ERVAS MEDICINAIS- Vale a pena cultivar?
Publicado em 01 de dezembro de 2009 por Ivan Brscan
Luciana
Marques de Carvalho*
No
Brasil, além da grande diversidade de espécies medicinais nativas,
utilizadas
desde os primórdios pelos povos indígenas, grande número de espécies
foi
introduzido pelos imigrantes e escravos africanos. Com
isso, a medicina popular tornou-se
reflexo das uniões étnicas e o conhecimento dessas ervas e seus usos
foram
difundidos de geração em geração.
Por
muito tempo, essas plantas e seus derivados naturais representaram as
únicas formas
de tratamento terapêutico. Mas com o advento da síntese química e
crescimento da
indústria de medicamentos quimio-sintéticos, o conhecimento e o uso
dessas
plantas foi relegado a um plano secundário.
Nas
últimas décadas, no entanto, com a maior valorização da natureza e
busca por alimentos
e vida mais saudável, a demanda por plantas medicinais vem crescendo no
Brasil
e em todo o mundo. E, com isso, essas plantas estão agora assumindo
papel mais
importante não só na saúde da população, mas também na agricultura e na
economia nacional.
As ervas
medicinais podem ser obtidas por extrativismo ou cultivo. Dentre as
vantagens do
cultivo destacam-se a segurança na identidade botânica, programação
prévia das
atividades, desde plantio até colheita, volume de produção,
possibilidade de
manejar a produção visando aumentar teor de determinados princípios
ativos,
ambiente com água e solo de qualidade e espaço adequado para
beneficiamento
pós-colheita próximo à área de cultivo.
O
extrativismo, por outro lado, inclui, dentre as suas consequências, o
risco de
extinção das espécies mais coletadas, falta de constância na oferta,
problemas
de confusões e falsificações botânicas.
Apesar disso, ainda são poucas as espécies cultivadas no país,
especialmente em escala comercial.
O
cultivo dessas plantas deve ser realizado sem o uso de agrotóxicos
(incluindo
pesticidas, fungicidas, herbicidas), em razão da utilização dessas
plantas como
medicamento em pessoas com algum tipo de debilidade. Além disso, o
processo de
secagem, utilizado com o fim de eliminar a água no interior da planta e
prolongar seu tempo de utilização com qualidade, assim como os
processos de
extração (incluindo o preparo de chás), pode concentrar os ingredientes
ativos
dos agrotóxicos. O uso de adubos químicos e agrotóxicos pode alterar a
composição da planta, alterar seu efeito terapêutico e até mesmo
provocar
efeitos colaterais ou tóxicos.
Por
outro lado, as ervas medicinais, em geral, não enfrentam tantos
problemas com
pragas, como ocorre com as hortaliças, por exemplo, e outras culturas
alimentícias. Isto decorre dos muitos metabólitos especiais (como óleos
essenciais, lactonas sesquiterpênicas, alcalóides, cumarinas, entre
outros),
que elas produzem e acumulam em seu interior, e que, frequentemente,
estão
relacionados à função de defesa das mesmas. Alguns desses compostos
conferem
odor repelente a insetos e outros animais, sabor desagradável, ação
inseticida
e ou antimicrobiana.
Recomenda-se
que o cultivo dessas plantas seja feito em sistema orgânico de
produção. Nesse
sentido, tecnologias como barreiras físicas (barreiras de vento),
consorciação
de culturas, cultivo em faixas, rotação de culturas, cultivo mínimo e
compostagem
devem ser adotadas na área de produção. Essas tecnologias possibilitam
aumentar
a biodiversidade vegetal, aumentar a diversidade de inimigos naturais
presentes, o que contribui com o controle de pragas e doenças.
A
maioria das ervas medicinais permite mais de um ciclo de produção e de
colheita, variando, no entanto, a duração do ciclo de vida e do tempo
em que
podem ser mantidas na área de produção. Em muitas delas, como no caso
do Manjericão
e das Mentas, o órgão da planta de interesse econômico é a folha. Desse
modo
muitas colheitas podem ser feitas ao longo de um ano. Muitas dessas
plantas têm
uso não só como medicinal, mas também como condimento e aromatizante. A
possibilidade de múltiplos usos, o alto valor agregado, aliado ao
grande volume
de produção torna o cultivo dessas plantas rentável economicamente.