Luciana Marques de Carvalho*

 

No Brasil, além da grande diversidade de espécies medicinais nativas, utilizadas desde os primórdios pelos povos indígenas, grande número de espécies foi introduzido pelos imigrantes e escravos africanos.  Com isso, a medicina popular tornou-se reflexo das uniões étnicas e o conhecimento dessas ervas e seus usos foram difundidos de geração em geração.

Por muito tempo, essas plantas e seus derivados naturais representaram as únicas formas de tratamento terapêutico. Mas com o advento da síntese química e crescimento da indústria de medicamentos quimio-sintéticos, o conhecimento e o uso dessas plantas foi relegado a um plano secundário.

Nas últimas décadas, no entanto, com a maior valorização da natureza e busca por alimentos e vida mais saudável, a demanda por plantas medicinais vem crescendo no Brasil e em todo o mundo. E, com isso, essas plantas estão agora assumindo papel mais importante não só na saúde da população, mas também na agricultura e na economia nacional.

As ervas medicinais podem ser obtidas por extrativismo ou cultivo. Dentre as vantagens do cultivo destacam-se a segurança na identidade botânica, programação prévia das atividades, desde plantio até colheita, volume de produção, possibilidade de manejar a produção visando aumentar teor de determinados princípios ativos, ambiente com água e solo de qualidade e espaço adequado para beneficiamento pós-colheita próximo à área de cultivo.

O extrativismo, por outro lado, inclui, dentre as suas consequências, o risco de extinção das espécies mais coletadas, falta de constância na oferta, problemas de confusões e falsificações botânicas.  Apesar disso, ainda são poucas as espécies cultivadas no país, especialmente em escala comercial.

O cultivo dessas plantas deve ser realizado sem o uso de agrotóxicos (incluindo pesticidas, fungicidas, herbicidas), em razão da utilização dessas plantas como medicamento em pessoas com algum tipo de debilidade. Além disso, o processo de secagem, utilizado com o fim de eliminar a água no interior da planta e prolongar seu tempo de utilização com qualidade, assim como os processos de extração (incluindo o preparo de chás), pode concentrar os ingredientes ativos dos agrotóxicos. O uso de adubos químicos e agrotóxicos pode alterar a composição da planta, alterar seu efeito terapêutico e até mesmo provocar efeitos colaterais ou tóxicos.

Por outro lado, as ervas medicinais, em geral, não enfrentam tantos problemas com pragas, como ocorre com as hortaliças, por exemplo, e outras culturas alimentícias. Isto decorre dos muitos metabólitos especiais (como óleos essenciais, lactonas sesquiterpênicas, alcalóides, cumarinas, entre outros), que elas produzem e acumulam em seu interior, e que, frequentemente, estão relacionados à função de defesa das mesmas. Alguns desses compostos conferem odor repelente a insetos e outros animais, sabor desagradável, ação inseticida e ou antimicrobiana.

Recomenda-se que o cultivo dessas plantas seja feito em sistema orgânico de produção. Nesse sentido, tecnologias como barreiras físicas (barreiras de vento), consorciação de culturas, cultivo em faixas, rotação de culturas, cultivo mínimo e compostagem devem ser adotadas na área de produção. Essas tecnologias possibilitam aumentar a biodiversidade vegetal, aumentar a diversidade de inimigos naturais presentes, o que contribui com o controle de pragas e doenças.

A maioria das ervas medicinais permite mais de um ciclo de produção e de colheita, variando, no entanto, a duração do ciclo de vida e do tempo em que podem ser mantidas na área de produção. Em muitas delas, como no caso do Manjericão e das Mentas, o órgão da planta de interesse econômico é a folha. Desse modo muitas colheitas podem ser feitas ao longo de um ano. Muitas dessas plantas têm uso não só como medicinal, mas também como condimento e aromatizante. A possibilidade de múltiplos usos, o alto valor agregado, aliado ao grande volume de produção torna o cultivo dessas plantas rentável economicamente.

 
                                                                       

*Luciana Marques de Carvalho é pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Aracaju, Sergipe.