Russel,The Method.... 285, A expressão "Reino de Deus" ou "reino dos céus" tão comum no N. T. não encontra-se em parte alguma no A. T, nem nos escritos apocalíticos". Se fala em soberania de Deus; J. Jeremias, Teologia del Nuovo Testamento, Salamanca 1977, 46 na nota 17 pág. 47, mostra os lugares aonde aparecem a expressão "reino (de Deus)"; Dn 3,54 LXX; Teod 4,34; Tob 13; S1 5,18; 17,3; 1 Enoch 84,2; Sab 6,4; 10,10; Or. Sib 3,47. 766; K. H. Schelkle, Teologia del Nuovo Testamento, Bologna 1980, 251-253.
25 - A. Diez Macho, Apócrifos del A. T., vol. I, Introducción General, Madrid 1984, 354¬ - 355.
26 - R. Schnackenburg, Signoria e Regno di Dio, Bologna 1971, 60.
27 - P. E. Bonnard- P. Grelot, "Messias", Dizionario di Teologia Biblica, Torino 1986, 679-686.
28 - S. Zedda, L?escatologia biblica, vol. I e vol. II, Brescia 1972; A. M. Buscemi, "L'escatologia del Nuovo Testamento",em Studia Missionalia vol. 32, Roma 1983, 273-309; J. Libânio e M. C. L. Bingenier, Escatologia Cristã, Petrópolis 1985; R. Schnackenburg, Signoria e Regno di Dio, Bologna 1971; K. H. Schelkle, "Escatologia neo-testementária", em Mysterium Salutis 11, Brescia 1978, 218-254; E. Massaux,..,La venue du Messie. Messianisme et eschatologie, Louvain 1962; W. Davies, The background of the New Testament and its Eschatology, in Honour of Charles Harold Dodd, Cambridge 1956.
29 - Este esquema é baseado no artigo de A. M. Buscemi, "L'escatologia del N. T." em Studia Missionalia vol. 32, Roma 1983, 285-296.
30 - E. Schillebeeckx, Jesus. La historia de un vivente, Madrid 1981, 129.
31 - R. Schnackenburg, Signoria e Regno di Dio, Bologna 1971, 39-71.
32 - A. M. Buscemi,...291.
33 - G. Minette de Tillesse, "Théologie du Secret", em Secret Messianique dans l?Evangile de Marc, Paris 1968, 225-326.
34 - J. B. Libânio e M. C. L. Bingemer, Escatologia Cristã, Petrópolis 1985, 111
35 - O. D. Casonatto, "Jesus e a Lei", Revista Biblica Brasileira, 4(1987) 103-109
36 - O. D. Casonatto, "Salvação e Esperança em Romanos 8,24," em Caminhando com o Itepa (Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo), 4(1989) 14-20.
37 - R. Schnackenburg, Signoria e Regno di Dio, Bologna 1971, 164-216.
38 - P. Benoit, "Mateus", Bíblia de Jerusalém, São Paulo 1986, 1869.
39 - A. M. Buscemi,...296-297.
40 - J, Jeremias, "Situacion Social - Ricos e Pobres. Cap. IV: Factores determinantes de la situacion economica de Jerusalen en Ia Epoca de Jesus", em Jerusalen en Tiempos de Jesus, Madrid 1980, 139-160.
41 - B. Maggioni, "Nuovo Testamento", em Messaggio della Salvezza, vol.2, Torino 1972, 215-238; C. H. Dodd, La predicazione apostolica e il suo sviluppo, Brescia 1978, 11-40.
42 - Dodd, afirma que nos discursos de Pedro (AT 2-4), não encontramos às palavras de Pedro, mas o próprio Querigma da Comunidade de Jerusalém na época da origem. Os discursos de Pedro tem todos a mesma base, e oferecem um quadro sintético do Querigma. Dodd ainda resume o Querigma da Comunidade Primitiva em seis pontos: 1) Chegou os últimos dias, os tempos Messiânicos; 2) A morte e Ressurreição atestada da escritura; 3) Em virtude da Ressurreição de Jesus foi exaltado a direita de Deus como cabeça messiânica do Novo Israel; 4) O Espírito Santo na Igreja é sinal do poder efetivo e da glória de Cristo; 5) A idade messiânica chegará em breve no final com o retôrno de Cristo; 6) O Querigma se conclue com a exortação de Penitência, a oferta de perdão e do Espírito Santo; C. H Dodd, La predicazione apostolica e il suo sviluppo, SB. 21, Brescia 1978, 25-33; para a pregação de Paulo ver, C. H. Dodd.... 33-40; R. Fabris, Gli Atti degli Apostoli, SGB, Torino 1998; F. Bovon,"Vangelo de Luca e Atti degli Apostoli", em Vangeli Sinottici e Atti degli Apostoli, PEB vol. 9, Roma 1983, 265-304.
43 - Il Messaggio,...oc.,222.
44 - F. Bovon, "Vangelo di Luca e Atti degli Apostoli", em Vangeli Sinottici e Atti degli Apostoli, PEB vol. 9, Roma 1983, 265-304
45 J, Caba, Resucitó Cristo, mi esperanza. Estudio exegetico, BAC 475, Madrid 1986, 81-116
46 - G. Bornkamm, Gesú di Nazareth. I risultati di 40 anni di ricerche sul "Gesú della Storia", Torino 1975, 177-182.; G. M. M. Pelser, "Ressurrection and eschatology in Paul's letters", Neotestamentica 20(1986)37-46.; O. Kuss, Paulo, Ia fuzione dell'Apostolo nello sviluppo teologico della Chiesa primitiva. Parola di Dio 11, Milano 1974, 422-548.
47 - Alguns autores vêm em 1Ts 4,14-16, na expressão os mortos "em e no Cristo" um senso de uma escatologia individual: conf. S. Zedda, Lo stato intermedio come participazione al. mistero pasquale, Be0 8(1966)213-215.
48 - B. Rey, A nova criação, São Paulo 1974, 56-81.
49 - para um aprofundamento do tema ver: S. Zedda,"L'essere christianum individuale", Miscellanea Card. Ottaviani, Roma 1969, 760-769.
50 - A. M. Buscemi, "Excursus- Liberta, Benedizione di Abramo e Spirito Promesso" em Lettera ai Galati - Cap. 3 - polígrafo a uso dos estudantes do SBF, Jerusalém 1991, 31-41; A. M. Buscemi,"Libertá e Schiavitú nella lettera ai Galati" (Pars dissertations), Jerusalém 1980; F. P. Ramos, La libertad en la Carta a los Gálatas, Valência 1977; S. Lyonnet, La Liberté Chrétienne - L'être et 1'agir du Chrétien.; F. P. Ramos, "la muerte de Cristo como Liberacion de la Ley, segundo Pablo", em Jesus Cristo en la historia y en la Fé, semana internacional de Teologia, Salamanca 1977, 200-219; F. P. Ramos, "Libertad o esclavitud cristiana en Pablo? Rom 6,15-23", em Homenaje a Juan Prado, Madrid 1975 443-464; R. Fabris, Le lettere di Paolo, Roma 1980, 784-788; A. M. Buscemi, "Lo sviluppo strutturale e contenutistico in Gal 6,11-18", LA 33(1983) 153-192; A. F. Anderson, "O evangelho da Liberdade", Suplemento da REB, Estudos Bíblicos 2, Petrópolis 1984, 38-49.
5l - S. Zedda, L'escatologia biblica, vol. II, Brescia 1972, 102-103.
52 - M. Buscemi, descreve detalhadamente este tema da perícope 4,1-7, destacando três partes: 1. Os autores da nossa Liberdade: a) O Pai, autor de nossa liberdade; b) O Filho, autor da nossa liberdade; c) O Espírito Santo autor da nossa liberdade. 2) Liberdade da Lei. 3. Liberdade e adoção de Filho, conf. "Liberta e Schiavitú nella lettera ai Galati", pars dissertationis, Jerusalém 1980, 24-38.
53 - A. M. Buscemi,"Galati 4 : Introduzione, struttura ed esegesi", polígrafo a uso dos estudantes do SBF, Jerusalém 1984.
54 - A. M. Buscemi, "Gl 3: Introduzione, struttura ed esegesi, polígrafo a uso interno do SBF, Jerusalém 1991, 38ss.
55 - W. Foerster, Kleronómo, GLNT, vo1.V, Brescia 1969, 634-663.
56 - A. M. Buscemi,..39 e 40.
57 - A. F. Anderson, "O evangelho da liberdade", suplemento da REB, Estudos Bíblicos 2, Petrópolis 1984, 38-44.
58 - R. Baracaldo, Lã glória de Dios según San Pablo, Madrid 1964, 175.
59 - L. Cignelli, "La trasposizione della Speranza nell'esegesi patristica" em La Speranza, Atti del Congresso promosso dal Pontifício Ateneo "Antonianum", 30 maggio-2 giugno 1982, II, Brescia 1984, 133-168.
60 - Conf. At 24,15; 2Cor 1,9; 1Tm 4,10; 5,5; 6,17; 1Pt 11,21; 3,5.
61 - conf. Mt 12,21 (Is 42,4); Rm 15,12 (Is 11,10); Ef 1,12; 1 Cor 15,19.
62 - ver capítulos 1 a 3 da carta de São Paulo aos Efésios.
63 - Livros e artigos que podem ajudar a compreensão do argumento: S. Zedda, L'escatologia biblica, vol. II, Brescia 1972, 83-143; L. Cerfaux, "Le Royaume de Dieu". em Populus Dei II Ecclesia, Studi in onore del Card. Alfredo Ottaviani, Communio 11, Roma 1966, 793ss; K. H. Schelkle, Teologia del Nuovo Testamento, vol. IV Ecclesiologia - Escatologia, Bologna 1980, 348ss; H. Schlier, La fine del Tempo, Brescia 1974, 75-115.
64 - A Feuillet, "Parousie" em DBS,VI, Paris 1960, 1366ss.
65 - Os profetas são os anunciadores do "dia de Iahweh", dia de ira e de salvação, e este encontrará realização plena no "Dia do Senhor", quando Cristo voltará glorioso e julgar os vivos e os mortos. O "Dia do Julgamento" é inevitável, imparcial e pertence somente a Deus por meio do Cristo, o qual julgará a todos. Ele retribuirá a cada um segundo suas obras. O homem da aquilo que semear colherá. Os maus ira e condenação, os justos os que viverem praticado o bem salvação.